Capítulo 80: Eward Lionheart (4/5)
— Gilead — depois de lançar um olhar cortante a Lovellian, Tanis se voltou para o marido. — Nós realmente precisamos levar Eward de volta para casa? Eward não… ele não se envolveu de verdade com magia negra. Ele só tentou, só isso.
— … — Gilead permaneceu em silêncio, impassível.
— Já que ele sabe que cometeu um erro, não vai fazer algo assim de novo. Se tratarmos isso como uma lição, ele pode até se esforçar mais daqui em diante. Então não poderíamos simplesmente…? — implorou Tanis.
Tanis não conseguiu evitar o desespero. Cyan e Ciel os aguardavam na propriedade principal. Enquanto Eward estava em Aroth, Cyan e Ciel estavam ocupados conquistando a aprovação dos membros da família principal. Era impossível que o filho mais velho, retornando após causar um escândalo, conquistasse essa aprovação agora.
Foi por isso que Eward havia sido enviado a Aroth. Como não podia receber reconhecimento ficando na propriedade principal, Tanis desejava que ele ganhasse a aprovação dos outros em Aroth. Esperava que, tornando-se discípulo do Mestre da Torre Vermelha e convivendo com outros magos extraordinários, ele fosse capaz de formar vínculos e obter poder que não estaria disponível na propriedade principal.
Ela precisava que Eward permanecesse em Aroth de alguma forma. Se se tornasse discípulo de Lovellian, poderia usar o apoio do Arquimago para se desenvolver. Esse escândalo também se tornaria apenas um detalhe irrelevante a ser ignorado.
Tanis tentou convencer Gilead:
— Se tiver as condições certas, Eward pode ir além. Ele tem talento pra isso. Você também sabe disso, não sabe, querido? Eward sempre gostou de livros e magia desde pequeno…
— Chega — Gilead estava cansado de ouvir esse tipo de discurso.
Ele sabia muito bem como Eward havia passado seus dias em Aroth. Os resultados dos quatro anos ali haviam sido fúteis e inúteis. Apesar de todas as conveniências e do amplo apoio recebido, as habilidades mágicas de Eward não haviam ultrapassado o Terceiro Círculo.
Considerando que ele fora treinado no controle de mana desde pequeno, esse era um nível vergonhoso. Mal podia ser chamado de mago do Terceiro Círculo; em termos de compreensão e domínio da magia, era na verdade muito pior do que isso.
Com voz carregada de frustração, Gilead comentou:
— …Em mais de trezentos anos de história do clã Lionheart, nunca houve um único membro da família principal que se tornasse um mago negro.
— Isso é… só uma tolice da juventude — os olhos de Tanis vacilaram enquanto ela tentava convencer a si mesma e aos outros.
Gilead, em vez de responder, trocou olhares com Eugene:
— …Desculpe, Eugene. Poderia nos deixar a sós por um instante?
— Sim, senhor — Eugene também não tinha vontade de continuar ouvindo aquela conversa difícil.
Ao se levantar, Tanis virou-se para fitar Eugene com raiva:
— …Eu disse para você se dar bem com Eward. Mesmo depois de eu pedir que cuidasse do seu irmão mais velho…!
— Tanis — os olhos de Gilead se arregalaram ao fitar a esposa. — Eugene não fez nada de errado. Por que está descontando nele?
— Aquele pirralho poderia ter impedido Eward…! Mas, em vez de resolver o problema antes que chegasse a esse ponto, ele apenas ficou calado e deixou as coisas desandarem…! — argumentou Tanis.
— Não diga mais nada! — Gilead rugiu de repente.
Embora Eugene, que permanecia parado, se perguntasse se deveria dizer algo a Tanis, no fim das contas, não teve coragem de fazê-lo e apenas inclinou a cabeça.
— Com licença — Eugene disse, virando-se para sair.
