Índice de Capítulo

    Rumores sobre o 11º Laboratório no subsolo da Torre Vermelha da Magia haviam chegado até Hera, fazendo-a inclinar a cabeça, curiosa.

    O Laboratório 11 era usado quase exclusivamente por Eugene, mas nos últimos dias haviam se espalhado boatos sobre sons de explosões e vibrações constantes vindos de lá.

    — Os sons das explosões e as vibrações estão chegando até do lado de fora do laboratório?

    A especialidade mágica da Torre Vermelha da Magia era magia de invocação. Esse tipo de magia exigia o controle de diversas variáveis no processo de invocação, o que a tornava bastante volátil. Por isso, explosões e vibrações eram comuns, e todos os laboratórios haviam sido reforçados contra tais efeitos.

    — Com o nível de magia do Eugene, não deveria haver como causar uma explosão audível do lado de fora da sala, mas…

    Ultimamente, Hera andava ocupada com diversas coisas. Embora estivesse de folga desde seu último projeto de pesquisa, ela havia sido profundamente inspirada pelo sucesso de Eugene em usar um núcleo em vez de um círculo. Por isso, Hera havia deixado de atuar como bibliotecária para focar nos preparativos de um novo projeto.

    Desde sua última visita, ela não havia conseguido voltar ao laboratório de Eugene. No entanto, por conta de uma ordem do Mestre da Torre, e também devido aos rumores, Hera não podia mais permanecer apenas em seu próprio laboratório.

    Jovens magos frequentemente se deparavam com um certo problema. Ao começar a praticar magia, muitos se empolgavam demais com experimentos repetitivos e acabavam se ferindo, mesmo tendo grande talento.

    Hera não queria que aquele garoto monstruoso, com talento transbordando, acabasse sofrendo uma lesão desnecessária por exagerar no uso da magia.

    — Senhor Eugene? — chamou ela.

    Os rumores costumavam ser bastante exagerados. O subsolo dos laboratórios estava tão silencioso quanto sempre, sem sinais de explosões ou vibrações quando Hera chegou. Aliviada com isso, logo ela bateu na porta do Laboratório 11.

    — Você está…

    Antes que pudesse terminar a pergunta, um estrondo alto ecoou.

    Kuooong!

    Com esse ruído, a porta do Laboratório 11 começou a tremer. Assustada, Hera puxou imediatamente seu cajado e o ergueu à frente do corpo antes de escancarar a porta sem mais hesitação.

    — S-Senhor Eugene! Você está b…

    Mais uma vez, ela não conseguiu terminar a frase. A mandíbula de Hera caiu diante da cena que se desenrolava diante de seus olhos.

    O chão estava coberto de rachaduras finas, sem um único ponto intacto. Eugene permanecia de pé, oscilando em meio a uma espessa névoa de mana em ebulição. Era, claramente, o cenário de um acidente. Franzindo a testa, Hera balançou o cajado.

    Fwooosh!

    Toda a névoa turbulenta de mana foi dissipada imediatamente.

    — Senhor… Eugeeene…

    Mais uma vez, ela não conseguiu concluir o que ia dizer. Dessa vez, a voz de Hera simplesmente se perdeu enquanto ela abaixava o cajado. No entanto, no meio da fala, Hera teve que engolir em seco.

    Ufff — suspirou Eugene, balançando a cabeça e enxugando o suor que cobria seu corpo.

    No centro do laboratório, Eugene usava apenas uma calça confortável. Em outras palavras, seu torso suado e exposto estava completamente à vista.

    “Que tipo de… garoto de dezessete anos tem um corpo assim?” Hera pensou, incrédula.

    Engolindo seco mais uma vez, ela desviou lentamente o olhar para o lado. Mas antes de fazê-lo, deu mais uma olhada sutil no corpo de Eugene. Embora isso não fosse regra, a maioria dos magos tinha físicos fracos. Como passavam a maior parte do tempo sentados em pesquisa, sem se exercitarem, seus membros ficavam cada vez mais finos, enquanto as barrigas cresciam.

    Pelo menos na Torre Vermelha da Magia, não havia um único mago com um corpo esculpido como o de Eugene. Mesmo Lovellian, que cuidava regularmente do corpo, não tinha músculos tão definidos.

    Hera contou em silêncio: “Um, dois, três… s-seis.”

    Era a primeira vez que via um tanquinho de verdade. Hera engoliu seco mais uma vez antes de dar alguns passos para trás. Então, percebendo o que havia feito, levou um susto e ergueu o olhar de volta para Eugene.

    Coincidentemente, isso lhe deu mais uma visão clara do torso nu dele.

    Hera balbuciou um pedido de desculpas:

    — D-Desculpe. Eu deveria ter esperado por uma resposta antes de entrar, mas o barulho foi tão alto que eu…

    — Está tudo bem — respondeu Eugene, com expressão tranquila.

    Chamando as sílfides que brincavam no ar ao seu redor, ele as fez soprar o suor que escorria de seu corpo.

