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    Algum tempo depois de Gilead e Gion terem saído, Eugene chamou:

    — Nina.

    — Permita-me preparar sua refeição — ofereceu Nina.

    — Ótimo, mas antes disso — disse Eugene, saindo da cama e pegando Wynnyd — mantenha em segredo tudo o que acontecer a partir de agora. Só entre nós dois.

    — …Sim, senhor?

    — Mesmo que eu desmaie de novo, não conte a ninguém.

    — …O senhor realmente precisa tentar fazer algo assim agora? — perguntou Nina, preocupada.

    — Só preciso verificar uma coisa, então provavelmente não vou desmaiar de novo — tranquilizou Eugene antes de infundir mana em Wynnyd.

    Felizmente, o incidente anterior não se repetiu. Mas Eugene ainda franziu o cenho, insatisfeito. Em vez disso, um espírito do tamanho da palma de sua mão começou a flutuar ao seu redor.

    Era uma sílfide, um espírito menor do vento. Composta por uma massa de vento, nem sequer tinha forma definida. Contudo, com a pequena quantidade de mana que Eugene possuía, era natural que só conseguisse invocar uma sílfide.

    Por via das dúvidas, Eugene tentou se comunicar mentalmente:

    “Ei, ouviu algo do seu rei?”

    Mas não houve resposta. Parecia impossível conversar com um espírito de inteligência tão baixa. Estalando a língua, Eugene brandiu Wynnyd.

    Começou o teste ao invocar mentalmente um feitiço: “Lâmina de Vento.”

    Logo, uma corrente opaca de vento tomou forma ao redor da espada. Eugene lançou um olhar para aquela lâmina oscilante antes de desferir um golpe.

    Schick.

    O som estranho que a lâmina produziu ao cortar o ar fez o corpo de Nina estremecer. Depois de girar Wynnyd mais algumas vezes, Eugene liberou a sílfide de volta para o Mundo Espiritual.

    Antes disso, tentou mais uma vez se comunicar mentalmente:

    “Passe esse recado para Tempest: se você estiver mentindo pra mim, eu vou te matar.”

    A sílfide continuou sem responder. Mas parecia ter sentido que seu rei fora insultado, pois soprou uma rajada de vento que bagunçou o cabelo de Eugene antes de retornar ao Mundo Espiritual.

    “…Embora Tempest não tenha razão pra mentir sobre aquilo”, Eugene admitiu para si mesmo.

    Ele só não conseguia entender exatamente o que estava sentindo, e por isso precisava dizer algo. Sentando-se pesadamente na cama, Eugene se viu envolto por emoções confusas.

    “…Preciso pensar racionalmente”, disse a si mesmo. “Sem deixar emoções inúteis atrapalharem.”

    Trezentos anos atrás, Hamel morreu. Seus companheiros, Vermouth, Sienna, Anise e Molon, seguiram para o castelo do Rei Demônio do Encarceramento.

    A jornada deve ter sido brutal. O Rei Demônio do Encarceramento, o segundo mais forte, era poderoso demais, nenhum dos anteriores, como os Reis Demônio da Fúria, da Crueldade e do Massacre, podia se comparar a ele. Só chegar até o castelo dele já era tão difícil quanto derrotar um deles.

    “…E comigo morto…”

    Falando objetivamente, Hamel era forte. Embora não fosse tão poderoso quanto Vermouth, era claramente o segundo mais forte do grupo. Com a morte de Hamel, talvez os quatro restantes tenham simplesmente sido incapazes de lidar com os Reis Demônio remanescentes.

    Eles já estariam exaustos pela jornada tortuosa até o castelo do Rei Demônio do Encarceramento, e Hamel havia morrido antes mesmo da batalha. Nesse estado, será que sequer conseguiram derrotá-lo? Nesse caso… não teria sido melhor recuar e repensar a estratégia?

    “…Então tudo terminou ali mesmo?”

    Com apenas Hamel morto, Vermouth e os outros voltaram do Reino Demoníaco de Helmuth depois de fazer algum tipo de promessa misteriosa. No entanto, só Vermouth e os Reis Demônio sabiam o que essa promessa continha.

    “Mas o que, exatamente, havia naquele Pacto?”

    Isso era o que mais incomodava Eugene. Para Reis Demônio que viviam para causar sofrimento ao mundo, o que, em nome dos céus, os faria mudar de ideia e jurar pela paz? Quem propôs aquele Pacto? Quais eram seus termos?

    “…Tudo volta pra Helmuth.”

    Só pensar nisso não levaria a resposta nenhuma. Suas memórias da vida passada acabavam com sua morte no castelo do Rei Demônio do Encarceramento. Depois disso… tudo o que sabia vinha dos contos de fadas que o jovem Eugene havia lido.

    “Preciso arrumar um jeito de ir até Helmuth”, decidiu Eugene.

    Trezentos anos atrás, Helmuth era um lugar aterrorizante. Bestas demoníacas cujo único propósito era caçar e devorar humanos vagavam livremente, e os demônios daquele lugar marchavam constantemente para invadir territórios humanos. Magos caídos, hoje chamados de Magos Negros, caçavam humanos para oferecê-los como tributo aos Reis Demônio. Esses feiticeiros buscavam se tornar demônios e, por isso, trilhavam o Caminho Demoníaco mesmo que isso exigisse se ajoelhar diante dos Reis Demônio.

    Helmuth era um inferno distorcido de desejos cruéis e abjetos.

    Mas isso já não era mais verdade. Havia duzentos anos, Helmuth começou a aceitar visitantes humanos. Os Reis Demônio e os demônios locais ofereciam hospitalidade com tanto zelo que parecia até que queriam compensar suas antigas atrocidades.

    Hoje em dia, ninguém via Helmuth como um inferno. Pelo contrário, era considerado um destino turístico onde se podia desfrutar de entretenimentos exóticos, sedutores e decadentes, impossíveis de encontrar em qualquer outro lugar.

    Os demônios, que antes invadiam territórios humanos, agora ofereciam seus serviços como forma de reparação pela guerra. E os magos negros, que um dia bajularam os Reis Demônio, se faziam passar por vítimas e, com a opinião pública a seu favor, chegaram até a erguer a Torre Negra da Magia em Aroth.

    Na opinião de Eugene, tudo isso era uma farsa descarada.

    Demônios se oferecendo pra ajudar? Estavam com certeza roubando almas humanas pelas costas. Torre Negra da Magia? Melhor chamar de Pântano Negro da Corrupção.

    Embora dissessem que era para promover a pesquisa mágica, era evidente o motivo de aqueles lunáticos de Aroth terem acolhido os magos negros e ignorado seus crimes passados. Mesmo que a verdade ainda não tivesse vindo à tona, Eugene tinha certeza de que havia muita sujeira por trás da construção da Torre Negra…

    “Helmuth, Aroth, Yuras, Ruhar…” Eugene pensou com irritação nos lugares onde os companheiros de sua vida passada haviam deixado rastros, estalando a língua.

    Claro, ele não podia partir imediatamente. Com seu corpo jovem, não havia como sair sozinho em uma viagem para países tão distantes.

    “Mas um dia”, disse a si mesmo com determinação, antes de suspirar fundo e dar um tapinha no estômago.

    Seu estômago vazio roncava de fome.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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