Índice de Capítulo

    O sol despontou sobre Nevéria, iluminando os cristais que compunham as residências e edifícios do reino. 

    A cidade estava completamente acordada. O frio ainda era constante, mas o calor que irradiava dos corpos da multidão incendiava a euforia do festival aguardado por longos dez anos. 

    Trajes brancos, bandeiras e panos cobrindo as janelas se misturavam à neve, que derretia sob os pés das crianças, jovens e velhos transitando sem parar pelas ruas principais. 

    Soldados marchando uma coreografia rítmica passada por gerações, carregavam bandeiras com o símbolo de Nevéria e da família real. 

    Vestindo suas armaduras cinzentas, polidas, eles impunhavam respeito pelo exército que protegia o reino e também pela figura de Nivorah, uma estátua de dois metros de altura, a qual exibiam pelas ruas lotadas usando um altar móvel feito de prata e decorado com cristais de gelo que não derretiam sob nenhuma circunstância. 

    As vozes do povo se amontoavam como uma harmonia desconexa, mas que transmitia bem a alegria do momento por meramente presenciar a ascensão daquele que protegeria o reino ao lado da divindade.

    As horas passaram, e chegou o momento que o povo estava esperando: o pronunciamento do rei. Isso abria oficialmente o evento. 

    No horário marcado, um sino tocou, e todos se puseram na frente do castelo, soldados e civis. E então o rei apareceu na sacada real, elevando o ânimo da plateia ainda mais e criando agitação no meio dela. 

    Com um rápido e caloroso discurso, ele deu início ao festival. Os encarregados pela organização dispararam as armas especiais, lançando cristais multicoloridos ao céu, que explodiram em milhares de fragmentos brilhantes. Música com um ritmo moderado ecoou animadamente por todo o reino.

    Então esse era o Dia do Escolhido. Uma festa nada solene, mas cheia de empolgação que englobava os neverianos de todas as idades. 

    Da janela de seu quarto, Sora pensava no quão diferente era do que ela imaginava inicialmente. 

    Estava com um vestido branco com tecidos azulados e alguns adornos de prata. Não era extravagante o suficiente para parecer uma noiva, mas tinha traços reais elegantes. 

    Não só ela, mas as outras duas garotas estavam com roupas parecidas. 

    Após encarar o que estava além da janela com um rosto sério, a garota virou-se. Ela respirou fundo. Era hora de dizer aos outros o que tudo aquilo realmente significava. 

    Apesar de tudo, ela não era a única que sentia o coração bater forte com o que estava por vir.  

    Dentre a multidão, dispersos, mas unidos em uma só missão, os opositores aguardavam as próximas ordens de Kaelric. Esse seria o dia definitivo em que virariam o jogo contra Arden, não importava o que acontecesse — pelo menos era o que planejavam. 

    Estavam divididos em pequenos grupos, em pontos estratégicos ao redor do castelo, prontos para invadir assim que o sinal fosse dado. 

    Takeda estava junto a sua equipe, mas com um trabalho levemente diferente. Depois do último incidente, ele conversou com a equipe Beta e com os outros agentes sobre o caso de Viktor. A conclusão: precisavam capturá-lo a todo custo. Sua teimosia já tinha ido longe demais e causado danos irreversíveis.  

    O vice-capitão agora era um criminoso, e mesmo hesitantes, até seus companheiros de organização aceitaram isso. Afinal de contas, havia um código rígido que ele precisavam seguir e o garoto o quebrou completamente. 

    Isso é uma pena. 

    Takeda acreditava que poderia ajustar o preconceito entre as duas organizações, mas talvez não tivesse falhado completamente, se ignorasse o estado de Viktor. 

    De uma forma ou de outra, o garoto precisava ser contido. Não dava para saber o que ele planejava, mas ele estava com a Comissão da Lâmina Fria, então encontrá-lo não deveria ser tão difícil. 

    <—Da·Si—>

    Enquanto o festival se desdobrava calorosamente, Mayck e Eirlys adentraram a câmara secreta da biblioteca. Passaram por um corredor estreito e escuro, onde só podiam enxergar as tapeçarias antigas e estrutura gélida com o dispositivo de Eirlys — embora Mayck não tivesse tido dificuldade. 

    Conforme avançavam, os sons de fora ficavam cada vez mais abafados, sinal de que estavam cada vez mais fundo na câmara. O lugar também parecia esfriar à medida que desciam o caminho levemente inclinado. 

    “Como um lugar desses cabe numa biblioteca?”

    Mayck não pôde evitar a pergunta. Em sua mente, não fazia sentido já que a biblioteca ficava num dos andares do meio.

    “Nós estamos dentro da montanha… Bem ao lado de Nivorah”, respondeu Eirlys, então ela apontou para a direita. “Se cavássemos um túnel para lá, chegaríamos em alguns passos.”

