Capítulo 117: Dezenove Anos (3/16)
— Essa tese é só pra minha satisfação pessoal — continuou Eugene. — De qualquer forma, além de mim, ninguém mais conseguiria aproveitá-la de verdade. Então estou apenas usando ela pra organizar os detalhes da minha fórmula mágica por escrito.
Isso significava que Eugene não precisava escrever uma tese perfeita. Mer já o ouvira dizer isso dezenas de vezes. Por isso, se recusava a desarmar o beicinho. Sendo uma tese feita apenas para satisfação própria, não havia motivo pra se preocupar tanto com a qualidade do texto, já que ele nem seria apresentado para uma banca.
Ainda assim, Eugene não escreveria qualquer coisa de qualquer jeito. A tese em que vinha trabalhando há mais de meio ano seria avaliada por seu mestre, o Mestre da Torre Vermelha, Lovellian. Foi o próprio Lovellian quem dissera pela primeira vez que não havia necessidade de Eugene publicar a tese.
— Essa Fórmula de Círculos Flamejantes não pode ser reproduzida por nenhum outro mago. Não importa o quão avançado seja o entendimento que tenham sobre magia, seria fisicamente impossível replicar.
Eugene não usava a fórmula mágica tradicional dos Círculos.
— Também não é algo que possa ser reproduzido pelos usuários da Fórmula da Chama Branca da família principal dos Lionheart.
Em vez disso, Eugene havia substituído os Círculos pelas Estrelas da Fórmula da Chama Branca.
— Eu até… tentei reproduzir seus resultados com base na tese. Mas já travei logo no início, porque não formei um núcleo, nem aprendi a Fórmula da Chama Branca. Então tentei usar meus Círculos como substituto, mas não consegui replicar os seus resultados, Eugene. Na verdade, minha mana parecia fluir ao contrário.
Para copiar o Buraco Eterno da Feitiçaria, Eugene o adaptou para usar as Estrelas da Fórmula da Chama Branca em vez dos Círculos.
Atualmente, ele estava na Quarta Estrela da Fórmula da Chama Branca. Com essas quatro Estrelas, formava um Círculo. Dentro desse Círculo, como Hamel havia feito em sua vida passada, ele inflamava sua mana para provocar uma cadeia de explosões. A mana em explosão era então refinada em inúmeros Círculos que se entrelaçavam para criar mais Círculos. Por fora, o anel de chamas giratório em seu pseudo-Círculo envolvia suas Estrelas com firmeza, impedindo qualquer vazamento de mana.
Essa era a Fórmula de Círculos Flamejantes.
Originalmente, ele pretendia tentar algo assim apenas ao alcançar a Quinta Estrela da Fórmula da Chama Branca, mas o encontro com Feitiçaria adiantou seus planos. Aprender magia todos os dias estimulava sua mana, e como resultado, também acelerava seu progresso na Fórmula da Chama Branca.
Os dois anos que passara em Aroth não podiam ser descritos apenas como agitados, foram intensos ao extremo.
Tornou-se discípulo de Lovellian e, enquanto passava metade das horas acordado estudando em Akron, a outra metade era dedicada ao aprendizado direto com Lovellian.
Como Arquimago, Lovellian podia perceber claramente o nível em que Eugene se encontrava. Tirando uma base sólida no controle de mana, Eugene só conhecia o básico. Lovellian não lhe dava aulas sobre a estrutura vital das fórmulas ou sobre a sintonia de mana usada na criação de feitiços.
Ele sentia que não havia necessidade de ensinar nada disso a Eugene, e o julgamento de Lovellian logo se provou correto.
Na vida anterior, como Hamel, mesmo tendo apenas uma escritura de treinamento de mana ruim como base, ele se tornara forte o bastante para lutar ao lado de Vermouth. Hamel foi um dos protagonistas da guerra contra Helmuth, e esteve presente quando derrotaram três dos cinco Reis Demônios.
Tudo isso tendo aprendido apenas uma escritura de mana comum e barata.
Por isso, Lovellian ensinava a Eugene apenas feitiços. E entre a infinidade de feitiços que conhecia, ele escolhia apenas os mais úteis. Tentava simplificar suas fórmulas complicadas o máximo possível e deixava inteiramente por conta de Eugene descobrir como organizar sua mana para conjurá-los.
Depois que Eugene conseguiu estabelecer sua Fórmula de Círculos Flamejantes até certo ponto, Lovellian passou a ajudá-lo com comentários e críticas úteis enquanto ele escrevia sua tese. Também o auxiliou a adaptar os feitiços usuais de Círculo para se adequarem à sua fórmula mágica única.
