Capítulo 122: Dezenove Anos (8/16)
O verão praticamente passou voando.
Eugene não passou nem um momento aproveitando as atividades típicas da estação. E isso não era algo que tivesse começado desde que veio para Aroth; desde que reencarnou, ele jamais havia voltado seus olhos para o simples ato de se divertir.
Durante o tempo em que vivia na propriedade principal, Cyan e Ciel tentaram convencê-lo repetidamente a sair de férias com eles no verão, e, no inverno, conspiravam para levá-lo a esquiar. Mas Eugene jamais aceitou nenhuma dessas propostas. E também não pretendia mudar isso no futuro.
O mar com o qual Eugene estava familiarizado era um lugar assombrado, cheio de naufrágios e cadáveres boiando por todos os lados. A área marítima que conectava Helmuth aos países vizinhos estava repleta de ninhos de monstros marinhos terríveis e poderosos.
A neve que Eugene conhecia era tingida de sangue, formando um cemitério de corpos congelados, com membros salientes emergindo por toda parte. O clima do extremo norte de Helmuth era aterrador em qualquer estação. Ainda assim, mesmo dentro de uma região tão inóspita, o domínio governado pelo Rei Demônio da Fúria era especialmente terrível, um inferno invernal onde as tempestades de neve nunca cessavam.
“Isso poderia ser chamado de trauma?”, Eugene se perguntou, refletindo profundamente sobre o pensamento.
Ao ponderar com seriedade, Eugene percebeu que toda a sua vida após a reencarnação estava sendo ofuscada pelas memórias de sua vida anterior.
Não era a primeira vez que pensava nisso. Sempre que se deixava levar demais pelas lembranças de sua antiga vida, ele precisava sacudir a própria mente várias vezes para conseguir se libertar. Mas, considerando que já havia reencarnado, não seria patético e risível continuar preso às memórias de sua vida passada para sempre?
No entanto, resistir a isso não era tão fácil assim. O colar que insistiu em levar do tesouro do clã Lionheart, a vinda para Aroth seguindo as pistas deixadas por Sienna, e até mesmo os motivos para ir até o Norte de Ruhr e para Nahama, tudo isso vinha das memórias da vida anterior.
Ele não podia simplesmente evitar essas lembranças e os laços que vinham com elas. Embora já tivesse vivido dezenove anos desde sua reencarnação, o tempo que passou como Hamel ainda era muito mais longo. A duração da existência de Eugene ficava muito aquém da bagagem de experiências de Hamel.
“No fim das contas, os dois são eu”, Eugene estalou a língua e inclinou a cadeira para trás.
Não queria gastar muito tempo remoendo um problema sem solução clara. O que esperava alcançar se ficasse frustrado, preocupado e contemplativo? Por mais que tivesse reencarnado, que trezentos anos tivessem se passado, e que até seu nome houvesse mudado, ele poderia simplesmente ignorar todas as memórias da vida passada?
Como alguém poderia fazer algo assim?
— …Haaaah… — Eugene suspirou ao chegar a essa conclusão.
Enquanto isso, do outro lado da mesa, Mer lia a tese de Eugene com os olhos escancarados. A tese era apenas para sua própria satisfação, sem nenhuma intenção de ser publicada, mas isso não diminuía seu valor. Afinal, uma tese não servia exatamente para mostrar o que alguém havia conseguido aprender?
Nesse sentido, a tese de Eugene era impressionante. Embora outros magos talvez não conseguissem compreendê-la à primeira vista, Mer, como a inteligência artificial da Feitiçaria, era capaz de entendê-la perfeitamente.
“Os Núcleos e o Buraco Eterno chegaram a uma combinação perfeita com isso. Pode haver algumas imperfeições inatas, mas… estruturalmente, chegou a um nível no qual não vejo formas de melhorar”, observou Mer.
Mesmo com essas imperfeições, já se podia dizer que havia alcançado a conclusão. Era impossível acreditar que essa tese fora escrita por um jovem iniciante que começara a praticar magia havia menos de três anos. Essa Fórmula de Círculos Flamejantes havia se aproximado mais de reproduzir as possibilidades completas do Buraco Eterno do que qualquer Arquimago já conseguiu.
“…Quanto às imperfeições inatas, elas vêm do fato de um Núcleo ser diferente de um Círculo. As variáveis resultantes… ele consegue ajustá-las apenas usando seus sentidos”, percebeu Mer, chocada.
Isso mostrava que Eugene devia ter um controle assustador sobre a mana.
“Mesmo enquanto continua ajustando essas variáveis com os sentidos, ainda assim consegue conjurar seus feitiços com perfeição. Pode não alcançar o Buraco Eterno, mas a Fórmula de Círculos Flamejantes de Eugene supera em muito a fórmula mágica comum baseada em Círculos.”
Magos eram pessoas obcecadas por magia. Não descansavam até eliminar todas as imperfeições. Qualquer falha possível em um feitiço precisava ser corrigida para que não acontecesse. Isso porque, se houvesse sequer um erro, poderia causar um problema irreversível.
No entanto, Eugene simplesmente aceitava essas imperfeições. Com a experiência da vida anterior e o talento da vida atual, Eugene conseguia tornar possível algo que deveria ser tão difícil a ponto de ser impossível. Mesmo a fórmula mágica que outros magos não conseguiam entender, e que poderiam até considerar um fracasso, não era um fracasso aos olhos de Eugene.
O sucesso dessa Fórmula de Círculos Flamejantes se baseava em uma proposição absurda.
— …I-Incrível — Mer não conseguiu evitar comentar, por fim. — Quanto ao nível de conclusão… está bom. Mas como só você consegue usá-la… soa como… hum… um pouco egoísta? Pelo menos foi o que senti ao ler. Do ponto de vista geral, suas imperfeições tornam a fórmula inutilizável, mas esse não é o caso para você, Sir Eugene, e… se for julgada pelos seus padrões… o nível de conclusão é excelente.
A expressão de Mer se contorceu ao admitir isso, contrariada.
Como Eugene havia dito, ele conseguiu terminar a tese antes do fim do verão.
— …Quando vai partir? — Mer perguntou depois de um tempo.
— Depois de amanhã — Eugene respondeu.
— Com a sua personalidade, achei que partiria já amanhã, Sir Eugene.
— Ainda sou humano, preciso ao menos descansar um dia inteiro. Além disso, disseram que farão uma festa de despedida para mim na Torre Vermelha da Magia.
— Que inveja. Vai poder ir lá e comer um monte de comidas deliciosas, não é? E ainda vai receber os parabéns de todo mundo — disse Mer em tom sarcástico, fazendo um biquinho.
Enquanto apertava o grande chapéu que havia deixado ao lado, Mer levantou os olhos para Eugene.
— Sir Eugene, com certeza não se esqueceu do que me disse há alguns meses, não é? Você disse que tinha algo para me contar — Ela o lembrou.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.