Capítulo 33: Vilarejo (3)
Tudo novamente tornou-se escuro enquanto a voz do sistema se distanciava como a sirene de uma ambulância. Não demorou muito para que retornasse àquele vilarejo.
O casal ainda estava vivo e sorridente, aproveitando o almoço enquanto o sol beijava a janela para que seu calor se expandisse à cozinha, tornando-a seu território sagrado.
Sua esposa se chamava Lua, mas seu nome era pouco dito devido aos apelidos carinhosos frequentemente falados. Seu marido, Max, também recebia o mesmo tratamento.
Juntos, deram vida e carinho para seu bebê Edgar, que ainda dormia feito um anjinho no sofá, despreocupado com as dores que o mundo tinha a oferecer.
Pouco tempo se passou para que Max terminasse de almoçar junto à companhia de sua amada esposa. Se pudesse, ficaria ali com ela a tarde toda, mas tinha seus próprios afazeres a cumprir.
— Bebê, eu vou sair pro campo de treinamento, tá?
Sua amada sorriu, levantando-se da cadeira e pegando os pratos, os movendo para a pia logo depois. Sua voz, compreensiva e amorosa como de costume, disse:
— Tudo bem, amor. Não esquece do seu arco e flecha que está ao lado do sofá, tá bom?
Em um suspiro confortante, respondeu: “Tá bom!” enquanto se levantava com as pálpebras entreabertas, caminhando lentamente para a porta.
Abriu-a com o mesmo cuidado de sempre, atentando-se ao barulho que poderia causar. Felizmente, nada de ruim aconteceu com sua ação atenciosa.
Agarrou o arco e flecha e, antes de se retirar do seu lar, beijou a testa de sua criança, desejando que sua alma permanecesse inocente para todo o sempre.
Em seguida, retirou-se de seu lar, seguindo um caminho reto enquanto respirava fundo o ar puro que o aconchegava como uma camisa de algodão.
Curiosamente, não era só ele quem seguia aquele caminho. De pouco a pouco, mais de sua espécie saíam de suas casas para se encontrarem em um ponto planejado.
Tudo era tão tranquilo naquele dia. Seja o céu, as nuvens, o sol, as andorinhas ou o vento que gentilmente afastava as folhas das árvores. Tudo dava indícios de mais um dia perfeito, mas tudo se encontrará no caos em breve.
Eles chegaram ao ponto de encontro em questão de minutos. Havia algumas dezenas de Globins reunidos em círculo, entretanto, apenas um se destacava no centro.
O chão desse ambiente era feito de barro. As gramas estavam distantes, e as árvores se faziam tão presentes quanto Saturno abaixo do céu e das estrelas.
O sol já estava se pondo, dando-lhes uma vista confortável e um pouco luminosa. O silêncio encontrava-se constante, não por falta de assunto, e sim por preparação.
Um ritual muito respeitado antes de começar qualquer sessão de treinamento daquela tribo. Três minutos de silêncio enquanto respiravam conscientemente, buscando o equilíbrio.
Não muito depois, essa pequena pausa finalmente encontrou o fim. Pouco após, o líder de todos eles se levantou, de prontidão para dizer seu discurso.
Grande como uma montanha, forte como um fisiculturista no auge da carreira. Sua definição acompanhava a monstruosidade dos músculos que pareciam explodir em massa.
— Muito bem. Daremos início a mais um dia árduo.
A voz, grave e impiedosa, ecoava como se ele estivesse usando um megafone incomum, mesmo que seu tom estivesse tranquilo e controlado.
— Como de costume, o roteiro será introduzido para seguirmos à risca.
Estalou os dedos. O som ecoou como uma gota d’água colidindo com o mar, criando uma ondulação no vento confortável como o sopro de um ventilador.
Partículas azuladas começaram a juntar-se atrás dele como asas angelicais, explodindo logo depois, dividindo-se em pequenas partes de si mesmo que vagavam pelo ar.
Pouco depois, começaram a se juntar, formando um sistema de jogo maior do que deveria ser, dando-lhes o roteiro que os auxiliaria no treinamento.
Sistema de Jogo
O líder da tribo organizou um roteiro de treinamento que será dividido pelas funções de cada um.
Tempo de treinamento: Três horas, sessenta minutos e nove segundos.
Recompensa: Aumento em vinte e cinco por cento em todos os atributos físicos.
Os arqueiros treinarão velocidade de reação e mira. Espadachins e derivados devem focar no treinamento físico e mental.
Todos leram as instruções com a mesma atenção de sempre. O planejamento era sempre o mesmo em todos os treinos, mas era sempre muito bom ver a magia daquele mundo.
Por fim, o Sistema separou-se em cinquenta pequenos pedaços diferentes, cada um com uma mensagem fixa, se guiando nos Globins que estavam sentados no chão.
