Anexo TLM-001-NNGY: Fantasma - 1.1
Relatório:
Eu estava voltando para casa depois de um dia ruim no trabalho.
Um dia de matar.
Foi realmente difícil de matar.
Caçador uh? Que piada, eu deveria dar conta de um monstro como aquele sem sujar as roupas.
Mas sujei.
Muito.
Segui ao entrar direto pro armário para uma muda de roupas, precisava de um banho.
—Desejo—
Imagine minha surpresa ao encontrar um fantasma no armário.
Fantasma.
Não, estava mais para um monstro.
Oni.
Seus olhos vermelhos com kanjis1, um para cada.
‘欲 望’2
“Mazo—”
—Corte—
―切―3
—Corte—
Não, eu quase me esqueci.
Boa noite, para você que é humano.
Também para você, que é yōkai4.
Vampiros, Ghouls, Jiangshis, Yuki-onna, Kitsunes, Nekos.
Uma noite maravilhosa para qualquer criatura quer ela seja.
Exceto para…
“Mazou-ga-hara-chou Omeniu-xalia…?”
“Sem pausas.”
Mazougaharachou Omeniuxalia, um nome desnecessariamente grande, confuso e sem significado real.
Mazo, Mazo… Mazou.
“Bom… Mazou-san?”
“Sim?”
“Desde quando você mora no fundo do meu armário?”
É verdade.
Eu estava caído no chão pelo susto.
Desde o momento que abri o armário para escolher uma muda de roupas, e vi no canto, uma mulher pálida como uma assombração, descabelada como uma assombração e com uma voz doce como uma criança travessa.
Minha primeira impressão de Mazou foi certeira, ela é aquela criança que bate à porta pedindo a bola inocente, mesmo depois de quebrar a sua janela com ela.
Eu deveria estar esperando isso.
Foi me informado que eu encontraria logo, contudo no meio da bagunça executiva, esqueci completamente desse fato.
Que eu ia me encontrar com a fantasma em breve.
“Então…? você não me respondeu.”
“Eu moro em todo objeto de desejo.”
O que isso deveria significar?
Cínica, ela disse isso como se fosse somente uma lei de Newton, algo que eu deveria estar ciente, como se fosse um mais um é dois.
‘Olhe aqui sua pirralha, invasão domiciliar é crime!’
Era o que eu queria dizer, mas não podia, nada mudaria se dissesse.
Uh… Massageei as pálpebras, num sonho profundo, imaginei um universo onde eu abria os olhos e ela não estava mais lá.
Não funcionou.
Ainda estava lá, levemente translúcida.
“Nesse caso, você mora no meu armário por que eu desejei pegar… Roupas?”
“Basicamente.”
“Fantasmas são simplórios…”
Me levantei cuidadoso, ficando um pouco mais alto que a mulher, mas não muito por causa dos seus chifres. Toda sua roupa era um manto haori azul florido, fechado com um obi branco, enrolado na cintura, não parecia usar sutiã mesmo que precisasse.5
Também não parecia usar xampu, nem banho.
Fantasmas são assim.
Simplórios, medíocres.
Geralmente criaturas fáceis de lidar, mas difíceis de conviver.
“De fato, eu me sentiria ofendida se fosse um fantasma?”
“Oh. E o que você é?”
“Uma alma.”
“Isso é literalmente um fantasma!”
“Não, existe um abismo entre fantasmas e almas.”
“Parecem idênticos para mim.”
“Um fantasma é uma consciência perdida, uma insatisfação flutuante, almas são essência sem corpo físico.”
Essência.
É, acho que tive alguma aula sobre isso.
Meu mentor disse alguma baboseira sobre, mas nunca como usar isso para lidar, somente para derrotar.
Um fanático por execuções perfeitas, ele nunca me explicou o que eu deveria fazer se, por algum acaso, uma fantasma peituda a qual eu não posso mandar ao além vida surgisse pela noite na minha casa.
Não, mais importante que isso…
“Assim sendo, você não pode ser tocada?”
“Basicamente.”
Inspirei insatisfeito.
Isso dificulta o trabalho em quatrocentos por cento.
“Em todo caso, eu ainda preciso da minha roupa, Mazougaharachou-san, me dá licença?”
Encarei silenciosamente a ‘Alma’ sair do armário, ela passou por mim.
Literalmente, por mim; Senti um calafrio familiar, ela atravessou meu corpo como se fosse mais uma segunda-feira, novamente, como se pizza fosse melhor que lasanha e estrogonofe melhor que pizza, como se fosse só mais um fato universal.
E então se deitou na minha cama.
