Conto: Li Wang

    Li Wang apertou o passo pelas ruas movimentadas. O relógio em seu pulso marcava 18h em ponto. Tinha menos de duas horas para chegar ao estádio, mas a distância era considerável. A cidade fervilhava com carros, turistas e pedestres distraídos.

    — Não vai dar tempo andando… — pensou, os olhos vasculhando rapidamente a rua até encontrarem uma moto parada na calçada, o capacete pendurado no guidão, um convite silencioso.

    Olhou ao redor, certificando-se de que ninguém a observava, e se aproximou. Num movimento ágil, estendeu a mão até a ignição destrancada.

    — Idiota… — murmurou, montando na moto e girando a chave.

    O motor roncou alto, quebrando o silêncio da rua, mas antes que alguém percebesse o furto, Li Wang já acelerava, sumindo entre os carros com a frieza de quem não tinha escolha.

    O vento gelado cortava seu rosto, os cabelos chicoteando para trás enquanto costurava pelas avenidas, ignorando sinais e buzinas.

    Cada quilômetro parecia pesar toneladas. O visor digital da moto zombava, os minutos voando.

    — Não posso me atrasar… — Murmurou, inquieta.

    As palavras de Hendrick martelavam em sua mente:
    “Ela irá matar todos que você ama.”

    Li Wang acelerou ainda mais, sentindo o motor vibrar sob o corpo.

    Chegou ao estádio pouco antes das 20h. A moto deslizou até parar no amplo estacionamento vazio. O ronco morreu enquanto ela desmontava, os olhos atentos analisando o silêncio cortante da estrutura colossal iluminada por holofotes que projetavam sombras longas e inquietantes.

    Com as armas ocultas sob o casaco, caminhou decidida até o túnel de entrada. Cada passo reverberava entre as paredes de concreto, ecoando um som perturbador.

    Ao atravessar o último corredor, entrou no gramado e a cena a atingiu como um soco no estômago.

    No centro do campo, Hendrick reclinava-se displicente numa cadeira metálica, como se aquele fosse seu trono. Pernas cruzadas, braços repousando relaxados, aguardando o espetáculo. A expressão serena contrastava com a tensão que emanava de seu corpo.

    Mas o que realmente prendeu o olhar de Li Wang foi a figura aos seus pés.

    Uma mulher, deitada de lado sobre o gramado perfeitamente aparado, com a cabeça apoiada sobre os pés de Hendrick de forma provocante. Vestia apenas uma calcinha finíssima, fio dental. A peça mal cobria as curvas generosas do seu corpo, acentuando ainda mais a silhueta exuberante.

    A pele quente e suave refletia a luz dos holofotes, delineando uma sensualidade natural e perturbadora.

    Os seios fartos e firmes se erguiam com suavidade a cada respiração, enquanto as coxas torneadas e as nádegas redondas e empinadas completavam o conjunto de uma beleza hipnotizante.

    No rosto, traços marcantes, maçãs do rosto bem definidas e lábios carnudos entreabertos.

    Os olhos da mulher estavam semicerrados, brilhando com malícia, seus lábios úmidos se curvaram num sorriso provocante quando Li Wang se aproximou.

    A mulher passou lentamente a língua pelos lábios, como quem saboreia a antecipação, e falou com a voz baixa, rouca e sedutora:

    — Finalmente… você chegou.

    Li Wang parou a poucos metros, os olhos fixos na mulher, mantendo a postura ereta, a mão firme próxima da pistola escondida sob o casaco.

    Por um instante, sentiu-se desconcertada, como se aquela beleza fosse uma armadilha, uma ilusão arquitetada para desequilibrá-la.

    Hendrick ergueu o olhar e a fitou com um sorriso discreto, quase debochado.

    — Que bom que você veio… — disse, com voz tranquila, como se tudo fosse uma conversa casual.

    Li Wang permaneceu imóvel, alternando o olhar entre ele e a mulher.

    — Quem é ela? — perguntou, a voz firme, apesar da inquietação que sentia.

    Antes que a mulher respondesse, Hendrick inclinou-se levemente para a frente, o sorriso discreto, como um anfitrião satisfeito com a chegada de sua convidada mais aguardada.

