Capítulo 125: Adeus, heróis de Crystenold.
Para manter a segurança de Aela Skarsgard, todo o último andar da estalagem havia sido temporariamente alugada por ela, onde as guerreiras ocupavam os quartos vazios e revezavam na vigília.
No maior quarto do andar, estava Aela, sentada de frente a um espelho por cima de um balcão, vestida com um pijama confortável de cor amarela e seu cabelo estava ligeiramente úmido.
Por trás dela estava Bárbara, que penteava gentilmente seu cabelo com uma escova prateada, seu cabelo também estava ligeiramente úmido e também vestida com um pijama de cor roxa.
“O que você acha do que o prefeito disse, Bárbara?”
No meio da calmaria, Aela fez uma pergunta para Bárbara.
“Te referes ao Lobo branco caolho?”
Respondeu Bárbara com uma pergunta, sem parar de pentear seu cabelo.
“Sim. O que ele contou sobre ele parecia tão inacreditável e exagerado. Mas após vê-lo pessoalmente e sobre como derrotou Corgard tão facilmente, comecei a ter dúvidas e a acreditar um pouco nas histórias, o que você acha?”
Após ouvir as palavras de Aela, Bárbara respondeu, mas sem parar de pentear o cabelo.
“Honestamente, ele realmente tinha uma presença marcante e parecia ser bastante forte, mas não sei se seria forte o suficiente para derrotar um usuário de aura avançado de cinco estrelas. Além do mais, Corgard pareceu não chegar a usar sua aura ao enfrentá-lo, então é difícil chamar aquilo de uma derrota completa.”
“Mas o Lobo branco caolho também não usou aura, e mesmo assim o derrotou.”
Respondeu Aela.
“Sim, isto prova que ele possui habilidades físicas superiores ao Corgard, mas e quanto a aura? Não nos esqueçamos que o mestre de Corgard é um excelente usuário de aura, então suas habilidades com aura diferem em muito sem usar ela. Não estou dizendo que o Lobo branco caolho é fraco, mas é difícil acreditar que ele seja tudo o que nos contaram, sem contar que ele é um artista marcial. As únicas provas de seu feito são as próprias palavras do prefeito, então podem haver algumas dúvidas.”
Após responder as dúvidas de Aela, Barbara parou o pente no meio do caminho.
“Mas quem realmente chamou minha atenção não foi o Lobo branco Caolho.”
“Te referes a mulher que o acompanha, certo? Crystalline, apelidada de Rainha dos Cristais.”
Perguntou Aela com brilho nos olhos.
“Sim.”
Concordou Bárbara, e continuou.
“Ao contrário do Lobo branco caolho, várias pessoas da cidade viram com seus próprios olhos ela dizimando centenas de aventureiros da guilda Martelo imortal, e ainda detonou o edifício da guilda inteira. Dizem que não era apenas uma excelente maga, como também uma espadachim que conseguiu enfrentar dez guerreiros e os matou em míseros segundos. Então, não há dúvidas de que ela seja uma espadachim mágica.”
“…Que incrível.”
Quanto mais ouvia, mais Aela começava a se interessar por Crystalline.
“O que você acha de trazermos ela para o nosso lado?”
“…”
Diante da pergunta de Aela, Bárbara ficou um momento em silêncio, depois respondeu em um tom fraco.
“…Seria difícil.”
“Você também acha?”
Perguntou Aela, sem parecer surpresa pela resposta de Bárbara, e continuou.
“Sua aparência, presença e poder foram marcantes desde a primeira impressão. Sinceramente, posso ser uma nobre, mas estando na sua frente senti como se fosse de uma classe inferior a ela.”
“…”
Bárbara, que normalmente sempre defendia sua mestra, não negou suas palavras que parecia humilhando-se, porque ela também tinha sentido a mesma coisa.
Não era apenas sobre sua aparência, era tudo sobre ela. Comportamento, gestos, modo de falar, a maneira que olhava, eram comportamentos de alguém de alta classe, como se pertencesse a uma família real, e ainda era uma espadachim mágica.
Qualquer pessoa se sentiria inferior diante dela, sejam homens ou mulheres.
“Ela parecia ser uma nobre. Mas o que uma nobre está fazendo andando com um mercenário? E mesmo se for, nunca havia ouvido falar de alguém como ela.”
Dizia Aela, analisando a verdadeira identidade de Crystalline.
“Ela pode ter pertencido a uma família caída de outro reino, e por isso nunca tenhamos ouvido falar dela ou de sua casa. Mas se considerarmos suas habilidades com magia e esgrima, ela pode pertencer ao país de Arcania ou Areteia.”