Notei novamente, ela fedia um pouco.
Isso deve ser culpa minha.
“Mazou-san… Almas se banham?”
Perguntei enquanto escolhia uma roupa básica.
“…”
Ela pareceu pensativa.
Como alguém buscando uma resposta que não tem para uma pergunta que precisa ser respondida.
“Quando podem… Ou quando querem?”
E ela deu uma resposta vaga.
“Você já quis alguma vez na vida? Ou morte… Existência, sei lá.”
“Eu estou fedendo?”
“O suficiente para precisar de um banho.”
“Entendo, nesse caso, deseje banhar-me.”
“Como?”
“Eu estou em todo desejo, deseje, e eu estarei.”
Heh, isso é bem abrangente.
Eu pensei em tomar banho, tentei imaginar, forcei os olhos neste pensamento, mas nada aconteceu.
“Não funcionou.”
“Tem de ser um desejo verdadeiro.”
“Então o que quer que eu realmente almejar, você terá?”
“Basicamente.”
“Hum.”
Forcei as pálpebras com o indicador e polegar.
Naveguei por lugares ruins da minha mente até finalmente me concentrar numa maneira de tornar esse desejo palpável.
Ah, estava na minha frente esse tempo todo.
Palpável.
—Desejo—
Quando abri os olhos, senti tamanho mal cheiro qual o de um cadáver.
“…?”
Mazougaharachou me encarou, buscando respostas.
De repente, o que parecia uma projeção holográfica, agora interferia nas dobras do forro de cama, que ficava cada vez mais sujo.
“Seu desejo sincero era um corpo físico para mim?”
“É, era.”
Ela me encarou por mais alguns segundos, piscou os olhos algumas vezes.
“Você é um tarado?”
Ela perguntou sinceramente, me encarava séria.
Começamos com o pé direito, em dois minutos ela me odeia.
Não me importa, o cheiro de cadáver começou a correr pelo quarto.
“Talvez, mas tenho um problema maior que a minha libido.” Tampei o nariz. “Vamos vamos, levanta daí, para o banho, agora que você está fisicamente aqui, dá pra se lavar, né?”
“Talvez.”
“Talvez!?”
“É, basicamente.”
“Isso é um vício de linguagem.”
“É verdade, vou corrigir.”
Ela se levantou com um pulo, em descuido, pude ver tudo por baixo do haori.
Isso vai ser um serviço problemático…
Com a roupa de cama sob o braço eu a acompanhei até o banheiro.
“Eu não poderia reparar, por não ter um corpo físico anteriormente, mas as manchas de sangue na sua roupa também estão fedendo um pouco, você não vai tomar banho para lavar isso?”
Oh, ela tem bons olhos.
Ainda que eufemista, eu acho.
Meu uniforme não estava com manchas de sangue, ele estava vermelho vivo, mesmo que vista preto para absorver as manchas, o uniforme estava carmesim puro, como se eu tivesse acabado de sair de um moedor de carne.
Não era muito diferente de um moedor de carne, a propósito.
“Primeiro você, eu espero.”
Seu olhar afiou.
“Um pervertido de alto nível. Então você quer usar a banheira depois que eu me lave nela?”
“Ei ei, o que há com você? Se tudo é perversão, então nada é perversão.” Ela não se comoveu com minhas palavras, só me encarou como se eu fosse a água suja que pinga do saco de lixo. “Aliás, se tudo que você vê é perversão, a pervertida aqui é você.”
“Isso é algo que qualquer pervertido com boa lábia diria… À polícia, onde você adquiriu essa habilidade especial em dar desculpas?”
“Não são desculpas, são argumentos, lógicos e bem embasados, com zero fundamento em palpites, coisa que você aparentemente desconhece.”
“Kek—, o último pervertido que conheci tinha uma eloquência tão boa quanto a sua.” Ela disse algo que chamou minha atenção. “Sabe como ele a adquiriu? Tendo que se explicar toda vez que assediava uma mulher no metrô.”
“Você está me comparando com um assediador porco de metrô?”
“Oh, então você está num nível de pervertido que vai além deste?”
“Isso é…”
Pensei em mais uma resposta boa, mas me encolhi, nós vamos permanecer discutindo por toda a noite sem chegar numa conclusão, e eu como uma pessoa madura, deveria apenas desistir.
Isso, eu deveria apenas entrar e tomar banho sem retrucar.
É só não responder…
“Isso é um paradoxo, eu poderia dizer o mesmo de você se eu fosse primeiro.”
Eu respondi.
Droga, me surpreendo em como eu mesmo sou infantil.