Sistema de Jogo
Você aceita dar início ao treinamento?
(Sim) (Não)
Todos pressionaram a opção “Sim”. Em sequência, o Sistema retirou-se da mesma forma que veio, dando espaço o suficiente para que o palco fosse montado.
Deu-se vida a uma criatura com uma altura mediana. Sua pele era metálica, os pregos ainda estavam visíveis em seus braços e pernas.
O tom azulado tingia toda sua “pele”, e a ausência de um rosto o deixava ainda mais robótico. Uma aura da mesma cor o rodeava, fortalecendo seus atributos.
Seu corpo começou a estremecer de repente. Os pregos, que aparentavam ser fixos, tornaram-se frouxos de um instante para o outro.
Todos foram lançados ao solo, como arcos e flechas precisos. Não demorou muito para que se tornassem clones daquele robô que estava em pé.
Sobretudo, não eram simples máquinas que lutavam sem pensar; todas tinham uma mente programada para a adaptação de quem os atacou anteriormente.
Esses robôs fixavam em sua programação o rosto de seu adversário anterior, e o mesmo com os movimentos dos pés, força e técnica marcial, adaptando-se a tudo citado.
Em resumo, o Globin que os enfrentasse novamente seria forçado a ser mais forte do que no dia de ontem; do contrário, perderia o duelo, fracassando no treinamento.
Todas as máquinas azuis feitas para a guerra caminharam até seus adversários, fixando seus rostos nos olhos inimigos, prontos para transformá-los em pó.
Do outro lado, não muito distante dali, os arqueiros aguardavam pacientemente, até que o chão começasse a estremecer enquanto moldava as aparências.
A terra começou a subir como se fossem pétalas de flor, e o barro transformou-se em metal em instantes, como se um mágico invisível orquestrasse sua pintura.
Uma boa parte do que era retângulo virou um círculo com tintas características de um alvo. Quanto mais longe do centro, menor a pontuação seria.
Esses mesmos objetos se moviam em uma velocidade adaptativa ao usuário. Se houvesse muitas flechadas precisas, mais difícil ficava.
O desafio em questão se resume a acertar três vezes seguidas o centro do alvo, com uma tentativa limite de apenas mil. Se fracassasse nesse treino, perderia.
Assim que passasse nessa primeira etapa, o desafio final do dia seria perfurar o metal retangular com o arco e flecha. Sua resistência era adaptativa, e havia somente uma chance por treino.
Foram necessárias três horas para que esse treinamento fosse concluído, e o resultado foi tão satisfatório quanto sempre foi desde o início.
Foram poucos os Globins que falharam; no entanto, todos eles se fortaleceram e, com certeza, no dia seguinte conseguiriam o sucesso que desejavam.
O líder da tribo suava tanto quanto deveria, apoiando-se em seus joelhos enquanto buscava o equilíbrio interno em sua respiração. Ao olhar para o lado, observou seus súditos tão cansados quanto; no entanto, não havia nenhum que não estivesse com um sorriso no rosto.
Com a felicidade de seus aliados estampada nos lábios, um sorriso era inevitável. A qualidade de seus homens significava o sucesso como um líder.
Por fim, recuperou o fôlego e ajeitou sua postura, retornando para o seu rosto neutro enquanto limpava o suor que escorria como cachoeira da testa.
— Muito bem, vamos lá! Todos têm o direito de receber a recompensa do treinamento! Os que fracassaram receberão uma parte! Mais força no próximo treinamento!
Como de costume, deram seus gritos de guerra. Sejam os que falharam ou aqueles que conquistaram, no fim, o esforço que mostraram foi o máximo que seus corpos podiam oferecer.
Ao caminhar de seu líder, todos o seguiam, rumo a um lugar fixo onde costumava haver um NPC encapuzado responsável por entregar as recompensas; mas, nesse dia, foi diferente.
A grama não parecia querer se mover. O ar deixou de sussurrar sua glória, as andorinhas não voavam e o cantar dos pássaros se ausentou.
Árvores havia em todo lugar, mas nenhuma folha ousou cair. Naquela escuridão crescente e infinita, quem era responsável pelas recompensas não estava presente.
A insegurança infectou o coração de todos os presentes, que olhavam cada canto daquele lugar com a incerteza no peito e o medo nos pés.
Os arqueiros ficaram de prontidão, os guerreiros levantaram a guarda e o líder segurou com força o enorme machado que sempre deixava guardado nas costas.
Em poucos segundos, um de seus subordinados deu-lhe leves toques no ombro, sugerindo que seu líder olhasse para o céu, pois algo estranho flutuava entre a escuridão.
Um tom tão ciano que parecia irreal. Sobretudo, um sorriso diabólico se destacava, junto aos olhares tendo mais destaque do que as estrelas.
Próximo capítulo: Vilarejo (4)
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