Ao amanhecer, depois de passar a noite em claro mergulhado em vídeos do YouTube sobre uma notícia que não saía de sua cabeça, Bruno percebeu que já estava na hora de se arrumar para a escola. Enquanto vestia o uniforme, murmurou baixinho:
    — Tá com a peste! Agora essa tal de CWD infecta pelo ar? Fodeu, uai. O bom é que, por enquanto, só tem adulto infectado… porra. Mal posso esperar pra essa desgraça chegar aqui, mata todo mundo e pronto. Mas como eu não sou bobo nada. Canivete na manga, por via das dúvidas. Vai que começa a infectar geral…

    Na cozinha, Samira, uma garotinha bochechuda com longos cabelos cacheados, já estava de pé. Das três irmãs de Bruno, ela era a do meio. Apesar de seu jeito prático, vivia grudada no irmão mais velho, assim como Haissa, a caçula. Ambas gostavam muito de Bruno, mesmo achando estranho seu hábito de falar sozinho ou rir sem motivo as vezes. Ele era esquisito, mas também protetor, engraçado e inteligente coisas que elas gostavam muito nele.

    Samira, como sempre a primeira a se arrumar, preparava um pão com manteiga. Em seguida, foi até o quarto de Bruno, puxou o cobertor que ele pendurava como porta e disse:
    — Bom dia! A Hanne ainda não levantou pra se arrumar. Ontem ela disse que ia faltar hoje…

    Bruno, terminando de ajeitar a mochila, respondeu sem hesitar:
    — Pode deixar, eu vou lá acordar ela.

    Encostada na parede, Samira ofereceu:
    — Se quiser, eu acordo.

    Ele balançou a cabeça e respondeu enquanto saía do quarto:
    — Deixa quieto. Se você fizer isso, ela vai te encher de pancada, igual da outra vez. Pode deixar que eu cuido disso!

    Sem cerimônia, Bruno entrou no quarto das irmãs. Hanne dormia profundamente, mas ele já tinha uma tática infalível. Com um sorriso malicioso, começou a dar tapas leves na testa dela.
    — Acorda, vagabunda! Bora levantar!

    Hanne arregalou os olhos, bufou e, com a cara amassada e a voz cheia de raiva, disparou:
    — Para com isso, seu viado arrombado! Já falei que não vou hoje! Conversei com a mamãe, ela deixou!

    A irritação subiu como fogo em Bruno, e ele resmungou insultos enquanto saía do quarto, indo direto em direção ao da mãe.

    Ao chegar no quarto de sua mãe, Bruno já entrou bufando, os passos firmes denunciando sua irritação. Sem cerimônia, ele disparou:
    — Ô mãe, já virou palhaçada essa merda! Eu, Samira e Haissa estamos indo pra escola todo santo dia, e essa vagabunda da Hanne não levanta o rabo da cama nem pra lavar as calcinhas que veste. Não é justo! Eu tô indo pra aula contra a minha vontade, enquanto ela fica de boa em casa, o dia todo!

    Nádia, mãe de Bruno, ergueu-se devagar, os olhos semicerrados de quem acabava de ser arrancada de um sono pesado. Seu rosto exibia um misto de cansaço e frieza que aparentemente não durou. Num movimento rápido, a palma da mão dela encontrou o rosto do filho

    com um tapa seco e poderoso.

    Com o dedo em riste, apontado diretamente para o nariz de Bruno, ela falou em um tom firme e carregado de autoridade:
    — Escuta aqui, moleque. Tá pra nascer o dia em que um merdinha desses que ainda nem saiu das fraldas vai levantar a voz pra mim! Agora pega as suas coisas e vai pra escola, antes que eu te dê uma surra! Hanne é problema meu, não seu, agora vaza daqui!

    Sem responder, Bruno fechou a cara, pegou sua mochila e saiu do quarto, a contragosto. Enquanto ele e Samira atravessavam a porta de casa, os gritos de Nádia ecoavam pelo corredor:
    — Hanne! Levanta esse cu da cama agora e começa a fazer alguma coisa! Se não vai pra escola, não vai ficar dormindo até tarde, não. Mas que caralho, já me tiraram o juízo e o sono logo cedo!

