Capítulo 48: Treinamento de Mana (6/9)
“…Pelo menos, minha situação atual é incomparavelmente melhor do que na vida passada”, pensou Eugene, tentando afastar as lembranças ruins.
Ele havia iniciado sua mana mais cedo do que em sua vida anterior e ainda por cima aprendido a Fórmula da Chama Branca de Vermouth. Por isso, não fazia sentido comparar o tamanho atual de seu núcleo com o da primeira vez em que cultivou na vida passada.
Eugene afastou os sentimentos melancólicos e focou na estrela ao redor de seu coração. Começou a mover sua mana, permitindo que fluísse junto ao sangue, mas também em direções distintas. Enquanto mantinha o fluxo da Fórmula da Chama Branca, começou a aquecer o corpo. Logo, Eugene assentia com uma expressão satisfeita.
“Parece bom”, concluiu.
Só porque seu núcleo tinha muita mana, isso não significava que ele era forte. O importante era como se usava aquela mana. A Fórmula da Chama Branca também seguia estritamente esse princípio. Mesmo com essa quantidade pequena de mana, seus movimentos corporais já haviam melhorado visivelmente.
A partir daí, Eugene tentou aplicar as experiências que havia obtido em sua vida passada. Sempre tivera talento para lidar com mana, e sabia exatamente como maximizar seu poder.
Pow!
Um punho cerrado rasgou o ar com um estrondo. Embora tivesse desferido apenas um soco, seus músculos e ossos já estavam dormentes. Mesmo que Eugene não tivesse negligenciado seu treinamento físico, ainda não estava acostumado com o efeito amplificador que a mana tinha sobre o corpo.
“É algo com que só vou me acostumar com o tempo.”
Depois de movimentar o corpo mais algumas vezes, Eugene concluiu que ainda não era capaz de criar luz da espada. Talvez conseguisse forçar uma se tentasse à força, mas não queria fazer isso tão cedo.
“Se eu esgotar meu núcleo sem motivo, nem um dia inteiro de descanso vai ser suficiente pra me recuperar.”
Assim como o corpo podia sofrer consequências graves ao ser sobrecarregado, o mesmo valia para o núcleo. Se usasse toda a mana, o núcleo seria drenado, o que traria uma carga pesada para o corpo.
— Mestre Eugene — chamou Nina ao se aproximar.
Depois de colocar uma bacia pesada de água no chão, ela não perdeu tempo nem para respirar e começou imediatamente a enxugar o corpo de Eugene com uma toalha seca. Eugene ficou parado, deixando-a trabalhar enquanto continuava a pensar.
“Talvez agora eu consiga formar um contrato”, ponderou, incerto.
Tinha passado por muitas coisas em sua vida anterior, mas nunca havia firmado um contrato com um espírito. Por isso, Eugene não sabia ao certo se conseguiria invocar um espírito com a pequena quantidade de mana que tinha agora.
— Afaste-se um pouco — ordenou Eugene.
— Sim — Nina se afastou prontamente com um aceno de cabeça.
Eugene respirou fundo devagar enquanto puxava Wynnyd. A lâmina prateada azulada deslizou para fora da bainha com um som suave. O ombro de Nina tremeu de susto ao ver aquela cena. Após respirar fundo mais algumas vezes, Eugene começou a extrair mana de seu núcleo.
“Vamos tentar”, pensou com expectativa.
Ele nunca havia aprendido qualquer tipo de magia, muito menos magia espiritual. Por isso, não sabia quanto de mana seria necessário para invocar alguma coisa. Diante disso, não havia escolha senão tentar às cegas.
A mana de seu núcleo fluiu para dentro de Wynnyd. A estrela girando ao redor de seu coração começou a brilhar. Estranhamente, mesmo sem ver isso, Eugene conseguia sentir que a estrela dentro de si estava emitindo luz.
A lâmina de Wynnyd estremeceu. A espada mágica começou a devorar vorazmente toda a mana que Eugene lhe oferecia. O suor voltou a escorrer de seu corpo, que acabara de ser limpo. A lâmina emitiu uma luz suave, e uma brisa gentil começou a girar ao redor de Eugene.
— …Aah… — Nina arfou em choque ao ver aquilo.
À medida que o vento se intensificava, ele começou a agitar os cabelos de Eugene. Sua boca secou de tensão, mas Eugene cerrou os dentes e continuou a infundir mana na lâmina.
Roooooar!
Em algum momento, a brisa suave se transformou numa tempestade violenta. Nina se assustou e recuou ainda mais.
No entanto, quem estava mais surpreso era Eugene. O que estava acontecendo? O vento já estava tão forte que ele mal conseguia abrir os olhos, e ainda assim continuava a crescer. Mesmo que Wynnyd já não estivesse absorvendo mais mana.
Eugene sentiu algo como uma ‘porta’ se abrir dentro de si. Essa porta se abriu lentamente e, conforme se abria, o vento ao redor se intensificava. Agora, o vento que soprava ao redor de Eugene havia se tornado um tornado.
— ⟅…Você é…⟆
No centro daquele tornado, Eugene ergueu a cabeça e olhou ao redor. O vento feroz parecia carregar uma voz que falava diretamente dentro de sua mente.
— ⟅…Poderia ser mesmo… você é realmente o Hamel?⟆
O coração de Eugene disparou enquanto tentava descobrir de onde vinha aquela voz.
— É você, Tempest? — perguntou.