    — Eu ia responder, mas queria terminar o que estava fazendo antes — Eugene explicou.

    — O que você estava fazendo… P-Posso perguntar exatamente o que era? — Hera questionou, depois de conseguir organizar seus pensamentos confusos.

    Ela pensava que ele talvez estivesse praticando magia de invocação, mas ao olhar ao redor do laboratório, não parecia ser o caso.

    Hera observou: “Não vejo nenhum círculo mágico… mas o que é aquilo?”

    Um fragmento de algum metal desconhecido estava deitado no centro do laboratório. O chão ao redor estava rachado e revirado, mas a área sob o fragmento permanecia intacta, sem nenhum vestígio de dano.

    — Eu estava treinando minha mana. Também combinei isso com um pouco de prática mágica — Eugene respondeu com um dar de ombros.

    Aquilo aconteceu uma semana após o incidente na Rua Bolero. Eugene havia passado a maior parte dos dias dentro daquele laboratório. Seu objetivo era treinar sua magia e mana usando o fragmento da Espada da Luz Lunar como alvo.

    Os resultados não foram muito satisfatórios. Mesmo a luz da espada que ele criava com toda a sua vontade se dissipava assim que se aproximava do fragmento. O mesmo acontecia com magia, e até mesmo as sílfides que ele invocava não se aproximavam do fragmento da Espada da Luz Lunar. Quando tentava obrigá-las a fazer isso, no momento em que se aproximavam, eram banidas de volta para o Reino Espiritual.

    No entanto, não era como se os resultados fossem inexistentes. No início, seus feitiços se desintegravam antes mesmo de explodirem, mas agora já era possível forçar a dispersão da mana para causar uma explosão nas proximidades do fragmento.

    Isso significava que a coesão de sua mana estava ficando mais forte.

    — Treino de magia…? — Hera perguntou, curiosa.

    — Assim — Eugene demonstrou.

    Em vez de explicar passo a passo, Eugene imediatamente conjurou um feitiço. Ao longo da última semana, os feitiços que ele mais vinha utilizando eram os de Primeiro Círculo: Míssil Mágico e Bola de Fogo. Os olhos de Hera tremeram com a velocidade com que ele conjurou aqueles feitiços.

    “Ele está ainda mais rápido”, ela percebeu.

    Mesmo já tendo sido incrivelmente veloz da última vez que ela o viu conjurar esses feitiços, sua velocidade agora era ainda maior. À primeira vista, parecia até que ele tinha usado um pergaminho mágico.

    “Mas aquilo não foi um pergaminho. Ele ativou a própria mana… e usou os núcleos como se fossem círculos mágicos?”, Hera se perguntou, incrédula.

    A ausência de encantamento já não a surpreendia. Embora isso tornasse tudo mais rápido, não era o único aspecto estranho nos feitiços de Eugene. Hera prestou atenção especial na estrutura da mana que compunha os feitiços dele.

    A estrutura era tão densa e sofisticada que era difícil acreditar que tivesse sido feita apenas com a habilidade mágica de Eugene. A coesão da mana também era incrivelmente forte, seria difícil encontrar um feitiço de dissipação capaz de quebrar aquela estrutura. Ninguém acreditaria que aquilo eram apenas uma Bola de Fogo e um Míssil Mágico de Primeiro Círculo.

    — …Você está praticando técnicas de duelo mágico? — Hera perguntou, hesitante.

    O fato de que seus feitiços eram difíceis de dissipar significava que Eugene teria vantagem em duelos mágicos. Como isso também ampliava o poder de seus feitiços, o Eugene atual já seria capaz de enfrentar um mago de nível mais alto sem recuar.

    — Apesar de ter esse efeito, meu foco maior foi no treino da qualidade geral da minha mana — disse Eugene, deixando os feitiços se dissiparem. Em vez de se espalhar pelo ambiente, a mana imediatamente envolveu o corpo de Eugene. A transição entre o uso da mana nos feitiços e a Fórmula da Chama Branca fluía tão suave quanto água.

    — …Parece que você obteve resultados bastante significativos. — Hera acabou observando.

    — Sim — Eugene respondeu com um sorriso.

    Enquanto tentava acalmar o coração, que batia acelerado de surpresa, Hera encarou Eugene. As chamas brancas puras que envolviam seu corpo exalavam uma intimidação difícil de descrever. Ainda assim, o rosto de Eugene mantinha sua expressão juvenil e ingênua.

    Com um rosto daqueles, e ainda assim um corpo tão musculoso… Hera bateu no próprio peito, que continuava a pulsar de forma desobediente, e começou a tossir.

    — T-Tudo bem, desde que você não esteja machucado — Hera o advertiu. — Mas, Senhor Eugene, por favor, não se esforce demais. Se você acabar se ferindo, não será o único a sofrer com isso… tanto o Arquimago quanto a própria Torre Vermelha da Magia estariam em apuros.

    — Sim, vou tomar cuidado — Eugene assentiu obedientemente com um sorriso.

    Hera não dizia isso apenas por formalidade.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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