Mentiroso

    ―嘘―

    Mentirosa

    “Augustus, massageie meus pés.”

    “Sim, Milady”

    Ele se abaixou e, copiosamente, fez movimentos tortos, como quem segura um animal peçonhento. Temeroso.

    Após alguns segundos, recebeu um chute de calcanhar na testa.

    Ele não resmungou.

    “Caesar, me traga chá.”

    “Sim, Milady Suzamine Canibou Bou Jinfan-Dueru.”

    “Reduza para ‘Milady’ se você tiver uma língua estúpida demais para um nome estrangeiro…” O segundo servo, o que despejava chá verde numa pequena xícara envolvida pela palma de Suzamine, estremeceu. “Ei, há uma imprecisão histórica aqui… Vocês não podem se chamar romanos, falar japonês e me chamar de Milady ao mesmo tempo. Não, não. Está tudo errado.” 

    Ambos estremeceram, mas sem fazer qualquer som. Eles pararam, eretos e de frente à ela. Em quase todas as vezes que a desagradaram, uma punição veio.

    “Você, com cara de besta.” Ela chamou encarando os dois. 

    Eles se entreolharam e apontaram um ao outro.

    “Ele?”

    “Não.” Respondeu bebericando o chá. Seu mindinho levantado e olhos em finas fendas horizontais e as pernas cruzadas num encaixe perfeito faziam a colegial gyaru parecer alguém que, tenha sido de fato ensinada sobre etiqueta alguma vez. Ela pareceu elegante. 

    Mas logo jogou o braço esquerdo sob a parte de cima da cadeira, se acomodando.

    “Eu?” Os Ghouls perguntaram, agora apontando para si mesmos.

    “Há um limite de pedras para se jogar, uma hora a cruz é enterrada em pedras e não há mais pecados a se pagar.”

    Os dois se entreolharam extremamente confusos.

    “Ouçam, o que eu quero dizer é que eu não tenho como ter acumulado tantos pecados assim, não há cota de pecados tão alta que mereça vocês dois. Eu os odeio. Estou farta, vão fazer uma ronda ou algo assim.”

    Foi um alívio mútuo.

    Eles já estavam saindo da rústica cabana na floresta, não havia maçaneta, a porta trancada com pregos protegia o trio da nevasca que crescia cada vez mais.

    O corpo humano tolera até seus trinta e cinco graus internos, com sofrimento e tortura. Sair para aquela nevasca sendo um humano comum seria como se trancar num freezer e sonhar com um corpo super-adaptado.

    Mas o corpo dos dois já estava abaixo dos dez graus internos muito antes de abrir a porta, muito antes de sair na nevasca e muito antes de serem reduzidos a cubos de carne e poças de sangue sob o gelo.

    O agente NNGY fez uma curta prece pelas suas almas, mas não conseguiu terminar antes que elas descessem. Entidade Mazou pareceu mais afetada pela reação do agente NNGY que pelo assassinato, Entidade IVE permaneceu impassível.

    E o agente DCH… Eu falei sobre como madeira é boa para fogo e brasa, mas ninguém riu. 

    NNGY riria, se ainda não estivesse sob recuperação psicológica. Eu espero.

    Relatório complementar b-DCH:

    As motos estacionaram cedo na trilha, muito antes que o terreno torna-se difícil demais para elas. 

    A lua trouxe baixa temperatura e quanto mais o tempo passava, mais neve fofa acumulava-se abaixo dos pés. Na distância havia uma cabana com luz interna. Dentro dela foi identificado:

    Yōkai desordeiro classificado como vampiro de linhagem, periculosidade alta. 

    Primeiro encontro com o yōkai foi anexado pelo agente TYLR, yōkai confirmado com estrangeiro alocado, possivelmente acostumado com a cultura japonesa, apresenta gírias no vocabulário.

    Vampiro.

    Um dos maiores demônios ocidentais, relato de cumplicidade com o outro demônio ocidental que arrancou o antebraço do agente TYLR, contudo a falta de provas do incidente não permitem a comprovação de aliança, todos seus outros relatos inferem ou atividade solitária ou uso de marionetes/ghouls.

    Ao analisar o possível covil, foi encontrado uma casa de madeira, parecia antiga com partes improvisadas, pode ter passado por uma reforma improvisada para uso.