    — Esta — disse com frieza — é Lyria Voluptas…

    Fez uma breve pausa, deixando o nome pairar no ar, carregado de significado e ameaça, como uma promessa silenciosa de tormento.

    — O Pecado da Luxúria — simplesmente falou, e em seguida acariciou, distraidamente, os cabelos da mulher, como quem afaga um animal de estimação à beira de um ataque.

    Lyria então se levantou lentamente, sem pressa, como uma serpente que desliza antes do bote. A luz incidia sobre cada detalhe do seu corpo enquanto ela caminhava em círculos ao redor de Li Wang, os pés descalços mal fazendo barulho sobre o gramado.

    — Estava tão ansiosa para te conhecer… — sussurrou, inclinando o rosto para perto da orelha de Li Wang, que recuou um passo, mantendo a guarda.

    Li Wang respirou fundo, sentindo o coração bater com força, enquanto um arrepio percorria-lhe a espinha. O campo vasto e vazio parecia encolher, comprimindo-a naquela cena carregada de tensão, luxúria e ameaça.

    Mas não desviou o olhar, nem permitiu que a provocação a desequilibrasse.

    — Por que me chamou aqui, Hendrick? — perguntou, sem tirar os olhos de Lyria, que agora sorria como uma predadora diante da presa.

    Hendrick abriu os braços, teatral:

    — Não fui eu quem te chamou, Wang… foi ela.

    Lyria inclinou a cabeça, como quem confirma com prazer:

    — Esta noite, Li Wang… — sua voz deslizava como seda quente — você vai lutar contra o desejo.

    Enquanto falava, seus dedos começaram a deslizar lentamente pela própria coxa, traçando trilhas imaginárias na pele acetinada, como se a mera presença de Li fosse suficiente para provocar nela uma excitação silenciosa.

    Li Wang manteve-se imóvel, embora sentisse a tensão apertar-lhe os músculos, como cordas prestes a arrebentar.

    Lyria sorriu, percebendo a resistência, e deu um passo a mais, encurtando ainda mais a distância entre elas. O perfume adocicado, carregado de notas quentes e almiscaradas, invadiu o espaço, obrigando Li a inspirar fundo, a conter o impulso instintivo de recuar.

    — Não precisa ter medo… — sussurrou Lyria, inclinando-se até quase roçar os lábios na orelha de Li Wang. O hálito quente tocou-lhe a pele como um sopro de fogo. — Eu poderia… ser muito gentil com você… se quisesse.

    Li cerrou os dentes, o olhar firme, mas a respiração ligeiramente alterada a denunciava.

    Lyria deslizou os dedos entre os próprios cabelos, afastando-os do rosto com uma languidez calculada, expondo ainda mais a delicadeza do pescoço e o contorno dos seios, que pareciam saltar sob a iluminação enviesada dos holofotes.

    Então, sem pressa, levou uma das mãos até o ombro de Li Wang, tocando o tecido do casaco com a ponta dos dedos, traçando lentamente o colarinho.

    — Será que… — continuou, com aquele tom melífluo —… você conseguirá me matar…?

    Li fechou a mão com força, quase sufocando a raiva e a tensão que cresciam dentro de si. Com um movimento brusco, afastou o braço de Lyria com um golpe seco.

    — Não confunda meu desprezo com fraqueza. — respondeu, com a voz grave, mas controlada.

    Lyria riu baixo, uma risada doce, mas impregnada de veneno e provocação.

    — Oh… — fingiu uma expressão ofendida, levando a mão ao peito nu como quem simula dor — tão fria… Mas isso só me excita ainda mais…

    Ela então se virou, caminhando lentamente em direção ao centro do campo, rebolando com naturalidade, ciente de que Li Wang, mesmo lutando contra si mesma, não podia deixar de observar o movimento hipnótico de seu corpo.

    Hendrick, ainda sentado na cadeira, assistia à cena com um sorriso discreto, como quem contempla uma peça cujo final já conhece.