Ficar ali apenas para servir de alvo à raiva de Tanis seria exaustivo. Depois que Eugene saiu, Tanis olhou para a porta fechada e inspirou fundo.
— …Talvez eu tenha dito algo inadequado — admitiu Tanis. — Mas Gilead, por favor, repense.
— Não vou mudar minha decisão. Mesmo que Eward seja meu filho, o que esse garoto fez manchou o nome do clã. Não posso permitir que ele permaneça em Aroth — declarou Gilead.
— Mas que lugar restaria para nosso filho na propriedade principal?! — Tanis já não implorava ao marido e, em vez disso, despejava todo seu ressentimento e frustração sobre ele. — Você nunca fez nada para assegurar a posição de Eward. Pelo contrário, só atendeu a todas as exigências daquela maldita Ancilla e dos filhos dela, além daquele adotado que nem sequer compartilha uma gota do seu sangue…!
— …Você realmente acredita nisso? — Gilead perguntou, agora sem raiva, apenas decepcionado. Olhou para Tanis com olhos tristes e disse: — Dei a meus filhos tudo o que pediram. Enviei Eward para Aroth porque ele queria aprender magia…
— Se isso realmente fosse pelo bem do Eward! — Tanis levantou-se bruscamente com esse grito. Enquanto arfava, alternava o olhar entre Lovellian e Gilead. — Então deveria ter garantido que Eward se tornasse discípulo de Lovellian, custe o que custar…! E se realmente estivesse preocupado com ele se desviar, deveria ter mandado alguém para vigiar e controlar esse garoto…!
— Por favor, apenas pare — Gilead soltou um longo suspiro e enterrou o rosto nas mãos.
Vigiar e controlar? Não fora justamente por odiar tais restrições que Eward deixara a propriedade principal e viera para Aroth em primeiro lugar? Gilead havia depositado confiança no filho mais velho. Como Eward havia sido constantemente vigiado e sobrecarregado de expectativas por toda a vida, Gilead acreditara que, em Aroth, ele teria uma vida melhor, vivendo por conta própria.
Os rumores de que Eward estava se aproximando de súcubos e demonídeos… Gilead já os conhecia. Mas se fosse só isso… ele ainda conseguiria tolerar.
No entanto, magia negra e drogas… era ir longe demais.
— Por favor, não traga ainda mais vergonha para o clã Lionheart… e para mim — Gilead suplicou.
— Vergonha? — gritou Tanis. — Não diga bobagem. Se ele voltar para a propriedade principal desse jeito, eu é que não vou conseguir suportar essa vergonha. Preferiria morrer a ver isso acontecer.
— Também não acredito que continuar em Aroth será bom para Eward. — Gilead tentou convencê-la — Se ele ainda tiver algum desejo de aprender magia, então, na propriedade principal, nós poderíamos…
— Se você está decidido a levar Eward com você, então eu levarei Eward para a propriedade da minha família — Tanis recusou-se a ceder.
Se voltassem para a propriedade principal daquela forma, todos os planos dela estariam arruinados. Eward seria deixado para trás pelos gêmeos, e Tanis, por Ancilla, transformando ambos em figuras decorativas.
— De maneira alguma permitirei que Eward fique aprisionado na propriedade principal. Prefiro que ele fique na casa da minha família, onde poderá aprender magia sem medo de ser oprimido, declarou Tanis, suas palavras transbordando sinceridade.
Tanis não queria de forma alguma ser alvo da zombaria de Ancilla, e ainda havia tempo para decidir quem seria o próximo Patriarca. Por isso, de qualquer maneira, Eward precisava desenvolver força suficiente para garantir sua posição. Se retornasse à família principal daquele jeito, seria impossível reverter a situação diante dos irmãos.
— …Se é isso o que deseja — Gilead suspirou ao fechar os olhos. Não conseguia decidir qual caminho era o certo, então cedeu: — …Contanto que Eward concorde, pode fazer como quiser.
Era tudo o que ele podia dizer.
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