Respondeu Bárbara, o que captou a atenção de Aela.
“Entendo. Se for verdade, então ela deve ter se refugiado em nosso reino após a queda de sua casa.”
“Sim.”
Respondeu Bárbara, parecendo concordar com Aela.
“Se ela é realmente uma ex-nobre e se considerando suas habilidades, ela não iria oferecer tão facilmente sua lealdade a alguém, ao invés disso iria querer aumentar seu próprio poder.”
Disse Aela.
“Mas assim como um leão não pode governar a selva sozinho, ela também não conseguirá sobreviver neste mundo apenas andando com um mercenário. Pertencer a uma grande casa nobre sempre trará mais benefícios. Portanto, se oferecermos a ela uma grande posição, pode ser que ela possa trabalhar para a jovem senhorita.”
Acrescentou Bárbara.
“Sim, mas antes disso, primeiramente precisaremos ganhar a sua confiança para com a gente, para que ela não hesite na hora de fazermos o pedido.”
Ao ouvir a ideia de Aela, Bárbara franziu ligeiramente a testa.
“A jovem mestra tem razão, mas infelizmente nossa primeira impressão que transmitimos para ela não foi das melhores.”
“…”
Ao ouvir isso, Aeia se lembrou do incidente que aconteceu no castelo municipal, fazendo-a esfregar a testa de frustração.
“Sabia que não podia trazer Corgard conosco, agora teremos que ver como compensar este lado…”
Disse ela em frustração.
“…E se usarmos o Lobo branco caolho?”
Perguntou Barbara.
“Usar ele?”
Perguntou Aela, claramente surpresa pela sugestão de Bárbara.
“Sim, mesmo sendo um mercenário, a Lady Crystalline parece segui-lo onde quer que ele vá. Os habitantes da cidade dizem que eles parecem bastante próximos, parecendo um casal. Até compartilharam um quarto por dois dias.”
Respondeu Bárbara.
“Então você está sugerindo que primeiro devemos trazer o Lobo branco para o nosso lado, e assim também teríamos a Lady Crystalline?”
Perguntou.
“Sim, parece-me uma das opções mais prováveis. Além do mais, o Lobo branco caolho não ignorou o incidente de Corgard mesmo quando poderia tirar proveito? Parece que ele quer alguma coisa com a gente, se aproveitarmos isso, podemos até ter os dois do nosso lado.”
“…”
Ao ouvir o plano de Bárbara, Aela começou a pensar.
‘Sim, parece ser um bom plano. Mas…’
Em seus pensamentos, ela então começou a pensar na conversa que teve com Ken.
‘Ele pode ter resolvido ignorar a ofensa de Corgard. Mas, por algum motivo, ele me deixa inquieta.’
Para todos poderia parecer que Ken havia desistido com medo do poder da família Skarsgard, mas Aela pensava diferente.
Algo em Ken a fazia se sentir desconfortável, como se estivesse de alguma forma havia deixando alguma coisa escapar, mas ela não sabia o que era.
Era como estar sendo perseguida por um lobo, você foge e foge, e o lobo com paciência, e silenciosamente o persegue, até o alvo estiver cansado e o lobo finalmente atacar.
‘Um Lobo, hein?…’
Ela, mais uma vez, conseguia imaginar porque o chamavam de lobo, embora fosse apenas uma hipótese do que uma resolução verdadeira.
“Espero que seja apenas uma imaginação minha.”
Disse ela profundamente.
“Você disse algo, jovem mestra?”
Perguntou Bárbara após as palavras de Aela.
“…”
Percebendo que havia pensado em voz alta, ela se virou para Bárbara e respondeu com um sorriso.
“Nada não, apenas falando em voz alta.”
‘Sim, deve ser apenas imaginação minha.’
Acreditado que estava pensando demais, Aela resolveu abandonar estes pensamentos.
§§§§
De manhã cedo do dia seguinte, na entrada principal para o castelo municipal. Estavam presentes o Ken, Crystalline, o prefeito, o capitão da força de proteção da cidade e até o presidente da guilda dos comerciantes.
Durante a reunião do dia anterior, Ken e Crystalline haviam concordado em acompanhar a segunda filha da casa Skarsgard, por causa de um pedido feito pelos Guerreiros amaldiçoados.
Mas antes disso, eles haviam passado no castelo municipal para tratarem de alguns assuntos e se despedirem pessoalmente.
“Então vocês partem hoje.”
Disse o prefeito, estendendo a mão direita para Ken, e continuou.
“Gostaria de poder vos acompanhar até os portões, mas infelizmente tenho muita papelada para tratar depois dos últimos acontecimentos.”
