Índice de Capítulo

    Depois de abrir a porta para Eugene, Gion deu alguns passos para trás. Então piscou para Eugene e o incentivou a entrar com um gesto.

    “Apesar de ter uma boa personalidade, ele é meio exagerado.”

    Com um leve nervosismo, Eugene entrou na sala. O espaço amplo havia sido mobiliado como o escritório pessoal do Patriarca.

    — Desculpe por chamá-lo de repente — começou Gilead, se desculpando.

    — Tudo bem — respondeu Eugene, inclinando a cabeça.

    Gilead sorriu e apontou para o conjunto de assentos de visitantes:

    — Por ora, por que não se senta?

    Alguns petiscos haviam sido preparados sobre a mesa de centro. No entanto, Eugene não tocou nem nos biscoitos nem no chá, e em vez disso encarou diretamente Gilead. Apesar de ser um pouco rude, sua atitude ainda era aceitável para uma criança.

    — Sobre o colar — disse Gilead, sem se ofender com a postura de Eugene; na verdade, achava aquele olhar destemido até um pouco adorável. A primeira impressão de alguém sempre influencia como essa pessoa será vista dali em diante, e Gilead havia tido uma boa impressão de Eugene.

    — Pedi ao Mestre Lovellian que examinasse o colar, mas acabou sendo apenas um colar comum — continuou Gilead.

    — Então era isso — Eugene fingiu ignorância.

    — Ele até leu as memórias mais antigas registradas na mana do colar, mas não encontrou nada de especial.

    “Eles chegaram a ler as memórias da mana?” Por um instante, Eugene quase deixou transparecer seu pânico antes de esconder rapidamente a emoção. “Ah, é mesmo, havia um feitiço assim, não havia?”

    Mas mesmo tendo usado um dos feitiços da Sienna, não encontraram nada de especial no colar? Ao ouvir isso, Eugene não pôde deixar de sentir vergonha de sua vida passada como Hamel.

    — …Existem memórias registradas no colar? — perguntou Eugene, tentando não soar abalado.

    — Hm… como posso explicar? Simplificando, o Mestre Lovellian usou um feitiço para ler a história de onde o colar veio. Ele disse que o colar foi comprado nas ruas da capital, há cerca de cem anos — contou Gilead, antes de entregar o colar a Eugene.

    Ao recebê-lo, Eugene o examinou com atenção. Não havia erro. Esse era definitivamente o colar que Hamel havia usado trezentos anos atrás, a lembrança deixada por seus pais. Não havia como confundir um colar que usara constantemente durante mais de vinte anos de viagens. Tanto a descoloração da corrente quanto os arranhões no cristal barato pendurado à frente eram exatamente os mesmos de suas memórias.

    “Pra começo de conversa, quem seria louco o suficiente pra vender um colar velho desses numa barraca de rua?”

    Um colar assim só poderia ser vendido se o vendedor fosse insano e o comprador mais insano ainda.

    “Lovellian pode estar mentindo, mas… não tem motivo pra isso. Será que ele leu errado? Um Arquimago que atua como Chefe de uma Torre de Magia?”

    Se não foi isso, então…

    “Significa que um feitiço capaz até de enganar o Chefe de uma Torre de Magia foi lançado no colar… criando uma camada de memórias novas na mana. Mas quem diabos faria isso? Teria sido o Vermouth?”

    — Mas que razão aquele cara teria pra fazer algo assim?

    Não era incomum alguém guardar uma lembrança de um companheiro morto para homenageá-lo, mantendo-a em seu tesouro pessoal. Vermouth não parecia ser do tipo dado a esse tipo de sentimentalismo, mas, por outro lado, Eugene também nunca teria esperado que Vermouth se casasse com mais de dez mulheres depois de retornar do Reino Demoníaco. Isso era prova, se é que precisava, de que o tempo realmente muda as pessoas.

    “Mas se queriam mesmo me homenagear, então deviam ter matado todos os Reis Demônio.”

    Se não podiam fazer isso, então ao menos deviam ter registrado o colar direito no cofre de tesouros. Com uma mistura complexa de insatisfação e dúvida, Eugene assentiu com a cabeça, indicando que tinha entendido.

    — …Então está tudo bem se eu ficar com esse colar?

    — O colar não tem valor algum. Tem certeza de que ainda o quer?

    — Por algum motivo, ele parece me chamar.

    — Hm. Bom, suponho que às vezes os objetos fazem isso.

    Crianças costumavam se atrair por coisas estranhas. O próprio Gilead costumava colecionar moedas antigas quando era pequeno.

    — Sempre gostou desse tipo de antiguidades? — Gilead perguntou, curioso.

    Eugene desconversou:

    — Não é que eu goste ou desgoste, mas esse colar me fascina de forma estranha.

    — Bem, se realmente quiser, pode ficar com ele.

    — Muito obrigado.

    Com um sorriso, Eugene imediatamente pendurou o colar no pescoço antes de erguer os olhos para Gilead. Ao perceber que estava encarando Eugene, Gilead deu uma leve tosse e se levantou do assento.

    — …Eugene. Chamei você aqui para entregar o colar, mas… também há outro motivo.

    — Que motivo seria esse, senhor?

    Em vez de responder logo, Gilead caminhou até sentar-se na cadeira à frente de Eugene. Em seguida, pegou uma xícara de chá e começou a brincar com ela, como se tentasse organizar os pensamentos.

    — …Pode parecer repentino, mas tenho uma proposta para você. Nada desagradável, na verdade, é uma proposta voltada para o seu futuro.

    “Não pode ser.” Eugene franziu as sobrancelhas, irritado com o ritmo arrastado das palavras de Gilead.

    Uma proposta relacionada ao seu futuro? Em situações assim, quando se usava esse tipo de frase, só havia poucas opções do que poderia se tratar.

    — Eugene, você…

    — Senhor Patriarca — Eugene o interrompeu.

    Gilead parou no meio da frase e inclinou a cabeça, curioso:

    — Hm?

    Eugene prosseguiu:

    — A Ciel é gentil e fofa, mas eu não quero começar a pensar em casamento tão cedo.

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