    “A gente deveria aproveitar então?”

    “…”

    “Foi só uma piada.”

    A falta de reação da princesa fez o garoto desistir de tentar aliviar o clima tenso. 

    “De qualquer forma, mesmo que fizéssemos isso, teríamos uma parede incrivelmente resistente para tirar do caminho. A montanha de Nivorah está selada com sua própria energia e só os reis conseguem adentrá-la”, disse ela. 

    Não que a gente teria algum problema…

    Afinal, eles estavam com o anel do rei. 

    “Olha. Chegamos.” Eirlys estava guiando a frente, logo ela apontou o cubo reluzente para uma porta branca que parecia ser de metal reforçado. “Só temos que abri-la, então chegamos.”

    Mayck assentiu. Ele canalizou energia no anel. O cristal reagiu, a porta se destrancou com um clique.

    “Abriu. Vamos em frente.”

    Eirlys seguiu, mas o garoto parou brevemente, encarando o objeto em sua mão. 

    De novo… Essa energia… ela é um pouco familiar…

    Ele tinha certeza que já havia a sentido antes. Não era exatamente nostálgica, mas lhe trazia sentimentos incrivelmente ruins. 

    A princesa tirou-o de seu transe. 

    “Senhor M?”

    “Hm? Já estou indo.” 

    Ambos passaram pela porta. Agora, se depararam com uma sala ampla, iluminada suavemente pelos mesmos cubos brilhantes que ficavam acima de uma mesa de madeira angular de seis lados, o ar frio parecia congelar os pulmões. 

    Ao redor, diversas estantes com centenas de livros encapados, todos da mesma cor. 

    Mayck olhou, um pouco impressionado. 

    Então aqui é a mina de ouro?

    Aqueles livros certamente não eram livros comuns. Sem perder tempo, eles começaram a vasculhar, sem um objetivo concreto, mas perceberam que todos os registros ali eram diferentes dos que tinham na biblioteca. 

    Era uma coleção enorme de registros de pessoas, criminosos e nomes que provavelmente eram importantes para o reino, mas que sumiram misteriosamente e nada se sabia sobre eles. Ou até mesmo histórias diferentes do que tinha sido contado. 

    “Tantos nomes… eu nunca ouvi nenhum deles.” Eirlys folheava um dos registros com uma expressão curiosa. 

    “O que isso quer dizer?”

    “Essas passagens não fazem sentido nenhum pra mim. Tem pessoas aqui que fizeram algo importante para o reino, como esse aqui que descobriu os cristais de Nheria.”

    “Descobriu? Mas isso não é presente da divindade?”

    Mayck inclinou a cabeça, tão confuso quanto a garota. 

    “Sim… ou é o que todos achamos…” Uma expressão melancólica surgiu em seu rosto, ela guardou o registro e seguiu, olhando vários outros. 

    Mayck também procurou. Folheava rapidamente em busca de algo relevante e se deparou com vários assuntos que não lhe interessavam muito, apesar de fazerem uma grande diferença na vida da princesa. 

    Mas isso era assunto para outra hora. A Câmara estava vazia. Arden provavelmente já tinha percebido que seu anel desapareceu e os membros da comissão poderiam aparecer hora ou outra. Por sorte, eles estavam ocupados com a oposição, e era só por isso que eles conseguiram chegar aqui em primeiro lugar. 

    Bom, a maioria só parecem ser documentos confidenciais. Mesmo assim… esse lugar tem muita coisa que não faz sentido. Eu preciso saber a verdade. 

    Com isso, ele poderia definitivamente escolher um lado para lutar… ou criar o seu próprio. 

    Após mais alguns minutos, Mayck pegou um livro que despertou sua curiosidade. As palavras ‘rei tolo’ lhe eram familiares, então ele não hesitou em ler. 

    Contava a história de um rei que decidiu se rebelar contra o reino e sua divindade, e afundou Nevéria num caos sem precedentes, morrendo por consequência de suas próprias transgressões. 

    “Isso aqui é… um conto?”

    Seus olhos vagaram pelas linhas escritas em um português mais antigo, até chegar no final da primeira página, onde estava escrito o nome do dito rei: Arden Coldheart.

    Uma série de pensamentos confusos inundaram a mente do garoto.

    Hein?

    Se fosse um simples conto, então fazia sentido, mas aquela escrita parecia ser de mais de cinquenta anos atrás, ou quanto aquele reino tivesse de existência. E embora o idioma ainda fosse um grande mistério, Mayck virou a página. 

    Arden Coldheart foi um rei como todos os outros. Poderoso e confiável perante o povo, ele teve um reinado de paz e prosperidade. Porém, diferente de seus antecessores, ele se rebelou não contra o reino, mas contra Nivorah e a verdade escondida atrás daquela felicidade concedida aos residentes do reino. 

