Índice de Capítulo

    Min Ryo caminhava lentamente pelos vastos corredores do Departamento Médico, agora reformulados e revestidos com as pedras espirituais de cura que absorviam e purificavam a energia ao redor. Seus passos eram suaves, mas por dentro, uma tempestade de pensamentos rugia sem cessar. 

    Os cabelos brancos caíam sobre seus ombros como neve silenciosa, e seus olhos azuis, normalmente serenos, agora refletiam a sombra da responsabilidade. 

    Ele estava com o manto negro tradicional da Liga da Lâmina Celestial, uma armadura prateada ajustada ao seu corpo esguio, com ombreiras marrons polidas que brilhavam sob a luz espiritual do corredor. E sobre tudo isso, uma capa branca ondulava às suas costas, marcada com o símbolo de Capitão da Liga. Era permitido a ele escolher qualquer coloração de capa… mas havia recusado esse direito. 

    “Apenas os que pertencem ao lugar… vestem as cores do lugar.” — murmurou em silêncio, tocando levemente o símbolo bordado em fios dourados. 

    Era jovem. 

    Demais. 

    Jovem demais para estar entre monstros antigos, dragões ocultos e tigres adormecidos

    — “Capitão Min Ryo…” — alguém o cumprimentou com uma reverência apressada ao cruzar por ele. 

    Ele acenou com a cabeça. 

    Mesmo agora, após o reconhecimento unânime de todos os Capitães — até mesmo do lendário Patrono da Liga, Baek Jin, o Semi-Deus silencioso — ainda se sentia… deslocado. Como se ocupasse um trono construído às pressas, em um salão que ainda não havia aprendido a caminhar. 

    Ao entrar em seu novo escritório de capitão, uma grande sala espiritual com janelas largas e cortinas de seda branca, ele finalmente se permitiu respirar com mais calma. A madeira era escura, o aroma das ervas espirituais perfumava o ar, e o selo oficial do Departamento Médico estava esculpido na parede oposta, como um olho que o observava. 

    “Um garoto curando guerreiros…” — pensou amargamente. 

    “E se eu falhar? E se um dia todos dependerem de mim… e eu não puder salvá-los?” 

    Min Ryo fechou os olhos. Por um instante, sentiu-se de volta ao dia em que salvou a Vice-Capitã Mina e dezenas de soldados, seus gritos de dor, o cheiro de sangue, a pressão espiritual da fera os esmagando. 

    “Mas eu consegui.” 

    Abriu os olhos. 

    Não podia mais se permitir duvidar. 

    Era o Capitão agora. 

    — “Entre.” — disse calmamente, ao ouvir batidas suaves na porta. 

    O velho Yi San, curvado e com rugas profundas no rosto, entrou com uma reverência respeitosa. Usava agora o manto de Vice-Capitão, com um símbolo prateado menor no ombro direito. 

    — “Capitão, agradeço por me nomear…” — disse com um leve sorriso. — “A idade me ensinou que não se recusa uma responsabilidade honrada. Mas devo dizer… você me surpreende.” 

    Min Ryo o encarou por um momento. 

    — “Surpreender, por si só, não significa competência. Ainda tenho muito a aprender.” 

    — “Então já tem mais sabedoria do que muitos Capitães por aí.” — Yi San sorriu com aprovação. — “O que faremos agora?” 

    Min Ryo caminhou até sua mesa, pegando um pergaminho de planejamento. 

    — “Reestruturaremos os protocolos médicos. Haverá treinamento obrigatório de primeiros socorros para soldados e cultivadores de todos os departamentos. Desenvolveremos remédios portáteis para cada tipo de envenenamento comum no campo de batalha. E… quero reorganizar o laboratório de pesquisa para estudar curas alternativas para ferimentos provocados por energia demoníaca.” 

    — “Ambicioso.” — Yi San arregalou os olhos. — “Mas não impossível.” 

    Min Ryo assentiu. 

    — “A guerra contra os Filhos das Trevas já começou, mesmo que não vejam as chamas no horizonte. Quero que o Departamento Médico esteja preparado. Não podemos apenas tratar… temos que antecipar.” 

    Yi San sentou-se silenciosamente, observando o jovem à sua frente. O menino que chegara dias atrás com olhos curiosos e passos hesitantes, agora falava como um verdadeiro comandante, com palavras que carregavam propósito. 

    Após organizar os primeiros planos e escalas de trabalho, Min Ryo retirou-se do escritório, caminhando até o pátio medicinal, um jardim secreto criado com pedras de cura, flores espirituais e fontes de energia calmante. 

    Sentou-se em uma pedra, olhando o reflexo da água. 

    Ali, sozinho, seus pensamentos retornaram. 

    “Corpo de Mil Venenos…” 

    Baek Jin havia lhe revelado tudo pessoalmente após a nomeação. 

    Aquela constituição rara… poderia absorver, entender e manipular qualquer veneno conhecido. Mas isso também vinha com um fardo. Os venenos que o corpo absorvia… deixavam traços. E cada traço, com o tempo, corroía parte da sua vitalidade. 

    “Eu não vou morrer cedo…” — pensou, encarando seu reflexo. — “Mas não terei a vida longa que esperam de um cultivador…” 

    Seus olhos brilharam em azul por um instante, e as palavras ecoaram em seu coração. 

    — “Então queimar meu tempo com intensidade… será minha melhor escolha.” 

    Naquela noite, enquanto o céu da Cidade Celestial era coberto por estrelas douradas, Min Ryo retornou ao seu escritório e pegou sua pena espiritual. 

    Escreveu sua primeira diretriz como Capitão, com caligrafia firme e sem tremores: 

    “Departamento Médico da Liga da Lâmina Celestial. A partir de hoje, seremos a muralha entre a vida e a morte. Não importa se você carrega feridas, doenças, ou maldições… se cruzar nossos portões, será curado. Essa é nossa promessa.”
     

