Capítulo 41: A Oferta (7/8)
Eugene abaixou a espada ao ver Gerhard se aproximando com uma expressão estranha no rosto. Gerhard parecia alguém que acabara de perder um conhecido, caminhando de forma vacilante. Eugene conseguia adivinhar claramente sobre o que Gerhard havia conversado com Gilead, quais emoções seu pai estava sentindo e por que vinha até ele agora.
— Pai, que expressão é essa? — perguntou Eugene.
Em vez de agir como se já soubesse o motivo, Eugene decidiu perguntar diretamente. Ao ouvir o filho, Gerhard levantou a cabeça e, ao fazê-lo, viu o anexo. Percebeu que até mesmo aquele anexo destinado a hóspedes era maior que a própria casa deles em Gidol.
Gerhard tentou buscar confiança no fato de que, pelo menos, o ginásio deles em casa era maior. Mas a espada que o filho segurava fez seus ombros caírem novamente. Era a Espada Tempestuosa Wynnyd. Ele já havia ouvido toda a história através de Gion, como o filho escolhera pessoalmente a espada como presente do cofre de tesouros da família principal.
Mesmo que vendesse todas as propriedades que sua família havia acumulado ao longo dos anos, ainda assim não conseguiria comprar uma espada daquelas.
— …Filho — Gerhard começou a falar, mesmo com o sentimento de inadequação crescendo dentro de si. — …O Patriarca da família principal ofereceu-se para adotá-lo.
— Eu já sabia disso. Ele conversou comigo antes — respondeu Eugene com um leve encolher de ombros. — Mas o que isso tem a ver com essa sua cara, pai? Afinal, não é como se a adoção fosse nos separar, já que você viria comigo para a família principal.
— …Foi isso que ele disse. Mas… não sei se devo. Se for pelo seu futuro, permitir que você entre para a família principal através da adoção é a escolha certa. Mas, nesse caso… — Gerhard hesitou, incapaz de terminar o que queria dizer.
Perseguição por parte da família principal e futuros conflitos pela sucessão, Gerhard conseguia imaginar facilmente esses perigos à espreita. No entanto, duvidava que seu filho, ainda com treze anos, pudesse compreender esse tipo de preocupação.
— …Hipoteticamente… se for adotado pela família principal, pode acabar enfrentando muitas dificuldades — alertou Gerhard.
— Provavelmente — Eugene concordou prontamente.
Embora Gerhard não entrasse em detalhes, Eugene compreendia perfeitamente o que ele estava insinuando.
— Mas, pai, e daí se houver dificuldades? — rebateu Eugene.
— …Hã? — murmurou Gerhard, sem entender.
— Mesmo que haja muitas dificuldades me esperando no futuro, também haverá muitas coisas boas — argumentou Eugene.
— … — Gerhard não soube o que responder.
— Pai, estarei bem, aconteça o que acontecer — prometeu Eugene, enquanto embainhava Wynnyd.
Então, caminhou até o pai com um sorriso.
— Se você não quiser que eu seja adotado, então vamos apenas voltar para Gidol — disse Eugene com naturalidade.
— … — Gerhard permaneceu em silêncio.
Eugene continuou:
— Estou falando sério. Como disse, estarei bem aconteça o que acontecer. Não está vendo, pai? Estou indo muito bem até agora, não estou?
“Cresci bem, apesar de tudo”, pensou Eugene, com um aceno para si mesmo.
— Mesmo sem ter treinado minha mana ou aprendido com um grande mestre, consegui derrotar os filhos da família principal. Como seu filho, acho que me saí bem até demais. Mesmo que eu não seja adotado pela família principal, continuarei indo bem — prometeu Eugene.
Gerhard sentiu a sinceridade nas palavras do filho, e isso fez seus olhos brilharem com lágrimas contidas.
Eugene lhe deu o golpe final:
— Nunca me arrependi de você ser meu pai.
Gerhard engoliu um soluço.
— Nasci como seu filho. É graças a você que estou aqui hoje — Eugene admitiu sem hesitação.
Se Gerhard tivesse sido alguém com uma opinião inflada de si mesmo, sem habilidades que a justificassem, a infância de Eugene teria sido muito mais difícil. Mas Gerhard não era esse tipo de pessoa. Ele respeitava a determinação do filho e, desde pequeno, lhe dera tudo que podia em termos de materiais de treino.
— Por isso, pai, não se culpe à toa. Em vez disso, deveria se orgulhar de quem é. Eu só fui capaz de crescer tão bem porque você, como pai, me criou bem.
— …Eugene… — No fim, Gerhard não conseguiu mais segurar e caiu em prantos. — Eu… eu… irei com você para onde quiser. Em vez de pensar na minha reputação, você deve decidir com base nos seus próprios sonhos para o futuro.
