Capítulo 39: A Oferta (5/8)

Dois dias depois, Gerhard Lionheart chegou de Gidol, no distante interior. Embora apenas um único cavaleiro, Gordon, tivesse sido enviado para escoltar Eugene na ida, dessa vez o próprio irmão mais novo do Patriarca, Gion, acompanhou pessoalmente Gerhard até a propriedade principal.

Esse fato fez com que Gerhard se sentisse imensamente pressionado. As únicas vezes em que havia estado na propriedade principal tinham sido na Cerimônia de Continuação da Linhagem, vinte anos atrás, e na cerimônia de sucessão do Patriarca; depois disso, nunca mais visitara a capital, muito menos a propriedade principal.

“…Então o Eugene realmente venceu a Cerimônia de Continuação da Linhagem deste ano?”

Meu filho fez isso? De verdade? Gerhard estava suspeitando que talvez estivesse sonhando. Ou então, que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto.

Mas que motivo a família principal da linhagem Lionheart, os descendentes diretos do Grande Vermouth, teria para chamar o patriarca de uma família colateral insignificante do campo, só para pregar uma peça dessas?

Mesmo assim, era difícil aceitar com facilidade. Quando Gion apareceu à sua porta, Gerhard ficou tão surpreso que quase desmaiou. Ficou ainda mais chocado ao ver a luxuosa carruagem estacionada do lado de fora, ostentando a inconfundível bandeira dos corajosos Lionheart. E mesmo após ouvir, durante a viagem, Gion relatar tudo o que Eugene havia feito, seu espanto não diminuía nem um pouco.

Depois de passarem por vários portais de teletransporte, chegaram à capital. E só quando chegaram ao portal da família principal, um portal reservado apenas para ocasiões especiais, foi que Gerhard finalmente aceitou que tudo aquilo era real.

“Meu filho… ele realmente derrotou os filhos da família principal.”

Gerhard sentia que estava prestes a chorar. Não é que nunca tenha depositado expectativas em Eugene. Seu filho sempre fora fora do comum, desde pequeno. Era uma criança tão excepcional que… às vezes Gerhard duvidava que Eugene fosse realmente seu filho.

Por isso, sempre se sentiu culpado. Sabia muito bem que, com suas próprias habilidades, não poderia dar ao filho o impulso necessário para que seu talento florescesse. Achava que a Cerimônia de Continuação da Linhagem forçaria Eugene a encarar a realidade. Afinal, não importava o quão excepcionais fossem os descendentes colaterais, a derrota ainda era inevitável. Não era possível superar a lacuna entre a linha principal e os ramos colaterais apenas com talento nato e esforço. Mas…

— Pai!

No momento em que viu o filho, Gerhard esqueceu toda a formalidade e deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto. Orgulho e culpa se misturavam enquanto olhava para seu único filho.

A bandeira dos Lionheart tremulava com orgulho diante da majestosa e esplêndida mansão da família principal. No centro daquele cenário imponente, seu filho estava de pé, sorrindo com brilho no rosto enquanto acenava para ele.

Gerhard nunca havia conseguido oferecer nenhum tipo de apoio real a Eugene. Não pôde encontrar um cavaleiro de excelência para ensiná-lo, e ele próprio não era capaz de instruí-lo. Além de espadas de madeira e bonecos de treino, não foi capaz de prover mais nada.

Mesmo assim, seu filho havia conseguido vencer na Cerimônia de Continuação da Linhagem.

— Meu filho, Eugene…!

Gerhard puxou o filho para um abraço enquanto continuava a chorar. Eugene ficou surpreso ao ver o pai daquele jeito, mas logo assumiu uma expressão infantil e retribuiu o abraço.

— Estou tão… tão orgulhoso de você. O fato de ser meu filho me enche de orgulho — soluçava Gerhard.

— Eu disse que traria boas notícias, não disse? Você realmente não acreditou em mim? — Eugene provocou o pai.

Eugene realmente havia dito isso ao partir de Gidol para participar da Cerimônia de Continuação da Linhagem. É claro que Gerhard não conseguira acreditar de todo o coração nessas palavras. Esse fato também lhe trazia certa culpa.

— É verdade… você disse isso mesmo, não foi, meu… meu filho. Eu… me desculpe por não ter acreditado em você — soluçou Gerhard entre fungadas.

— Ei, que história é essa de pedir desculpa de novo? Se eu estivesse no seu lugar, também não teria acreditado — respondeu Eugene, tentando confortá-lo, enquanto dava um beliscão na barriga do pai.

Instintivamente, Gerhard deu um passo para trás, assustado. A dor aguda vinda da barriga avantajada o fez perceber, mais uma vez, que aquilo era real.

Mas seu filho não era o único esperando por ele nos portões. Logo atrás de Gerhard estava o irmão mais novo do Patriarca, Gion, e, à sua frente…

Gerhard engoliu em seco e rapidamente puxou um lenço do bolso do peito.

Diante dele estava Gilead Lionheart, o Patriarca dos Lionheart, a quem Gerhard havia visto pela última vez na cerimônia de ascensão ao cargo. Ainda se lembrava claramente da aparência de Gilead naquele evento. Rapidamente, limpou as lágrimas e o catarro do rosto com o lenço e então se curvou diante de Gilead.

— P-Peço desculpas pela demora em cumprimentá-lo. Meu nome é Gerhard Lionheart, venho de Gidol.

— Sou Gilead Lionheart. Por favor, perdoe a falta de cerimônia por tê-lo convidado às pressas.

Gilead aproximou-se diretamente de Gerhard e estendeu a mão para um aperto. Surpreso, Gerhard esfregou as próprias mãos nas laterais da calça antes de apertar a mão oferecida.

— Que falta de cerimônia…?! Não vejo dessa forma de modo algum. Na verdade, estou extremamente grato por ter sido convidado assim — disse Gerhard.

— Não quero tomar muito do seu tempo com seu filho, mas, se não se importar, poderia me acompanhar por um momento para conversarmos em particular?

Gilead não queria trocar longas formalidades com Gerhard ali, ao ar livre. Como membro de um ramo colateral, Gerhard naturalmente mantinha a cabeça baixa diante do Patriarca da linha direta, e Gilead não queria que Eugene visse seu pai naquela postura.

— Claro, por mim tudo bem — concordou Gerhard de imediato.

Eugene recuou com consideração, permitindo que os dois passassem. Enquanto lançava olhares curiosos ao filho, Gerhard seguiu Gilead para dentro da mansão da família principal.