Capítulo 47: Treinamento de Mana (5/9)

Eugene havia permanecido nesse estado de concentração por um bom tempo. Embora, na verdade, o tempo tivesse sido mais curto do que Gion esperava para a primeira sessão, o que Eugene conseguiu realizar nessas poucas horas quebrou todas as crenças e certezas de Gion.

A mana da linha ley havia rarefeito a ponto de ser perceptível. Embora ela se regenerasse com o tempo, aquilo era sinal de que Eugene havia absorvido o máximo de mana que seu corpo conseguia suportar em apenas algumas horas.

Cyan, Ciel e Eward haviam levado vários dias apenas para sentir a mana. Depois disso, ainda levaram muito mais tempo para absorvê-la em seus corpos e, por fim, formar um núcleo com ela.

O mesmo valia para o próprio Gion.

Eugene, no entanto… foi capaz de sentir a mana assim que se sentou e, imediatamente após formar o ciclo de respiração de mana, reuniu a mana ao redor de seu coração para formar seu núcleo. E ele conseguiu fazer todo o processo com pouquíssima ajuda de Gion. Tudo o que Gion havia feito fora fornecer um impulso inicial de mana e transmitir o padrão de fluxo da Fórmula da Chama Branca.

“…O tamanho do núcleo dele também é alarmante”, observou Gion.

Era tão grande que era impossível acreditar que Eugene havia acabado de iniciar sua mana. Se alguém não soubesse das circunstâncias de Eugene, poderia pensar que ele já treinava sua mana há alguns anos.

“Normalmente, ele é bem menor…”

Quando Gion começou a treinar sua mana, seu núcleo era muito menor do que o de Eugene, mas, com treino constante, o tamanho dele foi crescendo.

— …Então você é mesmo um monstro — Gion conseguiu finalmente dizer.

Enquanto enxugava o suor que escorria por seu rosto, Eugene sorriu com calma e perguntou:

— Isso é um elogio, certo?

— É definitivamente… um elogio — murmurou Gion num tom apagado, estendendo a mão para ajudar Eugene a se levantar. — …Bem… hmm… vamos voltar.

Os pensamentos de Gion estavam ocupados com uma única pergunta: ‘Como, exatamente, ele deveria explicar o que acabara de acontecer para seu irmão?’

“Valeu, Vermouth”, Eugene sorriu ao pensar em seu companheiro da vida passada.

No caminho de volta, Eugene continuou a aprender mais sobre a Fórmula da Chama Branca.

A maior diferença entre a Fórmula da Chama Branca e a Fórmula da Chama Rubra era a capacidade da primeira de dividir parte do núcleo original para formar um novo núcleo. Não importava o quanto se desenvolvesse e treinasse a Fórmula da Chama Rubra, no fim, só era possível manter um único núcleo de mana dentro do corpo. No entanto, quando a Fórmula da Chama Branca ultrapassava certo nível, o núcleo se dividia em dois. Assim, o corpo passava a ser capaz de absorver ainda mais mana, e os núcleos divididos podiam ressoar entre si para amplificar o poder de ambos.

Cada um desses núcleos, tanto o original quanto o que se dividia, era chamado de ‘estrela’, e a quantidade de estrelas alcançadas marcava o progresso na Fórmula da Chama Branca.

O Grande Vermouth, progenitor da família Lionheart e criador da Fórmula da Chama Branca, possuía dez estrelas em seu corpo. Em toda a história do Clã Lionheart, Vermouth foi o único que conseguiu alcançar a Décima Estrela da Fórmula da Chama Branca.

— Meu irmão e eu estamos na Sexta Estrela — revelou Gion.

Isso podia parecer pouco diante do Grande Vermouth. No entanto, ao longo da história da família Lionheart, o número de pessoas que conseguiu chegar à Sexta Estrela da Fórmula da Chama Branca podia ser contado nos dedos de uma mão.

— Cyan, Ciel e Eward estão todos na… Primeira Estrela. Embora eu não tenha certeza sobre o Eward, os gêmeos devem chegar à Segunda Estrela dentro de um ano — disse Gion, citando um exemplo do ritmo normal de progresso na Fórmula da Chama Branca.

— E eu? — perguntou Eugene.

— …Não consigo dizer — respondeu Gion com um sorriso torto.

A visão inacreditável que tivera na linha ley fazia com que Gion respondesse com muita cautela, com medo de ter que engolir suas próprias palavras.

Gion continuou a explicação:

— No meu caso… levei oito anos para passar da Primeira para a Segunda Estrela. Foi mais ou menos o mesmo com meu irmão. Como Cyan e Ciel iniciaram a mana quando tinham seis anos… se conseguirem alcançar a Segunda Estrela no ano que vem, também terão levado oito anos, assim como eu e meu irmão.

— Então vai levar oito anos para mim também? — arriscou Eugene.

— Não — veio a resposta imediata.

Embora não conseguisse prever quanto tempo Eugene levaria, Gion disse com convicção:

— Você vai ser muito mais rápido que isso.

Gion ao menos podia confiar nessa crença. Nos registros da família Lionheart, nunca houve uma criança que conseguisse sentir mana e começar a praticar a Fórmula da Chama Branca tão rápido quanto Eugene. No momento, apenas observando o núcleo de Eugene, ele já parecia maior do que o de Cyan quando este tinha dez anos.

