Capítulo 51: Treinamento de Mana (9/9)
O que exatamente ele deveria dizer a Eugene?
Depois do banquete, essa preocupação impediu Cyan de dormir por boa parte da noite. Mesmo tendo conseguido cochilar por um tempo, aquele maldito sonho estragou seu descanso. Nele, Cyan havia duelado contra Eugene, e perdido de novo.
Só que, dessa vez, Cyan era um minotauro em vez de si mesmo.
No sonho, ele revivia a cena que presenciara durante a Cerimônia de Continuação da Linhagem. Depois de se transformar em um minotauro incapaz de usar luz da espada, Cyan foi brutalmente dilacerado por Eugene.
Despedaçado sem piedade.
Enquanto saía do ginásio, Cyan tentava afastar os últimos fragmentos do sonho com um arrepio. Mas a carranca em seu rosto continuava pesada como sempre. Esfregando os olhos, os mesmos que haviam sido perfurados várias vezes no sonho, mordeu o lábio de frustração.
— O que foi, irmão? — Ciel perguntou de repente.
— Nada. Por que está perguntando? — respondeu Cyan, defensivo.
— Seu rosto tá com uma expressão de velório, e você quase não comeu no café da manhã.
— Eu sempre tenho essa cara. E comi a mesma quantidade de sempre.
— Mentira — acusou Ciel, mostrando a língua com um sorriso. — Eu sei muito bem o que está acontecendo com você. É por causa do Eugene, não é?
Cyan se irritou:
— O que isso tem a ver com ele?
— Disseram que a partir de hoje vamos treinar junto com ele. Sei que isso está te incomodando.
— Já disse que não tem nada a ver com ele!
— Viu só? Perdeu a paciência mais rápido que o normal. Por que está descontando a raiva do Eugene em mim?
— …Eu não perdi a paciência.
— Mas não nega que tem algo te incomodando?
— Isso é… — hesitando, Cyan cerrou os punhos e lançou um olhar irritado para sua irmã petulante. — …Sendo honesto, me incomoda sim.
— Mas mamãe disse que você precisa fazer amizade com ele — lembrou Ciel.
— E você acha que dá pra fazer amizade só porque ela mandou?
— Eu consegui. Quer que eu peça isso por você ao Eugene?
— …O que você vai dizer pra ele?
— Só vou pedir pra ele ser amigo do meu irmão.
Ao ouvir isso, os ombros de Cyan murcharam, e seus punhos começaram a tremer de vergonha. Talvez pedisse algo assim à mãe… mas deixar a irmã, que era só alguns segundos mais nova, fazer esse pedido humilhante? De jeito nenhum…
— Eu vou fazer isso do meu jeito — rosnou Cyan, e então se calou de repente.
Ele havia acabado de avistar Eugene vindo do anexo. Seus olhos se arregalaram ao ver Wynnyd pendurada na cintura de Eugene. Mesmo àquela distância, conseguia distinguir os mínimos detalhes da famosa espada.
— Disseram que ele já está na Primeira Estrela da Fórmula da Chama Branca — comentou Ciel ao seu lado.
— Eu sei — respondeu Cyan, entre os dentes.
— Não demoramos bastante pra chegar à Primeira Estrela?
— Nem tanto assim. Levamos um mês, o que nos coloca entre os poucos ancestrais da linhagem direta que foram tão rápidos quanto.
— Mas Eugene conseguiu isso em menos de um dia. Isso não faz dele o mais rápido da história?
— Cala a boca.
— O tio Gion disse que Eugene sentiu a mana assim que se sentou na linha ley. A gente levou mais de quatro dias, lembra?
— E daí — respondeu Cyan, num tom cortante, virando-se para encarar a irmã.
Ciel apenas deu uma risadinha divertida diante da reação dele.
Em vez de continuar provocando, Ciel acenou para Eugene, que se aproximava, e o cumprimentou:
— Oi!
— Por que você ainda tá no anexo? Deveria morar com a gente na mansão da família principal — disse Ciel assim que Eugene chegou mais perto.
Cyan respondeu no lugar dele:
— Isso é uma péssima ideia.