Na verdade, nem havia necessidade de Lovellian fazer isso, pois era possível conjurar os feitiços convencionais de Círculo com a Fórmula de Círculos Flamejantes. No entanto, já que Eugene usaria sua própria fórmula mágica, não seria melhor que usasse feitiços adaptados para que fossem mais fortes e fáceis de conjurar?
— Tá chateada? — Eugene perguntou para Mer.
— Por que eu estaria chateada? — Mer bufou.
— Porque eu disse que vou embora mesmo você tendo pedido pra eu ficar.
— Não tô chateada. Que direito eu teria de impedir você de ir? Sir Eugene, se disse que vai embora, então vá. Nunca pensei em querer ir a algum lugar, mas mesmo se quisesse, sou só uma familiar que não pode sair de Akron.
Quanto mais Mer falava, mais seus lábios se projetavam num bico emburrado.
— Então vá à vontade. Pode me deixar aqui sozinha, nesse lugar entediante, sem graça e silencioso, enquanto você vai embora sozinho. Eu não estou nem um pouco decepcionada por me separar de você, com quem venho brincando nos últimos dois anos. Afinal, eu nem sou um ser humano de verdade, e sei muito bem que os humanos são criaturas egoístas.
— É mesmo? — Eugene perguntou calmamente.
— É claro que é. Porque sou duzentos anos mais velha que você. Mesmo assim, Sir Eugene, pelo menos venha me ver antes de partir. Não vá embora sem dizer nada… como a Dama Sienna — Mer pediu.
— Tá bom — Eugene concordou sem hesitar.
— Mesmo depois de eu dizer tudo isso, você continua calmo como sempre. Embora eu já tenha pensado isso centenas de vezes nos últimos dois anos, você é mesmo um lixo — Mer resmungou.
— Por que eu sou um lixo? — Eugene rebateu.
— Porque é o que sinto de você. Não importa se tem motivo ou não. O senhor, Sir Eugene, é simplesmente lixo. É muito irritante. Mesmo sendo bem mais novo que eu, nunca me mostrou respeito como sua sênior. Quando um adulto diz pra você fazer algo, você não devia apenas obedecer, feito uma boa criança?
Enquanto resmungava, Mer pegou o chapéu que estava ao seu lado e o colocou de volta na cabeça, escondendo o rosto em vergonha.
— …Claro que… se por acaso você realmente fosse persuadido pelas minhas palavras e escolhesse não deixar Aroth, aí sim acho que eu ficaria extremamente aflita por causa disso — Mer admitiu, hesitante. — Mas não posso evitar. Como minha personalidade é baseada na infância da Dama Sienna, minhas emoções e comportamento acabam sendo influenciados por um temperamento infantil.
— É mesmo o caso? — Eugene pareceu duvidar.
— Sim, é claro que é — Mer insistiu. — Por isso falo coisas tão infantis e ajo com essa teimosia de criança. Mesmo nessas circunstâncias, uma parte de mim ainda aceita que é seu direito ir embora. E é por isso que me sinto uma idiota por dizer esse tipo de bobagem. Porque tenho certeza de que a Dama Sienna não agiria assim. Sinto que minhas ações são um insulto à Dama Sienna.
— …Hm — Eugene hesitou.
— Por isso, apenas trate minhas palavras como vento. Como é só teimosia infantil da minha parte, não precisa dar atenção ao que eu digo. Não tem sentido nisso, e eu realmente não tenho nada a oferecer pra você — Mer cedeu, em voz baixa.
— Talvez — Eugene respondeu, enquanto a caneta com que escrevia a tese seguia se movendo. — Mas a verdadeira Dama Sienna talvez tivesse agido exatamente como você.
— Por favor, não diga uma bobagem dessas. Não tem como a Dama Sienna fazer isso.
— Tem, sim.
— E como você pode saber disso, Sir Eugene? Nunca nem conheceu a verdadeira Dama Sienna. Vai dizer isso baseado na Dama Sienna dos contos de fadas? — Mer perguntou enquanto levantava o chapéu e revelava o rosto.
Pffft.
Mer estalou a língua para Eugene.
— No fim das contas, aquilo era só algo que alguém escreveu usando a própria imaginação — Mer o repreendeu. — Eu conheci a Dama Sienna; ela não era esse tipo de pessoa.
— Minha tese já está quase terminando — Eugene declarou, revidando o estalo de língua dela com um igualmente infantil. — Se eu não me empolgar demais, provavelmente termino antes do fim do verão.
— E daí? — Mer resmungou.
— Eu com certeza vou procurar você antes de ir. Talvez eu tenha algo que precise dizer pra você nesse momento, sabe? — Eugene provocou.
— O quê? Tá tentando me provocar? Eu juro que te mato. — Mer exigiu.
— Eu te conto hora quando chegar a hora — Eugene respondeu com um sorriso.
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