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    Sua mente ficou imediatamente presa àqueles fios de cabelo esvoaçantes. No instante em que os viu, Eugene se lançou escada abaixo sem hesitar. Gargith vinha logo atrás e soltou um grito surpreso, mas o som da voz dele nem chegou aos ouvidos de Eugene.

    A praça abaixo estava lotada de pessoas, mas Eugene se jogou no meio da multidão sem se importar. Avançava empurrando quem estivesse no caminho e se esgueirando pelos espaços entre os corpos.

    Não havia como Eugene estar enganado. Ele reconheceria aquela cor de cabelo única mesmo se tivesse que escolhê-la no meio de centenas ou milhares de pessoas. Um tom roxo de aparência quase artificial, brilhante, aquela cor era causada pela imensa quantidade de mana de Sienna se espalhando por seus cabelos.

    “É a Sienna”, Eugene percebeu.

    Seria uma alucinação? Não, impossível.

    Eugene girava a cabeça de um lado para o outro enquanto mergulhava na multidão.

    Num lugar como aquele, sob tais circunstâncias, não havia como ele ter se enganado.

    Quando a viu, Eugene parou no lugar, atordoado, encarando direto à frente.

    Tentou falar, mas as palavras não saíram:

    — …

    Aquela era Sienna caminhando à distância. Com certeza era ela. Sua aparência não mudara em nada desde trezentos anos atrás. Embora parecesse que o cabelo havia crescido bastante. Mas isso era esperado, afinal, haviam se passado trezentos anos. Eugene, com o coração disparado, se aproximou de Sienna.

    Mesmo estando logo atrás dela, Sienna ainda não notara a presença de Eugene. Ele achava isso compreensível, considerando a quantidade de gente naquela praça. Mas o que ele deveria dizer? Embora Eugene tivesse reconhecido Sienna, ela provavelmente não teria como saber quem ele realmente era.

    “Sou o Hamel, mas reencarnei como um descendente do Vermouth.”

    “Sério. Tô falando a verdade, não é mentira. Sou mesmo o Hamel.”

    Enquanto imaginava como seria uma conversa assim, Eugene estendeu a mão na direção de Sienna.

    Aquela desgraçada da Sienna não acreditaria tão fácil. Talvez até o xingasse e mandasse parar de falar besteira.

    Eugene, na verdade, até ficaria feliz se ela fizesse isso. Significaria que, mesmo depois de trezentos anos, sua personalidade não havia mudado tanto assim; continuaria com aquele temperamento ruim e a língua afiada de sempre.

    — Sienna — Eugene chamou por ela, com a voz trêmula.

    Então estendeu a mão e tentou segurar o pulso de Sienna, mas não conseguiu tocá-la.

    Mesmo estando bem na frente dele, Eugene não conseguia encostar nela. E essa não era a única coisa estranha. Eugene ficou parado, observando em choque enquanto pessoas começavam a atravessar a imagem de Sienna de todos os lados.

    Na verdade, Eugene já havia percebido isso enquanto se aproximava. Sienna não desviava de ninguém que caminhava em sua direção, e todos simplesmente passavam por ela. E mesmo com aquele cabelo roxo tão chamativo, ninguém parecia prestar atenção nela. Pelo contrário, só lançavam olhares irritados a Eugene, que seguia empurrando a multidão.

    “Um fantasma?”

    Eugene não sentia nenhuma presença vindo de Sienna, que estava bem diante dele. Estendera a mão várias vezes, mas ainda não conseguia tocá-la. Não sentia o calor de um ser humano. Na verdade, não sentia absolutamente nada vindo dela. Como uma ilusão ou um fantasma, mesmo estando nitidamente à vista, não parecia real.

    Os passos de Sienna pararam. Eugene também parou. Sienna virou a cabeça, e Eugene abaixou a mão estendida. Já que não conseguiria tocá-la mesmo se tentasse, sentia que não fazia sentido continuar tentando.

    Eugene olhou para o rosto de Sienna. E, como esperava, o retrato na mansão e a estátua em frente à Torre da Magia estavam em melhor estado do que a realidade.

    A Sienna do retrato suavizara a expressão rabugenta e exibia um sorriso benevolente.

    A Sienna esculpida na estátua sorria com bravura e confiança.

    Mas a Sienna diante dele não tinha nenhuma dessas expressões. Em vez disso, seus olhos estavam carregados de irritação e cansaço. Seus lábios não paravam de murmurar, sem descanso. Mas, ao menos, seu rosto ainda era exatamente como Eugene se lembrava.

    Agora… que tipo de expressão ele deveria fazer?

    Primeiro, Eugene abriu um sorriso. Mas então teve um pensamento repentino. Se apenas sorrisse daquele jeito, Sienna não teria como reconhecê-lo. Já que não respondeu mesmo com ele chamando várias vezes atrás dela, parecia que sua voz não podia ser ouvida.

    Mas ainda assim, ela havia virado para trás.

    Isso não significava que ainda podia ver com os olhos?

    — Pois bem.

    Eugene imediatamente levantou os dois dedos do meio para Sienna.

    Sienna piscou, surpresa diante da cena. Seus lábios se entreabriram levemente, depois se fecharam. Então, ela soltou uma risadinha e sorriu.

    Aquele sorriso era exatamente o mesmo que Eugene se lembrava.

    Os lábios de Sienna começaram a se mover. Embora Eugene não pudesse ouvir sua voz, foi capaz de entender o que ela tentava dizer apenas ao observar os movimentos silenciosos de sua boca.

    Eu te encontrei.