— Seja em Gidol ou na família principal, tenho certeza de que realizarei meus sonhos — respondeu Eugene com a voz repleta de confiança.
Além de confiança, aquelas palavras também carregavam um tom de certeza. Embora houvesse muitas vantagens em ser adotado pela família principal, nenhuma delas era absolutamente essencial para que Eugene alcançasse seus objetivos.
“Elas só acelerariam meu progresso em alguns anos, no máximo.”
Ele só precisava cultivar uma quantidade mínima de mana para conseguir invocar espíritos. Isso ele conseguiria fazer mesmo se voltasse para Gidol. Se a escritura de treinamento de mana da família de Gerhard se mostrasse insuficiente, ele ainda poderia usar a escritura de mana de Hamel. Com aquele corpo absurdo que possuía, até mesmo uma escritura barata usada por mercenários seria bastante eficaz.
E depois disso? Nesse ponto, já seria capaz de invocar o nível mais baixo de espíritos. Mesmo que só conseguisse cobrir sua espada com uma lâmina de vento, isso já substituiria a necessidade da luz da espada. Com apenas isso, Eugene tinha confiança de que poderia superar qualquer cavaleiro que enfrentasse.
— …Mas, Eugene, se você for adotado pela família principal, muitas outras oportunidades estarão abertas para você — lembrou Gerhard, já mais calmo.
— Isso é verdade — concordou Eugene.
— Só temo que você acabe enfrentando muito desprezo depois de ser adotado… — confessou Gerhard.
— Pai, você me observa desde pequeno — disse Eugene, enquanto voltava a cutucar a barriga do pai. — Eu não sou do tipo que aceita desrespeito calado. Você não ouviu? No meu primeiro dia aqui, dei uma surra no Cyan da família principal.
Gerhard estremeceu:
— Quase desmaiei quando soube disso…
— E por que ficou tão chocado? Enfim, não precisa se preocupar comigo. Na verdade, é você quem deveria se preocupar consigo mesmo, pai.
— Me preocupar comigo?
— Com essa sua barriga de pai — Eugene respondeu, parando de cutucar e levantando a barriga de Gerhard com as duas mãos. — A comida da propriedade principal é bem mais gostosa do que a que comemos em casa. Com o tanto que você já se exercita — que é quase nada — se começar a se empanturrar com tudo o que tiver à disposição, essa barriga de cerveja vai explodir com certeza.
— Ha… ha ha ha — Gerhard caiu na risada.
— Se quiser estar por perto para ver o meu futuro, vai ter que cuidar da saúde primeiro — alertou Eugene.
Diante da expressão séria do filho, Gerhard enfim se acalmou e concordou:
— É verdade… Você tem razão.
Toda aquela impotência e culpa que sentira agora pareciam ridículas em retrospecto.
— Eugene — Gerhard disse, enfim assumindo uma expressão solene. — …Seu nome é Eugene Lionheart, o nome dado ao filho de Gerhard Lionheart.
— É claro que é — respondeu Eugene.
— Seu nome foi… escolhido por mim e pela sua falecida mãe, juntos. Nunca se esqueça disso — disse Gerhard, com um pouco de tristeza.
— Eu não sou idiota. Acha mesmo que esqueceria meu próprio nome? — Eugene retrucou com um sorriso, mas ainda assim assentiu obedientemente.
— Mesmo que você seja adotado pela família principal, seu verdadeiro pai, que o criou desde o nascimento, é e sempre será Gerhard Lionheart — concluiu Gerhard com um aceno silencioso.
Apesar da expressão séria, lágrimas ainda escorriam pelo rosto dele. Sem soltar nenhum soluço, abraçou Eugene com força.
“No fim das contas, parece que vou ser adotado,” pensou Eugene, envolto pelo abraço do pai. “Embora isso traga algumas chatices, haverá muitos benefícios que poderei arrancar dessa situação, então vai valer a pena.”
Eugene não tinha o menor desejo de se tornar o Patriarca do clã Lionheart. Embora não soubesse o que poderia acontecer no futuro, se demonstrasse qualquer sinal de ambição por esse cargo tão cedo, com certeza acabariam colocando todo tipo de amarras e limitações sobre ele.
“Embora eu não tenha certeza se vão acreditar quando eu disser que não estou interessado.”
Especialmente a esposa principal, Tanis, e a segunda esposa, Ancilla. Essas duas não teriam escolha a não ser tentar mantê-lo sob controle.
“…Vão impor todo tipo de regras e restrições pra cima de mim… A menos que eu as confronte diretamente. Ou simplesmente as ignore.”
Naturalmente, Eugene preferia a primeira opção à segunda.
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