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    “Se era só pra perguntar isso, por que não tentou falar com a gente antes? Que tipo de bandido ataca do nada só pra arrancar respostas?” Essas perguntas passaram pela mente de Laman enquanto ele fitava Eugene com raiva.

    Mesmo refletindo sobre isso, Laman não abaixou a guarda. Não conseguia ver qualquer abertura em Eugene, parado ali numa postura um pouco torta.

    Eugene também havia cruzado aquela longa distância num instante e derrubado a força da espada de Laman com apenas um golpe instável. E, como se não bastasse, havia demonstrado maestria em magia, sem sequer recitar encantamentos.

    Tudo isso junto era inacreditável.

    Laman engoliu em seco. Falando objetivamente, ele era um guerreiro excepcional. Pelo menos naquela região, não havia ninguém melhor. Mas era justamente por isso que não conseguia deixar de ficar em alerta.

    Ele recuou devagar para ampliar seu campo de visão. Assim, pôde observar o estado de seus subordinados caídos. Ninguém havia morrido, mas também não estavam em boas condições. Os ossos de alguns haviam sido quebrados pelos mísseis mágicos, e seu tenente estava com um virote cravado no ombro e preso por tentáculos de areia.

    — Não vai me responder?

    Mesmo com Eugene perguntando com impaciência, os tentáculos de areia não sumiram. Dezenas de mísseis mágicos continuavam pairando sobre os subordinados caídos. Como Eugene conseguia empunhar uma espada enquanto mantinha tantos feitiços ativos? E sem mostrar a menor abertura?

    Laman nunca havia estudado magia, mas até ele sabia que o que Eugene fazia ali exigia um nível de habilidade impossível para um jovem de dezenove anos.

    — …Somos ladrões — Laman acabou confessando.

    — Parece que Nahama é mesmo um país poderoso — Eugene zombou, com um sorriso torto no rosto. — O líder de um grupo de bandidos de quinta, com menos de dez membros, consegue manifestar força da espada. Se até um bando pequeno está nesse nível, um grupo com mais de cem deve ter pelo menos uns dez que usam força da espada.

    — … — Laman permaneceu calado.

    Eugene continuou:

    — E o quão fortes devem ser os soldados que mantêm bandidos assim sob controle? Impressionante. Se têm esse poder militar, Nahama devia estar perto de unificar o continente, não?

    Laman tentou arranjar uma desculpa:

    — Como ladrões… somos só um pouco… especiais…

    — Ô, velhote. Para de enrolar e fala a verdade — disse Eugene com um risinho.

    Dizendo isso, Eugene avançou confiante, e Laman não tinha mais espaço para recuar.

    — Pra falar a verdade, nem preciso que você responda. Pode ficar calado, se quiser. Porque eu tenho meus próprios métodos pra fazer alguém falar.

    Aquele era mesmo um jovem mestre da prestigiosa família Lionheart? Apesar do rosto juvenil, as palavras que saíam de sua boca pareciam vir de um mercenário de taverna. E ainda havia aquele olhar. Estava claramente carregado de intenção assassina. Como uma flor cultivada em estufa podia exalar um olhar assim?

    — …Quem diabos é você?

    Laman sabia que era uma pergunta estranha, mas não conseguiu evitar.

    — Não sei o que você quer dizer com isso — Eugene respondeu. — Vocês deviam saber quem eu era antes mesmo de começarem a me seguir, não é?

    — …Você é Eugene Lionheart — Laman admitiu por fim.

    Eugene confirmou:

    — Isso mesmo. Pelo visto, vocês conhecem bem minha identidade.

    — Mas você é mesmo… Eugene Lionheart?

    — Se não sou, então quem mais poderia ser?

    Ao dizer isso, Eugene se lançou do chão. A areia da duna explodiu em todas as direções. Mas não havia como Laman perder Eugene de vista no meio de alguns grãos de areia.

    Ou pelo menos, era o que pensava.

    A figura de Eugene sumiu num instante. Um movimento assim não era possível só com velocidade. Laman sentiu nitidamente a flutuação da mana ao redor. Virou-se depressa e balançou o kukri para o lado.

    “Até Piscar?” Laman exclamou por instinto.

    Tching!

    Seu kukri colidiu com Wynnyd. Embora a lâmina de Wynnyd fosse fina, estava envolta por uma densa camada de mana. Aquilo era força da espada.

    Laman não pôde ter certeza no primeiro choque, mas agora não restavam dúvidas. A mana de Eugene não se dispersou ao colidir com a lâmina carregada de força da espada. Isso só podia significar que Eugene também estava usando força da espada.

