Índice de Capítulo

    Depois de algum tempo, o sangue parou de jorrar. Os gritos também cessaram.

    Mas o ar estava impregnado com o cheiro de urina.

    — O que vocês estavam fazendo aqui? — Eugene interrogou o sobrevivente.

    Das dezenas de Xamãs da Areia que iniciaram a luta, restava apenas um. Seus dentes batiam de medo enquanto olhava para Eugene. A situação ia além de sua compreensão. A realidade diante de seus olhos era inegável, e aterrorizante. O Xamã tremia, comprimindo as coxas uma contra a outra, molhadas de urina.

    — V-Você… o que diabos… é você? — balbuciou o Xamã.

    — Eu perguntei o que vocês estavam fazendo aqui — Eugene repetiu, com a testa franzida, enquanto agitava a mão.

    Squelch!

    Uma adaga lançada com precisão cravou-se na coxa do Xamã.

    Gah…! — gemeu o homem.

    — O grupo aqui é pequeno demais para ser uma guarnição oficial do sultão. Então o que estavam fazendo aqui, sem ordens do sultão? — questionou Eugene.

    — E-Eu… do que você está falando…? — o Xamã tentou se fazer de desentendido:

    — Não tenho paciência pra interrogar alguém como você. Então escuta: você vai morrer… ou vai me dizer o que eu quero saber? — Eugene o ameaçou.

    — O q-que está acontecendo aqui não tem relação com o sultão — admitiu o Xamã por fim.

    — Então de quem é? Seria mesmo o Emir de Kajitan? Que tipo de merda aquele desgraçado tá tentando fazer tão fundo no subsolo?

    — N-não é ele. Podemos até ter recebido cooperação dele, mas…

    Eugene lançou outra adaga.

    Squelch!

    A lâmina cravou-se na outra coxa do Xamã.

    — A-Amelia Merwin — o Xamã finalmente respondeu, com o rosto contorcido de dor. — Esta é o calabouço de Amelia Merwin.

    — …Não minta pra mim. O calabouço da Amelia Merwin fica no deserto de Yuras — Eugene retrucou.

    — E-Ela está aqui há seis anos.

    — Seis anos?

    Os olhos de Eugene se estreitaram. Ele balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos sombrios que começaram a se formar.

    Depois de se recompor, Eugene perguntou:

    — …Por que Amelia Merwin veio até aqui?

    — … — O Xamã ficou em silêncio:

    — Você tem medo da Amelia Merwin? Se for isso, então vou aliviar sua preocupação. Posso te matar, mas garanto que será só isso. Vou te permitir uma morte simples e indolor — Eugene ofereceu.

    Os olhos do Xamã tremularam. Ele respirou fundo e juntou as mãos diante do peito.

    — …Este… este labirinto foi criado para acelerar a desertificação. Há muitos outros labirintos espalhados pelo Deserto de Kazani, mas este… foi criado há dez anos — explicou.

    — E daí? — Eugene rebateu.

    — …Seis anos atrás, o labirinto se expandiu. Achávamos que uma parte instável do subsolo havia desmoronado, mas então… encontramos um portão enorme, enterrado nas profundezas.

    — …Um portão?

    — Sim… tentamos abri-lo por conta própria, mas não conseguimos, não importava o que fizéssemos… então… pedimos a ajuda de Amelia Merwin.

    Eugene assentiu, tirando mais uma adaga do manto. Ao ver isso, o Xamã sentiu alívio, e não medo.

    — Obrigado…

    Squelch!

    A adaga lançada por Eugene perfurou a cabeça do Xamã da Areia. O homem tombou para trás, morto. Como Eugene havia dito antes, ele lhe concedeu uma morte sem dor.

    Era isso o que o Xamã desejava. Agora que as coisas haviam chegado àquele ponto, a fúria de Amelia Merwin era inevitável. Aquela perversa maga negra não apenas matava seus inimigos, ela os escravizava. Era melhor morrer de forma tranquila do que viver como um morto-vivo, nem vivo nem morto, desejando a morte pelo resto da existência.

    — Não me admira. Achei mesmo que a força estacionada aqui estava fraca demais — murmurou Eugene para si.

    Entre todos os magos negros que haviam firmado contrato com o Rei Demônio do Encarceramento, Amelia Merwin era uma existência especial. Tanto Balzac Ludbeth, o Mestre da Torre Negra da Magia de Aroth, quanto o Conde Edmond Codreth de Helmuth, tornaram-se magos negros após assinarem um contrato com o Rei Demônio.

