Capítulo 42 – Marido e Esposa Sob os Céus.
Min Ryo caminhava lentamente pelos vastos corredores do Departamento Médico, agora reformulados e revestidos com as pedras espirituais de cura que absorviam e purificavam a energia ao redor. Seus passos eram suaves, mas por dentro, uma tempestade de pensamentos rugia sem cessar.
Os cabelos brancos caíam sobre seus ombros como neve silenciosa, e seus olhos azuis, normalmente serenos, agora refletiam a sombra da responsabilidade.
Ele estava com o manto negro tradicional da Liga da Lâmina Celestial, uma armadura prateada ajustada ao seu corpo esguio, com ombreiras marrons polidas que brilhavam sob a luz espiritual do corredor. E sobre tudo isso, uma capa branca ondulava às suas costas, marcada com o símbolo de Capitão da Liga. Era permitido a ele escolher qualquer coloração de capa… mas havia recusado esse direito.
— “Apenas os que pertencem ao lugar… vestem as cores do lugar.” — murmurou em silêncio, tocando levemente o símbolo bordado em fios dourados.
Era jovem.
Demais.
Jovem demais para estar entre monstros antigos, dragões ocultos e tigres adormecidos.
— “Capitão Min Ryo…” — alguém o cumprimentou com uma reverência apressada ao cruzar por ele.
Ele acenou com a cabeça.
Mesmo agora, após o reconhecimento unânime de todos os Capitães — até mesmo do lendário Patrono da Liga, Baek Jin, o Semi-Deus silencioso — ainda se sentia… deslocado. Como se ocupasse um trono construído às pressas, em um salão que ainda não havia aprendido a caminhar.
Ao entrar em seu novo escritório de capitão, uma grande sala espiritual com janelas largas e cortinas de seda branca, ele finalmente se permitiu respirar com mais calma. A madeira era escura, o aroma das ervas espirituais perfumava o ar, e o selo oficial do Departamento Médico estava esculpido na parede oposta, como um olho que o observava.
— “Um garoto curando guerreiros…” — pensou amargamente.
— “E se eu falhar? E se um dia todos dependerem de mim… e eu não puder salvá-los?”
Min Ryo fechou os olhos. Por um instante, sentiu-se de volta ao dia em que salvou a Vice-Capitã Mina e dezenas de soldados, seus gritos de dor, o cheiro de sangue, a pressão espiritual da fera os esmagando.
— “Mas eu consegui.”
Abriu os olhos.
Não podia mais se permitir duvidar.
Era o Capitão agora.
— “Entre.” — disse calmamente, ao ouvir batidas suaves na porta.
O velho Yi San, curvado e com rugas profundas no rosto, entrou com uma reverência respeitosa. Usava agora o manto de Vice-Capitão, com um símbolo prateado menor no ombro direito.
— “Capitão, agradeço por me nomear…” — disse com um leve sorriso. — “A idade me ensinou que não se recusa uma responsabilidade honrada. Mas devo dizer… você me surpreende.”
Min Ryo o encarou por um momento.
— “Surpreender, por si só, não significa competência. Ainda tenho muito a aprender.”
— “Então já tem mais sabedoria do que muitos Capitães por aí.” — Yi San sorriu com aprovação. — “O que faremos agora?”
Min Ryo caminhou até sua mesa, pegando um pergaminho de planejamento.
— “Reestruturaremos os protocolos médicos. Haverá treinamento obrigatório de primeiros socorros para soldados e cultivadores de todos os departamentos. Desenvolveremos remédios portáteis para cada tipo de envenenamento comum no campo de batalha. E… quero reorganizar o laboratório de pesquisa para estudar curas alternativas para ferimentos provocados por energia demoníaca.”
— “Ambicioso.” — Yi San arregalou os olhos. — “Mas não impossível.”
Min Ryo assentiu.
— “A guerra contra os Filhos das Trevas já começou, mesmo que não vejam as chamas no horizonte. Quero que o Departamento Médico esteja preparado. Não podemos apenas tratar… temos que antecipar.”
Yi San sentou-se silenciosamente, observando o jovem à sua frente. O menino que chegara dias atrás com olhos curiosos e passos hesitantes, agora falava como um verdadeiro comandante, com palavras que carregavam propósito.
Após organizar os primeiros planos e escalas de trabalho, Min Ryo retirou-se do escritório, caminhando até o pátio medicinal, um jardim secreto criado com pedras de cura, flores espirituais e fontes de energia calmante.
Sentou-se em uma pedra, olhando o reflexo da água.
Ali, sozinho, seus pensamentos retornaram.
— “Corpo de Mil Venenos…”
Baek Jin havia lhe revelado tudo pessoalmente após a nomeação.
Aquela constituição rara… poderia absorver, entender e manipular qualquer veneno conhecido. Mas isso também vinha com um fardo. Os venenos que o corpo absorvia… deixavam traços. E cada traço, com o tempo, corroía parte da sua vitalidade.
— “Eu não vou morrer cedo…” — pensou, encarando seu reflexo. — “Mas não terei a vida longa que esperam de um cultivador…”
Seus olhos brilharam em azul por um instante, e as palavras ecoaram em seu coração.
— “Então queimar meu tempo com intensidade… será minha melhor escolha.”
Naquela noite, enquanto o céu da Cidade Celestial era coberto por estrelas douradas, Min Ryo retornou ao seu escritório e pegou sua pena espiritual.
