Capítulo 71: Rua Bolero (4/9)
— Por que você deu um lance num item tão inútil? — perguntou Gargith com uma expressão confusa.
Era só um pedaço de metal desconhecido que havia ficado encalhado por tanto tempo. Como alguém que não entendia nada de magia, Gargith não conseguia perceber qualquer valor naquele objeto metálico.
Era pequeno, do tamanho de um dedo no máximo, e não podia ser reforjado nem manipulado com mana. Embora o preço inicial fosse o mais baixo entre todos os itens mostrados até então, na opinião de Gargith, aquele pedaço de metal não valia nem um milhão de sals.
Eugene não respondeu. Apenas fechou os punhos enquanto tentava organizar o turbilhão de pensamentos que passava pela sua mente.
Vermouth havia empunhado inúmeras armas ao longo da vida, e entre elas, havia várias relíquias poderosas capazes de virar o mundo de cabeça para baixo.
A Espada Tempestuosa Wynnyd, que Eugene possuía atualmente, era uma delas; depois havia a Espada Devoradora Azphel, a Lança do Dragão Kharbos, o Trovão de Pernoa, a Espada Chuva Fantasma Javel, o Escudo de Gedon, entre outros.
A mais famosa de suas armas era a Espada Sagrada. Embora não tivesse sido muito usada, atualmente era vista como a arma que melhor representava Vermouth.
Além dessas, havia também a Lança Demoníaca Luentos, antes usada pelo Rei Demônio da Crueldade, e o Martelo da Aniquilação Jigollath, que pertencera ao Rei Demônio do Massacre.
Embora nenhuma delas tivesse o mesmo peso da Espada Sagrada, todas deixaram marcas na história. Mas, curiosamente, não havia nenhum registro da ‘Espada da Luz Lunar’.
Pelo que Eugene se lembrava, foi a Espada da Luz Lunar que lhes permitiu romper o avanço violento de Luentos e derrotar o Rei Demônio da Crueldade. No entanto, nas fábulas e registros históricos, o crédito pela queda do Rei da Crueldade era sempre dado à Espada Sagrada.
O Rei Demônio da Crueldade não havia sido a única vítima da Espada da Luz Lunar. Trezentos anos atrás, além dos Reis Demônios, havia muitos outros inimigos poderosos em Helmuth. Eram demonídeos de alto escalão que quase haviam se tornado Reis Demônios, inimigos como o Senhor dos Vampiros e o Chefe Tribal dos Gigantes. E não foi a luz brilhante da Espada Sagrada que lhes permitiu enfrentar esses oponentes e abrir caminho adiante.
Foi um feixe aterrorizante de luar que rasgou a escuridão com puro poder destrutivo.
“E isso parece ser um fragmento da Espada da Luz Lunar”, pensou Eugene.
Isso significava que a espada talvez não estivesse mais inteira. Mas ele não sabia o que poderia ter causado sua fragmentação. Também não podia ter certeza de que seus olhos não estavam lhe pregando peças. Por mais claras que fossem suas memórias da vida passada, não dava para tirar conclusões definitivas a partir de um único fragmento tão pequeno.
Depois de um tempo, alguém bateu na porta. Como o item pelo qual ele dera o lance era pequeno, foi entregue logo após a vitória. Eugene se levantou imediatamente e abriu a porta.
“…Eu estava certo”, concluiu Eugene ao olhar para o fragmento recém-entregue.
A coloração opaca e única do metal era exatamente como ele se lembrava. Aquilo era, sem dúvida, um fragmento da Espada da Luz Lunar. Mas como aquele fragmento foi parar naquela casa de leilões?
“As Colinas Kazard…”
O local onde o fragmento foi encontrado era mais uma prova de sua verdadeira origem. A localização das Colinas Kazard ficava próxima ao castelo do Rei Demônio do Massacre. Originalmente era uma planície, mas após a feroz batalha travada no castelo, o terreno se transformou em uma região montanhosa.
Aconteceu logo após a derrota do Rei Demônio do Massacre, quando estavam deixando o castelo dele.
Eles haviam descoberto uma masmorra oculta nas profundezas da terra. Desconfiando de que os demonídeos a haviam escondido propositalmente, exploraram o lugar e encontraram a Espada da Luz Lunar em seu núcleo.
“…A única possibilidade que consigo imaginar é que, ao deixar Helmuth, Vermouth levou a Espada da Luz Lunar de volta ao seu local de descanso original e a selou ali.”
Então por que a Espada da Luz Lunar havia se partido? Se Vermouth realmente decidiu selá-la, Eugene suspeitava que sabia o motivo da espada ter virado fragmentos.
A Espada da Luz Lunar era simplesmente perigosa demais. Embora a Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação também fossem letais, ela superava ambos.
Aquela espada sinistra havia reconhecido somente Vermouth como mestre e sempre provocava uma destruição terrível sempre que era desembainhada. Vermouth não teria se sentido seguro apenas selando uma espada tão horrível e perigosa.
“…Está quieta demais”, observou Eugene.
O fragmento da Espada da Luz Lunar estava completamente inerte. Não emitia nenhum traço de perigo. Bem, se tivesse mostrado sequer uma fração do poder destruidor de trezentos anos atrás, não teria ficado tanto tempo encalhado num leilão sem nenhum interessado.
Com um gosto amargo, Eugene colocou o fragmento de volta na caixa de madeira. Agora era apenas um fragmento, sem poder algum. Seria mentira dizer que não tinha criado expectativas. Ele esperava que algum resquício do poder ainda estivesse presente.
Mas mesmo que agora fosse apenas um pedaço de metal comum, Eugene não ficou decepcionado. Só o fato de manter um objeto tão perigoso em segurança já lhe dava tranquilidade.
— Senhor Eugene — soou o terminal de comunicação. — O senhor Eward chegou.
Era a voz do guia. Eugene enfiou a caixa de madeira no colete e se levantou.
— Estou indo agora — disse para Gargith.
— Hm? Não quer continuar assistindo? — Gargith perguntou.
— Não. Vou deixar meu cartão com você antes de sair, então diga a eles que eu pago seu lance depois.
Não era possível usar um cartão preto sem a presença do dono para autenticação. Mas como o cartão preto era famoso, seria aceitável permitir o pagamento com pequeno atraso.
E se dissessem que não aceitavam? Eugene não se importava. Na verdade, seria até melhor, significaria que ele não precisaria pagar uma fortuna por aqueles testículos.
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