    O som dos berros fez Bruno gargalhar. Um riso malicioso, quase sádico, escapou de seus lábios. Samira o observou com um olhar de reprovação e murmurou:
    — Sacanagem, Bruno. Você tirou a mamãe do sério só pra transformar a vida da Hanne num inferno… Isso foi muita maldade.

    Com um sorriso convencido no rosto e os olhos brilhando de malícia, Bruno encarou a irmã mais nova.
    — É assim que funciona a manipulação, Samy. Pode apostar que amanhã a Hanne vai ser a primeira a levantar da cama pra ir à escola, mesmo que eu tenha levado um tapa, essa desgraçada vai se foder hoje.

    Samira apenas balançou a cabeça, meio incrédula, mas não disse nada. Bruno a acompanhou até o portão da escola. Após se despedir com um aceno despreocupado, ele seguiu descendo o morro rumo à escola onde estudava, os passos leves, como se tivesse acabado de vencer uma batalha pessoal.

    ***

    10:30 da manhã, Escola Estadual Monsenhor Antônio José Ferreira…

    Oi, pra você que tá vendo essa merda chamada minha vida. Meu nome é Bruno Mohammad. Aliás você tá afim de ouvir um e spoiler dessa história? Bom vai tomar no cu, vá pra puta que pariu, e só segue a porra da história, beleza?

    Então, aqui estamos: sala do 2° ano. Um verdadeiro caos. Num canto, os Zé Droguinhas que se acham gangsters; no outro, os funckeirinhos de merda batucando na mesa como se fosse bailão. No centro, um grupo de rabo de saia gritando como se precisassem desesperadamente de atenção. E, no fundo da sala, eu. Morrendo de sono, entediado, e contando os segundos pra ir pra casa, bater umazinha e dormir como se o mundo não existisse, mas que droga o pior é que ainda vai demorar.

    ***

    De repente, a porta da sala se escancara. A diretora entra. O barulho morre na hora. Os alunos correm para as cadeiras, tentando parecer santos enquanto ela entra bufando, vermelha e suando até o pescoço.

    Bruno bate a testa na mesa e murmuro, quase sem força e ainda mais desanimado:
    — Inferno! Agora essa desgraça vai prender a gente aqui meia hora depois do horário. Merda. Vai tomar no cu.

    A diretora Regina, com o olhar de quem já perdeu a paciência, começa a andar de um lado pro outro, as mãos firmes na cintura e o tom de voz alto o suficiente pra acordar até quem fingia dormir:
    — Meu Deus, isso aqui é uma turma de ensino médio ou bando de maloqueiros? Olha o esse comportamento de vocês… é ridículo para um bando de marmanjos velhos como vocês!

    A diretora olhou para cada canto da sala, analisando o comportamento dos alunos. Todos pareciam assustados e atentos, exceto por um. No fundo, Bruno bocejava como se aquilo fosse o maior tédio do mundo. Enquanto rabiscava distraidamente no caderno, deixava claro, em cada gesto, que não estava se importando com o que ela dizia.

    Regina estreitou os olhos, seu rosto já avermelhado de irritação. Sem hesitar, marchou até a mesa dele e desferiu um tapa forte na madeira, fazendo o barulho ecoar pela sala e arrancando um sobressalto do garoto.

    Ela inclinou-se ligeiramente, os olhos fixos nos de Bruno, que agora a encarava com uma mistura de desafio e ódio mal contido.
    — Bruno, você está me ouvindo? Tira esse fone e larga esse lápis agora! Não é hora de desenhar. Pelo amor de Deus segundo ano a professora Kátia tá passando mal e vocês agindo como um bando de macacos nessa sala!

    Bruno desviou o olhar, virando o rosto para a direita. Com uma expressão de puro desdém, apoiou a cabeça na mão e murmurou, sem se preocupar com quem pudesse ouvir:
    — Não tô tumultuando nem atrapalhando a aula. Então sai de reto satanás…

    A explosão foi instantânea. O rosto da diretora ficou ainda mais vermelho, o tom de sua voz subindo um nível que fez os outros alunos se encolherem nas cadeiras.
    — Escuta aqui, Bruno! Com quem você acha que tá falando? Vou deixar uma coisa bem clara: a bronca é pra turma toda. E se você falar assim comigo de novo, vai levar outra suspensão, entendeu?