Escreveu sua primeira diretriz como Capitão, com caligrafia firme e sem tremores:
Assinou.
Capitão Min Ryo.
E com isso, o mais jovem Capitão da Liga selava não apenas sua liderança… mas sua missão.
Ele não era apenas o curandeiro dos campos de batalha.
Era a última esperança antes da escuridão.
…
O ar da manhã estava tão puro quanto cristal lapidado pelas mãos de um artesão divino.
O Lago Espiritual, tesouro oculto no coração da Cidade Celestial Tianlong, fluía em silêncio. Suas águas brilhavam com tons azul-claros e dourados, como se refletissem fragmentos do céu e da eternidade. Na margem norte do lago, duas figuras estavam sentadas, lado a lado, em perfeita sincronia.
O Jovem Mestre Tae-Min e a Capitã Qian Xue.
Ambos estavam em posição de lótus, envoltos por camadas de energia espiritual tão espessas e puras que o próprio espaço ao redor deles parecia tremer levemente, como se o mundo hesitasse em se aproximar.
Aquele ponto exato onde estavam — o Olho do Lago — era o lugar mais denso em energia de todo o lago. Dizia-se que, ali, a energia não apenas curava o corpo, mas purificava a alma. Era o local escolhido por Baek Jin para os dois treinarem.
Mas romper o gargalo de Mestre Marcial para o Santo Marcial…
Não era algo que se fazia com simples meditação.
Era como tentar atravessar o firmamento com os dedos nus.
Horas passaram.
Suor escorria da testa de Tae-Min.
O lago vibrava levemente sob a pressão crescente de sua aura.
Qian Xue, ao seu lado, mantinha os olhos fechados, com os longos cabelos prateados dançando como se estivessem submersos na própria água espiritual. A beleza de sua fisionomia se intensificava, como uma deusa da neve prestes a despertar para uma nova era.
Por mais que fossem gênios absolutos, o limiar diante deles era cruel.
— “A barreira… é como uma muralha feita pelos próprios céus…” — pensou Tae-Min, seus olhos escarlates trêmulos, suas veias espirituais no limite da ruptura.
— “Se não fosse por esse lugar… talvez eu nem chegasse tão longe…” — pensava Qian Xue, ofegante, a energia espiritual condensando-se ao redor de seu dantian como um turbilhão prestes a explodir.
Então…
A terra estremeceu.
Uma presença colossal, mais pesada que uma montanha celestial, desceu sobre o lago.
Baek Jin.
Ele não disse palavra alguma. Apenas caminhou até a margem oposta do lago, de braços cruzados. Sua presença era como um sol invisível, pressionando o mundo com sua existência.
Em sua voz — baixa, calma e sem pressa — havia um poder que atravessava o tempo:
— “Vocês já têm o suficiente dentro de si. A energia ao redor… é apenas o catalisador. O que falta não é mais poder. É coragem.” — disse ele, olhando diretamente para Tae-Min e Qian Xue.
As palavras soaram simples.
Mas em seus corações… algo queimou.
Tae-Min apertou os punhos.
Qian Xue abriu os olhos lentamente.
Naquele instante, uma imagem surgiu diante dos olhos dos dois.
Eles se viram, lado a lado… diante de um campo devastado… segurando espadas… protegendo inocentes… lutando contra a escuridão.
— “Se não rompermos agora…”
— “Nunca seremos capazes de defender o que amamos…”
BOOM!
Uma explosão silenciosa de energia espiritual tomou o Lago Espiritual. Ondas de água se ergueram como dragões dourados. Os céus brilharam. A aura de ambos subiu como pilares espirituais rumo ao alto!
As nuvens se dividiram.
Um rugido silencioso ecoou pelo céu da cidade Tianlong.
O céu… havia reconhecido os dois.
Eles haviam rompido.
Ambos haviam alcançado o Reino Santo Marcial.
Tae-Min abriu os olhos.
Eles brilhavam com uma luz vermelha profunda, intensa como rubis em chamas, mas cheia de tranquilidade e decisão.
Qian Xue também abriu os olhos, que antes eram frios como a neve, mas agora… estavam molhados com emoção contida.
— “Conseguimos…” — ela sussurrou.
Tae-Min sorriu.
Levantou-se com calma, as gotas do Lago Espiritual escorrendo por seu corpo divino. Seus cabelos estavam molhados, colados à testa, mas seu olhar era firme. A presença dele agora… era a de um verdadeiro pilar da Liga.
Qian Xue também se ergueu.
Ele estendeu a mão para ela, e ela a segurou sem hesitar.
— “Esposa…” — Tae-Min murmurou, com um sorriso gentil nos lábios.
Qian Xue, que antes era conhecida como uma capitã implacável, impassível e fria, sentiu as bochechas ruborizarem.
— “Marido…” — respondeu, com os olhos cheios de lágrimas contidas.
E ali, diante do Lago Espiritual, sob o céu ainda dividido por sua ascensão, os dois trocaram um juramento silencioso.
Um não precisava salvar o outro.
Eles cresceriam juntos.
Caminhariam lado a lado até o fim.
Baek Jin observava de longe, de braços cruzados.
— “Agora… o mundo pode começar a temê-los.”
E o Lago Espiritual, envolto pela lenda de seus nomes, jamais seria o mesmo.
Pois naquele dia, ali, havia nascido a lenda de dois cultivadores que romperam juntos o limite impossível, lado a lado… como Marido e Esposa sob os Céus.
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