    Lyria parou a poucos metros, olhou por sobre o ombro e mordeu suavemente o lábio inferior antes de provocar mais uma vez:

    — Venha, Li Wang… Vamos ver o que é mais forte… — e então, com um brilho malicioso nos olhos, completou: —… sua vontade de viver… ou o seu desejo de me possuir.

    Li inspirou fundo, sentindo o frio metálico da pistola sob o casaco como a âncora que precisava.

    Sabia, mais do que nunca, que aquela não seria uma luta convencional.

    Seria uma batalha contra o próprio instinto, contra tudo o que a fazia humana.

    E Lyria… sabia disso.

    Ela se colocou lentamente à frente de Hendrick, deslizando como uma serpente elegante e, com um movimento provocador, empinou a bunda para ele, arqueando a coluna com perfeição, deixando que seu corpo assumisse uma postura que misturava poder e luxúria.

    Enquanto se exibia, a pele macia e quente que antes parecia convidativa começou a se transformar. Escamas finas e discretas surgiram, primeiro como pequenos relevos sobre os quadris e a base da coluna, depois alastrando-se suavemente por todo o seu corpo.

    Não eram escamas comuns; reluziam sob a iluminação artificial do estádio como uma camada líquida, uma armadura natural e sutil que, paradoxalmente, parecia lisa e aveludada ao olhar. Cada movimento fazia as escamas mudarem de tonalidade, oscilando entre tons quentes de bronze e dourado envelhecido.

    Seus cabelos negros, intensos como a noite mais profunda, caíam em grossas cascatas até a cintura, ondulados e pesados como fios de obsidiana líquida. Emolduravam com perfeição o rosto de traços irreais: os olhos ardentes e vibrantes, parecendo conter brasas vivas, e os lábios carnudos, sempre curvados em um sorriso encantador e insolente, que misturava desejo e ameaça.

    Do alto da cabeça, surgiram discretamente chifres curvados para trás, em espirais assimétricas e irregulares. A coloração era escura, quase negra, com uma textura rugosa, cheia de pequenas saliências, como se fossem formados por algum material ósseo antigo, milenar, carregando a marca do tempo e do poder acumulado.

    Das costas, asas membranosas surgiram, retraídas, começaram a se mover sutilmente. Muito parecidas com as asas de um morcego, tinham uma estrutura flexível e poderosa, pronta para se abrir e envolver o espaço a qualquer momento, mas que, naquele instante, permanecia recolhida, como uma promessa silenciosa de violência ou fuga.

    Mais abaixo, a transformação tornou-se ainda mais evidente: as escamas que cobriam suas pernas escureceram, adquirindo um tom mais profundo, quase carbonizado, e os pés, outrora humanos, alongaram-se e se remodelaram, tornando-se garras elegantes e perigosas, muito semelhantes às patas de aves de rapina.

    As garras se flexionaram com leveza, arranhando suavemente o solo do estádio, produzindo um som sutil, mas suficiente para deixar claro que cada passo seu poderia dilacerar carne ou aço com a mesma facilidade.

    Por fim, a longa cauda, recoberta pelas mesmas escamas finas e reluzentes, deslizou para fora, movimentando-se com uma graça felina, oscilando lentamente atrás de si, como se expressasse por si só a excitação contida e o prazer que Lyria sentia em exibir-se daquela maneira.

    Ela se virou parcialmente, lançando um olhar provocante para Li Wang, enquanto acariciava lentamente o próprio quadril com a ponta das garras afiadas.

    — E então… gostou da minha verdadeira forma? — perguntou, com a voz ainda mais densa, vibrando como um sussurro pecaminoso através do ar carregado de tensão.

    Hendrick, sentado atrás dela, assistia à cena com a indiferença fria de quem contempla a inevitabilidade do destino.

    Li Wang manteve a postura firme, mas seus olhos percorreram, ainda que contra a vontade, cada detalhe daquela transformação monstruosa e sedutora, sabendo que estava prestes a enfrentar algo que transcendia não apenas a força física, mas também a própria natureza do desejo e do medo.

    Ali, diante dela, não havia apenas um inimigo.
    Havia um pecado encarnado.