    De repente, a professora, que até então parecia apenas mais uma figura apagada no caos da sala, começa a apertar o próprio pescoço. Seus olhos, antes indiferentes, perdem a cor, transformando-se em orbes opacas e sem vida. As veias de seu rosto se dilatam grotescamente, enquanto uma baba viscosa e avermelhada, com aparência de pus, escorre pelos cantos de sua boca. Seus movimentos convulsivos e o som de seus gemidos alarmam os alunos, mas ninguém sabe como reagir.

    A diretora Regina, alarmada, corre em direção à professora. Já com o celular em mãos, ela tenta acionar uma ambulância, mas não chega a completar a ligação. Uma rajada de vento atravessa a sala, fazendo as folhas de papel voarem. Regina, do nada, começa a tossir violentamente, como se algo invisível estivesse preso em sua garganta. Sua tosse se transforma em gritos agudos e desesperados. Segurando a cabeça com ambas as mãos, ela agacha, quase deitando no chão, enquanto parece ser consumida por uma dor que nenhum ser humano deveria experimentar.

    O silêncio horrorizado dos alunos é rapidamente substituído por um som mais aterrorizante: gritos vindos de todos os cantos da escola. Era como se o inferno tivesse descido à Terra. Professores, funcionários, todos os adultos estavam gritando, gemendo e babando. O som de móveis tombando, janelas quebrando e berros inumanos tomou conta do ambiente. Não demorou para o pátio da escola virar um caos absoluto, com crianças e adolescentes correndo descontrolados para todos os lados, muitos escalando o muro cheio de buracos numa tentativa desesperada de escapar.

    Os adultos contaminados, com olhos sem vida e bocas espumando, avançavam em ataques frenéticos, mordendo e arrancando pedaços de pele dos mais jovens. Sangue espirrava para todos os lados, pintando as paredes e o chão com um rastro de terror puro.

    Bruno ficou imóvel por um instante, observando tudo com um olhar fixo e um sorriso que misturava incredulidade e insanidade. Sua mente, embora anestesiada pela brutalidade dos acontecimentos, já estava processando o que precisava ser feito. Ele olhou ao redor, tentando traçar uma rota de fuga antes que fosse tarde demais.

    Quando a professora infectada se levantou e correu em sua direção com uma ferocidade animalesca, Bruno reagiu instintivamente. Pegou uma mesa e a lançou contra ela com toda a força, fazendo-a cair no chão com um som seco e horripilante. A adrenalina disparava em suas veias, seu coração batendo tão rápido que parecia querer explodir dentro do peito.

    Larissa, uma colega de olhos claros e cabelos loiros longos, estava afundada no desespero. Chorando, descabelada, ela tentava alcançar a porta, mas foi interceptada pela diretora, que agora parecia mais uma besta selvagem do que uma pessoa.

    Enquanto isso, duas alunas recém-contaminadas avançaram contra Bruno. Sem pensar, ele pegou uma cadeira pelos pés e a ergueu acima da cabeça. Em um movimento circular e violento, acertou as duas em cheio, derrubando-as antes que pudessem tocá-lo. Ofegante, com as mãos trêmulas pela tensão e pela adrenalina, Bruno deixou escapar uma risada nervosa. Era quase forçado, mas ajudava a aliviar o turbilhão que o consumia.

    Ele olhou para o lado, avistando seu melhor amigo, João Paulo, parado no meio da confusão, com olhos arregalados.
    — Aê, Jão! — gritou Bruno, com um misto de urgência e excitação. — Corre, mete o pé daqui maluco! O bagulho que a gente tava conversando mais cedo parece que acaba de começar, porra!

    Quando Samantha, uma garota baixinha e morena, corre por trás da diretora e escancara a porta da sala, o som caótico da escola invade o ambiente, misturando-se aos gritos desesperados dos alunos. Aquele momento transforma o terror em algo tangível. Os que ainda estavam ilesos na sala disparam em direção à saída, empurrando uns aos outros, sem perceber que o verdadeiro pesadelo já dominava o lado de fora.

