Capítulo 141: O Deserto (11/13)
Os Xamãs da Areia não o interrogaram mais e se reuniram entre si, sentando-se em círculo.
— E então, o que descobriram?
— Ele foi engolido inteiro por um verme de areia gigante… é mesmo possível sobreviver a algo assim?
— Apareceu um buraco na cauda do verme.
— E daí? Vai dizer que depois de ser engolido, ele cortou um buraco e saiu pela cauda?
Quanto mais analisavam os fatos, mais difícil era acreditar. Os Xamãs da Areia riram, balançando a cabeça com incredulidade.
— Não podemos simplesmente deixá-lo andar por aí como quiser.
— …Os Assassinos estão explorando o ninho. Devem encontrá-lo em breve.
— E depois disso?
— …Não é boa ideia comprar briga com o clã Lionheart. Deve bastar apagar a memória dele e jogá-lo fora de Kazani. Não, talvez até seja melhor mostrarmos ativamente que o protegemos. Vai que somos recompensados pela gentileza.
— É uma pena que ela não esteja aqui. Se ela estivesse…
— Shush.
Aconteceu exatamente no momento em que o Xamã da Areia, apavorado, fechou os lábios e silenciou o colega.
Booooom!
Um estrondo sacudiu o chão abaixo. Todos os Xamãs da Areia se levantaram em alerta. Fecharam os olhos com força e sintonizaram sua mana com a areia, tentando identificar a origem do barulho.
A mesma imagem surgiu diante de todos, na escuridão de sua visão sensorial. Vestido com um manto negro, Eugene Lionheart se aproximava da localização deles. A cada golpe com sua espada prateada-azulada, a barreira mágica que impedia a entrada de intrusos era rasgada.
“Onde estão os Assassinos?”
Eles expandiram o campo de percepção até o caminho por onde Eugene já havia passado. Corpos estavam espalhados por toda parte, tanto de Assassinos quanto de Xamãs da Areia.
“Ele avançou tão rápido assim?”
Cada um dos Assassinos posicionados ali havia recebido treinamento suficiente para representar uma ameaça significativa até mesmo para guerreiros experientes. O mesmo valia para os Xamãs da Areia. Isso significava que deveriam ter poder suficiente para não serem massacrados por uma única pessoa.
E mais: aquele era um campo de batalha vantajoso para os Assassinos e Xamãs. O ninho feito pelos vermes de areia já era um labirinto complicado por natureza, mas os Xamãs da Areia, que haviam começado a usá-lo décadas atrás, o haviam tornado ainda mais complexo.
Os Assassinos destacados ali eram tão habilidosos que conseguiam se mover pelo labirinto com os olhos e ouvidos fechados. Em tal cenário, até mesmo os guerreiros mais experientes teriam dificuldade para perceber suas técnicas de furtividade. Seus ataques surpresa deveriam bastar para degolar qualquer guerreiro comum.
Os Xamãs da Areia também tinham vantagem. Embora fosse impossível criar uma tempestade de areia tão gigantesca quanto à da superfície, em um lugar como aquele, onde havia areia por todos os lados, acima, abaixo, por toda parte, qualquer magia de areia lançada ali teria poder amplificado.
Infelizmente para eles, Eugene não era o tipo de oponente ideal.
Desde o início, Eugene estava preparado para invadir o deserto de Kazani à força, o que significava que ele já aceitava que teria de enfrentar os Assassinos e os Xamãs da Areia. Ele até suspeitava que seria atacado pelos Assassinos no oásis… e mesmo assim, seguiu em frente.
E agora, havia conseguido entrar nos túneis subterrâneos. Eugene já estava bastante certo de que os Xamãs da Areia estavam em algum ponto do subsolo, e que os Assassinos também estavam escondidos por lá.
Se Eugene não tivesse confiança de que podia se proteger, não teria avançado mais.
Assassinos e Xamãs da Areia não eram os únicos com vantagem naquele labirinto. Eugene, e Hamel, já estavam acostumados com todos os tipos de campo de batalha.
Hamel, inclusive, já havia enfrentado Assassinos antes.
Diferente dos Assassinos, que aprendiam suas técnicas por meio de treinamentos brutais, havia muitas feras demoníacas e demonídeos em Helmuth que eram, por natureza, assassinos. Havia criaturas capazes de atravessar sombras e demonídeos que podiam apunhalar alguém pelas costas sem deixar o menor rastro de sua presença.
Estar preparado para receber um ataque surpresa em situação desfavorável já havia se tornado instinto.
