Índice de Capítulo

    Melkith encarava Wynnyd com olhos cintilantes. Parecia prestes a avançar e tentar arrancá-la dele à força.

    — Eu venho me esforçando muito, sabia? — Melkith se queixou. — Até supliquei ao Rei dos Espíritos do Relâmpago e ao Rei dos Espíritos da Terra, mas ambos disseram que o Rei dos Espíritos do Vento não quer fazer contrato com ninguém. Foi por isso que mandei uma carta super sincera para a família principal dos Lionheart, implorando para pegar Wynnyd emprestada. Mas sabe o que eles responderam?

    Ignorando a pergunta, Eugene perguntou: — Já posso subir?

    — Disseram que os tesouros da família principal jamais podem ser emprestados a pessoas de fora. Mesquinhos, é como se achassem que eu iria roubar Wynnyd e sumir no mundo. Só quero usá-la como catalisador para um contrato, por que precisam ser tão teimosos e me atrapalhar? — Melkith reclamou.

    — Olha, independente do que você diga — Eugene suspirou — não tenho intenção nenhuma de te emprestar Wynnyd, Mestra. Pra falar a verdade, ela nem é minha. Estou usando com a permissão do Patriarca.

    — Tudo bem. Não vou contar pra ninguém — prometeu Melkith. — Pode me emprestar só por uns instantes. Provavelmente nem vai demorar muito, no máximo um dia. Se quiser, pode até ficar assistindo enquanto eu uso.

    Na verdade, essa proposta era bastante tentadora para Eugene. Vermouth havia morrido. Embora Sienna ainda parecesse viva, não estava em condições de falar com ele, já que parecia estar selada em algum lugar neste vasto mundo. E quanto a Anise? Tendo se tornado uma peregrina, suas pegadas se apagaram há duzentos anos. Molon, aquele desgraçado, também estava desaparecido.

    Neste mundo atual, apenas o Rei dos Espíritos do Vento, Tempest, sabia de toda a verdade sobre o que aconteceu trezentos anos atrás no castelo do Rei Demônio do Encarceramento. Claro, Tempest sempre fingiu inocência, dizendo que não sabia de nada, mas Eugene simplesmente não conseguia acreditar nessas palavras.

    Eugene xingou mentalmente: “Aquele filho da puta… Deve ter engordado tanto que o rabo ficou pesado demais, porque não sai nem que eu implore.”

    Nos últimos quatro anos, Eugene havia tentado invocar Tempest diversas vezes. Sempre que atingia uma nova estrela da Fórmula da Chama Branca, sempre que sua capacidade de mana aumentava. Chegou até a usar as sílfides com quem tinha contrato para tentar alcançá-lo. Mesmo assim, Tempest jamais respondeu a nenhum de seus chamados.

    “Com a quantidade de mana que tenho agora, ainda não consigo invocar Tempest”, Eugene calculou.

    No entanto, talvez Melkith conseguisse. Ela não teria os requisitos também? Entre todos os Invocadores de Espíritos renomados no continente, Melkith era a única que havia firmado contrato com dois Reis dos Espíritos ao mesmo tempo. Embora Tempest nunca tivesse aparecido quando ela tentou chamá-lo, se Wynnyd fosse usada como catalisador, quem sabe como ele reagiria?

    Melkith tentou impedi-lo de sair — Ei, garoto, pra onde está indo? Ainda não terminei de falar com você.

    — Parece que não há mais nada a escutar, então por que eu ficaria? — Eugene apenas respondeu.

    Mesmo que estivesse com esperanças, Eugene não mostraria uma reação positiva à proposta de Melkith tão cedo. Em vez de deixar que ela simplesmente mordesse a isca, era melhor provocar um pouco, ver se conseguia fisgar um prêmio maior.

    — Eu perguntei: pra onde está indo? — insistiu Melkith.

    — Estou subindo — respondeu Eugene. — Você mesma disse que recebi permissão para entrar, não disse? Ou ainda preciso de algum tipo de passe?

    — Se for ali e pedir um, vão te entregar — respondeu Melkith imediatamente, surpreendendo-o.

    Eugene foi até a porta que ela indicou.

    Até mesmo um lugar como Akron tinha um Diretor da Biblioteca. Embora fosse chamado de Diretor, na verdade era apenas um funcionário público que não tinha permissão para entrar nos andares superiores e apenas gerenciava os familiares responsáveis pela manutenção. O velho mago que ocupava o cargo abriu a porta assim que ouviu Eugene bater.

    — Já fui informado — declarou o Diretor antes que Eugene dissesse qualquer coisa.

    Não demorou para que o passe de entrada fosse emitido. O selo de Akron foi carimbado no verso da identidade de Eugene, e isso era tudo.

    — Se eu tivesse tentado subir sem esse passe, o que teria acontecido comigo? — perguntou Eugene, por curiosidade.

    — Você morreria — respondeu o Diretor com naturalidade. — Primeiro, a magia de intercepção de Akron atravessaria todo o seu corpo. E se isso não fosse suficiente para matá-lo, todos os familiares de Akron entrariam em modo de ataque. Embora, antes disso, os magos com passe de entrada seriam convocados para te deter.

    — Sabia? Os familiares que trabalham aqui foram deixados pelos Arquimagos cujos nomes estão gravados nas paredes de Akron — comentou Melkith, que ainda não tinha se afastado de Eugene. Observando Wynnyd com olhos gananciosos, ela continuou: — Isso inclui, claro, familiares do Rei da Magia que fundou Aroth, alguns do Mago de Batalha conhecido como Pai da Magia de Combate, e também familiares da Sábia Sienna.