    Essas foram as três palavras formadas pelos lábios de Sienna.

    Em seguida, a figura de Sienna desapareceu bem diante dos olhos de Eugene. Como uma nuvem de fumaça, sua imagem se desfez no ar. Eugene ficou parado ali, pasmo, encarando o lugar onde ela havia sumido.

    — Eu também te encontrei — Eugene disse por fim, virando-se com um sorriso no rosto. — Sienna Merdein — murmurou o nome dela.

    Seu coração parecia ter se livrado de um enorme peso. Sienna não estava morta. Ele tinha certeza disso. Aquilo que havia acabado de ver não era nem um fantasma, nem uma ilusão deixada para trás após sua morte.

    Era uma ilusão criada por magia.

    “Eu te encontrei.”

    Sienna ainda estava viva. Ela havia sobrevivido e ido procurá-lo. Mas como soubera onde procurar? Teria sido por ele ter mostrado os dedos do meio para o retrato dela? ‘Se isso te irritar, pode vir até mim’, ele não havia dito algo assim? Será que ela realmente ouviu aquelas palavras e veio atrás dele?

    “Impossível.”

    A mansão era preservada como patrimônio histórico há mais de cem anos. Inúmeras pessoas a visitavam todos os dias e, iludidas por superstições, murmuravam todo tipo de coisa diante do retrato dela, desde pedidos de aprovação em exames até desejos banais. Por mais incrível que Sienna fosse, seria impossível vir atrás de Eugene apenas por escutar essas murmurações.

    “Talvez ela tenha reconhecido minha alma, como o Tempest fez. Ou então…” Eugene abaixou os olhos para o colar no pescoço. “…talvez ela tenha vindo por causa do colar.”

    Provavelmente havia algum tipo de feitiço lançado sobre ele.

    Embora não soubesse exatamente que tipo de feitiço seria, Eugene sabia com certeza que, “Sienna sabe que fui reencarnado.”

    Talvez ela até esperasse por isso.

    E o fato de que, “Sienna não morreu.”

    No entanto, parecia estar em uma situação que a impedia de vir pessoalmente. Por isso, mandara uma ilusão para procurá-lo e recebê-lo de volta à vida.

    — Ela deve estar selada em algum lugar — Eugene murmurou casualmente. — Será que fez isso consigo mesma? Mesmo com magia, seria impossível durar trezentos anos sem recorrer a isso? Ou será que foi selada por alguém? Mas quem poderia ter feito isso? Um mago negro? Um Rei Demônio?

    — De qualquer forma, agora está tudo bem, já que sei que ela não pode se mover por conta própria — enquanto murmurava isso, Eugene acariciou seu colar. — Porque dessa vez, foi você quem me encontrou, então…

    O sorriso que Sienna havia lhe mostrado antes de desaparecer não saía da cabeça de Eugene. Aquela garota irritante foi mesmo capaz de sorrir daquele jeito pra ele? Aquela foi a primeira vez que Eugene descobriu tal coisa.

    — Então, da próxima vez, serei eu quem vai te encontrar.

    Estava tudo bem, desde que ela não tivesse morrido e ainda estivesse viva em algum lugar.

    Com um sorriso no rosto, Eugene deixou a praça. Ou, pelo menos, tentou.

    Gargith o alcançou de repente e perguntou:

    — Onde, diabos, você se meteu com tanta pressa?

    — Você não precisa saber — respondeu Eugene, cortando o assunto.

    — Este lugar não é como Gidol. As ruas aqui são um verdadeiro labirinto, e há muita gente cruel e mal-intencionada. Um camponês ingênuo como você, sem noção do mundo, seria uma presa fácil pra esse tipo de gente.

    — Seu desgraçado, você tá mesmo me chamando de camponês só porque pedi pra não me chamar de caipira? Qual a porra da diferença entre ‘caipira’ e “camponês”?

    — Embora ‘caipira’ seja um termo pejorativo, ‘camponês’ é só uma descrição realista.

    — Vai se foder, seu porco miserável.

    — Você é quem está usando os termos errados. Eu não sou um porco. Afinal, ‘porco’ é usado pra descrever pessoas redondas e gordas, não?

    Eugene mudou de assunto:

    — Você parece ter muito orgulho desses músculos, mas depois de vê-los em ação… são só grandes, sem substância. Esqueceu como perdeu pra mim na queda de braço?

    — …Eu só me distraí — Gargith tentou se justificar.

    — Distraído? Conversa fiada. Você já estava todo tenso antes mesmo de começarmos — resmungou Eugene, dando um tapa nas costas de Gargith. — Aos meus olhos, seja os seus músculos orgulhosos ou a gordura balançando de um porco, tudo parece a mesma coisa.

    — Não insulte os músculos criados pelo agente revolucionário de crescimento muscular da nossa família.

    — Não tô te insultando. Só acho uma pena que músculos tão bem esculpidos estejam sendo desperdiçados. Em vez de focar só em aumentar o tamanho do corpo à toa, você devia pensar em como usar os músculos da melhor forma possível.

    — De fato….

    Embora Eugene tivesse soltado o primeiro argumento que lhe veio à cabeça, os olhos de Gargith brilharam como se tivesse alcançado uma grande iluminação.

    Gargith assentiu:

    — Você tem razão. Em algum momento, parece que deixei de ouvir a voz dos meus músculos e passei a me focar apenas em exibi-los…

    — Deixa esse papo pra depois, quando estiver sozinho. Só me mostra logo a Fórmula da Chama Vermelha — exigiu Eugene.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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