Mas não estava errado, era de verdade, um impasse.
Uma sinuca de bico.
“Nesse caso, entre também.”
“Bom, se não se importa.”
Essa foi uma resolução rápida, como disse, fantasmas são simplórios.
Não, espere, o problema original não era esse?
Entrei no banheiro e comecei a me despir.
“Tarados tendem a atacar mulheres durante o banho?”
Começou de novo.
Por favor, pare por um minuto mulher.
“Eu não conheço muitos tarados, mas acredito que nenhum deles teve essa oportunidade em vida.”
Isso é algo geralmente ignorado, mas pervertidos são em grande maioria, frustrados, essa é uma situação impossível.
Com raras exceções, todos os pervertidos de fato, são apenas virjões buscando oportunidades sexuais de maneira criminosa, oportunidades que nunca tiveram licitamente.
Fracassados, frustrados.
Estou me descrevendo?
Oh droga, me perdi novamente.
“Você ataca mulheres durante um banho?”
“Não, banhos são sagrados.”
Boa, isso prova que não sou um pervertido.
Ou essa resposta veio do medo de ser um pervertido?
Deus, eu não me reconheço mais.
Espere…
O que há com esse desenvolvimento; banho com a fantasma-oni que surgiu no meu armário? Eu esperava ter de acender velas pretas, lidar com poltergeist ou vozes, qualquer uma dessas merdas quando me foi proposto esse trabalho.
Olhando em retrospecto, achei que iria morrer em qualquer explosão emocional do fantasma de um monstro.
Na verdade, ela sequer sabe tomar um banho?
Entrei na banheira de água quente que havia preparado, ela também entrou, sentou de costas para mim.
Oh, eu tive uma visão arrebatadora.
Fechei as pálpebras, meu cérebro disse a mim para se controlar, mas meu coração com certeza tirou print dessa imagem para me relembrar em algum momento horrível como um funeral.
Heh, lembrar de um fantasma num funeral.
Namae, pare, pense apropriadamente.
É serviço. Sim, é trabalho, não cometa nenhuma gafe.
No meio do banho peguei alguns dos meus produtos para cabelo, os melhores, para cabelos bem rebeldes e despejei sob o cabelo dela.
Tentei usar um pente, mas os dentes dele começaram a torcer e quebrar, então procurei uma escova.
“Longo…” Soltei.
“É, bem grande.”
“Sim, se fosse bem cuidado, seria muito bonito.”
“Isso é auto depreciação?”
“Mazou-san, eu estou falando do seu cabelo.”
“Ah… Bom, também se aplica.”
Essa garota…
Comecei a desembaraçar o cabelo sujo dela.
Ela não reclamou, nem com os puxões, nem com os tufos que eventualmente eu arrancava por descuido.
Minha mão passou por um pequeno embate contra seus chifres, eles não parecem tão rígidos visualmente, mas no toque, são ásperos como quaisquer outros chifres, eles tentaram por alguns minutos me impedir de pentear a franja.
Cômico, para alguém como eu, com um serviço como o meu, meu maior desafio foram chifres.
Depois disso, comecei a me esfregar.
Ela só encarou, com leves dúvidas no olhar.
“É assim ó, me imita.”
“Certo…”
Ela ergueu os braços à frente e tentou me esfregar.
“Não, espere. Esfregue o seu próprio corpo, como eu estou fazendo.”
Ela continuou me encarando com olhos duvidosos.
Haa… É trabalho Namae, trabalho.
Passei a bucha – Oh, que linha horrível, no pescoço dela e esfreguei até o meio das suas costas.
“Vê? Faça o mesmo, você mesma.”
Ela parecia ter entendido, confirmou com a cabeça, eu ruborizei.
É TRABALHO.
—Corte—
―切―
—Corte—
“…”
Ao sair da banheira, a mulher — agora mais parecida com uma mulher normal, mesmo com a palidez. Começou a me encarar profundamente, como se quisesse me falar alguma coisa.
A olhei de volta; nós permanecemos em silêncio por um longo período, enquanto eu me enxugava.
“Er… Mazougaharachou… San?”
“Sim, sou eu.”
“Você quer alguma coisa?”
“O seu nome.”
“Ah é, não me apresentei, peço perdão pela indelicadeza.” Me curvei arrependido, ainda nu. “Namae-nai. Escreva como quiser, com os kanjis ou hiragana que quiser.” Ela inclinou a cabeça, como se não tivesse entendido. Eu desenhei com as bolhas restantes de sabão.
“Isso é… Sem… Hum… Namaueuchi?”