    — … — Eugene permaneceu em silêncio.

    — Garoto, suas reações são realmente sem graça. Você não tem um interesse enorme na Dama Sienna? — perguntou Melkith com um sorriso de canto. — Eu vi tudo mais cedo. Você estava lendo os registros da Dama Sienna repetidas vezes. No seu primeiro dia em Aroth, foi direto visitar a mansão dela, e da última vez, até se encontrou com seu amigo de outro ramo colateral na Praça Merdein.

    — Como você sabe tanto sobre o que eu faço? — Eugene perguntou, incomodado.

    — Parece que você não tem muita noção disso, garoto, mas você é bem famoso — Melkith zombou.

    — É claro que sei que sou famoso — Eugene respondeu com um resmungo.

    — Sua personalidade é meio… diferente da sua aparência. Falta carisma.

    — O que você quer dizer com ‘diferente da minha aparência’?

    — Você tem um rosto bonito, não tem?

    — Então pense na minha grosseria como o preço por apreciar minha boa aparência.

    — Não falta só um pouco, não. Você realmente não tem carisma nenhum.

    — E por que continua me chamando de garoto?

    — Porque você é um. Não tem só dezessete anos? Pff, ainda cheira a leite.

    — Tem umas palavras passando pela minha cabeça agora, mas não sei se devo dizê-las.

    — Que tipo de palavras?

    — Melhor eu ficar quieto. Parecem um pouco grosseiras demais pra dizer no nosso primeiro encontro.

    Não era possível que ele estivesse insinuando que ela cheirava a velha, certo? Após encará-lo em silêncio, Melkith cheirou o próprio corpo.

    — Não estou cheirando a nada — insistiu ela.

    — E eu também não cheiro a leite — Eugene retribuiu.

    — Enfim, quando vai me emprestar a Wynnyd?

    — Não vou te emprestar.

    Ignorando Melkith, que continuava a segui-lo, Eugene olhou ao redor. Pensou se precisaria encontrar uma escada para subir aos andares superiores, mas então avistou o elevador num canto.

    Melkith explicou, prestativa:

    — Tá vendo o buraco ao lado da porta? Se colocar sua identidade ali, a porta abre. Você vai pro décimo segundo andar, né?

    — É — admitiu Eugene.

    — Viu só? Parece mesmo que você gosta muito da Dama Sienna.

    — Eu não gosto dela.

    — Será que é porque você ainda é só um garotinho que fica envergonhado com as coisas mais bobas? Tudo bem, tudo bem. Esta irmã mais velha aqui entende tudo. Crianças são assim mesmo, não são? Especialmente os meninos. Nunca admitem que gostam do que gostam, e é justamente por isso que são tão fofos.

    — Não é exagero demais se chamar de ‘irmã mais velha’?

    — Você… agora há pouco, perguntou isso por causa da minha idade?

    — Pelo que sei, você já tem mais de sessenta anos.

    Mesmo somando os anos da vida passada à sua idade atual, Melkith ainda tinha mais tempo de vida que ele. Claro, por fora, ela parecia ter no máximo vinte e poucos anos, mas manter uma aparência jovem não rejuvenescia sua idade real.

    — Quando se tem um espírito jovem, idade não importa — Melkith se defendeu. — Então não tenha vergonha, pode me chamar de irmãzinha.

    Eugene não respondeu. Apenas inseriu sua identidade no slot do elevador e se perdeu em pensamentos aleatórios.

    Se Sienna realmente ainda estivesse viva e tivesse vivido todo esse tempo, isso significava que ela já devia ter mais de trezentos anos.

    Eugene fez uma anotação mental: “Quando nos encontrarmos, talvez eu tenha que chamá-la de vovó.”

    Ou talvez fosse melhor chamá-la de morta-viva do que de vovó. Claro, se dissesse isso na frente dela, Sienna com certeza tentaria matá-lo transbordando intenção assassina.

    Eugene ficaria até feliz se isso acontecesse.

    Com um sorriso torto, Eugene entrou no elevador. Melkith não o acompanhou. Ficou parada do lado de fora e acenou para ele com um sorriso.

    — Volta logo — disse ela.

    Eugene perguntou:

    — Você não vai ficar me esperando aqui, vai?

    — Nem eu sou tão desocupada assim — Melkith fez bico. — Na verdade, queria muito ir dar uma olhada com você, mas… hmm… se eu for junto, acho que você não vai conseguir se concentrar.

    — Isso com certeza aconteceria — Eugene admitiu.

    — Mhm, então não vou com você. Embora eu vá perder a chance de ver sua cara de choque ao encarar a verdade pela primeira vez… Fufu, a primeira vez sempre é a mais intensa. — Melkith conteve uma risada, apontou para a parte inferior do corpo de Eugene e disse: — Talvez seja melhor você usar fralda?

    — Por quê?

    — Vai que você molha um pouquinho as calças.

    Foi inútil perguntar. Com o cenho profundamente franzido, Eugene apertou o botão do décimo segundo andar e imediatamente socou o botão para fechar a porta.

    O elevador subiu. Não demorou muito para chegar ao andar. Dizer que chegou num piscar de olhos seria só um leve exagero.

    Eugene foi recebido por uma voz:

    — Bem-vindo ao salão de Sienna.

    Assim que as portas do elevador se abriram, foi recepcionado por uma garotinha que olhava para ele com um largo sorriso.

    — … — Eugene abriu os lábios em silêncio enquanto encarava a menina.

    A garotinha, que parecia ter cerca de dez anos, era idêntica à Sienna que Eugene lembrava.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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