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    Embora agora fosse dono de Wynnyd, Eugene não podia invocar um espírito imediatamente. Por menor que fosse o consumo de mana da magia espiritual, ainda exigia uma quantidade mínima de mana para começar. E como Eugene ainda não havia começado a treinar sua mana, nem um fiapo dela podia ser encontrado em seu corpo.

    Mesmo para Eugene, isso era algo com o que ele não podia deixar de se preocupar.

    A Cerimônia de Continuação da Linhagem havia terminado. Agora, Eugene estava livre de quaisquer restrições para empunhar espadas de verdade e também podia começar a treinar sua mana.

    Como descendentes do Grande Vermouth, a família Lionheart possuía uma escritura de treinamento de mana muito superior a qualquer outra pertencente a famílias marciais, cavaleiros ou mercenários. Afinal, era uma escritura desenvolvida trezentos anos atrás e constantemente aprimorada desde então.

    As linhas colaterais dos Lionheart eram todas famílias que haviam se separado da linhagem direta, e suas escrituras de mana também se originavam dali. Mas, claro, apenas as bases dessas escrituras guardavam semelhança com a da linhagem principal. Isso fazia com que o nível das escrituras de treinamento de mana das linhas colaterais caísse a ponto de não poderem nem ser comparadas à da família principal.

    Essa diferença de qualidade permitia à linhagem direta manter sua superioridade sobre as colaterais.

    “Quanto à escritura de mana da nossa família… embora eu ainda não a tenha aprendido, não deve ser nada de especial.”

    Eugene tinha certeza disso. Sua família havia se separado da linhagem principal há centenas de anos e, durante todo esse tempo, ninguém daquele sangue havia conseguido elevar o status da família.

    “E a força do meu pai também não é lá essas coisas.”

    Depois que completou dez anos, Eugene e seu pai deixaram de simular duelos disfarçados de brincadeira. No entanto, Eugene se lembrava bem da barriga saliente de Gerhard, de seus movimentos lentos, e de como ele perdia o fôlego depois de balançar a espada poucas vezes.

    Gerhard tinha o hábito de suspirar dizendo que não tinha talento. E, à medida que a cerimônia se aproximava, o número de vezes em que dizia isso com expressão lacrimosa só aumentava.

    “…Ainda assim, como é baseada na da família principal, nossa escritura de mana não deve ser tão ruim.”

    Se acabasse sendo tão terrível a ponto de se tornar insuportável, não era como se Eugene não tivesse alternativas. Embora fosse algo de trezentos anos atrás, ele ainda havia sido forte o bastante para se tornar companheiro de um herói. A escritura de mana que aprendera em sua vida passada ainda deveria ter alguma utilidade nos tempos atuais.

    “Se nem ela for suficiente, posso tentar combiná-la com a escritura da minha família.”

    Como tinha experiência prévia, isso não deveria ser muito difícil. Eugene estava confiante. Sem falar que os traços de seu corpo atual eram tão excepcionais que seu antigo corpo nem chegava perto.

    “Na vida passada, eu larguei a luz da espada e já saí por aí usando força da espada. Não tem como eu não conseguir alcançar isso com este corpo.”

    Criar uma camada de mana ao redor da espada era chamado de luz da espada. A força da espada era um nível acima. Quanto tempo ele levou para atingir a força da espada em sua vida passada, mesmo? Parecia que já estava na casa dos vinte… Eugene estalou os lábios e caiu em pensamentos.

    A escritura de mana que Hamel havia aprendido em sua vida anterior era uma escritura barata, comum entre mercenários. Ele havia perdido sua terra natal num ataque surpresa de monstros quando tinha apenas doze anos, então se tornou um mercenário para buscar vingança…

    Era um passado que ele preferia não lembrar. De qualquer forma, acabou ganhando certa fama enquanto praticava diligentemente aquela escritura barata. Claro, ele não a seguiu ao pé da letra, modificou a escritura para adaptá-la a si mesmo.

    Primeiro, conheceu Vermouth. Depois, conheceu Sienna, Anise e Molon. Recebeu vários conselhos deles. Em especial, Vermouth lhe dava orientações diversas mesmo sem que ele pedisse. E quanto à Sienna…

    — Você pagou por esse lixo? Tá maluco?

    — Você não acha que foi um pouco rude?

    — Idiota! Senta aqui.

    — Por quê?

    — Se eu tô mandando sentar, é pra sentar! Agora, desde o começo, me mostra como você pratica essa porcaria que comprou. Porque eu vou rasgar isso tudo e consertar pra você!

    …Ela o ajudou bastante.

    Separou-se de Gilead na mansão principal. Gilead foi direto até Lovellian, enquanto Eugene retornou ao anexo. Dezra, Gargith e Nina o esperavam no ginásio do anexo.

    — Mostra pra gente! — Dezra disparou assim que viu Eugene.

    Ela veio saltando em sua direção, os olhos claramente fixos em Wynnyd, que pendia da cintura de Eugene.

    — …Por que você não escolheu uma lança?