“Eh?” Essa é nova. “Chame como preferir.”
“Namaueuchi, eu tô com fome.”
“Certo, tem Cup Noodles na primeira porta do armário, em baixo.” Ela me encarou como se tivesse acabado de inventar tais palavras “Na cozinha.”
“O que é Cup noodles?”
“Meu Deus.”
Eu vesti uma calça moletom caminhando até a cozinha, na frente do armário coloquei uma regata no corpo enquanto procurava o macarrão instantâneo, quando coloquei a água que ia ferver, não achei o isqueiro. Não estava lá, ficou na roupa do serviço.
Aliás, eu esqueci das roupas para Mazou.
Passei no quarto, não havia nada feminino lá, principalmente, nada que escondesse seus seios muito bem, então peguei uma blusa GG da minha época skatista e uma cueca elástica.
Parecia a melhor opção.
De volta ao banheiro, joguei as roupas para fora do cesto e comecei a procurar a calça com o isqueiro, ao encontrar olhei para o lado e a mulher dos longos cabelos negros estava se secando ela fez um ‘Hm?’, prestes a vestir o haori novamente.
“Oe, essa roupa tá suja, me dá.”
“Não está não.” Reclamou.
Porra.
“Mazou-san.” Respirei. “Vista essa aqui.” Entreguei a que busquei no quarto.
“E se eu não vestir?”
“Coincidentemente, a porcentagem de exorcismos em Hokkaido vai subir, esse é o seu desejo?”
“Isso é uma ameaça?”
“Eu não ameaço, eu informo.”
“Assustador…”
Ora, isso é reconfortante de se ouvir de uma assombração.
Ela não pestanejou, após secar o corpo, enrolou a toalha no cabelo e torceu. Amarrou num coque e então vestiu as roupas que entreguei.
É, vou ter que lavar a toalha também.
“Ei, você não sabe tomar banho, mas sabe secar o cabelo?”
“Eu sei tomar banho.”
“Então por que eu tive que te ensinar?”
“Eu não aprendi, só obedeci.” Essa… “Você toma banho de um jeito diferente também.”
“Diferente como?”
“De onde venho, usamos chuveiros.”
Ela era ocidental?
Mesmo assim.
“Em que diabos de cultura você não se esfrega no banho?”
“Eu sei me lavar, apenas estava…” Ela não completou.
“Ei, que cheiro é— porra! o gás.”
Retornei a cozinha, como esperado, deixei a boca do fogão ligada sem fogo, quase destruí a casa de novo. Sorri amargo. Enquanto eu separava alguns temperos e um molho de pimenta, Mazougaharachou espiava sobre meu ombro.
“Isso é miojo num pote?”
“É, basicamente.”
“Você não desgostava do termo ‘Basicamente’?”
“Nunca disse.”
“Namaueuchi.”
“Diga.”
“Que tipo de trabalho suja todo um conjunto de sangue?”
“Um tipo que paga bem.”
“Você recebe bem e come miojo?”
“Você começou a falar mais…”
Suas sobrancelhas se encolheram, ela se sentou numa cadeira da mesa de jantar. Ficou magoada…?
“…Eu não sei cozinhar, e não posso pedir comida por aplicativo.”
“Você não pode expor seu endereço?”
“Sim e não, não posso com frequência.”
“Deve ser um trabalho perigoso.”
“Sim… Você é inteligente.”
“Eu sei cozinhar.”
“Você é inteligente e útil. Amanhã vamos ao mercado comprar ingredientes.”
“Tudo bem.”
Instantes de silêncio, então me virei para a mesa, entreguei para ela um Cup Noodles e um par de hashis, que ela encarou com confusão.
“Não sabe comer com hashi?”
“Você come miojo de pauzinho?”
“Todo mundo aqui come miojo de hashi.” Fui até a gaveta, mas não encontrei nenhum garfo. “Você vai comer de colher, amanhã compraremos garfos.” Resmunguei com a cara enfiada na gaveta, quando voltei meu olhar, Mazou estava bebendo lamen como se fosse uma sopa, tomou tudo de uma vez e ao terminar, bateu o pote na mesa.
“É uma boa garganta a que tem aí.”
“Você pode guardar frases lascivas para si?”
“Você tem um bom japonês, para quem vem de fora.” Resmunguei me sentando, comecei a saborear meu macarrão instantâneo com molho picante e tempero de cebola com alho.
“Eu não sei o que disse, sei o que quis dizer.”
“Então, você não entende exatamente o que eu falo?”
“Pouca coisa, a maioria eu interpreto.”
“Minhas intenções?”
