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    — …É um colar comum — disse Lovellian ao abrir os olhos e devolver o colar que segurava para Gilead. — Examinei com atenção, mas esse item não possui magia alguma.

    — …É mesmo?

    Embora tentasse manter um tom casual, Gilead sentiu certo constrangimento com aquelas palavras. No fim das contas, era mesmo um colar comum, sem magia nenhuma. Na verdade, até chamá-lo de ‘comum’ era exagero. Afinal, não passava de um colar velho e sem valor.

    Mas então, por que diabos algo assim estava entre os tesouros da família principal? Eugene havia dito que o encontrara enfiado num canto profundo de uma prateleira. Gilead já havia estado naquele cofre de tesouros várias vezes para procurar esta ou aquela arma, mas nunca tinha visto aquele colar.

    “E ele nem estava registrado pela magia do cofre.”

    Isso significava que alguém o levou para dentro, mas quem? O antigo Patriarca não era o tipo de homem que faria esse tipo de brincadeira sem sentido. Se não fosse ele, poderia ter sido algum outro ancestral? Mas, nesse caso, por quê?

    — Esse colar estava mesmo dentro do cofre de tesouros? — perguntou Lovellian, para confirmar.

    — Estava — Gilead confirmou.

    — …Será que o garoto, Eugene, estava pregando uma peça em você?

    — Que motivo ele teria para isso?

    — Hm… Pelo que vi dele no labirinto, ele tem um lado bastante astuto e maldoso. Talvez tenha entrado com algo que já era dele e o escolheu em vez de pegar algo mais caro, tudo para causar boa impressão ao Patriarca? — Lovellian pigarreou e falou com cautela. — Sendo bem sincero, Lorde Gilead… o senhor deve ter ficado ao menos um pouco agradavelmente surpreso quando Eugene voltou com um colar sem valor em vez de um tesouro de verdade.

    — …Não posso negar — Gilead admitiu com um sorriso torto. — Mas ele não tem só treze anos? Não consigo imaginar um garoto como Eugene sendo capaz de prever como eu me sentiria com isso e bolar um plano desses.

    — Seria um risco e tanto. Ele teve sorte de o senhor ter essa mentalidade generosa; com um pouco de descuido, poderia ter perdido a chance de garantir um tesouro.

    Lovellian só estava levantando algumas suspeitas vagas. Nem ele mesmo acreditava realmente que Eugene teria arquitetado algo assim. Depois de refletir por mais alguns instantes, estendeu a mão para Gilead.

    — Permita-me examiná-lo mais uma vez.

    — Você já não terminou todos os exames? — Gilead perguntou.

    — Já confirmei que não há nenhuma magia oculta no colar. No entanto, agora também fiquei curioso sobre sua origem. Gostaria de investigar isso mais a fundo.

    — E como pretende fazer isso?

    — Hm… como posso explicar? Simplificando, vou ler as memórias do colar desde que ele era novo. — Lovellian continuou com um sorriso contido — A mana existe em todo o mundo. Embora não seja possível se comunicar com a mana diretamente, conheço um feitiço que permite ler a ‘memória’ da mana. É uma magia criada pela estimada mestra da nossa escola, a Sábia Sienna.

    Lovellian não conseguiu esconder o orgulho ao concluir a explicação. Era o quanto aquele feitiço, e sua criadora, eram extraordinários. Na história da magia, a única maga que descobriu uma forma de interagir com a mana dessa maneira foi a Sábia Sienna.

    — …conto com você — em vez de compartilhar da admiração de Lovellian, Gilead apenas entregou-lhe o colar.

    Sentindo-se um pouco decepcionado por Gilead não demonstrar reconhecimento pela grandeza de Sienna, Lovellian pegou o colar. Em seguida, concentrou-se e começou a entrar em ressonância com a mana presente no objeto.

    A mana existia em toda parte. A maioria dos objetos também continha uma quantidade mínima de mana. Mesmo que fosse pequena demais para produzir efeitos místicos, ainda era possível ler a memória contida nela.

    — …Hmm… — um murmúrio escapou dos lábios de Lovellian, enquanto gotas de suor escorriam de sua testa de tanta concentração. — …Realmente não há nada. Parece ser um item de cerca de cem anos atrás. Isso é… a capital? À beira da estrada… foi vendido lá. Depois disso… hmm… não consigo ler mais nada. Provavelmente a magia do cofre impediu que a mana continuasse registrando memórias.

    — Cem anos atrás… — Gilead murmurou.

    — Por volta disso, sim.

    Isso significava que o colar datava de várias gerações atrás. Atualmente, não havia mais ninguém vivo daquela época para quem se pudesse perguntar sobre sua origem. No fim, só restava especular que algum Patriarca de gerações passadas havia colocado o colar ali como uma brincadeira de motivo desconhecido.

    — Então, o que vai fazer com ele? — perguntou Lovellian.

    — Já que não tem magia alguma, vou entregar ao garoto, Eugene. Afinal, ele quis tanto esse colar que abriu mão da chance de escolher um tesouro — explicou Gilead.

    — Não precisava ir tão longe. Imagino que o garoto realmente tenha gostado dele — Lovellian comentou, surpreso.

    — Bem, não há razão para que ele não o tenha — respondeu Gilead com um sorriso.

    Lovellian retribuiu o sorriso e devolveu o colar.

    Lovellian era o Mago-Chefe da Torre Vermelha. No entanto, nem mesmo ele foi capaz de descobrir que aquele colar era o mesmo que Hamel havia usado trezentos anos atrás.

    A leitura de mana que realizou conseguiu enganar até Lovellian.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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