— Definitivamente não vai levar oito anos. Bem… desde que você não fique preguiçoso — Gion alertou Eugene.

— Vou me esforçar ao máximo — respondeu Eugene com um sorriso largo.

Como se ele fosse se deixar levar pela preguiça. Não havia a menor chance de fazer algo tão estúpido assim. Agora que havia reencarnado num corpo absurdamente melhor que o de sua vida passada, não queria desperdiçá-lo por conta de sua própria negligência.

“Além disso, eu ainda aprendi a escritura de treinamento de mana do Vermouth”, pensou Eugene, empolgado.

Quantas vezes não havia se sentido frustrado por causa daquela maldita chama branca e da brilhante juba de leão que deixavam todos para trás? Até o fim, o Estúpido Hamel nunca conseguiu superar Vermouth. Por mais que tivesse se esforçado, jamais conseguiu igualar sua força.

Mas agora… seria possível alcançá-lo?

Depois de refletir um pouco, Eugene decidiu: “Nem pensar.”

Eugene não queria apenas igualar o herói. O que ele queria, o que sempre quisera, era superar Vermouth.

Não era por vaidade. Nunca passou pela sua cabeça fazer algo assim. Força conquistada com esforço merecia ser valorizada e bem utilizada. Fazer algo inútil só para se exibir era jogar fora seu próprio suor.

“Por ora, é melhor focar em aprender tudo sobre a Fórmula da Chama Branca… Mas a Décima Estrela… não sei se vou conseguir alcançá-la.”

É claro que Eugene não pretendia simplesmente seguir o plano de estudos à risca. Embora fosse necessário analisar profundamente a estrutura da Fórmula da Chama Branca primeiro, se houvesse algo que não se adequasse a ele, faria suas próprias adaptações para corrigir.

“Vou ter que desconstruí-la enquanto aprendo.”

As habilidades de Hamel não eram tão excepcionais quanto as de Vermouth. Eugene tinha plena consciência disso. Ainda assim, seus talentos herdados eram superiores aos da maioria das pessoas, e talvez até melhores do que os dos antigos Patriarcas dos Lionheart.

“Embora eu só vá saber mesmo tentando.”

Teria que testar várias ideias com base na Fórmula da Chama Branca original. Agora que havia iniciado sua mana, Eugene era capaz de fazer muito mais do que antes.

— Eu vou explicar tudo ao Patriarca. Quanto a você… deve estar cansado, então vá descansar bem — disse Gion, despedindo-se de Eugene em frente ao anexo.

Eugene se despediu com um sorriso radiante.

Ele havia claramente ouvido a ordem para ir descansar. E, para falar a verdade, seu corpo estava mesmo bem cansado. Embora seu corpo não reclamasse mesmo sendo forçado além do normal, absorver tanta mana desconhecida já era suficiente para deixá-lo exausto.

No entanto, Eugene não tinha intenção nenhuma de descansar. Já que ninguém iria impedi-lo, por que deveria descansar? Esse tipo de fadiga passaria com uma boa noite de sono mesmo.

“Antes de mais nada, que tal dar uma olhada nas minhas novas habilidades?”, pensou Eugene.

Eugene arrancou as roupas ensopadas de suor e as jogou de lado. Nina, que havia corrido para fora do anexo, parou de repente ao ver o estado atual de Eugene, e logo se virou para entrar novamente. Isso porque ela percebeu que precisava buscar alguns itens essenciais, como roupas limpas, uma toalha e uma bacia com água.

Ao se afastar, Nina virou a cabeça e gritou:

— Ah… Espere, Mestre Eugene! O que deseja para o jantar?!

— Carne! — veio a resposta em alto e bom som.

— Sim, senhor!

Era exatamente o que ela esperava. Nina correu de volta para o anexo, apressada para preparar o retorno inesperado de Eugene.

Eugene ficou parado e voltou sua atenção para o núcleo dentro de seu corpo. Em aparência, ele realmente fazia jus ao nome de estrela. Criado pelo fluxo de mana guiado pela Fórmula da Chama Branca, o núcleo, centrado em seu coração, parecia uma esfera cintilante composta por todas as estrelas do céu noturno.

“É pequeno”, Eugene franziu a testa.

Era tão pequeno que nem se comparava ao que tivera em sua vida passada, mas isso não era motivo para decepção. Aos treze anos, Hamel ainda nem sequer havia iniciado sua mana. Naquela época, Hamel estava… apenas tentando sobreviver…

Quando era jovem, Hamel vivia numa vila frequentemente atacada por monstros, e uma vila pequena, ainda por cima. No início, os ataques eram esporádicos, mas quando Hamel completou dez anos, começaram a se tornar cada vez mais frequentes e violentos.

Para proteger a vila, todos precisavam saber lutar contra os monstros. Por isso, os adultos andavam armados com espadas e machados, e as crianças empunhavam versões menores dessas armas.

Hamel era um deles. Assim que recebeu uma arma, começou a aprender diversas formas de lutar…

Mas então, não demorou para que a vila fosse destruída. A razão por trás da intensificação constante dos ataques de monstros eram os Reis Demônio de Helmuth. No fim, um ataque repentino destruiu a vila e deixou o jovem Hamel como único sobrevivente.