“Seus sentimentos.”
“Eu vejo…”
Ela se levantou, mas apenas ficou ao lado, de pé, me encarando.
De alguma forma, uma fantasma me encarando comer é menos desconfortável do que parecia na minha imaginação.
Seus seios pressionaram meu braço.
É de propósito?
Eu estive evitando olhar, considerei uma atitude desrespeitosa, contudo Mazou não parece se dar o devido respeito.
Respeito. Me peguei repetindo essa palavra na cabeça, mas era a segunda metade que me fisgava.
Talvez Mazou esteja certa.
Talvez seja um pouco pervertido.
Meus olhos que estavam fixos na comida, por um instante, olharam para ela.
Perto demais.
Seu cabelo era preto e longo, já havia encaracolado um bom tanto mesmo após escovar. Uma franja em ‘V’ se cruzava, caindo entre os chifres. Olhar concentrado, pupilas carmesim.
Eu sou ruivo.
É de nascença, desde sempre considerei um charme, todavia, em comparativo, meus cabelos eram foscos e róseos se comparado com o tom carmim puro do olhar de Mazou.
O vermelho mais intenso no rosto mais pálido e sem falhas de Mazo.
Seu corpo também era um show à parte.
Não sou um pervertido, não entendo o suficiente de corpos femininos para dizer suas medidas ‘BCQ’ só com um olhar, mas ela definitivamente está acima da média em ‘B e Q’, absurdo, principalmente pela baixa estatura.
Minha roupa larga com estampa da Nike era preta, grande o suficiente para cair pelo ombro esquerdo, quase um tomara que caia, o limítrofe entre ela ficar vestida e parcialmente nua eram seus peitos, como guerrilheiros corajosos da última linha de frente, eram os únicos a impedia a blusa de descer ainda mais pela lateral.
“Namaueuchi.”
“GASP—! O-oi, porra.”
“Você está encarando demais, poxa.”
Esperei uma discussão, ou uma repreensão chata da sua parte, até mesmo um ataque.
Não veio.
Ela sorriu, parecia satisfeita.
Me acertou um peteleco na testa como se eu fosse a criança na sala, e então se posicionou atrás de mim.
Pressionou o busto na minha nuca e recostou a cabeça sobre a minha, estranhamente feliz.
Essa é a mesma Mazou de minutos atrás?
Vou deixar isso de lado.
Finalizei minha refeição, puxei um pedaço da manga da blusa que ela está usando e limpei a boca.
“Mazou-san, são duas da manhã, eu devo dormir.”
Ela me soltou.
Levantei e caminhei até o quarto com um leve desconforto, senti meu rosto quente e uma ansiedade borbulhar, ela me seguiu.
“Ei, se vamos dormir na mesma cama, eu tenho de estabelecer algumas regras.”
“…” Ela me encarou esperando que eu terminasse.
“Não faça muito barulho, não pegue meu travesseiro e não tire a minha parte da coberta.”
“Faço.”
Espero que isso seja uma resposta positiva.
Aprontei o colchão com uma nova roupa de cama e aconcheguei o corpo cansado no canto.
“Vocês orientais não tem costume de dormir no chão?”
“Só os mais tradicionais, ou pobres.”
“Ah.”
Era uma kingsize, mas ainda sentia falta de espaço considerável quando ela subiu na cama.
Em algum momento da noite, ela se agarrou em mim, parecia estar tendo um pesadelo, um bem cruel, onde um homem sem nome, de cabelos negros e calça cargo atacava os seus domínios portando uma espada da minha altura e uma arma de calibre nove milímetros, onde ele a selava em um amuleto, privando-a de todo o seu poder e glória.
Ela deveria estar tendo pesadelos com um caçador que só pensa em execuções. Um caçador de yōkais sem nome.
***
Os em azul serão explicações de terminologia, creio que é desnecessário, mas caso alguém não soubesse, aqui está. Os em vermelho serão traduções diretas de termos estéticos ou diegéticos, mesmo eles não são tão importantes.
Se alguma coisa ficar em dúvida, ou haver erro, comente e eu corrigirei.
- Kanji são caracteres utilizados na escrita japonesa, representando ideias e palavras. ↩︎
- Yokubo (欲望): Desejo ↩︎
- Kiri (切): Corte ↩︎
- Yokai são criaturas sobrenaturais do folclore japonês, podendo ser deuses, monstros, demônios, fantasmas ou outras entidades estranhas. ↩︎
- Haori e Obi respectivamente são uma jaqueta tradicional japonesa usada sobre o quimono e uma faixa larga usada com o quimono. ↩︎
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