    O corredor estava tomado por um pandemônio. Alunos corriam em todas as direções, fugindo de professores e outros colegas marcados por mordidas profundas, que atacavam com uma ferocidade animalesca. O chão estava manchado de sangue, o pátio um cenário de pânico generalizado.

    Bruno vira para trás e vê a cena horrenda: tanto a professora quanto a diretora estavam em cima de dois alunos que tentavam escapar. Elas rasgavam pele, arrancando pedaços de carne enquanto o sangue espirrava, pintando o chão e as paredes ao redor. Bruno se move instintivamente, mas um som ao fundo da sala chama sua atenção.

    Larissa estava lá, encolhida entre as mesas e cadeiras. Ela chorava compulsivamente, repetindo como um mantra que aquilo não podia ser real. Seus olhos, vermelhos e cheios de lágrimas, estavam vidrados em um ponto distante, completamente desconectada da realidade ao redor. A diretora, agora completamente descontrolada, percebeu a presa fácil e avançou em sua direção.

    — Aí não, satanás! — gritou Bruno, com um tom de piada junto a uma expressão psicótica. — Nem fodendo que tu vai bocar essa dai, moro!

    Ele agarrou uma das mesas próximas e a arremessou com toda a força contra a diretora. A mesa atingiu o corpo dela, interrompendo por um triz o ataque à indefesa Larissa. Sem perder tempo, Bruno saltou por cima de cadeiras e mesas como se a sala fosse uma pista de parkour improvisada. Sua agilidade era surpreendente, e ele chegou à diretora antes que ela pudesse se levantar.

    Com um movimento certeiro, ele pulou nas costas dela, aplicando um mata-leão firme enquanto os dois caíam no chão. O som dos corpos rolando ecoava pela sala, mais como uma luta selvagem do que um confronto humano. A adrenalina tomava conta de Bruno, suas mãos tremiam, mas ele não parava. Com dificuldade, ele conseguiu alcançar o canivete que mantinha escondido na manga de sua blusa de frio.

    Segurando o cabo com força, ele puxou a lâmina com os dentes. Sem hesitar, cravou o canivete no olho da diretora, sua intenção clara: perfurar o cérebro dela e acabar com aquilo de uma vez por todas. A força do impacto fez um som seco e nauseante. Mesmo assim, a mulher ainda se movia.

    — Que porra é essa? Isso não foi o suficiente? — Bruno vociferou, sua voz um misto de raiva e desespero.

    Ele firmou o pé no cabo do canivete, empurrando-o ainda mais fundo no crânio da diretora, até que ela finalmente parou de se mexer.

    Enquanto isso, Iago, um colega que Bruno respeitava, enfrentava a professora. Com um movimento brutal, ele quebrou o pescoço dela com um estalo que reverberou na sala. Em seguida, correu para fechar a porta, barrando qualquer outro infectado que tentasse entrar.

    Bruno se levantou, ofegante, coberto de suor e com o olhar mais feroz do que nunca. Ele caminhou até Larissa, ainda paralisada no canto da sala, e se abaixou na altura dela. Seus olhos encontraram os dela, transmitindo algo entre preocupação e urgência.

    — Cê tá bem? Consegue se virar? — perguntou, sua voz mais baixa, mas ainda carregada pela adrenalina do momento.

    Larissa, tremendo, apenas balançou a cabeça lentamente. Bruno sabia que a situação estava longe de acabar, mas naquele instante, tudo o que importava era sair dali vivos.

    Larissa se levantou trêmula, as pernas bambas quase a traindo. Seus olhos ainda estavam vidrados, fixos nas mãos ensanguentadas de Bruno, como se fossem um detalhe impossível de ignorar. A voz dela saiu vacilante, carregada de incredulidade e medo:

    — Cê… matou ela…

    — Nada po, eu apenas botei ela pra dormir eternamente…, mas que caralho de pergunta idiota da porra! — respondeu Bruno com uma expressão maléfica e um sorriso assustador.

    Enquanto ouvia aquelas palavras, Larissa começou a perder o controle sobre seu próprio corpo. Uma sensação avassaladora de dormência tomou conta dela, e sua respiração se tornou rápida, irregular, quase sufocante. Seu peito subia e descia como se ela estivesse tentando desesperadamente captar o ar que parecia não chegar aos pulmões. Bruno observava aquilo com uma familiaridade que ninguém mais ali entenderia. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo.