    Sabendo da falsa beleza que aquele reino exalava, ele lutou contra isso, mas não sabia que seria levado à ruína e arrastaria toda Nevéria com ele. 

    No fim, restou apenas o caos e uma era de ruínas, onde os brilhos dos cristais só refletiam o terror, e aquele reino próspero e belo se tornou uma mera lembrança. 

    Mayck terminou de ler.

    “…”

    Não havia palavras para descrever o que ele estava sentindo depois. 

    Um misto de confusão, com um pouco de receio. 

    Se for um conto, tudo bem… mas se não for, não é deste Arden que estamos falando. 

    Algo surgiu em sua mente, então ele chamou Eirlys.

    “Err… Existem profecias aqui?”

    “Profecias? Não que eu já tenha ouvido uma… Mas se estiver se referindo ao costume de receber visões sobre o futuro—!”

    Ela parou de repente. 

    Mayck estranhou isso, então virou a cabeça levemente para trás, onde Eirlys estava de costas para ele. 

    “Princesa…?”

    “Se-senhor M…”

    “?”

    Os ombros à mostra por conta do vestido branco real estremeceram.

    O garoto então foi até ela e parou ao seu lado, se perguntando o que estava acontecendo. Ela estava paralisada, os olhos incrédulos com o que acabara de ler no livro antigo que estava em suas mãos. 

    Era fino, quase não tinha folhas, mas apenas a primeira linha já causava arrepios em quem lesse aquilo sem a intenção de descobrir do que se tratava.

    Para a infelicidade de ambos, o título polêmico não era a única coisa, no entanto. 

    Mayck recebeu o livro dela e correu os olhos pelas páginas com o coração acelerado.  

    Dos Escritos Velhos da Verdade Velada — Instruções para a Criação do Escolhido

    (Transcrição preservada por um servo da verdade, à margem da loucura e da fé cega.)

    I. Da Escolha Silenciosa

    Quando os anos se empilham como neve nos telhados do tempo, e o ciclo da entidade se aproxima, cabe aos que governam em segredo observar o povo com olhos atentos.

    Não se há de esperar por milagre, tampouco por sinal divino, pois o Escolhido não é obra dos céus, mas sim de mãos humanas.

    Deve-se buscar entre os homens aquele que fora tocado, ainda que sem o saber, pela influência da Coisa Adormecida — seja por sonhos estranhos, febre que não se vai, ou corpo que não treme ao frio.

    II. Do Motivo da Escolha

    Não se trata de honra, tampouco de missão. Aquele que é escolhido, sê-lo-á por ser útil — e apenas isso.

    Pois sua alma carregará resquícios da energia antiga, e tais restos, quando findos por morte, apaziguarão a entidade por mais uma década.

    III. Do Procedimento Oculto

    A escolha se faz em silêncio. Nenhum alarde até o tão aguardado dia. 

    O Escolhido, havendo passado dez invernos em silêncio e reclusão, torna-se receptáculo da energia de Nivorah — não por vontade, mas por sina.

    Com o rodar dos anos, tal essência o consome e o preenche, até que, esgotado o ciclo, é levado ao sacrifício.

    Não para ser honrado, mas para que a energia acumulada não se perca ao vento, como cinza fria sobre a neve esquecida.

    O povo crê que foi elevado, abençoado ou levado pela deusa. Nada disso é real.

    Ele é levado ao interior da montanha, onde há de encontrar o fim — não como mártir, mas como moeda de troca.

    IV. Do Engano Bem Mantido

    Enquanto o sacrifício é consumado, o povo celebra. Cantam, dançam, e dão graças a uma farsa que jamais respondeu prece alguma.

    E assim se preserva a ilusão.

    O reino continua em paz, pois a verdade destruiria tudo que foi construído sobre ela.

    Última nota do escriba:

    Nivorah não é deusa. Não é espírito. É prisão vestida de promessa. E o Escolhido… é só mais um tijolo no muro dessa mentira.”

    Fim.

    Nenhum dos dois disse nada. A informação rodopiava em suas cabeças, sem um lugar para ser processada corretamente. 

    Mesmo sem se mover, estavam ofegantes. O silêncio lhes permitia ouvir seus próprios batimentos. 

    Então é isso? Essa é a realidade?

    O servo de Nivorah não era escolhido por ela, mas pelo rei — o ritual era mais um sacrifício que uma celebração, disfarçado de evento eufórico, e isso era tudo. 

    Apesar de esperar algo nesse nível, Mayck ainda sentiu seu pulso aumentar, assim como um calafrio percorrer suas costas. 

    “Isso quer dizer que… minha mãe…” Eirlys segurou as mãos contra o peito, relutante em completar seu pensamento. 