Mesmo assim, Hamel sobreviveu. A cada maldito ataque surpresa que recebia, as feridas em seu corpo se acumulavam uma após a outra. E, com cada nova cicatriz, Hamel se tornava mais acostumado com esse tipo de ataque, até que, um dia, o número de ferimentos parou de aumentar.
— O nível dos Assassinos daqui não é grande coisa. A furtividade deles é só competente… e o controle de mana também não é nada impressionante, Eugene avaliou.
Os Assassinos mais infames de Nahama estavam em outro patamar. Os de mais alto nível possuíam técnicas furtivas comparáveis às de feras demoníacas e demonídeos, e eram tão persistentemente aterrorizantes que nem podiam mais ser considerados humanos.
Os que Eugene havia enfrentado até agora eram persistentes, sim, mas estavam longe de ser assustadores.
— Se este lugar fosse realmente importante para Nahama, deviam ter mandado Assassinos melhores do que esses.
Os guardas ali eram fracos demais.
Embora houvesse muitos Xamãs da Areia, suas habilidades também não pareciam grandes coisas. Se aquilo realmente fizesse parte de um plano estratégico de Nahama para invadir outros países, mais tropas e melhores guerreiros deveriam ter sido designados.
Mesmo que o objetivo não fosse agressão territorial, qualquer que fosse o propósito da operação, se aquele local era realmente valioso para Nahama, deveria ter recebido mais apoio.
Mas os preparativos eram deficientes demais.
— Será que Nahama… não, que o próprio sultão não está envolvido nisso?
Os sentidos aguçados de Eugene vigiavam o entorno. No momento em que o inimigo rompesse o disfarce para atacar, seu corpo reagiria por instinto. E não era só isso, Eugene também sabia usar furtividade. Isso fazia com que o labirinto não fosse vantajoso apenas para os Assassinos, mas também para ele.
Além disso, havia a magia.
A Fórmula de Círculos Flamejantes amplificava toda a mana que Eugene manipulava, inclusive o escudo de mana que criava enquanto a operava. Mesmo apenas com o Manto das Sombras, já conseguia bloquear facilmente feitiços até o Quinto Círculo, e ainda havia seu escudo de mana por cima disso.
Ou seja, ele podia simplesmente ignorar os feitiços lançados contra seu rosto. Claro, não havia motivo para simplesmente suportar os ataques. Em vez disso, Eugene preferia desviar e contra-atacar.
— Gak!
Um feitiço veio disparando pela frente, uma bala de areia esculpida em ponta afiada. Eugene ergueu o manto contra o feitiço, absorvendo-o, e o devolveu pelo mesmo caminho. Ele havia calculado as coordenadas espaciais do alvo no mesmo instante.
O feitiço devolvido explodiu no peito do Xamã da Areia. Em seguida, veio um ataque surpresa.
Eugene achava que já havia matado vários deles, mas ainda restavam muitos Assassinos. Ele nem precisou mover o corpo para reagir. O vento ao seu redor bloqueou a lâmina do Assassino e, em seguida, o despedaçou.
“Os túneis estão ficando cada vez maiores.”
Ao expandir seus sentidos, Eugene percebia que todos os Assassinos e Xamãs da Areia espalhados pelo labirinto subterrâneo estavam se reunindo ali.
— O caminho também leva até aqui — observou Eugene, checando o mapa com uma das mãos.
A cidade natal de Hamel estava próxima.
— Isso tá me deixando mais estranho do que eu pensei — admitiu Eugene.
Suas emoções estavam turbulentas.
— Nunca imaginei que viveria tempo suficiente para ver meu próprio túmulo.
A Fórmula de Círculos Flamejantes seguia amplificando sua mana. A cada rotação do anel de Estrelas, a cor da chama de Eugene mudava aos poucos.
— Também nunca achei que encontraria ladrões de túmulo por lá — Eugene continuou.
— Intruso! — gritou um Assassino, caindo do teto com uma adaga em mãos.
Embora fosse um ataque surpresa óbvio, a palavra que gritou mexeu fundo com as emoções de Eugene, que já estavam à flor da pele.
— Intruuuso? Esse filho da puta! — Eugene berrou e lançou um feitiço.
Fwooosh!
Uma chama azul envolveu o corpo do Assassino. Eugene pretendia queimá-lo lentamente, mas a magia de fogo amplificada por sua Fórmula era forte demais para isso. O Assassino nem conseguiu gritar direito antes de virar cinzas.
— Seus malditos ladrões de túmulo! — Eugene rugiu enquanto avançava.
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