E, deste modo, levantou-se — ignorando as dores que sentia.

    — Se quiseres podes segurar-te em mim… se precisares.

    — Obrigado, mas acho que não preciso. Além de que isso seria estranho.

    — Estranho? Por quê? — perguntou, não sabendo sequer parte da resposta.

    — Esquece…

    — Está bem? — falou lentamente, hesitante.

    Por que será que ele disse aquilo?

    A antiga rapidez os beneficiou, porque agora o passo lento que andavam não era problema.

    Mas, independente disso, a tarde foi escurecendo.

    — Não vejo mais o estreito… — afirmou aceleradamente Eleanor.

    — Calma… Eu ainda o vejo. 

    — Está bem…

    — Só precisas de seguir-me.

    — Mal consigo ver-te…

    — Aproxima-te, então.

    Assim, ela andou alguns passos para a frente, ficando mesmo atrás dela.

    — Pronto… Agora consegues ver-me bem, certo?

    — Sim…

    — Então segue-me.

    — Compreendido!

    — Por que falas de forma tão formal às vezes?

    — É porque… tive um treino quase militar. Entende?

    — Já tive primos que eram militares, por isso entendo — falou, virando-se para ela.

    — Então agora vamos finalmente continuar, falta muito pouco!

    — Boa!

    Continuaram, lentamente. Cada passo parecia um sacrifício para Eleanor, porém ela nunca desistiu ou pensou nisso — era uma virtude dela, o ato de nunca desistir mesmo venda a derradeira perdição,  a plena derrota.

    Coisa que não se pode comparar a isto, mesmo assim algo notável de observar-se.

    Ela tinha, de facto, uma grande vontade interior, que a fazia continuar.

    Ao longo do restante caminho, Eleanor foi acelerando o passo, recuperando a sua força a cada instante.

    — Pronto! Chegamos.

    Deste modo, descarregarem, cuidadosamente, tudo aquilo que ainda tinham. Era pouca coisa, por isso foi bastante rápido. 

    — Phew… — suspirou Eleanor, exausta de tanto caminhar.

    Weast também estava cansado, mas de ter descarregado quase tudo sozinho.

    — Huff…

    Depois sentaram-se no chão, encostados à parede natural do estreito. Nem teto tinham, ao contrário das outras vezes que tinham algo modesto a protegê-los, desta vez nem isso.

    Era de noite, escura e misteriosa, coberta por nuvens mais sinistras que o sinistro.

    O estreito era composto por dois grandes planaltos desérticos com pouquíssimas plantas e não se via nenhum animal que lá vivesse.

    — Como não se ouve nada? Como há tanto silêncio — questionou Weast, curioso.

    — Não sei… — respondeu, calmamente, virando ligeiramente o seu corpo que estava debruçado sobre aquilo que parecia areia.

    — Nem há aqui algum animal… Estranho… — Continuou.

    — Dorme… — falou Eleanor, virando-se de novo, voltando à sua posição anterior.

    — Não sei se consigo… estou com uma sensação estranha, de perigo — murmurou, hesitante.

    — Esquece isso! Eu quero dormir! — gritou. Estava demasiado cansada para conversar.

    — Está bem… está bem — pronunciou, tremendo os lábios.

    Colocou seus braços por cima da cabeça e a lâmina ao seu lado.

    Algo estranho se passa… Eu sinto isso. Não consigo negar esta sensação.

    Eu posso fazer tudo para a negar, mas não consigo o fazer. Como isto é possível? Será Deus a falar comigo? O que será isto…

    Apenas dezenas de minutos depois que os pensamos desapareceram de sua mente, e finalmente, adormeceu.

    O respirar de ambos mostrava calma, mas ela haveria de desaparecer. 

    O primeiro som além deles tinha se formado.

    — AUUUUUU! 

    A voz de um lobo, o seu grito, percorria todo o estreito e mais além. Era alto, forte e profundo. 

    Eleanor perturbou-se, virou-se de várias maneiras e, por fim, acordou.

    — Ah…. O que é isto? Um lobo?

    Ao ouvir estas palavras, de repente, Weast acorda e levanta-se rapidamente.

    — A… O quê?

    — Acordaste… boa. Eu estava a dizer que pareceu-me ouvir um som de um lobo.

    — Um lobo? Não dissestes que não havia aqui lobos?

    — Sim… eu tinha dito.

    — Então como ouvistes um? Será que não estavas a sonhar?

    — Não sei, mas não estava.

    — Hm…

    Aquela sensação estranha… agora isto.

    — Acho que devemos apenas aguardar.

    — Então vamos ter de ficar acordados?

    — É…

    — Fuuu… Estou demasiado cansada para ficar acordada!

    — Vai ter de ser assim… Imagina se somos atacados enquanto dormimos.

    — Verdade… referiu Eleanor, esticando os braços. — Se vamos ser atacados… Precisamos de estar preparados.

    — Isso…

    — Talvez devêssemos construir alguma armadilha.

    — Com o quê? Não há aqui nada…

    — Ah, talvez se procuramos… Achamos algo que possamos usar.

    — Não… isso é um erro. Se nos separamos, corremos mais perigo!

    — Hm… Tenho de concordar contigo, Weast.

    Aguardavam, os segundos demoravam uma eternidade — a vontade de dormir era crescente, cada vez mais difícil de a contornar. O sono vindo do cansaço puxava-os com cordas enormes, quase inquebráveis. Mesmo com toda a força que detinha essas cordas, nada era capaz de os puxar completamente.

    — Auuuu! — O som alto e forte que parecia vindo de um lobo tinha voltado.

    — Vistes…  Não estava a sonhar.

    — A menos que eu seja um louco que ouve aquilo que não existe… Estou a brincar… Claro que não estavas, mas isso é mau na verdade — falou, aproximando-se de Eleanor.

    Agora, eles estavam mais juntos do que nunca. O medo daquilo que poderia acontecer dançava nos braços de ambos. Um aperto se fazia sentir no coração deles, algo os esperava e não sabiam o quê.

    — Aaauuuu!

    — Tun… Tun… Tun.

    O som de batidas, ou melhor, passos andava pelo estreito — aquilo seria, provavelmente, de grandes feras, verdadeiros monstros. Já que o ruído dos passos também era gigante.

    — Prepara-te — sussurrou Eleanor.

    — Está bem…

    Começou a ver-se as primeiras criaturas.

    Eram grandes com pelo castanho escuro, tinham 4 chifres. As suas patas eram extremamente feias, sendo de cor vermelha. Os olhos eram puramente negros, quase invisíveis à noite que escura que se encontravam. Levavam em baixo dos chifres um cabelo azul que parecia falso. Todos aqueles monstros perfeitamente Iguais, mesma altura — comprimento, pelo.

    — Como vamos enfrentar aquilo? — perguntou rapidamente, olhando com uma cara de verdadeiro medo para ela.

    O que lhe hei de dizer…

    — Ouviste-me?

    — Não… repete — falou, dizendo uma mentira, não sabia o que responder.

    — Como enfrentamos aquilo?

    — De verdade? — perguntou, hesitante. Tentando não olhar para as criaturas.

    — Sim… — disse, impaciente. Olhando fixamente para elas, as malditas feras,  que se aproximam cada vez mais rápido.

    — Não sei…

    Essa era a única resposta verdadeira, nem Eleanor — com seus anos de experiência — sabia o que fazer ou como agir.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota