Índice de Capítulo

    Depois de se acalmar, Ciel perguntou:

    — …Então, se você não vai se tornar o Patriarca, o que vai fazer?

    — Acho que vou simplesmente fazer o que eu quiser — Eugene deu de ombros.

    — Você sabia? A mãe quer que eu me case com você.

    — Que horror.

    As sobrancelhas de Ciel se contraíram diante da resposta imediata de Eugene.

    — O que tem de tão horrível nisso? — ela rosnou.

    — Você e eu somos da mesma família, somos irmãos — apontou Eugene.

    — Mas você nunca me chamou de irmã mais velha — reclamou Ciel.

    — A gente tem a mesma idade, então quem você acha que tá chamando de irmãozinho? — rebateu Eugene. — Não vai repetir aquela besteira que você dizia aos treze anos, vai? De que era a irmã mais velha só porque nasceu alguns meses antes?

    — Faz quatro anos que eu te peço pra me chamar de irmã mais velha. Se você já foi forçado a me ouvir repetir isso tantas vezes, não pode ao menos fingir que me deixa ganhar uma vez e me chamar assim?

    — Por que eu fingiria perder se eu tô sempre ganhando? Se você quer mesmo me ouvir te chamar de ‘irmã mais velha’, por que a gente não resolve isso com um duelo? Eu sei que você tem estudado direitinho com o tio Gion e o Patriarca, mesmo enquanto vivia trancada no quarto.

    — Não traz esse assunto do passado.

    — Se alguém ouvisse você dizer isso, ia achar que foi há anos. Desculpa, mas a última vez que eu te vi agindo como se tivesse lepra por causa da puberdade foi só três meses atrás.

    — Puberdade geralmente começa de repente e termina de repente. Foi assim com o Cyan também.

    — Mas comigo não foi assim?

    — Isso… isso é porque você é o esquisito — resmungou Ciel, sem desfazer o bico.

    Do ponto de vista dos gêmeos, Eugene era claramente o estranho. Mesmo tendo a mesma idade, ele era muito mais habilidoso, e nem parecia ter passado pela puberdade como eles.

    “E daí a puberdade? Se eu começasse a reclamar de puberdade, com a minha idade real, isso seria sinal de demência”, pensou Eugene em silêncio.

    Ciel nem queria pensar em como a puberdade tinha batido forte nela alguns meses atrás. Como acabara de dizer, veio de repente. Por algum motivo, ela começou a não gostar do que via no espelho, seu humor oscilava sem razão, e o cheiro do próprio corpo, que ela nunca havia achado desagradável, de repente passou a incomodá-la…

    Mas aí passou. Desde que Eugene foi para Aroth, as coisas que a incomodavam estranhamente tinham deixado de incomodar.

    — Posso te perguntar uma coisa? — disse Ciel.

    — O quê? — perguntou Eugene.

    Hesitante, ela começou:

    — Bem, naquela época, quando eu estava na puberdade…

    — Você tá falando de alguns meses atrás, né? — ele a interrompeu, provocando.

    — …Foi há muito tempo — insistiu Ciel, com um olhar mortal.

    — Tá bom. E daí?

    — Você não sentiu um cheiro estranho vindo de mim? — perguntou Ciel, sem jeito.

    — Não senti nada, não. Até porque, naquela época, você nem queria sair do quarto de medo de exalar algum cheiro — apontou Eugene.

    — …E agora?

    — Tô sentindo um leve cheiro de perfume.

    — E o cheiro de suor?

    — Com essa brisa refrescante, por que você estaria suando? Ei, para de prestar atenção em coisa estranha. E daí se as pessoas cheiram a suor? Acontece.

    — Então tá dizendo que eu tô cheirando a suor?

    — Eu já disse que não. Se tá tão preocupada com isso, devia marcar um encontro com o Gargith.

    — Por que eu me encontraria com aquele porco?

    — Porque, depois de encontrar com ele, você vai começar a achar que o cheiro do seu corpo não é suor, mas sim o doce aroma das flores — soltando essa, Eugene começou a andar de novo.

    Depois de alguns segundos em silêncio, Ciel o seguiu, os cantos da boca tremendo enquanto tentava esconder um sorriso.

    — Então agora tá dizendo que eu cheiro a flores? — perguntou Ciel, fazendo-se de desentendida de propósito.

    — Mesmo que seu corpo tenha crescido, parece que seu cérebro ainda não — observou Eugene.

    — Eu passei um perfume com cheiro de rosas — revelou Ciel.

    — Prefiro cheiro de sabonete ao de flores — respondeu Eugene, sem rodeios.

    — Você fala igual um velho.

    A provocação despreocupada de Ciel atingiu o coração de Eugene em cheio. Ele pigarreou e, depois de se recompor, apontou para a região central da cidade, abaixo da estação flutuante.

    — …Então, quando a gente vai comprar o presente?

    — Eu queria continuar passeando, mas… Hm… — Ciel parou no meio da frase ao olhar o relógio de pulso. — …Nosso horário marcado é às cinco.

    — Onde vocês vão se encontrar?

    — Em frente ao portal de teletransporte.

    — Você vai mesmo voltar hoje?

    — O contrato da Wynnyd já foi assinado. E como o problema com o mago negro foi resolvido antes mesmo de chegarmos… decidiram que a gente voltaria logo depois de recrutar alguns novatos.