    Lyria inclinou-se levemente para frente, e num movimento súbito e gracioso, ergueu-se do chão, sustentando-se no ar a aproximadamente meio metro de altura. As enormes asas se abriram com violência, batendo com força, produzindo um estrondo seco que reverberou por todo o estádio vazio, levantando poeira.

    O ar ao redor ficou denso, vibrante, como se sua presença sozinha fosse capaz de alterar o peso da atmosfera.

    Enquanto permanecia suspensa, balançando-se suavemente, Lyria soltou uma risada sensual e maliciosa, como quem saboreia a própria superioridade. A cauda longa e ágil contornou o corpo com fluidez e, num gesto provocante, enroscou-se ao redor de um dos seios fartos, apertando-o com suavidade.

    O movimento foi intencional, uma exibição clara de seu domínio sobre o próprio corpo e de sua natureza sedutora e letal. Seu sorriso ampliou-se, os olhos fixos em Li Wang com um brilho faminto e zombeteiro.

    Li Wang, surpreendida pela cena e pela forma como Lyria flutuava com tamanha facilidade, recuou instintivamente um passo, enquanto sua mão rapidamente buscava a arma no coldre escondido sob o casaco.

    “Ela é igual a Vireon?!” — pensou, alarmada, sentindo o coração acelerar ao lembrar do outro ser que também desafiava as leis naturais com uma forma híbrida, brutal e bela ao mesmo tempo.

    Sem esperar mais um segundo, Li Wang ergueu a arma com precisão e disparou.

    O estampido cortou o silêncio do estádio, e a bala seguiu sua trajetória reta, certeira, mirando o centro do peito de Lyria.

    O impacto, no entanto, foi inútil.

    O projétil ricocheteou com um som metálico, sendo repelido pela camada de escamas finas que recobria o corpo da criatura. Nem sequer um arranhão ficou visível em sua pele reluzente.

    Lyria apenas inclinou levemente a cabeça para o lado, como quem aprecia um espetáculo curioso, e soltou outro riso suave, dessa vez mais provocador, enquanto sua cauda afrouxava a pressão no seio e deslizava preguiçosamente ao longo do abdômen, como se acariciasse a si mesma.

    Li Wang franziu o cenho e não perdeu tempo: ajustou a mira e começou a disparar novamente, dessa vez mirando pontos vitais com rapidez e estratégia:

    Um tiro direto na base do pescoço.
    Outro no centro da testa.
    Mais um no abdômen, logo abaixo da linha onde as escamas escureciam.

    As balas cruzavam o espaço com precisão cirúrgica, mas nenhuma delas parecia surtir efeito. Os projéteis ou eram desviados pela textura escamosa ou simplesmente se deformavam ao atingir a superfície, sem perfurá-la.

    A cada disparo frustrado, Li Wang estudava atentamente as reações de Lyria, buscando qualquer indício de fraqueza: uma contração involuntária, um pequeno desvio, qualquer coisa que revelasse um ponto vulnerável.

    Mas Lyria parecia imperturbável.

    Voava lentamente ao redor, sustentada pelas poderosas batidas das asas, como uma predadora que se diverte antes de dar o bote, deixando que Li Wang gastasse munição e energia.

    O sorriso de Lyria nunca se desfazia, e seus olhos ardiam, vermelhos como brasas, fixos na mulher que ousava enfrentá-la.

    Li Wang, com o dedo ainda no gatilho, sentiu uma gota de suor deslizar pela têmpora, enquanto a adrenalina tomava conta de cada fibra do seu corpo.

    Sabia que não poderia simplesmente vencê-la com força bruta.
    Teria que ser mais rápida. Mais inteligente.

    E, principalmente…
    Precisaria resistir à sedução mortal que aquela criatura emanava a cada movimento.

    Li Wang mantinha a arma firme entre as mãos, o olhar fixo em Lyria, que ainda pairava no ar, batendo lentamente as asas, como se estivesse apenas desfrutando do momento. Aquele corpo coberto por escamas, os chifres espiralados e a cauda felina contrastavam de forma grotescamente bela com a feminilidade escancarada da criatura.