    “…” 

    A antiga rainha não foi escolhida, mas sacrificada. Assim como as milhares de vidas ao longo dos anos. 

    “Isso… não pode ser… Meu pai não faria algo tão terrível…”

    A princesa estremeceu, como se fosse desabar, sem forças para continuar de pé.

    “Você está bem?” O toque frio de sua mão pairou sobre o ombro da garota. 

    “A-acho que sim… Eu não sei… Eu…” 

    Seus olhos ficaram distantes, assim como seus pensamentos. Não havia o que fazer, era uma revelação verdadeiramente chocante e pesada para ela, que acreditou fielmente que sua mãe tinha alcançado algo melhor que sua vida, embora tivesse a deixado para trás. 

    Por trás do livro, Mayck enxergou algo numa espécie de gaveta abaixo da mesa. Sem hesitar, ele pegou o objeto retangular, e seus olhos brilharam por um segundo. 

    “A fita!”

    Sua empolgação quase ficou visível. Se fosse o que vieram procurar, então o objetivo acabou de ser completado. 

    Mas quando ele olhou para Eirlys, percebeu que ainda não era hora de comemorar. 

    Parece que agora começa a hora extra. 

    Vendo o estado da garota, ele não podia simplesmente sair do reino àquela altura. Já que estava envolvido nisso, teria que ir até o fim. 

    Ele foi até ela e segurou sua mão. Estava quente apesar do frio. 

    “Vem. Vamos sair agora. Já temos o suficiente.”

    Ela assentiu, hesitante. 

    Mas sem ter uma chance, suas atenções recaíram sobre o barulho de uma porta se abrindo do outro lado da sala. 

    Vários membros da Comissão da Lâmina Fria entraram e então os encararam, certamente se questionando o que eles estavam fazendo ali. Porém, antes de qualquer pergunta, alguém gritou:

    “Peguem-nos!”

    Os assassinos se moveram imediatamente. Mayck pegou Eirlys nos braços sem dizer nada e correu pelo corredor de onde vieram. 

    De volta à biblioteca, os assassinos mais rápidos passaram na frente deles e fecharam a única saída que eles tinham. Mesmo assim, Mayck não parou. Ele girou os calcanhares e disparou:

    “Janela.”

    “O quê—?!”

    Do lado de fora, o som ecoava da praça principal, onde o povo batia palmas no ritmo de uma música alegre, completamente alheio ao pandemônio que acabara de começar. 

    E então…

    CRAASSH!

    Eles voaram pela janela como dois fugitivos, caindo no jardim com um baque. 

    “É ação demais logo depois de uma descoberta ruim”, queixou-se Mayck, embora não soubesse pra quem exatamente, enquanto o choque excruciante atormentava seus pés. 

    Eirlys desceu de seus braços, preocupada. 

    “Isso foi perigoso!”, reclamou. “Você está bem?”

    “Eu tô…! Vamos.” Ele a pegou pela mão. 

    Sem tempo para pensar, correram para a cidade, passando por vários guardas no caminho — quando eles se deram conta, os perseguidos e seus perseguidores já estavam nas ruas, atravessando a multidão extasiada com o festival. 

    “Parem aí!”, ordenaram os assassinos, mas o que os fazia pensar que dois invasores iriam obedecer a ordem sabendo o que os aguardava logo depois?

    Eles atravessaram a multidão, trombaram nobres, civis, barracas de comida e pequenos apresentadores nas ruas. O cheiro de peixe que sentiram ao saltar por uma das barracas quase fez Mayck vomitar. 

    Após uma perseguição frenética por vários minutos, Mayck percebeu que algo estava acontecendo na praça principal.

    “O que é isso?”. 

    “Essa é a apresentação do templo. Eles organizaram um coral pra hoje.”

    “Ah, é? Então vamos participar.”

    “Huh?!”

    Antes de Eirlys pudesse contestar a decisão, o garoto a puxou e eles se infiltraram no meio das pessoas vestidas de branco da cabeça aos pés e se esconderam atrás deles. 

    Os assassinos não podiam simplesmente empurrar todo mundo para procurá-los, então olharam ao redor, irritados, mas não os encontraram. Sem escolha, saíram. 

    Ambos soltaram um suspiro de alívio. 

    “Ufa…”

    “Hm?” Alguém olhou para eles com um rosto levemente chocado. “Princesa?”

    Os três ficaram perplexos e em silêncio por alguns segundos. Então, com um sorriso cínico, Mayck empurrou Eirlys pelas costas e fugiram.

    “É um engano.”

    Eles saíram de lá, e o coral prosseguiu como se nada tivesse acontecido, embora aquele homem barrigudo tenha ficado com uma interrogação na cabeça. 

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