    — Não era pra você voltar pra propriedade principal?

    — Não. Vamos para a Montanha Uklas. Sabe onde fica?

    — Sei que é na região sul do Império Kiehl.

    — É lá que fica a base dos Cavaleiros do Leão Negro.

    — Mas você ainda não entrou oficialmente nos Cavaleiros do Leão Negro, entrou?

    — Foi decidido que eu faria um teste simples com a Dama Carmen. Quer ir comigo?

    O jeito como ela tentava arrastá-lo pra algo sem aviso prévio fez Eugene se lembrar de quando os dois tinham treze anos.

    — Por que eu iria querer ir até lá?

    — A Dama Carmen está mais interessada em você do que em mim, na verdade.

    — Interessada? Em mim? Por quê?

    — Por que perguntar, se foi você mesmo quem deu a resposta ainda agora? Porque você é muito talentoso. Mas mesmo sendo tão talentoso, não pode se tornar Patriarca. Não é óbvio que os Cavaleiros do Leão Negro teriam interesse em alguém assim?

    De fato, era óbvio. Para ser sincero, Eugene não pôde evitar de se sentir tentado com a proposta de Ciel. Afinal, os Cavaleiros do Leão Negro eram a força mais poderosa do clã Lionheart.

    Mas tudo o que ele pôde dizer foi:

    — Diz pra ela guardar esse interesse pra outra hora.

    — Por quê?

    — No momento, estou me divertindo muito mais aprendendo magia.

    — Também tem muitos magos entre os Cavaleiros do Leão Negro. Como o Fargo, que veio com a gente hoje — ele está no Quinto Círculo.

    — Mas o Príncipe Herdeiro Honein, lá no Palácio Real, chegou ao Quinto Círculo com apenas vinte e três anos.

    — Isso é só porque ele é o Príncipe Herdeiro de Aroth.

    — Enfim, eu não vou com você agora.

    — Não seria mais útil usar esse tempo que você está dedicando à magia pra treinar a Fórmula da Chama Branca?

    — Eu continuo treinando com a Fórmula da Chama Branca mesmo enquanto aprendo magia.

    E era verdade. Desde que chegou a Aroth, Eugene não tinha deixado de praticar a Fórmula da Chama Branca nenhum dia sequer.

    — Se o encontro tá marcado pras cinco, só restam algumas horas — Eugene a lembrou. — Você não precisa escolher o presente?

    — Se for algo que eu mesma escolhi, a mamãe vai gostar de qualquer jeito, então podemos ir com calma.

    — Se é assim, pra que veio até Aroth só pra comprar um presente pra ela?

    — Você já me ouviu dizer antes, então por que continua perguntando?

    Ciel deu uma risadinha e se agarrou ao braço de Eugene, confessando com doçura:

    — Vim porque queria te ver.

    — Que vergonha… solta de mim — Eugene tentou se desvencilhar.

    — Escolher o presente da minha mãe não vai me tomar nem trinta minutos. Isso quer dizer que a gente tem que usar melhor o nosso tempo. Você não conhece algum lugar legal pra gente visitar?

    — Quer ver eu fazendo um pouco de magia?

    — Acho que não vai ser tão divertido só assistir. Então onde… Ah, é verdade. Disseram que a vista noturna de Aroth é famosa. Apesar de eu não achar que vou conseguir ver hoje… Por que a gente não vai visitar a mansão da Sábia Sienna?

    — Eu já fui lá no meu primeiro dia aqui.

    — Mas você não foi comigo.

    Eugene foi arrastado pelo braço.


    — Já que ele disse que não sabe mais de nada, então não tem o que fazer — declarou uma voz fria.

    Eles estavam em uma cela subterrânea.

    O cheiro de sangue misturado com o de cigarro vinha do canto onde Carmen estava recostada contra a parede. Ela finalmente jogou no chão o charuto que vinha mascando.

    Eles estavam ali por causa de Gavid, o mago negro que havia sido membro da Guilda dos Magos. Entre os muitos que foram capturados no antro de drogas na Rua Bolero, os que podiam ser mortos já estavam mortos, e os que não deviam ser eliminados estavam presos.

    Gavid era alguém que, em outras circunstâncias, teria sido morto sem maiores consequências. Ele não fazia parte da Torre Negra de Magia e, mesmo dentro da Guilda dos Magos, não passava de um mago negro irrelevante, sem força significativa, que vagava pelas ruas noturnas de Aroth.

    Ainda assim, Gavid não havia morrido, e permanecera vivo até agora.

    E hoje, seria finalmente executado.

    Mas, antes disso, foi torturado. Não havia necessidade de Carmen se envolver pessoalmente nesse tipo de tarefa. Naishon, comandante da Terceira Divisão, era bom com lanças, mas também era hábil na tortura. Na verdade, a maioria dos Cavaleiros do Leão Negro do clã Lionheart era assim. Suas presas e garras não serviam apenas para morder e rasgar o inimigo de frente.

    Gavid foi o responsável por intermediar o contrato com Eward Lionheart. De acordo com o que contou, os dois haviam se tornado amigos depois de se conhecerem na loja das súcubos, na Rua Bolero. Essa amizade começou no início do ano, e Gavid afirmou que costumava sair com Eward sempre que a Rua Bolero abria, uma vez por mês.

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