    Fomos detectados cedo demais para outras observações sobre seu comportamento quando não hostil por causa do yōkai fantasma, que insuportavelmente não calou a boca durante toda a caminhada pela floresta com neve.

    Mas, sob qualquer expectativa minha, o vampiro entregou seus peões. O ar cristalizou, ambiente propenso, yōkai recém integrado à sociedade foi de utilidade.

    Yōkai yuki-onna, classificação física provou-se eficiente em dificultar o campo de visão de yōkais opositores e facilitar movimentação de agentes, somente aplicado em ambientes nevados.

    Os oponentes tiveram dificuldade em se organizar ao sair do covil.

    Yōkais opositores; três.

    Dois ghouls e um vampiro.

    Time da missão de captura;

    Entidade Mazougaharachou classe Espiritual do tipo alma, codinome Mazou.

    Entidade Ievine classe Física do tipo Yuki-onna, codinome IVE.

    Agente Namae-nai, codinome NNGY. 

    E agente Namae-nai, codinome DCH, O melhor espadachim da era moderna.

    Não…

    Ei, setor administrativo.

    Vocês sequer lêem isso?

    Esse documento só vai ser arquivado, como qualquer outro, não interessa o que eu escreva aqui.

    Bom, esse é um ótimo momento para dizer-lhes, funcionários do administrativo, odeio todos vocês.

    Existia uma estratégia prévia, que se fosse lida, talvez até recebesse gratificações, mas nunca seria. O planejamento inicial era atrair todos os opositores para fora, deixar que os menores fossem batidos pelo agente NNGY e Entidade Mazou, enquanto eu mesmo seguraria — ou capturaria —, o vampiro.

    Não aconteceu. 

    Os vampiros menores saíram, eu dei cabo deles e parei numa distância segura de cinquenta metros, e então, NNGY estava indo lá, pretendendo entrar na casa quando aquela cabeleira loira saiu pela porta. 

    Ele avançou contra o vampiro, mesmo que nunca tivesse entrado em ação com o yōkai, me surpreendi, a mera conexão/proximidade já altera os atributos físicos de maneira exponencial. 

    Sincro, a tese do Supremo pode ser provada, o contrato com entidades concede afinidades/habilidades incomuns.

    Sua tatuagem no pescoço parecia pulsar como uma veia alterada.

    Diferenças notáveis no agente NNGY, a agilidade subiu, ele se move sem necessidade frequente de retornar ao chão, sua força não parece sofrer grandes consequências, permanece mais forte que um humano, seria necessário mais tempo de observação para comprovar diferenças nesse aspecto.

    NNGY usou uma árvore como base e se lançou contra a vampira, seus olhos cintilaram em pós imagem, estavam vermelhos como o da oni, consequência estética da sinergia. A outra sorriu maléfica, havia um terceiro ghoul. Ele saltou de uma sombra, na direção de NNGY e minhas mãos desenharam um movimento de arremesso quase que instantaneamente. Num cenário normal, não havia tempo o suficiente.

    Leia novamente, espadachim, não arremessador. Nunca depositei minha confiança numa carreira de baseball. 

    A lâmina acertaria, mas não em tempo. Ele seria pego pelo ghoul e teria ferimentos desnecessários. Por isso…

    Prendi a respiração.

    Flexionei os joelhos, firmei a base sólida numa fração de segundo e então saquei.

    A bainha deslizou para fora do cinto. Segurei as costas dela com a direita e empurrando o corte para frente.

    Respiração precisa.

    Slash—! O corte ascendente soprou um impulso de vento na mesma direção da lâmina. 

    O ghoul foi atingido, com NNGY à salvo, a após imagem traçou um corte quase perfeito em direção à vampira, que nem reagiu mesmo perdendo seu soldado, a machete cortou o ar em frenesi e cravou nela.

    Bom, é um vampiro, isso não fará nem cócegas.

    De repente, a neve em torno deles subiu e fiquei sem visão da luta mais intensa.

    Bom, diferenças notáveis no agente DCH, nenhuma. Absolutamente nada diferente, tão comum quanto ontem.

    Apenas a mesma odachi.

    Postura.