    Não havia tempo para Laman se impressionar com isso. Ainda precisava prestar atenção em outras coisas, mesmo com Eugene bem diante dele. Um arrepio percorreu suas costas quando um míssil mágico, oculto na nuvem de areia, avançou direto contra seu ponto cego.

    Míssil Mágico era apenas um feitiço do Primeiro Círculo. Um feitiço que qualquer um que se dissesse mago sabia usar. Mesmo magos mais avançados ainda preferiam Míssil Mágico como feitiço ofensivo por sua praticidade. Era possível conjurá-lo com pouca mana, e sua trajetória podia ser alterada à vontade dependendo do controle do conjurador.

    E controle de mana era algo em que Eugene sempre foi habilidoso, desde sua vida passada. Sua mente era capaz de guiar cada projétil individualmente, e a Fórmula de Círculos Flamejantes amplificava o poder de cada disparo. Laman não podia se dar ao luxo de ignorar um ataque assim.

    Mana explodiu do núcleo de Laman. Uma mana esbranquiçada e acinzentada envolveu seu corpo. Aquilo era um Escudo de Mana. Como era uma técnica que consistia apenas em revestir o corpo com a própria mana, seu uso não fazia distinção entre magos e guerreiros. Mas o poder defensivo variava enormemente conforme a força do usuário.

    Normalmente, um escudo de mana criado por um guerreiro do nível de Laman deveria resistir tranquilamente a um feitiço ofensivo do Primeiro Círculo. No entanto, o corpo de Laman estremeceu quando sentiu uma forte onda de choque vinda de trás. Forçado a cambalear para a frente, Laman viu a espada de Eugene atravessar a abertura criada naquele instante.

    — Ugh!

    A princípio, Laman achou que havia sido cortado. Mas não foi. A espada de Eugene só havia roçado de leve a superfície do escudo de mana que ele havia erguido.

    Aquilo tinha sido de propósito. Eugene havia segurado o golpe.

    Os olhos de Laman se arregalaram, tomados pela fúria.

    — Como se atreve a me insultar! — rugiu Laman, girando o kukri com violência.

    Cada vez que sua lâmina, curvada como uma meia-lua, cortava o ar, produzia um som agudo característico.

    Mesmo depois de balançar o kukri dezenas de vezes, Laman não conseguia acertar Eugene. Bastava Eugene mover os pés sutilmente para escapar com facilidade da lâmina.

    Normalmente, Laman não se cansaria só de balançar a espada assim. Mas sua respiração estava ficando cada vez mais pesada.

    Era a pressão. Mesmo atacando com toda sua força, ele ainda não conseguia atingir Eugene, e o jovem da família Lionheart já não sorria como antes. Seus olhos calmos não mostravam nenhum sinal de agitação. Mesmo diante de cortes que poderiam lhe custar a vida, Eugene mantinha uma calma absoluta.

    Tudo isso sufocava Laman. E, além disso, ele não podia focar apenas em Eugene. Não sabia quando outro feitiço poderia surgir pelas costas. Podia ser engolido pela areia, como o tenente. Ou algo poderia despencar sobre sua cabeça.

    A cada nova técnica revelada por Eugene, o alcance da guarda de Laman precisava aumentar. Isso limitava o que ele podia fazer. Ele não podia correr riscos.

    Quando Laman já estava à beira de perder o fôlego, Eugene comentou num tom quase brincalhão:

    — Que tal se eu parar de usar magia?

    Essas palavras fizeram os pelos de Laman se eriçarem de raiva. Era a primeira vez que se sentia tão insultado.

    Kaaaaaah! — berrou Laman, em um grito agudo.

    A força da espada ao redor de seu kukri se intensificou. Ele ia matar Eugene. Embora o mestre não tivesse dado essa ordem, o orgulho de guerreiro ferido era mais importante que as ordens do mestre.

    “Agora sim, tá ficando interessante”, Eugene pensou com um sorriso no rosto.

    Não só fazia alguns anos que não usava o corpo assim, como também era a primeira vez que enfrentava alguém com força da espada desde que reencarnou. Quando treinava com Gilead, Gion e os outros cavaleiros da sede, ninguém usava luz ou força da espada com medo de causar ferimentos.

    Por isso, Eugene queria ver do que aquele homem era capaz. Aquele velho que estava diante dele tinha sido cauteloso demais nos ataques, fingindo ser um ladrão. Com golpes moles como aqueles, por mais que Laman balançasse a espada, Eugene no máximo levaria um arranhão.

