Capítulo 66: A Torre Vermelha da Magia (8/9)
A Rua Bolero só abria na noite de lua cheia. A próxima lua cheia seria dali a uma semana.
Eugene desistiu de tentar entender Gargith. Ele já era grande o suficiente para parecer exagero, mas o fato de ainda não estar satisfeito e querer comprar testículos de um gigante para devorar era simplesmente absurdo.
— Eu não vou devorar — insistiu Gargith, com seriedade.
— Então como vai comer isso? — perguntou Eugene.
— Em vez de comer direto, o efeito é muito melhor quando transformado em medicamento.
— Então você vai triturar e beber.
— Vou te dar um pouco também.
— Não quero.
— Por quê? Pelo que ouvi, os testículos da espécie dos gigantes são muito benéficos para aumentar a resistência e ajudar no crescimento muscular. — Os olhos sinceros de Gargith mostravam o quanto ele havia pesquisado sobre o assunto. Enquanto cortava mais um pedaço de carne magra no prato, continuou: — Eles também contêm bastante mana. Tudo isso faz dos testículos um suplemento precioso que talvez nem dê pra comprar, mesmo querendo.
— Pode ficar com tudo pra você — disse Eugene, generosamente.
Embora soubesse que era um suplemento que faria muito bem ao corpo, Eugene recusava completamente a ideia de ingerir testículos de gigante. Mesmo que, transformado em poção, não fosse mais possível perceber a aparência original nojenta, não era tão fácil assim mudar a percepção daquilo.
Gargith suspirou:
— Eu só não consigo te entender. Até a poção de cura mais popular usa o coração e o sangue de troll como ingredientes. Poções de mana também usam pedras de mana e outros materiais de monstros.
— Mas nada disso são testículos — rebateu Eugene.
— Testículos de animais são frequentemente usados como ingredientes de alta qualidade.
— Já que gosta tanto, pode ficar com todos.
— Não vá se arrepender depois — alertou Gargith.
— Não vou — murmurou Eugene, tomando um gole de chá.
— …Mas por que você precisa se disfarçar?
Tendo terminado de comer, Gargith fez essa pergunta enquanto tomava uma xícara de clara de ovo como se fosse algo comum.
Eugene resistiu ao impulso de comentar sobre isso e explicou:
— …Vai chamar atenção se alguém da linhagem principal for visto entrando numa rua tão suspeita.
— Hm, com certeza.
— Mesmo que a rua receba aprovação tácita dos oficiais, não há nada a ganhar se envolver em escândalos desnecessários.
— Você está absolutamente certo — disse Gargith, admirado, assentindo. — Embora não vá participar de nada vergonhoso por ir até lá, não há motivo para criar um escândalo desnecessário. Ainda mais porque isso afeta a dignidade da sua casa.
— Isso mesmo, nossa dignidade — Eugene recuou levemente a cabeça ao concordar com Gargith.
Embora Eugene também tivesse um bom apetite, não era nada comparado a Gargith. Depois de devorar vários pedaços de carne magra, Gargith agora estava bebendo copos cheios de clara de ovo sem tempero. Por conta disso, o cheiro forte de ovo cru saía da boca dele sem controle.
— …Escova os dentes depois de comer — pediu Eugene.
— Não insulte meu senso de higiene — protestou Gargith, na defensiva.
— Não me importa. Só escova os dentes. E passa um perfume também.
— Não tenho vergonha do meu cheiro natural — insistiu Gargith. — Aliás, preciso me disfarçar também?
— Hm… — Eugene fez uma careta enquanto pensava.
Ele estava planejando apenas se cobrir com um manto, mas com o tamanho de Gargith, isso não resolveria nada.
No fim, decidiu:
— …Acho que você não precisa de disfarce.
— Por quê? — perguntou Gargith.
— Porque esse seu corpanzil é impossível de esconder, não importa o que a gente faça.
— Valeu — respondeu Gargith com um sorriso.
Parecia que ele, mais uma vez, tinha interpretado o comentário sobre seu tamanho como um elogio.
