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    — Embora atualmente a arma associada à nossa família Lionheart seja a espada… era diferente com nosso ancestral. Havia um motivo para o Grande Vermouth ser chamado de Deus da Guerra e Mestre-de-Tudo — disse Gilead.

    Quanto ao motivo da família ter se vinculado à espada, tudo se devia à Espada Sagrada, que era a mais renomada entre as muitas armas de Vermouth.

    — É algo muito bom você saber manejar uma variedade de armas, especialmente considerando que você as acha divertidas de usar. Isso pode até ser considerado um dom nato.

    — Agradeço sua orientação — respondeu Eugene.

    — É claro que, só porque Vermouth recebia esses títulos, não significa que ele era o único capaz de usar várias armas.

    — …Ouvi dizer que Hamel também era capaz de manejar diversas armas — disse Eugene após uma breve pausa.

    — Exato. Embora Vermouth fosse chamado de Deus da Guerra, seu companheiro Hamel também era um guerreiro mestre, ficando apenas atrás de Vermouth — Gilead concordou prontamente.

    — …Hum. Mas no conto de fadas que li, ele é chamado o tempo todo de Hamel, o Estúpido.

    — Haha! Bem, isso não tem jeito. Eu também li esse conto de fadas quando era jovem, mas… percebi que ele não teria tanta graça sem o Hamel sempre se metendo em encrenca. O que você acha de Hamel?

    — Não tenho certeza do que o senhor está perguntando.

    — Só quero ouvir sua opinião. Quanto a mim… admiro Hamel desde jovem.

    “Ah?” Eugene quase deixou escapar a exclamação, mas engoliu a tempo.

    — …Posso perguntar por quê? — perguntou Eugene, sem conseguir deixar o assunto passar.

    — Em vez do impecável Vermouth, eu preferia o Hamel, com seu caráter mais humano. Isso aparece com frequência no conto, não é? Hamel frequentemente se sentia inferior a Vermouth, mas nunca permitiu que isso o frustrasse.

    “Mas na verdade houve muitas vezes em que eu fiquei frustrado.”

    — Em vez disso, ele se esforçava ao máximo para superar suas próprias limitações. E, no fim, não se importou com sua própria segurança e escolheu se sacrificar por seus companheiros. Até hoje, respeito mais o Hamel do que o próprio Vermouth, meu ancestral.

    A representação de Hamel havia sido propositalmente exagerada no conto de fadas, transformaram uma única característica em todo o seu personagem. Ele foi feito para servir de lição simples às crianças: não importa o quão excelentes sejam os que estão ao seu redor, não sinta inveja. Em vez disso, vá se aprimorando aos poucos.

    — …Eu também admiro Hamel — respondeu Eugene, com sentimentos confusos ao dizer isso. — Mas o motivo de eu usar várias armas, bem… não é porque quero me tornar como Hamel ou Vermouth ou algo do tipo.

    Eugene sentiu necessidade de se explicar. Embora não soubesse se Gilead aceitava sua justificativa, ele assentiu com um sorriso.

    — Sendo alguém que nem mesmo faz parte da família principal, você será a primeira pessoa além de um Patriarca a pisar no cofre de tesouros da família — disse Gilead, mudando de assunto.

    Enquanto recebiam olhares surpresos dos servos, os dois desceram ao porão. Embora a escadaria que ligava a mansão ao subsolo fosse longa, esferas brilhantes estavam penduradas nas paredes a intervalos regulares, então não estava escuro.

    — Tem certeza de que é mesmo permitido eu ir lá? — perguntou Eugene.

    — Claro que sim. Eu não prometi que você poderia escolher o item que quisesse? Já conversei sobre isso com o conselho dos anciãos da família e obtive permissão — disse Gilead, liderando o caminho escada abaixo.

    O conselho. Eugene sentiu a boca secar ao pensar nele. Os velhos leões do clã Lionheart — o conselho era composto pelos Patriarcas anteriores da linha direta e por membros dos ramos colaterais reconhecidos como gigantes em suas respectivas áreas antes de se aposentarem.

    — Posso perguntar o que exatamente está guardado dentro do cofre?

    — Ele abriga o legado da nossa família, acumulado ao longo dos últimos séculos, é claro. Entre todos esses itens, há até relíquias deixadas pelo nosso ancestral, o Grande Vermouth.

    — Sério? Então a Espada Sagrada também está lá?

    — Está, mas… é impossível para você escolher a Espada Sagrada — respondeu Gilead, virando-se para Eugene com um sorriso resignado, como se já esperasse tal pergunta. — Porque a Espada Sagrada é o símbolo do clã Lionheart, uma espada que não pertence a ninguém. Por isso, ela só é empunhada em cerimônias, como a de sucessão do Patriarca.