    Agora, porém, os golpes tinham peso. Sorrindo, Eugene girou os ombros, e os braços se moveram num impulso.

    Bambambam!

    Grãos de areia voavam a cada passo que Laman dava para trás, e gotas de sangue escorriam de seus cortes e se misturavam à areia. Mesmo vendo com os próprios olhos, Laman mal conseguia acreditar no que estava acontecendo com seu corpo.

    “Aqueles cortes…” Laman estremeceu.

    Quantos já eram? Seu corpo inteiro ardia. Os ferimentos não eram profundos, no máximo atingiam a pele. Nem ossos nem músculos haviam sido afetados. Seria um milagre? Não… Eugene estava se contendo. A barba de Laman tremia de frustração.

    Kiaaah! — Laman rugiu mais uma vez e investiu contra Eugene.

    Mas o resultado não foi muito diferente dos anteriores.

    Quando Laman terminou de dar um passo, Wynnyd já havia desferido dezenas de cortes. A espada de Eugene era incrivelmente rápida. Mas o mais alarmante era que nenhum dos cortes se sobrepunha. Isso queria dizer que aquele jovem não estava só balançando a espada no instinto, ele sabia exatamente para onde cada golpe ia, e onde cada um deles aterrissaria.

    “A intensidade da mana dele. A magia. E até… a esgrima… Como é que alguém assim existe?” Laman pensou com rancor, amaldiçoando os céus por sua injustiça.

    Com o corpo coberto de sangue, Laman avançou contra Eugene mais uma vez.

    E Eugene apenas soltou um riso pelo nariz diante de tanta valentia.

    Kwaaah!

    Uma nuvem de areia explodiu com um estrondo, e Laman ficou ofegante no meio da poeira. Ele havia forçado até a última gota da sua força da espada num único instante, fazendo-a explodir num grande impacto. No entanto, mesmo assim, não conseguiu sequer tocar em Eugene.

    — Não vai cuidar dos seus subordinados? — Eugene o repreendeu.

    A voz veio de trás. Um arrepio percorreu a espinha de Laman quando ele se virou.

    Laman viu seu tenente e os outros soldados sob seu comando flutuando no ar. Eugene os jogou de lado com descaso e guardou Wynnyd no manto.

    — O que… você acha… que está fazendo? — Laman arfou.

    — Não dá pra ver? Tô guardando minha espada — Eugene respondeu, como se fosse óbvio.

    — Ainda não fui derrotado! — Laman insistiu.

    Eugene deu de ombros.

    — Eu sei.

    Pop pop pop.

    Eugene estalou os dedos enquanto caminhava até Laman.

    — Então vou te derrotar agora — declarou.

    Kaaaah! — Laman avançou mais uma vez com um grito.

    Eugene se abaixou sob o corte que vinha em sua direção e fechou o punho.

    Pow!

    Um soco envolto em mana atravessou o escudo de mana de Laman e acertou seu lado.

    — Kagh!

    O ar escapou de seus pulmões, mas o ataque não parou. Eugene recuou o corpo com habilidade e, por justiça, também desferiu um soco no outro lado. Depois, acertou o estômago de Laman.

    Quando Laman cambaleou, sem conseguir suportar a dor, Eugene imediatamente girou o corpo e acertou a parte externa da coxa dele com um chute. Não permitiu que Laman caísse. Agarrou-o pela gola e o segurou em pé. Depois, socou o queixo dele duas vezes. Quando Laman estava prestes a vomitar, Eugene acertou mais um golpe de baixo para cima, travando a mandíbula dele.

    Laman engasgou.

    — Gah…

    A consciência começava a escapar, mas ele ainda segurava o kukri. Tentou balançar a lâmina para virar o jogo, mas não conseguiu.

    Eugene apenas agarrou o pulso de Laman e torceu. Depois, com a outra mão, segurou sua cabeça.

    O motivo de ter usado a espada primeiro e depois a guardado não era por querer poupar Laman. Era para demonstrar desprezo absoluto, para esmagar sua vontade. Eugene queria mostrar que podia acabar com alguém como ele apenas com as próprias mãos.

    Ao perceber essa verdade, a vontade de Laman quebrou por completo. Comparado a ser cortado dezenas de vezes, apanhar com os punhos de um garoto de dezenove anos era muito mais humilhante e doloroso.

    — Esp…— Laman tentou dizer.

    Mas Eugene não se deu ao trabalho de deixá-lo terminar.

    Bang!

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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