    Mas Amelia Merwin já era reconhecida como uma poderosa maga negra antes mesmo de assinar contrato com qualquer demonídeo ou Rei Demônio.

    Pessoas como ela podiam obter grandes vantagens ao firmar esse tipo de contrato. É claro, Amelia Merwin havia, de fato, concedido sua ‘liberdade’ ao Rei Demônio do Encarceramento. Ainda assim, era evidente que ela desfrutava de muito mais liberdade do que os demais magos negros.

    “Se uma maga negra daquele nível está aqui, não é mesmo necessário guarnecer o labirinto com tropas.”

    E a razão para Xamãs da Areia e Assassinos ainda estarem ali? Eles estavam ali para servir como cuidadores de Amelia Merwin e punir viajantes que se aproximassem. Segundo o que o Xamã morto havia dito, o verdadeiro calabouço de Amelia Merwin ainda ficava no Deserto de Ashur… então ela provavelmente não passava muito tempo nessa aqui.

    — M-Meu senhor… — Laman falou com a voz trêmula. — Precisamos sair daqui. S-Se este lugar realmente for o calabouço da Amelia Merwin… da ‘Espinha Negra’…

    — Quando já chegamos tão longe? — Eugene resmungou e começou a seguir em frente. — Felizmente, a Amelia Merwin não está em casa hoje.

    — N-Não podemos simplesmente voltar agora…?! — Laman implorou.

    — E se a gente for embora? Você realmente acredita que a Amelia Merwin não vai nos perseguir? Ela provavelmente vai. Embora eu não a conheça, é o que eu faria no lugar dela. Eu com certeza caçaria a pessoa que invadiu minha casa e fez essa bagunça — argumentou Eugene.

    — … — Laman não conseguiu pensar em nenhum contra-argumento.

    — Isso significa que estamos numa situação ruim, independentemente do que façamos.

    Eugene não estava confiante sobre o resultado de um confronto direto com Amelia Merwin. Se fosse possível, ele queria evitar isso. No entanto, agora parecia inevitável. E, sendo assim, o melhor seria ao menos confirmar o que tinham vindo buscar antes de tentar fugir.

    Pelo menos, foi o que Eugene decidiu. Sem olhar para Laman, ele passou pelos corpos no chão.

    Quando Laman o seguiu, Eugene perguntou:

    — Por que está me seguindo em vez de fugir?

    — É que… a gente não sabe o que pode acontecer daqui pra frente — respondeu Laman, hesitante.

    Eugene perguntou com impaciência:

    — Pode ser… mas eu perguntei por que você não está fugindo?

    — O Senhor Eugene já salvou minha vida duas vezes. Se… se a Amelia Merwin voltar e tentar matá-lo, senhor… então eu… eu darei minha vida para abrir um caminho para sua fuga — jurou Laman.

    — Você? Por mim? Hã… — Eugene virou-se para encarar Laman, confuso. — Com que habilidade?

    — …Mesmo sem habilidade, ainda posso ganhar tempo com a minha vida — Laman protestou.

    — Em vez de fazer algo inútil, por que não simplesmente foge?

    — Não posso abandoná-lo, senhor. Não posso partir sozinho.

    — Abandonar? Eu que estou mandando você ir embora… — Eugene estalou a língua e levantou a mão.

    Laman perdeu a consciência de repente. Eugene não tinha motivo para deixá-lo morrer. Mas também não podia arrastá-lo consigo, então apenas o desacordou e o jogou num canto.

    Seus pensamentos então se voltaram ao que havia adiante.

    “…Um portão?”

    Seis anos atrás…

    Seis anos não era tanto tempo assim.

    Naquela época, Eugene tinha treze anos.

    “Na época da Cerimônia de Continuação da Linhagem.”

    Quando ela terminou, ele entrou na câmara do tesouro do clã Lionheart.

    Foi lá que ele encontrou o objeto deixado por Hamel.

    Eugene apertou com força o colar que estava usando no pescoço.

    “Este labirinto existe há dez anos, mas essa parte só desabou há seis.”

    E se…

    E se a magia que selava seu ‘túmulo’ tivesse se desfeito quando Eugene pegou aquele colar?

    Se foi assim que aquele ‘portão’ surgiu…

    — Houve outro saqueador de túmulo.

    Desde sua reencarnação, essa foi a primeira vez que Eugene sentiu um desejo tão frio e claro de matar alguém.

    Eugene olhou para o buraco profundo que levava ainda mais para o subsolo. Já estavam bastante fundo, mas o poço diante dele descia para uma profundidade ainda mais insondável.

    — Enterraram bem fundo mesmo — Eugene sorriu, então se jogou no buraco.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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