Capítulo 009 — Impressionante, como sempre.
O calor se intensificou no instante em que a fera pisou no solo, cada passo deixando marcas escaldantes na terra. O Leão-de-Qsia não era uma criatura comum. Seu corpo era feito de fogo sólido, as chamas se contorcendo como uma juba viva ao redor de sua cabeça. Seus olhos eram duas fendas incandescentes, queimando como brasas vivas, e seu rugido soou como o estouro de uma erupção vulcânica.
Era uma criatura lendária. Um mito, até agora.
Lou-reen permaneceu firme. Seus olhos analisavam a fera, cada detalhe, cada movimento, mas seu semblante não demonstrava medo ou hesitação.
O Domador sorriu, quase divertido.
— Você realmente não se assusta fácil, Brilho do Amanhecer.
Lou-reen não respondeu. Apenas ergueu ligeiramente a espada, ajustando sua postura.
— Como pretende lidar com isso? — o Domador continuou, sua voz carregada de confiança. — Um Leão-de-Qsia à sua frente… e uma matilha de lobos atrás de você.
Ele inclinou a cabeça, como se já soubesse a resposta.
— Você pode ser forte, mas não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Lou-reen não reagiu à provocação. Em vez disso, inspirou fundo, fechou os olhos por um instante e então sussurrou:
— Solidificação de ar: Manto de Inverno.
O ar ao redor de Marco mudou.
As runas invisíveis que Lou-reen havia desenhado brilharam por um breve instante antes de se tornarem visíveis. Em segundos, uma gaiola translúcida de gelo surgiu ao redor dele, sua estrutura sólida, quase cristalina, refletindo a luz das chamas do leão.
O escudo estava ativado.
Lou-reen abriu os olhos, agora fixos no Domador.
— Vamos ver se esse leão é isso tudo.
Lou-reen avançou, sua lâmina traçando um arco certeiro contra o flanco do Leão-de-Qsia. O golpe foi rápido e preciso—mas completamente inútil.
Sua espada atravessou o corpo da criatura como se tivesse cortado o vento. O fogo sólido se distorceu levemente ao redor da lâmina, apenas para se recompor no instante seguinte. Nenhum dano. Nenhum efeito.
Lou-reen recuou, os olhos se estreitando.
O Domador sorriu, cruzando os braços.
Lou-reen, com um movimento fluído, apontou a palma da mão para o Leão-de-Qsia:
— Materialização de chamas: dragão do amanhecer
Uma complexa runa surgiu ao redor de sua mão e chamas surgiram tomando a forma de um dragão que foi direto para o Leão-de-Qsia.
O resultado foi imediato.
O leão abriu a boca e engoliu o dragão de fogo sem hesitar. Por um breve instante, seu corpo brilhou com ainda mais intensidade, as chamas se expandindo e dançando ao redor dele.
Lou-reen baixou a mão, já esperando por isso.
— Então, as lendas eram verdadeiras. Ele se alimenta de fogo.
O Domador bateu palmas lentamente, zombeteiro.
— Parabéns. Agora vem a parte divertida.
O Leão-de-Qsia rugiu, e uma onda de calor varreu o campo. Chamas irromperam do solo ao seu redor, transformando a grama em brasas. O ar ficou seco, sufocante.
Lou-reen nem piscou.
— E quanto a isso? Materialização de raios: relâmpago superior.
Dessa vez, sua mão brilhou com um tom azul. Relâmpagos crepitaram ao redor de seus dedos antes de dispararem contra a fera em um único raio concentrado. A eletricidade atingiu o leão em cheio—mas, para a surpresa de Lou-reen, ele reagiu da mesma forma que antes.
Ele devorou a essência do ataque.
O trovão se dissipou no instante em que tocou sua pele flamejante, absorvido como se nunca tivesse existido.
Lou-reen franziu a testa.
— Interessante.
O Domador riu.
— Eu disse que ele era especial. Vamos ver o que mais você tem, General.
De repente, o Leão-de-Qsia avançou, as chamas que se moviam em seu corpo ganhando ainda mais intensidade. Lou-reen mal teve tempo de reagir antes que ele estivesse sobre ela.
O leão, em um movimento rápido, golpeou Lou-reen com sua pata flamejante, uma explosão de calor e força. A força do impacto foi tão grande que ela foi jogada para trás, derrapando no solo antes de se recompor, mas não sem dificuldade. Lou-reen arfou, mas não deixou que isso a abalasse. Ela se levantou, sacudindo a dor, e rapidamente voltou à sua posição defensiva, sua espada novamente erguida, pronta para a próxima investida.
Enquanto isso, os lobos, que estavam se retirando momentaneamente, voltaram a atacar. Um grupo deles havia começado a roer o gelo ao redor de Marco, tentando quebrar o escudo de Lou-reen. A camada de gelo estava começando a ceder sob os dentes afiados dos animais, um som de rochas sendo quebradas preenchendo o ar.
Marco, com a mente a mil, observou a luta de Lou-reen e os lobos atacando o escudo ao redor de si. Ele estava impotente, temendo que ela não conseguisse manter o controle.
— Nova, o que podemos fazer para ajudar Lou-reen? — perguntou Marco, sua voz cheia de preocupação. A ideia de ver Lou-reen sendo derrotada pelo Leão-de-Qsia e os lobos quebrando a barreira de gelo o fazia sentir-se frustrado e desesperado.
Nova, com sua calma característica, fez uma rápida análise da situação.
