Índice de Capítulo

    Mer estava dizendo que todos tinham origens extraordinárias.

    Enquanto falava, ela começou:

    — O Grande Vermouth…

    — Era um escravo — Eugene a interrompeu, evocando as memórias da vida anterior. — Vermouth fazia parte de um grupo de escravos que haviam sido sequestrados pelos demonídeos para servirem como sacrifício. Para tentar sobreviver, roubou uma espada de um demonídeo e, mesmo sendo a primeira vez que empunhava uma espada, conseguiu abrir caminho cortando dezenas de demonídeos e magos negros encarregados do transporte dos escravos. Então, enquanto liderava os escravos em fuga de Helmuth, matou centenas de bestas demoníacas pelo caminho.

    — Sinceramente, sempre achei que essa história fosse um exagero — Mer confessou. — Porque é disso que os ‘mitos’ costumam ser feitos.

    — Embora eu não tenha visto com meus próprios olhos, provavelmente é verdade. Aquele cara era um verdadeiro monstro — disse Eugene com um sorriso.

    Vermouth não gostava de falar sobre seu passado. Mas Hamel já ouvira essa mesma história dezenas de vezes, contada por Molon.

    O campo de neve onde vivia a tribo Bayar fazia fronteira com Helmuth. Vermouth havia cruzado esse campo com os escravos em fuga, e foi ali que encontrou Molon pela primeira vez.

    — …O Estúpido Hamel era particularmente único, mesmo dentro daquele grupo de heróis — Mer retomou, hesitante. — Ele… assim como Vermouth, não se destacava desde o ‘início’. E nem sequer vinha de uma origem especial.

    Hamel havia sido um mercenário.

    Antes disso, vivera em uma pequena vila. Depois que a vila foi destruída por um ataque de monstros, ele pegou uma espada para sobreviver. Também cultivava o desejo de se vingar dessas criaturas e alimentava ódio pelos Reis Demônios que haviam enlouquecido os monstros em primeiro lugar.

    Foi assim que Hamel se escondeu nas sombras da vida de mercenário por muitos anos.

    Ele não aprendeu magia com os elfos como Sienna, nem recebeu um cajado feito de um Coração de Dragão.

    Não teve o apoio e a orientação de um império como Anise.

    Não nasceu como filho de chefe tribal como Molon, nem foi forçado a encarar a natureza com o próprio corpo assim que aprendeu a andar.

    Não nasceu com um talento absurdo como Vermouth, nem matou dezenas de magos negros e demonídeos na primeira vez em que empunhou uma espada.

    Antes de se tornar mercenário, Hamel era apenas o tipo de garoto que se encontrava em qualquer lugar. Se não tivesse se tornado um, teria passado a vida toda sem saber que tinha talento para lutar.

    Esse era o Estúpido Hamel.

    Embora tivesse a origem mais comum entre aquele grupo de heróis, cresceu ao ponto de poder lutar lado a lado com os outros em apenas alguns poucos anos.

    — Sienna falava sobre mim? — Eugene perguntou.

    — Não. Mas eu… também li o conto de fadas várias vezes. — Mer respirou fundo e olhou para Eugene. — Se você realmente é a reencarnação de Hamel, então consigo entender sua taxa de crescimento inexplicável. Porque Hamel também era assim. O Hamel que aparece no conto de fadas… embora fosse uma pessoa extremamente desagradável, é quem mais se destaca entre todos os heróis no que diz respeito à própria evolução durante a jornada.

    — Nem tanto — respondeu Eugene com um sorriso de canto. — Quero dizer, eu só era bom em melhorar rápido quando começava algo. Mas mesmo assim, nunca consegui superar meus próprios limites.

    — Vermouth era o Deus da Guerra. Sabia manejar todo tipo de arma e também era hábil com magia, a ponto de ser chamado de Mestre-de-Tudo. Embora Sienna sempre insistisse que suas especialidades eram diferentes, a magia de Vermouth certamente superava a de Sienna em alguns aspectos.

    — … — Mer ficou sem saber o que dizer.

    — Eu estava sempre tentando superar o Vermouth — Eugene continuou. — Como nem tive a chance de aprender magia, desisti disso logo de cara, e a partir daí me concentrei em me aperfeiçoar com espadas e lanças. Queria derrotar o Vermouth com tanta vontade que cheguei até a treinar os punhos. Mas nunca consegui vencê-lo, nem uma vez sequer.

    Hamel já havia se considerado um gênio.

    Enquanto se iludia assim, embriagado pelo próprio senso de superioridade dentro do seu poço raso, Vermouth já voava alto no céu. Hamel fez de tudo para alcançá-lo, mas ficou comendo poeira.

    Durante a jornada, Hamel lutou com Vermouth várias vezes, mas sempre terminava ajoelhado no chão, com a cabeça baixa em derrota.

    — …Era assim mesmo? — Mer perguntou, desconfiada.

    Será que Eugene havia dito tudo aquilo só para que ela o consolasse? Mer honestamente não conseguia entender os sentimentos de Eugene. Embora a sombra de Hamel parecesse pequena comparada a Vermouth, do ponto de vista de uma pessoa comum, Hamel ainda assim era um monstro absurdo por si só.

    — De que adianta ser chamado de gênio pelos outros? — Eugene perguntou ao notar o olhar azedo nos olhos dela. — Estou dizendo que o Vermouth era tão filho da mãe que eu não conseguia evitar querer derrotar aquele desgraçado pelo menos uma vez na vida. Mas até morrer, nunca consegui superá-lo. E em várias ocasiões, durante a jornada, ele esfregava minhas próprias limitações na minha cara. Era um gênio… e um desgraçado.

    — Por que está chamando ele de desgraçado? — Mer perguntou, curiosa. — Ele fez alguma coisa maligna que acabou não sendo registrada na história?

    — Isso… não. Na verdade, ele era… uma boa pessoa. Não cometeu nenhuma maldade. Sempre ajudava quem precisava… realmente merecia ser chamado de herói. É só que ele era irritante. E é natural sentir inveja de um desgraçado absurdamente talentoso como ele — Eugene disse com um resmungo. — Mas já que ele era tão incrível assim, não tenho ao menos o direito de ter inveja? É só isso, no fim das contas.

    — Então o que você está dizendo é que sentia inveja do Sir Vermouth porque ele era muito, muito melhor do que você, Sir Hamel?

    — Se é pra admitir… é isso mesmo. No fim das contas, parece que você resolveu acreditar em mim? Mas não precisa me chamar de Hamel.

    — Eu só disse que era difícil de acreditar. Não disse que não acredito — Mer resmungou, fazendo biquinho. — Olhando pra trás, parece que várias coisas que me confundiam agora fazem sentido. Como o fato de você elogiar tanto o Hamel, Sir Eugene.

    — … — Eugene ficou em silêncio, envergonhado.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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