    — Foi a minha escolha.

    — Mas você é ótimo com lanças!

    — O quê diabos você estava olhando lá no labirinto? Não viu que também sou ótimo com espada?

    Dezra fez uma cara emburrada diante da resposta. Achava que ele era rude e irritante, e queria de algum jeito refutar suas palavras; mas, ao se lembrar da imagem de Eugene derrotando o minotauro, percebeu que não havia como fazê-lo. Eugene era mesmo tão bom com a espada quanto com a lança.

    — Parece leve demais — comentou Gargith, coçando o queixo pensativo. — Com a sua força, uma espada maior e mais pesada cairia melhor. Algo como um martelo ou um machado também seria bom.

    — Já disse, foi a minha escolha.

    — Bom, não é como se fosse uma arma ruim só porque é leve. Afinal, não é uma arma qualquer, mas uma do cofre de tesouros da família principal… Então, o que me diz?

    — O que você quer dizer com ‘o que me diz?’ — Eugene perguntou.

    — Estou falando do suplemento de crescimento muscular da nossa família. Agora que a Cerimônia de Continuação da Linhagem acabou, você devia ir comigo até a casa da minha família. Vou elogiar você para o meu pai, assim ele vai te fornecer quantos suplementos quiser.

    — Não, não preciso disso.

    — Funciona melhor se você tomar durante o período de crescimento. Se combinarmos isso com seu treinamento bárbaro, logo vai dar resultados. Não, espera — em vez de treinar sozinho, vamos treinar juntos.

    Gargith não estava dizendo tudo isso por acaso. Ele realmente queria construir uma amizade sólida com Eugene. Afinal, era a primeira vez na história do clã Lionheart que alguém da linha colateral derrotava alguém da linha direta durante a Cerimônia.

    — Afinal, você disse que nenhum dos cavaleiros da sua casa em Gidol consegue te ensinar, certo? Já a nossa família tem muitos cavaleiros altamente habilidosos. E claro, o melhor de todos é meu pai. Então, se vier comigo, ele também vai te orientar — tentou convencê-lo Gargith.

    — Tá tudo bem — Eugene insistiu.

    — Em vez de ficar conversando com esse porco idiota, desembainha logo essa espada — Dezra se intrometeu na conversa.

    — …Nina — Eugene chamou com um suspiro, segurando o cabo de Wynnyd. — Vai pedir ao cozinheiro para preparar algo pra eu comer.

    — Já dei essa ordem — Nina respondeu.

    — E a água do banho?

    — Já está providenciada também.

    — Excelente trabalho.

    Enquanto assentia em aprovação, Eugene desembainhou Wynnyd. O som metálico suave da lâmina deslizando pela bainha fez os cantos dos lábios de Eugene se erguerem. Ele olhou para o comprimento delgado e azul-prateado da lâmina.

    A lâmina era tão afiada que parecia que um simples toque já causaria um corte, e, desde que se inserisse mana, aquela espada permitiria invocar espíritos do vento. Eugene sabia muito bem o quão poderosa ela era.

    Mesmo sem envolver a espada com luz ou força da espada, com o apoio de um espírito do vento, podia-se criar uma lâmina de vento ao redor da espada. Ao balançá-la nesse estado, quase qualquer coisa podia ser cortada como se fosse papel. Além disso, ela podia lançar lâminas de vento contra inimigos distantes e até bloquear a maioria dos ataques.

    Claro, sem poder invocar um espírito, ele ainda não podia usar essas funções.

    — Que espada é essa? — Dezra perguntou, os olhos brilhando.

    — Chama-se Wynnyd — Eugene respondeu. — O Patriarca me disse que ela é abençoada pelo Rei dos Espíritos do Vento. Assim que eu começar a treinar minha mana, talvez consiga invocar espíritos.

    Em vez de confiar em suas próprias memórias, Eugene repetiu a explicação que ouvira de Gilead. Dezra fez um biquinho e lançou a Eugene um olhar cheio de inveja.

    — …É uma espada impressionante, mas… devia ter um monte de lanças ainda mais impressionantes. Eu tinha certeza de que você escolheria uma lança — Dezra comentou, cheia de opinião própria.

    — Bom, havia mesmo várias lanças — Eugene provocou.

    — Ei, você viu aquela? A Lança do Dragão Kharbos! Aquela que dispara o sopro de um dragão com só uma estocada. Dizem que é capaz até de destruir uma montanha!

    — Nem sei como ela é.

    — E a Lança Demoníaca Luentos? Ela estava lá? É a minha favorita. Afinal, era a mais forte entre todas as armas do Grande Vermouth.

    Os olhos de Dezra ficaram enevoados de desejo. Talvez por usar lanças como arma principal, ela tivesse uma grande fascinação pelas lanças de Vermouth.

    — Também ouvi falar de Luentos. Não era a lança usada pelo Rei Demônio da Crueldade? — disse Gargith, assentindo em apreço.

    Sem dizer nada, Eugene devolveu Wynnyd à bainha.

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