“Não tem problema.”
Após Ken dizer estas palavras, estendeu sua mão e recebeu a mão do prefeito em um aperto, e terminou dizendo.
“Adeus.”
Não era um até mais, ou um dia destes, mas sim um adeus, o que significava que provavelmente nunca mais se voltariam a ver.
“…”
Sabendo disso, o prefeito ficou um pouco desapontado. Mas sabendo o quanto estas duas pessoas poderiam evoluir na vida, não será surpresa se nunca mais se encontrassem na vida.
Era algo que apenas o destino reservava.
Então, com um sorriso, o prefeito respondeu.
“Sim, adeus.”
Após soltar sua mão, Ken e Crystalline começaram a andar em direção ao portão do castelo.
“Lá estão eles!”
“Estão vindo!”
Inúmeras pessoas estavam reunidas ao redor do portão da cidade, que rapidamente começaram a gritar assim que avistaram Ken e Crystalline se aproximando.
“?…”
Ken estava genuinamente confuso, não sabendo o porquê de tantas pessoas estarem reunidas na frente do portão da castelo municipal e começarem a gritar por eles assim que foram avistados.
“O que está havendo?”
Perguntou ele, claramente em dúvidas.
“Pftm você realmente não sabe?”
Crystalline, ao seu lado, bufou um sorriso ao ver a confusão presente no rosto de Ken, como se achasse engraçado.
“?…”
Ken, por sua vez, olhou para ela com ainda mais confusão, e exigindo uma resposta, pois claramente não sabia o que estava acontecendo.
Vendo isso, Crystalline riu mais um pouco antes de responder.
“Eles vieram se despedir dos heróis.”
“…Heróis?…”
Ken ficou ainda mais confuso ao ouvir a palavra herói sair e sua boca, como se a palavra herói e seu nome na mesma frase fosse algo realmente estranho.
Então, assim que pisaram com os pés para fora do terreno do castelo municipal.
“Woooooo!”
“Heróis de Crystenold!”
Os gritos incessantes dos cidadãos começaram a preencher todo o espaço, e enquanto andavam, os gritos aumentavam enquanto jogavam pétalas de lírio branco sobre eles.
As pessoas estavam reunidas em ambas as calçadas do lado direito e esquerdo, criando um caminho de onde Ken e Crystalline pudessem passar.
“Lobo branco caolho!”
“Rainha dos cristais!”
“Lobo branco caolho!”
“Rainha dos cristais!”
Eles gritavam os apelidos a eles atribuídos, despedindo-se com sinceridade aos dois que haviam salvado a cidade.
“Heróis de Crystenold!”
“Heróis de Crystenold!”
Gritavam eles, pronunciando os dois como heróis da cidade.
“…”
Ser chamado de herói era algo que Ken jamais imaginava acontecer com ele desde que começou sua nova vida neste mundo. Talvez no início quando ainda era um jovem ingênuo, mas tudo mudou até perceber que este tipo de vida não era seu destino.
Ver todas estas pessoas, gritarem insensatamente seu nome, o lembraram de quando ainda estava no reino de Celestine, na cidade de Camelon. Naquele dia, depois de ter sido julgado pela rainha e pelo rei, e depois sendo transportado na carroça pela cidade, os cidadãos também gritavam para ele.
Mas ao contrário de gritos de alegria, os gritos daqueles cidadãos eram de ódio com os rostos contorcidos de desprezo e nojo, enquanto jogavam pedras contra ele, como se fosse o homem mais desprezível do mundo.
Mas aqui, nesta cidade, ao invés de gritos de ódio e nojo, eram gritos de alegria e admiração, e ao invés de jogarem pedras, jogavam flores de cor branca sobre eles.
Um homem que manchou suas mãos de sangue e que vagava sozinho neste mundo sombrio, agora era admirado.
Não como Ken Sakamoto, mas como Ken Wolff, o Lobo branco Caolho.
“Lobo branco caolho!”
“Lobo branco caolho!”
Estava sendo admirada por pessoas desconhecidas por quem nunca mais voltaria a ver, eles o pareciam admirar e respeitar.
“…”
Ele estava se sentindo estranho, um sentimento a muito esquecido estava começando a preencher seu interior, fazendo-o sentir um desconforto, mas que por alguma razão o faziam se sentir bem.
Era como se todo o sofrimento que havia passado neste mundo, as noites dormidas sozinho enquanto observava as luas no céu noturno, o sangue e suor derramado ao longo do tempo, não tivessem sido em vão.
As pessoas nesta cidade o estavam agradecendo pelas coisas que ele achou necessário pela sua própria sobrevivência, sem saber que também estava ajudando outras pessoas no processo.
