Capítulo 40: Forma Espectral
Foi tão de repente e indesejado. Tudo estava bom demais para ser verdade? Tudo era falso ou seria lhe tirado com alguma missão obrigatória com péssimas consequências?
A pupila dilatando parou o tempo de seu mundo. O que antes era sorriso, transformou-se em ansiedade e desespero, como assistir novamente a um filme que lhe traumatizou.
O coração estava batendo mais rápido do que um raio caminhando violentamente para o solo. O que os lábios não podiam gritar, a alma berrava por socorro.
Sistema de Jogo
Para que possa encontrar o fim de sua jornada e a realização dos desejos que tem em ver a família novamente, deve-se haver um progresso na história.
Seu medo em perder tudo de novo, guardado no lugar mais profundo de sua alma, não o permitia pensar com clareza alguma, tampouco ler com atenção o que lhe era oferecido.
Tudo estava cinza. Tanto os pés quanto as mãos formigavam sem um fim aparente. O chão rachava de pouco a pouco, junto de sua estabilidade emocional.
Seus bufos estavam tão agitados que fumaça saía de sua boca, mesmo na ausência do inverno. Em sua decisão interna de luta ou fuga, ele só queria não ver mais mensagem alguma.
O colapso começou. Seus pés não queriam mais estar ali e, agindo por vontade própria, recuou de forma desajeitada e apressada até que as costas encontrassem uma parede.
O equilíbrio desapareceu como as nuvens na noite, e uma queda vergonhosa foi inevitável. Encolheu-se com os joelhos e cobriu o rosto como uma criança assustada na ausência dos pais.
Não podia sentir nada senão a tremedeira que seu corpo inteiro doava ao exterior. Mesmo sem pensar nada, tampouco dizer, somente desejava que fosse tudo mentira.
Ş͘͢҉̵̀i̶͏͝҉s̸̡̛҉̡t̵̡͏è̕͞m̢̡a de Jo҉g͏ơ̵͝?̵̸̡
Se acalme, por favor.
Essa voz ecoou como a luz no fim do túnel. Como esperado de alguém em uma ansiedade tão grande, palavra alguma o atingiu, inutilizando a intenção desse desconhecido.
Ş͘͢҉̵̀i̶͏͝҉s̸̡̛҉̡t̵̡͏è̕͞m̢̡a de Jo҉g͏ơ̵͝?̵̸̡
Durma primeiro. Não poderemos conversar se você estiver nessas condições.
Dormir? Isso é algum tipo de piada de mal gosto? É a mesma coisa que pedir para um cachorro assustado não morder por instinto. Esse pensamento seria válido se esse ser não fosse um sistema.
Mais alguma coisa nasceu do nada. Um som repentino, porém agradável, veio junto de si, desaparecendo gentilmente como a ondulação do oceano.
Partículas em tom verde claro dirigiam-se até Ônix, abraçando-o com um calor ainda mais aconchegante do que o de uma mãe abraçando seu bebê.
Uma paz, ainda mais intensa do que o calmante mais forte poderia oferecer, foi imposta sobre Ônix, junto a uma grande sensação de sono profundo.
Pequenas mãos da mesma cor repousaram sobre suas pálpebras. Sussurrando com uma voz familiar, desejou que ele tivesse sonhos agradáveis o suficiente para fazê-lo adormecer sem incômodo.
Era para ele estar dormindo, sem nem ver o tempo passar, mas, por um motivo que ele não sabia qual, tudo só estava escuro e aconchegante o suficiente para não fazê-lo tremer.
O motivo disso era oculto, mas plausível: o sistema sabia da sua maldição. Se ele realmente fosse dormir naquela hora, seria pior, pois iria sonhar com a história de um dos mortos.
Sendo assim, a solução mais favorável foi permitir com que S6 viesse ajudá-lo. O que estava fazendo era forçar um estado inconsciente que Ônix não poderia ter normalmente.
Enquanto observava, aquele sistema azulado transformava-se em partículas lentamente. Em poucos segundos, sua forma retangular já não se fazia mais presente.
Não demorou muito para que sua existência virasse névoa. Pouco depois, acumulou-se para dar vida a uma nova forma: um corpo humano, mas totalmente feito de poeira em tom azul.
