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    Kalira passou os três meses que esteve sozinha na Selva de Concreto para montar o seu jardim. Quando conseguiu trazer suas coisas para aquela região, um apanhado de trezentas sementes das partes mais bizarras do mundo residia em sua bolsa de sementes. Com as condições exatas e fertilizantes misteriosamente específicos, ela conseguiu gerar dezenas de mudas por ali. Aquele jardim era um dos maiores orgulhos de Kalira.

    Quando a explosão de luz ocorreu, energia cinética também foi gerada, causando uma onda destrutiva que devastou o resto do jardim que não tinha sido pego pela explosão. Folhas, ramos e espinhos voaram para todo o lado, se perdendo no solo esbranquiçado da região.

    — Você…destruiu meu precioso jardim! — disse Kalira, rangendo os dentes.

    Embora o golpe tenha sido poderoso, não era nada que uma bruxa com quase cem anos não pudesse lidar. Sua mão esquerda agarrou o punho da garota, contendo-o apenas com sua força. Não estava sendo fácil de lidar, mas dava tempo para pensar em uma saída.

    — Como ousa bloquear o golpe de uma santa sacerdotisa! — bradou a garota, com sua voz em eco. — Feiticeiras malignas sabiam quando deveriam abaixar suas cabeças para serem julgadas!

    Usando seu pé direito, Kalira o ergueu e acertou um chute intenso no abdômen da garota, arremessando-a para trás. Antes que ela pudesse reagir, a bruxa ergueu sua mão direita e contorceu sua mão, como se estivesse tentando agarrar firmemente alguma coisa invisível.

    A garota tentou avançar contra a bruxa, mas algo parecia errado. Seu corpo ficou completamente paralisado, como se estivesse sido pregado em alguma coisa.

    — Truques não vão te salvar, feiticeira!

    A bruxa olhou para seus olhos, que estavam emanando uma energia dourada intensa. A forma como ela estava tentando escapar a força de uma maldição simples de aprisionamento em vez de romper com um outro encantamento indicava que, ou ela era muito inexperiente, ou estava sendo manipulada por alguma coisa.

    “Independentemente do que seja, eu não dou uma mínima para o bem-estar dela.”

    Embora não pudesse conjurar um encantamento para quebrar a maldição, isso não quer dizer que a jovem estava completamente indefesa. Usando o excesso de energia divina em seu corpo, ela a canalizou para os seus poros. Seu corpo começou a cintilar cada vez mais, o que forçou Kalira a dar alguns passos para trás. Todo esse poder rompeu a maldição que tomava conta do seu corpo, deixando-a livre mais uma vez.

    — É um poder e tanto que você tem nas mãos, menina — disse Kalira.

    — Eu só estou me aquecendo!

    A garota gesticulou um círculo no ar com seu dedo indicador esquerdo, enquanto sua mão esquerda estava apontada para Kalira. Seus instintos imediatamente ordenaram o seu recuo, permitindo que a bruxa impulsionasse seu corpo para trás antes que uma lança de energia que estava sobre sua cabeça cravasse violentamente no solo, antes de causar uma pequena explosão, jogando terra para todo o canto.

    — Você está acabando com o meu quintal! — respondeu Kalira, rangendo os dentes.

    Sem responder, a garota fez gestos maiores com sua mão esquerda. Dessa vez, não era apenas uma lança sendo conjurada. Espadas, machados e azagaias, todas feitas de pura energia, surgiram no ar e imediatamente inclinaram suas pontas na direção da bruxa.

    “Isso é energia bruta e condensada, ela não tem nem idade de fazer construtos tão sólidos assim! Essa pirralha é problema.”

    A espada voou primeiro, forçando a bruxa a saltar para trás antes que fosse perfurada pela lâmina. As outras armas começaram a segui-la, enquanto a mesma corria em ziguezague em direção às árvores. A cada impacto da arma em alguma coisa, uma explosão.

    “Preciso deixar essa coisa longe da minha casa.”

    De repente, a bruxa percebeu que não estava mais sendo seguida. Ela olhou aos arredores, mas não viu nenhuma arma sendo conjurada. Como não era de dar sorte ao azar, ela imediatamente escalou a árvore mais próxima e permaneceu em silêncio. Seu corpo começou a absorver a iluminação da Selva de Concreto, enquanto sua pele alva assumiu a mesma tonalidade do Salgueiro Sanguinário.

    — APAREÇA, FEITICEIRA! VOCÊ ESTÁ PROFANANDO AS TERRAS DE MALCHI-ZARUM! ENFRENTE SUA MORTE!

    Sua voz ecoava pela Selva de Concreto, junto com seus passos pesados. Enquanto a bruxa a observava pacientemente, a garota não parecia ter nenhum tipo de restrição. Suas mãos concentravam quantidades excessivas de energia sagrada cinética, que eram expelidas em poderosas rajadas que destruíram toda a vegetação ao redor. Eram como bombas sendo detonadas por toda a região, destruindo árvores, expulsando pássaros e matando animais pequenos.

    “Essa vaca vai destruir esse lugar inteiro se não for parada!”

    Após observar bastante, Kalira resolveu colocar fim naquela brincadeira. Com um simples gesto da mão direita, a sombra agarrou seu corpo novamente, mergulhando-a em escuridão profunda. Esse gesto mágico chamou atenção da garota, que imediatamente concentrou mais energia em ambas as mãos e as arqueou, apontando para a árvore. Um feixe de luz seguido de uma enorme rajada pulverizou a árvore onde a bruxa se encontrava, abrindo uma fenda assustadora no solo e deixando uma cicatriz enorme na Selva de Concreto.

    — Aposto que a feiticeira nem deve ter tido tempo de chegar na metade do seu feitiço — disse a garota, em um tom de triunfo.

    Então, uma sensação sombria percorreu pela sua espinha. Seria normal para alguém ficar assustada, mas sua reação imediata foi se virar, apenas para dar de cara com Kalira envolta em sombras, que se misturavam a sua própria sombra. Usando sua fisionomia superior, ela bloqueou seu braço direito e usou sua mão livre para agarrar o rosto da menina.

    — Eu sou uma bruxa, sua infeliz do caralho! — respondeu Kalira.

    Usando sua magia obscura, os olhos negros de Kalira formaram uma íris dourada. Os dedos que estavam no rosto da garota tiveram suas garras levemente estendidas, rasgando a pele e penetrando em seus ossos. A escuridão adentrou a mente dela, fazendo-a soltar um grito longo e agudo que ecoou pela Selva de Concreto.

    Olhar do Eclipse — conjurou Kalira.

    A magia obscura que adentrou a mente da jovem começou a se transformar em pensamentos ruins, cavando as partes mais sombrias da sua mente e se transformando em pesadelos, dúvidas e incertezas. A garota tentou mais uma vez sair do controle da bruxa, mas sua oponente era firme.

    “O maior ponto fraco para usuários de magias divinas é a falta de fé e convicção. Por isso que eles rejeitam magia obscura com tanta força, pois atua diretamente na sua fragilidade.”

    No momento que Kalira percebeu as rupturas nas defesas espirituais da garota, sua mente invadiu a dela, percorrendo por um vasto caminho nebuloso até chegar em seu subconsciente.

    Estava na hora de descobrir o quão valiosa a garota poderia ser.

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