    Ele se aproximou devagar, sem pressa, agachando na frente dela para ficar na mesma altura. Com uma mão ainda trêmula, ele a pousou suavemente no ombro de Larissa, como se estivesse ancorando-a na realidade. Sua outra mão pendia ao lado do corpo, ainda coberta pelo sangue seco da diretora.

    Bruno sorriu, não aquele sorriso que conforta, mas algo mais enigmático, quase insano, que contrastava com a situação. Ele a olhou nos olhos — aqueles olhos aterrorizados e perdidos — e não disse nada. Apenas manteve o contato visual, deixando que aquele momento falasse por si mesmo.

    A alguns passos de distância, Iago observava a cena. Para ele, aquilo tinha outra leitura. O jeito como Bruno encarava Larissa parecia sugerir algo íntimo, um momento que poderia facilmente culminar em um beijo. Convencido de que aquilo não era da sua conta, ele desviou a atenção e foi até a porta.

    Com cuidado, abriu uma fresta para checar o caos do lado de fora. No instante em que colocou os olhos no corredor, um som alto ecoou pela sala. O estrondo seco de um tapa. Iago se virou num pulo, imaginando que Larissa tivesse finalmente reagido e acertado Bruno, mas a cena que encontrou o deixou perplexo.

    Larissa estava de lado, com uma marca vermelha já se formando na bochecha. O autor do tapa era Bruno, cuja expressão não carregava remorso, mas uma mistura de calma e um sorriso sádico. Antes que Larissa pudesse dizer qualquer coisa, ele quebrou o silêncio com uma voz firme, quase cortante:

    — E aí, cê tá melhor? Porque se não tiver, eu posso dar outro!

    Larissa piscou algumas vezes, ainda sem acreditar no que acabara de acontecer, mas, estranhamente, seu corpo parecia menos travado, menos à beira do colapso. Bruno se levantou devagar, os movimentos ainda carregados pela adrenalina. Ele olhou para suas próprias mãos ensanguentadas, flexionando os dedos como se estivesse processando o que havia acabado de fazer. Um sorriso ligeiro surgiu no canto de sua boca enquanto ele falava:

    — Pois é, eu matei mesmo, mas que sensação estranha essa que sinto por dentro. — Ele volta sua atenção para Larissa dizendo. — Aê lerdona da uma boa olhada em volta, presta bem atenção na porra da sala e escuta o barulho lá fora. — Ele fez um gesto vago em direção à porta. — Sua idiota acorda pra vida porque tá um caos lá fora.

    Ela dá uma boa olhada na sala que estava toda bagunçada com mesas e cadeiras viradas, sangue espalhado pelo chão, e o som abafado do pandemônio no corredor continuava. Lá fora, os gritos e o som de corpos se chocando indicavam que o pesadelo não estava nem perto de terminar.

    Bruno suspirou, limpando o canivete na camisa rasgada enquanto observava Larissa, esperando uma reação.

    Sentindo uma dormência nos braços e uma sensação horrível no peito, ele coloca a mão sobre o coração, tentando perceber o quão acelerado ele estava. Com a mente turvada, murmura para si mesmo:
    — Tá com a peste…, mas que sensação estranha é essa? Será que é isso que as pessoas sentem depois de matar alguém? Interessante!

    Larissa, ainda paralisada pelo choque do que acabara de acontecer, olha para a mão esquerda de Bruno, toda ensanguentada. Sem conseguir se controlar, vomita na frente dele. Quando finalmente para ela se ergue e grita:
    — Você é um maldito assassino!

    Bruno, por um momento, se assusta, inclinando a cabeça para trás. Olha em volta, vendo os corpos dos alunos caídos ao chão. Nervoso, solta uma risada amarga e responde, com um tom desdenhoso:
    — Assassino? Errado. Eu sou o tigre que acaba com todas as gazelas que ousarem atravessar o meu caminho. E ao invés de me julgar, você devia estar me agradecendo por gastar o meu valioso tempo salvando essa sua vidinha mequetrefe, sua imbecil!