    O som abafado das batidas das asas preenchia o estádio silencioso, criando uma atmosfera sufocante, como o prenúncio de algo irremediável.

    Li Wang sentia o suor escorrer pela nuca, gelado, enquanto o peito se contraía num aperto incômodo. Sua mente girava em espiral:

    “As balas não surtiram efeito… Ela não é como Vireon…”

    Como se tivesse lido seu pensamento, Hendrick, sentado calmamente sobre a cadeira no centro do gramado, falou com aquela voz fria, desprovida de qualquer emoção:

    — Ela não é como Vireon. — Disse, entediado, cruzando uma perna sobre a outra. — Ele mal conseguia expor sua verdadeira forma…

    Assim que terminou a frase, Lyria soltou uma gargalhada escancarada, zombeteira, vibrante. Era um riso que misturava desprezo e prazer, como se o medo estampado no rosto de Li Wang fosse o espetáculo pelo qual esperava há séculos.

    O som ecoou pelas arquibancadas vazias e se perdeu no concreto, enquanto Lyria fazia um giro no ar, exibindo o corpo esculpido e as escamas reluzentes sob a iluminação pálida do estádio.

    A cauda serpenteava ao redor de si, acariciando o próprio ventre, como quem não tinha pressa alguma.

    Li Wang apertou ainda mais o cabo da arma, os nós dos dedos esbranquiçando, mas seu coração já não batia apenas pela iminência do combate, a angústia era muito maior.

    “Se ela é ainda mais poderosa que Vireon… o que posso fazer? Eu sobrevivi a ele… mas mal saí viva. E agora… agora estou sozinha.”

    Engoliu em seco, e uma imagem surgiu nítida em sua mente: Dayse, Henry, Bárbara, William… todos reunidos naquela casa pouco antes dela sair. Rindo, conversando, vivendo, ignorantes do perigo que os rondava.

    Fechou os olhos por um segundo, querendo apagar a cena, mas as palavras seguintes de Hendrick a atingiram como uma lâmina cravando fundo no peito:

    — Lembre-se… — murmurou, com aquele tom venenoso e apático — se você morrer… todos que você ama também morreram.

    Li Wang arregalou os olhos, sentindo a respiração falhar por um instante.

    — Um pecado já está vigiando-os… — Hendrick continuou, indiferente. — Não adiantou dizer para eles fugirem.

    A frieza da revelação fez suas pernas fraquejarem por um breve segundo.

    “Eles… eles já estão cercados…”

    Sentiu o desespero apertar a garganta, sufocante, implacável. Todo o esforço que fizera para convencê-los a deixar aquela casa, o olhar confuso de William ao pedir que confiasse nela… e agora, nada disso parecia ter adiantado.

    Um pecado…”, repetiu mentalmente, e a imagem de uma nova criatura, tão ou mais monstruosa que Lyria, vigiando os que ela amava, a golpeou com força.

    Seu olhar voltou-se para Lyria, que pairava alguns metros à frente, como uma visão infernal saída dos recantos mais profundos do subconsciente humano.

    A criatura sorriu, um sorriso carregado de malícia, de quem não apenas mataria, mas destruiria tudo o que Li Wang amava, lenta e dolorosamente.

    Li Wang sentiu a garganta arder, como se palavras quisessem escapar, mas não havia nada a dizer. Só restava o som do sangue pulsando descontrolado em suas têmporas, o disparar irregular do coração e a convicção inegável de que aquele era um jogo de tudo ou nada.

    “Se eu falhar… eles morrem.”

    “Se eu hesitar… eles morrem.”

    A mão deslizou até o bolso, sentindo o peso oculto de Azazel, guardado ali no último instante, num impulso desesperado.

    “Será suficiente…?”

    Fez uma respiração longa e profunda, tentando estancar o medo, mas sabia que o verdadeiro terror não era Lyria, não era Hendrick…
    Era a possibilidade concreta de, pela primeira vez, não conseguir proteger quem amava.

    Lentamente, ergueu a arma novamente, mirando na cabeça da criatura, não porque achasse que aquilo funcionária, mas porque não havia escolha.

    Se iria morrer…
    Que fosse lutando.

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