“Cálculos em andamento” respondeu ela de forma mecânica, calculando possibilidades. “O Leão-de-Qsia não pode ser derrotado com ataques físicos convencionais. Sua imunidade ao dano físico é absoluta. Para ser eficaz, a abordagem precisa ser através da manipulação da essência, mas você precisa estar ciente de que seus ataques serão ineficazes a menos que se concentrem em suas fraquezas “.
Ela pausou um momento, fazendo mais cálculos.
“Em relação aos lobos, com o atual ritmo de ataque deles, o escudo de gelo de Lou-reen pode falhar em breve”.
Marco engoliu em seco. O tempo estava se esgotando. Lou-reen estava sozinha enfrentando a criatura lendária, e os lobos estavam perto de quebrar o único refúgio seguro que ele tinha. Ele olhou para o horizonte, desesperado por uma solução.
O Leão-de-Qsia avançou novamente, suas patas flamejantes esmagando o chão enquanto se lançava sobre Lou-reen com uma fúria avassaladora. Ele desferiu um golpe devastador com a pata dianteira. Lou-reen se esquivou com agilidade, mas não completamente. O impacto passou rente a ela, e o calor escaldante a envolveu como uma fornalha aberta. Seus músculos arderam com a onda de calor, mas ela não recuou. Ela era uma general de Taeris. Havia enfrentado inimigos aterrorizantes antes—e esse seria apenas mais um.
Ela ergueu os olhos para o Domador. Ele assistia à luta com um sorriso desdenhoso, a confiança estampada no olhar. Para ele, a vitória era apenas uma questão de tempo.
Lou-reen apertou o cabo da espada. Se ela eliminasse o Domador, os lobos talvez recuassem. E o leão… bem, se ele estava sob controle daquele homem, então sem ele não passaria de uma fera sem comando.
Sem hesitar, ela avançou. Sua velocidade era impressionante, a lâmina brilhando enquanto ela cortava o ar em direção ao Domador. Mas antes que pudesse atingi-lo, o Leão-de-Qsia surgiu entre eles, materializando-se instantaneamente como se sempre tivesse estado ali. Seus olhos ardentes encontraram os dela, e então ele atacou.
Lou-reen desviou no último segundo, deslizando para o lado e avançando novamente em direção ao Domador, desta vez com uma velocidade ainda maior. No entanto, no instante em que ela mudava de direção, o leão mais uma vez se colocou no caminho, como se antecipasse cada um de seus movimentos.
Seus olhos se estreitaram. Ele não estava simplesmente reagindo—ele estava se materializando diretamente onde ela pretendia ir.
O Leão-de-Qsia não precisava correr. Ele era feito de fogo vivo, e podia surgir onde quisesse.
O Domador estava começando a rir, um sorriso de triunfo no rosto.
— Você realmente acha que pode alcançar meu domínio? — ele provocou, a voz suave, quase desdenhosa. — O Leão-de-Qsia não permite que ninguém se aproxime de mim. Ele é minha proteção, minha arma definitiva. E você, Brilho do Amanhecer, não é páreo para ele.
Lou-reen recuou ligeiramente, seu olhar analisando a situação. Aquele não seria um inimigo vencido apenas com força ou velocidade. Precisava de estratégia.
O mundo ao redor de Lou-reen se dissipou por um instante, sua mente sendo puxada para um passado distante.
Colégio Militar de Taeris.
O campo de treinamento estava iluminado pelo brilho alaranjado de chamas dançantes. Jovens guerreiros se moviam pelo terreno, suas lâminas envoltas em fogo, cruzando golpes em um espetáculo de calor e faíscas. O ar cheirava a metal aquecido e suor.
Lou-reen, ainda adolescente, mantinha uma postura firme, a respiração compassada. Sua espada ardia em chamas intensas, e seus olhos estavam fixos na figura à sua frente: Clyve.
Ele sorriu, segurando sua própria lâmina flamejante.
— Pronta para mais uma, Lou-reen?
Lou-reen não respondeu com palavras. Com um movimento ágil, avançou, sua espada cortando o ar em um golpe certeiro. Clyve bloqueou com facilidade, e faíscas explodiram entre os dois. O calor do impacto fez os alunos ao redor recuarem alguns passos, mas nenhum deles desviou o olhar.
A luta prosseguiu, um turbilhão de chamas e aço. Clyve tinha técnica, mas Lou-reen era determinada. Ela pressionava, atacava sem hesitação, forçando-o a recuar passo a passo. Até que, em um único instante, ela rompeu sua defesa e o envolveu em uma explosão de fogo.
Silêncio.
As chamas consumiram tudo ao redor, cobrindo o chão e subindo em espirais. Mas, no centro daquela tempestade de fogo, algo se movia.
Uma figura emergiu lentamente, levantando-se do meio das chamas.
Clyve.
Ele limpou a poeira da roupa, os olhos brilhando com um misto de cansaço e diversão. Sua armadura estava chamuscada, mas ele estava ileso.
Lou-reen franziu a testa. Ele não deveria estar em pé.
Clyve riu, dando um passo à frente.
— Impressionante, como sempre — disse ele, girando a espada antes de embainhá-la. — Mas me escute, Lou-reen.
Ele se aproximou, seus olhos a analisando com intensidade.
— Um dia você vai encontrar algo que sua espada não vai cortar… e seu fogo não vai queimar.
Ele cruzou os braços, inclinando a cabeça com um sorriso provocador.
— E eu queria muito estar lá para ver o que você vai fazer.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.