    Larissa se cala, seus olhos se perdendo no horror ao seu redor, já perdendo as esperanças. Ela não entende o que está acontecendo ou como tudo ficou tão monstruoso der repente, mas, entre lágrimas, pergunta a si mesma:
    — Mas o que tá acontecendo aqui? Por que tudo isso tá acontecendo comigo?

    Bruno ouve e, achando que ela está falando com ele, responde, indignado com a pergunta clichê:
    — Porra, na moral, tu é burra ou só segue a merda de um roteiro clichê?

    Larissa, irritada, se levanta e passa por Bruno, lançando um olhar fulminante antes de dizer, com desprezo:
    — Ô Mohammad… vai se foder, cara!

    Bruno, visivelmente irritado, solta, com uma raiva contida:
    — Na moral, você precisa de ajuda pra sair daqui, sim ou não? Fala logo, desgraça!

    Larissa olha para Iago, que responde com um gesto de indiferença, colocando a mão sobre o peito e fazendo um sinal claro de que não ia cuidar dela. Sem muitas opções, ela encara Bruno com ódio nos olhos e responde, quase com desgosto:
    — Está bem! Me ajuda logo a sair daqui.

    Bruno esboça um sorriso maléfico, mas o esconde rapidamente antes que Larissa perceba. Ele responde, frio e direto:
    — Beleza. Fique atenta atrás de mim e não me atrapalhe.

    Iago se aproxima de Bruno, dizendo, desanimado:
    — Cara, nós tá fodido! Lá fora tá um caos terrível, mano…

    Larissa levanta o braço direito, tentando agarrar a roupa de Bruno. Ele percebe rápido e se afasta com uma expressão de rancor, respondendo, ríspido:
    — Inseto, não quero que toque ou segure em mim! Tá querendo me atrapalhar segurando a minha roupa? Pode esquecer, eu não sou cavalheiro o suficiente pra deixar você se sentir segura enquanto você fica me atrapalhando!

    Iago, rindo, faz uma piada:
    — Eeee ala o cara! Virou viado agora, cheio do “não me toque” em, rsrsrs…

    Bruno, irritado, responde de imediato:
    — Vai se foder!

    Larissa, visivelmente desconfortável, com um tom de voz baixo, murmura:
    — Foi mal, eu ainda tô com muito medo.

    Bruno abre um sorriso malvado e psicótico, com um tom sarcástico:
    — Só lamento! É pra sentir mesmo, sinal de que ainda não desistiu da vida. Parabéns!

    Ele se vira e pega uma cadeira, pensando que seria a melhor coisa a fazer para se defender dos infectados do lado de fora. Com Iago ao seu lado, ambos tomam a frente, cadeiras nas mãos, saindo pela porta da sala. Começam a correr, com Bruno guiando-os em direção à cozinha da escola, atacando todos os infectados que surgem à sua frente. O número de infectados ao redor aumenta rapidamente, e, furioso, Bruno solta:
    — É tão fácil nas séries e nos filmes, caralho… Que droga!

    De repente, um grito de dor rompe o caos. Larissa, que estava um pouco atrás, é agarrada pelos cabelos por um infectado. Bruno, mais à frente, segue abrindo caminho, enquanto Iago, a dois passos de Larissa, reage de imediato. Com um movimento rápido, ele se coloca entre ela e o infectado, forçando o monstro a soltar o cabelo dela. Com uma das mãos, Iago torce o braço do infectado até ele soltar, enquanto com a outra o empurra para trás, acertando a boca do infectado. O monstro morde sua mão, mas Iago não recua. Larissa corre em direção a Bruno, que, ao vê-la, a agarra pelos cabelos e a puxa com força, forçando-a a continuar correndo.

    Bruno dá uma rápida olhada para trás, vendo Iago sendo cercado pelos infectados. Ele observa sem reação, como se já soubesse o que viria, e comenta sem emoção:
    — Putz… Faleceu.

    Larissa, com raiva e desespero, acerta um soco desajeitado no rosto de Bruno, fazendo com que ele largue seu cabelo. Ele não diz nada, apenas a pega pelas roupas e a empurra para frente, ordenando:
    — Continua correndo, porra!

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