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    Em uma sala circular, com paredes feitas de madeira e teto de palha, está um velho homem-fera com traços de um tigre. Ele se encontra sentado em uma cadeira de madeira, fumando um cachimbo curvo que exala fumaça branca.

    O velho homem é magro, usa um robe em volta de seu corpo, com a parte superior sendo verde musgo e as calças em azul escuro. Sua pelagem carrega cores laranja, preta e branca, porém já desbotadas. Além disso, possui longos bigodes caídos, e suas orelhas altas exibem marcas de cortes nas pontas e laterais.

    De frente a ele, está uma janela, da qual ele observa um pequeno vilarejo com casas feitas da mesma madeira que a da sala onde ele se encontra, tudo isso circundado por uma enorme floresta e iluminado pelo sol.

    Entre as construções, há outros homens-fera com feições felinas. Alguns bem jovens e outros já em idade adulta, mas nenhum tão velho quanto o tigre que os observa pela janela.

    O ambiente dentro da sala possui em seu centro um grande tapete redondo. O tapete uniforme tem pelos curtos e firmes. No canto, pendurado em uma pilastra, há uma rede montada com uma pequena mesa ao lado. 

    Nas paredes há várias peças decorativas, como colares com garrafas, peças de tecido menores e dispensas com vários pergaminhos e pedras esculpidas.  

    A quietude do lugar é interrompida com o ranger da porta que se abre. Um outro homem-tigre entra no lugar. 

    Ele é notavelmente mais jovem e forte. Seu corpo apresenta cores vivas e uma pelagem exuberante. Usa calça azul como a do mais velho, porém usa um corselete de couro negro. 

    “Por que o senhor me chamou, pai?”, ele questiona, respeitoso, mas com um toque de preocupação. “Há algum problema?”

    “Algo aconteceu na floresta…”, responde o velho, olhando a imensidão verde que cerca a vila, com uma voz forte, mas cansada. “Se é um problema ou não, isso eu não sei dizer.”

    O jovem leva a mão à testa e balança a cabeça, enquanto a inquietação cresce em seu semblante. “Quando o senhor fala desse jeito, eu sempre imagino que é um problema.”

    O velho encara o jovem com uma expressão séria, pronto para dizer algo importante.

    Do lado de fora da cabana, as coisas seguem quietas, sem nada destacando-se do som usual de uma vila. Mas, de repente, a voz do jovem ecoa pela porta, quase tão alta quanto um grito e carregada de incredulidade.

    “O que você disse?!”

    Dentro da sala, o jovem está com os olhos arregalados, surpreso com as palavras do velho. Como se tivesse sido atingido por um feitiço de paralisia.

    “O dragão que vivia no centro da nossa floresta… está morto”, repete o pai, com calma.

    Um silêncio toma conta da sala enquanto o rapaz esfrega a mão sobre a cara e processa a notícia. 

    Ele volta a encarar o velho, ainda exibindo um semblante cético. “Mas de onde veio essa informação?”, ele questiona. “Foi algum espírito seu?”

    O velho acena a cabeça, confirmando. “Não. Mas ouço os murmúrios daqueles que ainda vagueiam pelas bordas”, pontua ele. “E é sobre isso que eles comentam.”

    Um sorriso confuso surge em seus lábios. “Mas isso não seria uma boa notícia?”, ele indaga. “Por que você está assim, todo sério? Deveríamos estar comemorando.”

    “Em parte, eu concordo com você, meu filho. Aquele dragão foi a raiz de vários dos nossos problemas. Mas, mesmo que eu sinta algum alívio nisso, me pergunto, qual será o preço a ser pago?”

    “Os espíritos não comentam quem foi que fez isso?”

    O velho nega, balançando a cabeça lentamente. “Eles têm se mantido afastados do centro da floresta desde ontem. Algo os incomoda por lá. E há pouco tempo, eles começaram a murmurar sobre a presença mágica da fera desaparecendo até apagar completamente.”

    O jovem fica em silêncio, refletindo por alguns segundos. “Talvez pudesse ser coisa dos elfos sombrios”, ele comenta. “Há alguns dias, Maugrim me disse que sentiu a presença da magia sombria deles pelos arredores da cidade dos orcs. Conhecendo aquele povo, eu já estava suspeitando que eles tentariam algum tipo de retaliação.” 

    “Realmente podem ter sido os elfos. Mas, atacar diretamente alguém poderoso como aquele dragão em seu próprio território, não é algo comum para aquele povo.”

    A preocupação volta ao rosto do jovem. “Pai… acha que eles podem ter usado alguma arma mágica ou algum tipo de feitiço? Algo forte o bastante para matar o dragão?”

    O experiente felino volta a observar a janela, passando o olhar rapidamente pela vila e fixando-o na floresta que circunda o lugar. “Eu não sei, Raviel”, ele comenta, distante. “Se for, fico grato de não entrarmos em conflito com eles há muitas estações e que moramos bem longe do centro. Mas, independentemente de os responsáveis por isso serem os elfos ou não, a dinâmica de poder e território nessa terra está confusa como não esteve em muito tempo.”

    O jovem rapaz se aproxima do pai e também começa a admirar a vila pela janela. “Já que a situação está incerta assim, vou avisar os caçadores para redobrarem a cautela e evitarem se afastar”, ele diz.

    “Também avise os xamãs. Não deve demorar muito para que os espíritos avisem a eles. Também peça que eles expliquem a situação para as famílias deles. De uma forma ou de outra, essa notícia vai se espalhar pela vila em breve. Seria um problema criar um clima de muita euforia nesse momento em que a floresta ainda está envolta em incerteza.”

    O rapaz-tigre assente com a cabeça. “Certo”, ele diz. “Acha que é muito cedo para mandar alguém até a cidade dos orcs para averiguar as informações?”

    “Ainda não há espíritos rondando por lá. Seria como entrar em uma caverna escura sem saber se os monstros lá dentro foram embora… ou se ainda estão esperando.”

    “Então, ao menos vamos ficar de olho no novo acampamento dos Traphus ao sul daqui”, diz Raviel. “Não importa quem tenha atacado o dragão, qualquer influência que venha do centro da floresta vai afetar aquela tribo de orcs muito antes da gente.”

    O velho tigre repousa o cachimbo na base da janela, fecha os olhos e entrelaça os dedos sobre o colo. “Vou rogar para que Sek continue nos protegendo de qualquer calamidade severa”, ele diz, em um gesto silencioso de devoção.

    Raviel esboça um sorriso humilde e leva a mão até o ombro do pai. “Estou certo de que a nossa deusa vai continuar ouvindo os pedidos do velho Khan”, ele comenta, com um brilho de esperança no olhar.

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