“Não vai importar já que ele vai ficar preso na casa de leilões mesmo”, Eugene se consolou.
Eugene era o único que precisava se disfarçar. Ele tinha certeza de que Eward iria até a Rua Bolero na noite da próxima lua cheia. Já que parecia estar sofrendo com ansiedade por causa do vício em súcubos, era óbvio que Eward não tinha força de vontade suficiente para lidar com os sintomas de abstinência.
“Se ele tivesse esse tipo de força de vontade desde o começo, não estaria nessa situação.”
Mas algo estava incomodando Eugene.
Com sinais tão evidentes de drenagem da força vital e até rumores circulando sobre isso, não havia como Lovellian estar alheio ao comportamento de Eward. Será que era negligência intencional? Não parecia haver motivo para isso. Por ora, ele deveria tentar ouvir o lado de Lovellian. Com esse pensamento, Eugene se levantou para ir embora.
— Tô indo — avisou a Gargith.
— Já? Daqui a pouco vou treinar. Que tal treinarmos juntos? Se compararmos nossos corpos diretamente, você vai ver com clareza a diferença entre nós dois — sugeriu Gargith.
Eugene dispensou com um gesto:
— Tá tudo certo.
— Espera aí — rosnou Gargith com força.
Empurrando os pratos na mesa para o lado, ele se ergueu em toda a sua altura gigantesca. Então, colocou as mãos na cintura, respirou fundo, jogou os ombros para trás e estufou os músculos do peito.
Pop pop pop!
Os botões da camisa, que já estavam esticados ao limite, voaram como balas. Tendo rasgado a camisa em pedaços, Gargith exibiu os músculos do torso enquanto se sentava de novo.
— Vamos disputar uma queda de braço — desafiou Gargith.
Depois de superar a surpresa, Eugene perguntou:
— …Por quê?
— Eu queria fazer isso desde quatro anos atrás — disse Gargith, os olhos brilhando. Ele então colocou um dos braços enormes sobre a mesa, já assumindo a posição para o duelo. — Sem usar mana, vamos competir só com a força dos músculos.
As palavras soaram absurdas. No entanto, Eugene não recusou e sentou-se do outro lado da mesa.
— Já que só assim fica sem graça, vamos apostar algo — sugeriu Eugene.
— Que tipo de aposta? — perguntou Gargith.
— Se eu ganhar, você vai ter que usar perfume sempre que sair. E também vai parar de empurrar esse teu remédio de crescimento muscular pra mim.
— Fechado. Mas se eu ganhar, você vai me fazer um favor sem fazer perguntas.
Gargith mostrou os dentes num sorriso desafiador. Quando Eugene tirou o casaco e arregaçou as mangas, Gargith lançou um olhar para os antebraços dele.
“Bem impressionantes… Mas ainda não é o suficiente”, pensou Gargith, certo da vitória.
Duas mãos, com uma diferença gritante de tamanho, se encontraram sobre a mesa.
Gargith esclareceu as regras:
— Vamos começar na contagem de três.
— Beleza — Eugene aceitou prontamente.
— Tudo bem se eu contar?
— Tanto faz.
— Então… um, dois…
Creack.
Gargith começou a tensionar os músculos. Eugene, por sua vez, afinou os sentidos enquanto mantinha os músculos relaxados.
— Três.
Bang!
O resultado foi decidido num instante. Gargith olhou para a própria mão, incrédulo. Seus músculos tensos e saltados haviam sido empurrados antes mesmo de conseguir liberar sua força de verdade. No momento em que a contagem terminou, a velocidade da reação de Eugene anulou totalmente sua força. Na prática, os músculos exagerados só serviram para acelerar o impacto contra a mesa.
— Eu ganhei — declarou Eugene, levantando-se na mesma hora e vestindo o casaco.
— …Como você venceu? — perguntou Gargith, atônito.
— Técnica, tempo e percepção.
Eugene deu um tapinha no ombro de Gargith ao passar por ele.
— Da próxima vez, lembra de passar um perfume antes de aparecer.
Com essa última provocação, Eugene saiu imediatamente do restaurante sem nem olhar para trás.
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