Eugene lançou um olhar entediado para Cyan e assentiu:
— Também acho que seria uma péssima ideia.
— Mas eu acho que seria ótimo — insistiu Ciel com um sorriso, apontando para Wynnyd. — Ouvi dizer que você conseguiu invocar o Rei dos Espíritos do Vento com ela?
— Isso tem que ser mentira — rebateu Cyan, mais uma vez respondendo por Eugene.
Apesar de seu coração começar a se abrir pouco a pouco para Eugene, Cyan não conseguia abandonar a postura hostil. Era jovem demais para entender a admiração que sentia por Eugene, e ainda mais para reconhecer que aquilo já se transformava em respeito.
— Exceto pelo Grande Vermouth, nenhum dos nossos ancestrais conseguiu invocar o Rei dos Espíritos do Vento usando Wynnyd — argumentou Cyan.
Eugene bufou e sacou Wynnyd. Isso fez Cyan pular para trás, assustado.
— O q-que pensa que está fazendo?! — exigiu Cyan.
Sem responder, Eugene infundiu mana em Wynnyd. Logo, o vento se reuniu e tomou a forma de uma sílfide. Ao ver isso, Cyan soltou um suspiro de alívio e caiu na risada.
— O que é isso? O Rei dos Espíritos do Vento? — zombou.
— Não — respondeu Eugene com simplicidade.
Eugene ergueu Wynnyd para que pudessem ver claramente a sílfide se enrolando ao redor da espada. O queixo de Cyan caiu ao observar aquela lâmina de vento.
— L-luz da espada?! — exclamou Cyan em choque.
— Isso parece luz da espada pra você? — retrucou Eugene, zombando.
O rosto de Cyan ficou vermelho ao sentir que a provocação se voltou contra ele. Enquanto girava Wynnyd mais algumas vezes, Eugene encarou Cyan fixamente.
— Que tal um duelo? — sugeriu.
— …O-o quê?! — engasgou Cyan, apavorado.
— Pode usar luz da espada se quiser. Eu vou usar isso aqui.
— …
Como Cyan ficou em silêncio, Eugene provocou:
— Que tal só nos divertirmos? Ou podemos apostar algo. Se você vencer, eu…
— E-eu não vou — Cyan recuou, balançando a cabeça. — Eu vim aqui hoje… pra ter aula com o tio Gion. Não estou aqui pra lutar.
Eugene sorriu:
— Está com medo?
— …Não tô com medo — respondeu Cyan, hesitante, lançando um olhar desesperado para Ciel.
Ele esperava que a irmã o ajudasse a sair daquela situação. Mas Ciel apenas ignorou e sorriu, se divertindo.
“Essa bruxa malvada.”
Felizmente, antes que Cyan precisasse arrumar uma desculpa, Eugene recuou e lhe deu uma saída.
— Não vale a pena discutir à toa — disse Eugene com um suspiro.
Cyan não conseguiu pensar em nada para responder — …
— Agora somos irmãos. Devíamos tentar nos dar bem — disse Eugene com um sorriso largo, estendendo a mão para ele.
Por alguns segundos, Cyan ficou alternando o olhar entre o rosto e a mão de Eugene.
Eugene então perguntou:
— Não sabe o que esse aperto de mão significa?
— …Hã?
— Significa que quero que a gente se dê bem como irmãos.
— …Ah, bom… é que… — após alguma hesitação, Cyan finalmente apertou a mão de Eugene com um leve aceno de cabeça.
— Me dá um aperto de mão também! — exigiu Ciel, interrompendo os dois ao lado deles.
Eugene cruzou os braços para conseguir segurar as mãos de Cyan e Ciel ao mesmo tempo.
— Como nasci antes de você, deveria me chamar de irmã mais velha — voltou a dizer Ciel.
— Cala a boca com isso — respondeu Eugene, recusando.
Então… ele não seria o irmão mais velho de Eugene? Embora esse pensamento tenha passado pela cabeça de Cyan, ele decidiu ficar calado ao ver os olhos semicerrados de Eugene.
Definitivamente, não tinha coragem de se declarar irmão mais velho dele.
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