    — Oh… — murmurou Eugene, desapontado.

    Gilead continuou:

    — Mas esse não é o único motivo. Desde o Grande Vermouth, ninguém mais conseguiu obter o reconhecimento da Espada Sagrada.

    — Reconhecimento?

    — Hm… em vez de tentar explicar, é melhor que você mesmo tente. Assim vai entender exatamente do que estou falando.

    No fim da escadaria havia uma porta enorme, ricamente decorada. Gilead levantou a mão até ela após cortar as pontas dos próprios dedos com as unhas, fazendo com que gotas de sangue se formassem em cada um.

    — Isso vai levar um instante.

    Com os dedos tingidos de sangue, Gilead tocou a maçaneta esculpida na forma da cabeça de um leão com a boca escancarada. O leão absorveu as gotas de sangue das pontas dos dedos de Gilead e então fechou a boca, ao mesmo tempo que os entalhes na porta começaram a se contorcer. Tudo aquilo fazia parte de um ritual para desfazer a poderosa barreira mágica que protegia o cofre. Eugene deu alguns passos para trás e observou a porta começar a se mover.

    — O senhor vai entrar comigo, Patriarca? — perguntou ele.

    — Não há necessidade. Ficarei esperando aqui, então entre e escolha o que quiser.

    A porta se abriu completamente.

    — Você não conseguirá abri-la por dentro. Assim que terminar sua escolha, bata com força na porta. Isso me avisará quando devo abri-la — explicou Gilead.

    — Nesse caso, não seria melhor o senhor entrar comigo? — questionou Eugene.

    — Embora eu ache que seria divertido ver sua escolha… se eu entrar, posso acabar influenciando inconscientemente sua decisão, e prefiro respeitar sua liberdade. Além disso, se eu estiver lá, talvez distraia você.

    Ao dizer tudo isso, Gilead demonstrava consideração por Eugene. Este sorriu abertamente e assentiu. Embora tivesse sido ele mesmo quem tocara no assunto, Eugene estava imensamente empolgado por Gilead ter decidido não entrar com ele. Queria examinar tudo de perto, mexer aqui e ali. Para falar a verdade, se Gilead estivesse junto, teria de se conter e manter as aparências.

    — Mas, Patriarca, o que impede alguém de esconder um item e tentar sair com mais de um?

    Esse tipo de pergunta ousada e descortês era o tipo de coisa que só um garoto de treze anos como Eugene poderia dizer. Então, ele fez questão de erguer o rosto para encarar Gilead com olhos inocentes, livres de malícia. Não sabia ao certo se seu rosto refletia mesmo essa intenção, mas pelo menos tentou moldar sua expressão nesse sentido.

    — Isso não parece algo que vá acontecer, certo? — respondeu Gilead com um sorriso tranquilo, sem demonstrar qualquer aborrecimento. — Se isso acontecesse, eu seria obrigado a dar uma bronca. E, como esses tesouros são rigorosamente protegidos por magia, você seria pego assim que tentasse sair com algo que não devia.

    — Haha — Eugene riu de forma constrangida.

    “Como eu imaginava”, exclamou por dentro, sem nenhum desapontamento.

    Gilead ofereceu:

    — Ainda assim, permita-me lhe dar um conselho. Não tenha pressa e escolha com calma uma arma que você possa usar pelo resto da vida. No seu caso, mais do que focar no desempenho… acho que o melhor é escolher algo que chame sua atenção e combine com você.

    — Sim, senhor.

    Gilead se afastou, liberando a entrada do cofre. Eugene assentiu e se aproximou da porta com passos cautelosos.

    — Muito obrigado por esta oportunidade — disse Eugene, virando-se e expressando sua gratidão com educação antes de entrar.

    Gilead sorriu e deu um tapinha em seu ombro. O pensamento de adotar Eugene passou por sua mente. No entanto, não havia necessidade de tocar nesse assunto agora, já que era algo que não devia ser decidido às pressas.

    Assim que Eugene entrou, a porta do cofre se fechou atrás dele. Somente então pôde respirar fundo e desfazer a expressão educada. De tanto sorrir, suas bochechas estavam dormentes, então ele as massageou algumas vezes antes de lançar um longo olhar pelo interior do cofre.

    Imediatamente após fazer isso, um sorriso se formou em seu rosto sem que percebesse, enquanto exclamava:

    — …Uau.

    A Espada Sagrada de Vermouth, a esplêndida espada dourada de suas memórias, estava no centro do cofre. Com um sorriso, Eugene caminhou em direção ao centro da sala.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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