Sentou-se no chão em um suspiro longo, com um olhar entristecido fixando o solo. Com uma voz cansada, compartilhou o que sua mente pensava consigo mesmo:
— Muito obrigado por ter vindo, Seis. Peço desculpas por ter te convocado de forma tão abrupta.
A voz ecoava tão profundamente quanto sua forma espectral. O sistema verde também usava a mesma forma, porém, com sua cor de origem compartilhada em seu sistema: verde claro.
Abraçava Ônix para ajudar com o máximo que podia. Seu calor especial servia de calmante, e sua presença garantia que nenhum incômodo sequer o tocaria.
O olhar era tão profundo e claro quanto observar o céu no pôr do sol. Com uma voz mais marcante do que um Bis Chocolate Branco, respondeu:
— Não tem problema, Zero. Eu agradeço muito por ter me escolhido para ajudar nessa situação.
Foi dessa forma que o tempo encontrou refúgio na paralização. Enquanto Ônix se recuperava na escuridão, os sistemas apenas aguardavam em silêncio, com os olhos fechados.
O batimento cardíaco estava tão lento quanto um caracol em velocidade máxima. A respiração era tão suave que o som se expandia como o apito no fim da copa do mundo.
O cansaço que esmagava seu corpo já não mais existia. As mãos da angústia que apertavam impiedosamente o coração tinham virado poeira.
Um calor aconchegante apalpava suas pálpebras com carinho, como se desejasse abri-las. Uma névoa, verde e carinhosa, sussurrava enquanto desaparecia:
— É hora de acordar. Tá tudo bem agora.
Seus olhos universais abriam-se gentilmente. A escuridão não o assustava mais, e o medo da perda que impregnava seu peito havia ido embora com o incômodo.
As costas encontravam o gélido chão. Faz quanto tempo desde que seu “sono” forçado tinha terminado? Um dia? Uma semana? Bem, isso não importa agora.
Ao levantar-se, o Sistema Zero em sua forma humanoide ainda estava à sua espera, e a hora para conversarem pela última vez havia finalmente chegado.
— Está calmo o suficiente agora? Peço desculpas pela conversa repentina comigo.
Diferente de um certo sistema ciano, ele era tão calmo e educado que parecia bom demais para ser verdade. É natural sentir suspeitas nessa situação incomum.
Ônix lembrou-se do terror que sentiu assim que viu um dos sistemas. Suas experiências que teve até então não foram nada agradáveis, criando as raízes de mais um trauma para carregar.
Mesmo que tenha sido algo compreensível, a flor da vergonha floresceu como uma floresta no seu coração, deixando suas próximas palavras previsíveis para nós:
— Eu… Tô sim. Desculpa por ter me assustado antes.
A surpresa invadiu os olhos de Zero sutilmente. Nem mesmo seu conhecimento infinito foi capaz de prever as desculpas que aquele humilde garoto havia pedido.
Por que se desculpar? Quando a ansiedade domina o território do coração, há poucas coisas no mundo que a impeçam de florescer. Para ele, tais desculpas eram incompreensíveis, mas gentil.
— Tá tudo bem, não precisa se preocupar com isso. Por favor, ouça com atenção o que eu vou te dizer…
O que viria em seguida? Uma missão em que veria mais pessoas morrendo? Dessa vez, seres humanos? Enquanto imaginava o pior, o melhor lhe foi presenteado:
— Durante alguns dias, missão alguma mais vai te perturbar. Você pode descansar e aproveitar com a família que tem agora. Descanse, sorria, se divirta, dê diversão aos outros, você merece tudo isso. Sua missão exclusiva chegará em breve, mas a recompensa vai ser o que você mais deseja ter de volta.
Encantador, quase inacreditável. Depois de tanto sangue, lágrimas que caíram e as que não poderiam mais sair, o forte desejo de paz finalmente seria realizado?
Enquanto custava acreditar no que lhe era falado, o sol voltava a brilhar pouco a pouco. Seu corpo, dos pés à cabeça, começava a se dissipar em sombras. Antes que a conversa fosse encerrada, Zero disse com toda sinceridade:
— Espero que aproveite com tudo, meu pequeno garoto. Sua nova família pode te trazer a paz que busca. Enquanto você supera dores inimagináveis, eu assistirei sua superação no segundo assento.
Próximo Capítulo: Sorriso na Escuridão.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.