Tempest era o Rei dos Espíritos do Vento, que havia concedido sua proteção à Espada Tempestuosa Wynnyd. Eugene o vira ser invocado por Vermouth algumas vezes em sua vida passada.
— ⟅Como isso é possível? Seria mesmo… que você reencarnou?⟆
“…Velho desgraçado, como foi que você me reconheceu?”, Eugene respondeu mentalmente a Tempest.
— ⟅Como companheiro de Vermouth, como eu poderia esquecer a aparência da sua alma?⟆
Trezentos anos haviam se passado, e até seu rosto mudara, mas sua alma ainda era a mesma. Espíritos não pertenciam ao plano material. Por isso, o Rei dos Espíritos do Vento, Tempest, reconheceu Hamel com facilidade ao ver sua alma.
— ⟅…Parece que você também se lembra de mim.⟆
“Como diabos você veio parar aqui? Eu nem estava tentando invocar você”, exigiu Eugene.
— ⟅Fazia muito tempo desde a última vez que ouvi o chamado de Wynnyd. Estava curioso para ver qual descendente de Vermouth havia sido escolhido para empunhá-la, mas então… senti uma alma familiar.⟆
O vento começou a enfraquecer. Conforme se dissipava, a voz de Tempest, que ecoava na mente de Eugene, passou a ser distorcida por interferência.
— ⟅Como isso é possível? Alguém ser reencarnado com suas memórias… e ainda por cima como descendente de Vermouth? E justo você, Hamel?⟆
“Por que Vermouth não matou os Reis Demônio restantes?”, Eugene perguntou de repente.
Como havia sido reencarnado? Eugene não fazia ideia. Morreu no castelo do Rei Demônio do Encarceramento, e quando voltou a si, já estava no corpo de um bebê recém-nascido que chorava sem parar.
“Me diga, Tempest. Você não os acompanhou pelo resto da jornada no Reino Demoníaco? Por que o Rei Demônio do Encarceramento e o Rei Demônio da Destruição ainda estão vivos depois de trezentos anos?”
— ⟅Não sei por que Vermouth tomou essa decisão⟆ — respondeu Tempest. — ⟅A única coisa que sei é que… na batalha decisiva contra o Rei Demônio do Encarceramento… Vermouth embainhou a espada.⟆
“O quê?!” exclamou Eugene.
— ⟅…Não sei exatamente o que aconteceu naquele momento.⟆ — A voz de Tempest ficava cada vez mais difícil de entender. — ⟅A luta deles, na época… foi feroz, mas, no fim, inútil. No final, apenas Vermouth e o Rei Demônio do Encarceramento permaneceram de pé. No momento decisivo, Vermouth abaixou sua espada e se recusou a matar o Rei Demônio. Também não seguiu até o castelo do Rei Demônio da Destruição… A jornada deles terminou no castelo do Rei Demônio do Encarceramento.⟆
“…Não me venha com essa merda”, rosnou Eugene entre os dentes cerrados.
A jornada simplesmente terminou ali? Segundo as histórias, o Herói Vermouth e seus companheiros haviam levado o Rei Demônio do Encarceramento à beira da morte. No entanto, o Rei Demônio conseguiu escapar e implorar ajuda ao Rei Demônio da Destruição.
Na ocasião da morte de Hamel, Vermouth jurara que mataria todos os Reis Demônio. Eugene, é claro, não esteve presente para ouvir tal juramento, mas todos os contos concordavam nisso.
Então, o grupo do herói teria seguido até o castelo do Rei Demônio do Encarceramento. Mas, por não conseguirem derrotar os dois Reis Demônio unidos, os forçaram a jurar um ‘Pacto’ de paz mundial…
“Já disse pra não vir com essa merda”, Eugene exigiu, sentindo o gosto de sangue na boca e a cabeça girando. “Que diabos é esse Pacto? Por que fizeram um pacto desses? Por quê? Vermouth embainhou a espada? Em vez de matar o Rei Demônio do Encarceramento…?!”
— ⟅Não sei nada sobre esse Pacto ou o motivo de Vermouth ter tomado essa decisão.⟆
“Então o que é que você sabe, seu desgraçado?”
— ⟅Apenas quem estava lá sabe que tipo de Pacto foi feito. Desde o momento em que Vermouth abaixou a espada, eu não podia mais interferir naquela situação.⟆
“Quem estava lá…? Você mesmo não disse que só restaram Vermouth e o Rei Demônio do Encarceramento? Isso não quer dizer que… todos os outros perderam a consciência…?! Quer que eu desenterre o corpo de Vermouth pra perguntar?”
— ⟅O tempo acabou…⟆ — Tempest soltou um longo suspiro. — ⟅Com sua mana atual, seria impossível me invocar… Eu forcei a abertura da porta para vir até aqui, então agora preciso fechá-la.⟆
“Responda antes de ir!”
— ⟅Já disse que não sei, então por que continua me perguntando… Eu também gostaria de perguntar a Vermouth por que fez aquilo…⟆
O vento estava desaparecendo por completo, e a voz de Tempest oscilava como um eco distante.
— ⟅…Da próxima vez… quando tiver força suficiente…⟆
Cambaleando, Eugene se apoiou em algo enquanto encarava Wynnyd com o olhar cerrado.
— ⟅Então… vamos nos encontrar novamente… algum dia.⟆
— Seu filho da puta — Eugene não conseguiu mais conter a frustração e praguejou. — Me conta tudo… antes de ir embora…
O vento se dissipou por completo.
E Eugene desmaiou, com sangue escorrendo do nariz.
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