“…”
Crystalline não conseguia deixar de erguer um leve sorriso ao ver a confusão no rosto de Ken que parecia inalterado para os outros, mas que ela conseguia ver através dele.
“Que tal acenar para eles?”
Perguntou Crystalline.
“…”
Ken não a respondeu, apenas continuou olhando para as pessoas que continuavam o saudando e gritando.
Mas então, depois de um tempo, levantou ligeiramente a mão.
“Wohhhhhh!”
“Lobo branco caolho!”
Aqueles que viram o aceno rapidamente gritaram em alegria, elevando seu nome ainda mais ao alto, que pareciam ecoar toda a cidade.
“?…”
Entre as multidões, Ken conseguia ver os comerciantes, aventureiros e até a família de pai, mãe e filha com quem havia chegado com eles na cidade pela primeira vez, também acenando para ele.
Quanto mais andava, também viu a gerente do bordel Prazer dourado e algumas das cortesãs que também estavam presentes e acenavam para ele com lágrimas nos olhos.
Com a queda de Magnus, a gerente não era mais apenas a gerente, mas agora tornou-se a verdadeira dona.
Também apareceram as crianças que haviam desaparecidas, que estavam um pouco mais gordas e melhor vestidas, que balançavam violentamente suas mão tentando chamar a atenção de Ken.
Todas as pessoas com quem havia interagido haviam tirado um tempo de suas vidas para saudá-lo e despedi-lo.
Ken passava por eles, acenando e balançando ligeiramente a cabeça. Mas à medida em que chegavam no portão do norte, o número de pessoas diminuía, assim como os gritos que iam ficando para trás.
No portão da cidade era onde aguardava a carruagem de Aela e seus guerreiros que se preparavam para partir.
“…”
Mas para além deles, também havia mais um grupo que não pareciam se encaixar neles. Um grupo de pessoas vestidas com mantos escuros e esfarrapados, eram eram grandes, musculosos, com cicatrizes nos rostos e carregavam armas peculiares com eles, todos ao redor de uma carroça. Eram dez no total.
“…”
Foi então que um deles, um grande homem que pareceu notar a presença de Ken, desencostou-se da carruagem e começou a se aproximar dele, parando bem a sua frente.
Ela era enorme, passando os dois metros de altura, um corpo musculoso e com o cabelo espetado para cima, seu olhar era tão ameaçador que poderia intimidar qualquer um.
“…”
“…”
Ken e ele ficaram um bom tempo se encarando, e então o homem estendeu sua mão e abriu um largo sorriso.
“Prazer em conhecê-lo! Meu nome é Brodwilf! Líder dos mercenários Guerreiros amaldiçoados! Será uma honra trabalhar com você!”
“…”
Ken ficou ligeiramente surpreso com sua atitude animado o que deferia de sua primeira impressão, mas não se deixou levar e aceitou seu aperto de mão.
“Ken Wolff, espero trabalharmos juntos.”
Respondeu Ken, aceitando seu aperto de mão.
Sentindo o aperto de mão firme de Ken, apenas pareceu deixar Brodwilf ainda mais animado.
“Sim! Espero trabalhar com você!”
Mesmo quando ele parecia muito mais velho que Ken, o respeito que demonstrava era como se estivesse falando com alguém de maior idade, porque este era o nível de admiração que sentia por ele.
“Estamos partindo!”
Foi então que a voz de Barbara veio logo atrás, avisando-os de que já estariam partindo em poucos minutos.
“Venham!”
Em seguida gritou Brodwilf, dirigindo Ken e Crystalline até sua carruagem.
“Por favor, subam! Este é o nosso transporte!”
Os membros do grupo Guerreiros amaldiçoados já estavam todos dentro da carroça, preenchendo quase todo o espaço. Ken, assim como o líder, subiram no banco de condução.
Crystalline, por sua vez, não subiu na carroça nem no banco de passageiro, ao invés disso pulou até o telhado da carroça e ficou de pernas cruzadas, deixando o líder do grupo Guerreiros amaldiçoados confuso, mas não interferiu e resolveu ignorar.
Agora que todos estavam abordos, os portões do lado norte começaram a abrir, e a comitiva rapidamente avançou para fora dos portões, correndo e chutando a estrada e deixando cada vez mais a cidade para trás.
Mais um novo dia e mais um novo capítulo estavam para surgir, e o que quer que de novo tenha para vir, Ken estava preparado para enfrentá-los de frente.
“…”
E então, seus lábios se ergueram em um ligeiro sorriso malicioso, que o líder dos mercenários não pareceu notar.
‘Meu plano está indo conforme planejado.’
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