    Assinou. 

    Capitão Min Ryo. 

    E com isso, o mais jovem Capitão da Liga selava não apenas sua liderança… mas sua missão. 

    Ele não era apenas o curandeiro dos campos de batalha. 

    Era a última esperança antes da escuridão. 

     

    O ar da manhã estava tão puro quanto cristal lapidado pelas mãos de um artesão divino. 

    O Lago Espiritual, tesouro oculto no coração da Cidade Celestial Tianlong, fluía em silêncio. Suas águas brilhavam com tons azul-claros e dourados, como se refletissem fragmentos do céu e da eternidade. Na margem norte do lago, duas figuras estavam sentadas, lado a lado, em perfeita sincronia. 

    O Jovem Mestre Tae-Min e a Capitã Qian Xue

    Ambos estavam em posição de lótus, envoltos por camadas de energia espiritual tão espessas e puras que o próprio espaço ao redor deles parecia tremer levemente, como se o mundo hesitasse em se aproximar. 

    Aquele ponto exato onde estavam — o Olho do Lago — era o lugar mais denso em energia de todo o lago. Dizia-se que, ali, a energia não apenas curava o corpo, mas purificava a alma. Era o local escolhido por Baek Jin para os dois treinarem. 

    Mas romper o gargalo de Mestre Marcial para o Santo Marcial… 
    Não era algo que se fazia com simples meditação. 

    Era como tentar atravessar o firmamento com os dedos nus. 

    Horas passaram. 

    Suor escorria da testa de Tae-Min. 

    O lago vibrava levemente sob a pressão crescente de sua aura. 

    Qian Xue, ao seu lado, mantinha os olhos fechados, com os longos cabelos prateados dançando como se estivessem submersos na própria água espiritual. A beleza de sua fisionomia se intensificava, como uma deusa da neve prestes a despertar para uma nova era. 

    Por mais que fossem gênios absolutos, o limiar diante deles era cruel. 

    “A barreira… é como uma muralha feita pelos próprios céus…” — pensou Tae-Min, seus olhos escarlates trêmulos, suas veias espirituais no limite da ruptura. 

    “Se não fosse por esse lugar… talvez eu nem chegasse tão longe…” — pensava Qian Xue, ofegante, a energia espiritual condensando-se ao redor de seu dantian como um turbilhão prestes a explodir. 

    Então… 

    A terra estremeceu. 

    Uma presença colossal, mais pesada que uma montanha celestial, desceu sobre o lago. 

    Baek Jin. 

    Ele não disse palavra alguma. Apenas caminhou até a margem oposta do lago, de braços cruzados. Sua presença era como um sol invisível, pressionando o mundo com sua existência. 

    Em sua voz — baixa, calma e sem pressa — havia um poder que atravessava o tempo: 

    — “Vocês já têm o suficiente dentro de si. A energia ao redor… é apenas o catalisador. O que falta não é mais poder. É coragem.” — disse ele, olhando diretamente para Tae-Min e Qian Xue. 

    As palavras soaram simples. 

    Mas em seus corações… algo queimou. 

    Tae-Min apertou os punhos. 

    Qian Xue abriu os olhos lentamente. 

    Naquele instante, uma imagem surgiu diante dos olhos dos dois. 

    Eles se viram, lado a lado… diante de um campo devastado… segurando espadas… protegendo inocentes… lutando contra a escuridão. 

    “Se não rompermos agora…” 
    “Nunca seremos capazes de defender o que amamos…” 

    BOOM! 

    Uma explosão silenciosa de energia espiritual tomou o Lago Espiritual. Ondas de água se ergueram como dragões dourados. Os céus brilharam. A aura de ambos subiu como pilares espirituais rumo ao alto! 

    As nuvens se dividiram. 

    Um rugido silencioso ecoou pelo céu da cidade Tianlong. 

    O céu… havia reconhecido os dois. 

    Eles haviam rompido. 

    Ambos haviam alcançado o Reino Santo Marcial. 

    Tae-Min abriu os olhos. 

    Eles brilhavam com uma luz vermelha profunda, intensa como rubis em chamas, mas cheia de tranquilidade e decisão. 

    Qian Xue também abriu os olhos, que antes eram frios como a neve, mas agora… estavam molhados com emoção contida. 

    — “Conseguimos…” — ela sussurrou. 

    Tae-Min sorriu. 

    Levantou-se com calma, as gotas do Lago Espiritual escorrendo por seu corpo divino. Seus cabelos estavam molhados, colados à testa, mas seu olhar era firme. A presença dele agora… era a de um verdadeiro pilar da Liga. 

    Qian Xue também se ergueu. 

    Ele estendeu a mão para ela, e ela a segurou sem hesitar. 

    — “Esposa…” — Tae-Min murmurou, com um sorriso gentil nos lábios. 

    Qian Xue, que antes era conhecida como uma capitã implacável, impassível e fria, sentiu as bochechas ruborizarem. 

    — “Marido…” — respondeu, com os olhos cheios de lágrimas contidas. 

    E ali, diante do Lago Espiritual, sob o céu ainda dividido por sua ascensão, os dois trocaram um juramento silencioso. 

    Um não precisava salvar o outro. 

    Eles cresceriam juntos. 

    Caminhariam lado a lado até o fim. 

    Baek Jin observava de longe, de braços cruzados. 

    “Agora… o mundo pode começar a temê-los.” 

    E o Lago Espiritual, envolto pela lenda de seus nomes, jamais seria o mesmo. 

    Pois naquele dia, ali, havia nascido a lenda de dois cultivadores que romperam juntos o limite impossível, lado a lado… como Marido e Esposa sob os Céus. 

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