    Firmei a bainha, ao centro do corpo e segui até onde a odachi deveria estar, olhei para NNGY para ver seu progresso durante o caminho.

    Como uma criança imprudente, parece preocupado com o yōkai sob sua responsabilidade, isso deve ser revisado no projeto TLM.

    No entanto, quando a névoa de água cristalizada baixou sob a neve fofa, em meio aos pinheiros, somente uma fantasma oni poderia ser vista correndo em direção ao último lugar onde NNGY foi visto.

    Ao redor, nada.

    Nenhum resquício.

    Às vezes me pergunto onde falhei nos seus treinos. 

    Ele caiu num domínio vampiro?

    Haa… Ser sua babá é mais difícil que lidar com os engravatados.

    “Yōkai, vamos.” Eu disse à IVE.

    Não respondeu, mas levantou do meio da neve e começou a caminhar logo atrás. Havia estado atrás de nós durante todo esse tempo, branco e se misturando com a neve.  

    Estranhamente, parece maior que o comum.

    Isso é algo interessante para o relatório, yōkai Yuki-onna muda sua forma de acordo com contato à neve.

    Mas ninguém vai ler.

    Nunca lêem.

    De repente, me sinto extremamente rabugento.

    “Fantasma.” Eu disse à fantasma.

    “Uh? Hm.” Ela parece sentir medo de mim.

    Memória muscular? Trauma de vida passada? Simplesmente tímida? Nunca saberei.

    “Rastreie ele.”

    “Eu sinto o cheiro de macarrão instantâneo vindo do ar daqui, ele caiu em algum lugar.”

    Macarrão instantâneo?

    Hm. 

    Fixei bem as pernas, senti a bota afundar na neve, IVE firmou melhor o chão sob meus pés. Extremamente proativo eu diria.

    “Aqui, ele caiu aqui.”

    Posicionei a odachi perfeitamente alinhada com o centro do corpo, inspirei.

    “Não dá, não sem um cigarro.”

    IVE veio andando, enfiou a mão nos bolsos e tirou um maço.

    Atitude proativa demais, suspeitosamente agradável.

    Domínios vampiros são difíceis de lidar sem alguém experiente por perto, eu mesmo já me vi preso em um uma vez, foi assim que descobri.

    Na verdade, é como se houvessem portas para eles em qualquer lugar, poderia estar pisando em uma agora, mas somente o vampiro regente tem a chave para abrir e fechar, geralmente impossíveis de acessar.

    Mas a fenda está fresca.

    Mordi o maço, o ar se tornou menos frio ao meu redor e consegui acender. Isso é triste, há alguns anos não precisaria de cigarros para estar em estado de calma absoluta.

    Mas que diabos você não me faz fazer.

    Levei a lâmina gigante sob a cabeça, e então desci com o corte perfeito.

    Não há nenhuma porta sem chave que não possa ser arrombada.

    E principalmente, não há nada que uma espada grande o suficiente não corte.

    —Corte—
    ―切―
    —Corte—

    “Perto.” A fantasma relatou. “Não, eu perdi.”

    “Essa é a quinta vez que você diz isso.” Rebati.

    “Não, realmente perdi.”

    “Eu devo estar me arrastando em corredores iguais por mais de uma hora. Ao que tudo indica seu nariz está quebrad—.”

    “Não tenho mais contato com Namaeueuchi, desfez.”

    “Desfez?”

    Dobrei a esquina, e então parei.

    Uma cena que poderia destruir reputações, sinceramente. Não, era quase uma cena assim.

    NNGY estava ajoelhado, seu pescoço transbordava sangue em borbulhas, como se fervesse. Sem camisa, seus joelhos e pés estavam vermelhos e a poça de sangue só crescia. Ou melhor, o leito de sangue só crescia.

    De pé, em sua frente, vampiro. Com sua mão estendida até o ferimento, gotejando seu próprio sangue nele. Como num…

    — Casamento de sangue. — Disse.

    Não eu. A fantasma disse.

    Tanta espera pra um capítulo ruim
    Desculpa, eu fiquei tanto tempo fazendo a arte que demorei a postar, e quando vi, o capítulo estava revisado a muito tempo e a arte não saia nunca
    daí postei sem arte mesmo
    Quando terminar eu adiciono ela no capítulo e na galeria, olhem lá depois as artes

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