Capítulo 18 – O Despertar da Besta
Separando-se de Íris, Bruno saiu pela porta, trancando-a atrás de si para mantê-la segura enquanto estivesse fora.
Ele caminhava pelas ruas em direção ao mercado, mas algo estava errado.
— Onde estão os infectados? — ele se perguntou enquanto olhava os arredores.
O silêncio era perturbador. Os poucos que via estavam dispersos, distraídos, perseguindo cachorros que latiam desesperados. A cena parecia errada, e isso o deixou ainda mais alerta.
Quando finalmente alcançou a rua do mercado, ainda a uma certa distância, um mal-estar violento o atingiu. Uma onda de fraqueza tomou suas pernas, os pulmões falharam como se o ar ao redor tivesse sumido, e o mundo girou. Veias negras começaram a se espalhar por seus braços, pulsando como se algo estivesse rastejando sob sua pele. Seus músculos tensionaram de repente, um espasmo doloroso percorrendo todo o seu corpo. Ele tentou avançar, mas tropeçou, cambaleando até a calçada, onde se apoiou contra uma parede.
Então veio o puxão. Algo invisível o forçou a arquear as costas de maneira antinatural, um estalo sinistro percorrendo sua coluna. Ele ergueu o rosto para o céu, gritando em agonia. Veias negras se destacavam em sua pele avermelhada, enquanto seus olhos brilhavam em um vermelho intenso, com a parte branca sendo tomada por um negro profundo.
E, de repente, acabou.
O ar voltou a preencher seus pulmões, e ele arfou, ofegante.
— Era uma alucinação. Só podia ser. Mas o que aquilo significava? — ele se perguntou enquanto tentava entender o que acabava de acontecer.
Mas antes que pudesse processar o ocorrido, um infectado se aproximava, atraído por sua vulnerabilidade momentânea. Bruno o viu no último instante e agiu por instinto. Esquivou-se por baixo dos braços do monstro, posicionando a perna atrás dele e o empurrando com força no peito. O infectado tombou para trás, caindo com um baque seco na calçada.
Num movimento fluido, Bruno trocou a faca de mão e saltou sobre o inimigo caído. Segurou seus cabelos com brutalidade, prensando sua cabeça contra o chão. Então, sem hesitar, começou a golpear o pescoço da criatura, a lâmina afundando na carne repetidas vezes. O sangue espirrava quente, tingindo seu braço e a calçada ao redor. Ele continuou, golpe após golpe, até que o infectado finalmente parasse de se debater.
O silêncio retornou.
Bruno ficou ali, ajoelhado sobre o cadáver, o peito subindo e descendo em respirações pesadas.
Bruno se levantou, a respiração pesada, e continuou seu caminho. A faca ainda gotejava sangue, deixando um rastro escuro pelo chão.
Ao chegar ao mercado, atravessou o portão escancarado, arrombado pelos infectados no dia anterior. O cheiro pútrido tomou suas narinas, e assim que seus olhos percorreram o interior do local, ele soube.
Ele estava sozinho.
O mercado, que antes abrigava aqueles que ele tentava proteger, agora era um cemitério de corpos dilacerados. Membros espalhados, carne retorcida, ossos à mostra. O rastro de destruição era brutal, impiedoso. Os cadáveres estavam tão mutilados que muitos eram irreconhecíveis.
O coração de Bruno disparou. Sua visão começou a embaçar conforme lágrimas se acumulavam em seus olhos. Mas algo estava errado… Seu reflexo em uma vidraça quebrada revelou o que ele já sentia: os olhos haviam mudado de cor novamente.
Foi então que os viu.
Na escada que levava ao escritório, pedaços do corpo de sua irmã, Samira, estavam espalhados. A imagem o atingiu como um soco no estômago. Seu corpo se contraiu em um espasmo de puro choque. Samira…
A coitada foi reduzida a restos irreconhecíveis. O que fizeram com ela não foi apenas assassinato. Foi crueldade. Selvageria.
O mundo ao redor ficou mudo.
Lágrimas escorreram pelo rosto de Bruno… vermelhas como sangue. Seu corpo tremeu. Mas não era só tristeza. Era algo mais profundo. Algo que crescia e se retorcia dentro dele.
Fúria.
Com um rugido sufocado, ele se ajoelhou e socou o chão. O impacto fez seus punhos arderem, mas ele não parou. Socou de novo. E de novo. Seu choro se misturava a sua respiração ofegante, enquanto as veias de seu corpo escureciam, pulsando com uma energia grotesca. O brilho vermelho de seus olhos se intensificou, ardendo como brasas vivas.
Então, ele se ergueu.
Bufava como um animal encurralado. O calor subia por seu corpo como uma febre de ódio. Seus músculos estavam tensos, seus dentes cerrados. Ele rosnava, um som gutural e monstruoso, como um pitbull raivoso prestes a dilacerar sua presa.
— Agora… o sangue será pago com sangue. — murmurou, mas sua voz já não era mais sua. Ela ecoava distorcida, grave e demoníaca.
Bruno caminhou até o carro que haviam usado no dia anterior. Abriu a porta, pegou a marreta e, num golpe brutal, bateu a arma contra a lataria do veículo. O barulho ecoou pelo mercado, um estrondo de fúria que cortou o silêncio mórbido.
Ele ergueu a cabeça, os olhos brilhando como faróis no escuro.
Então, gritou.
Um rugido bestial, ensurdecedor, um chamado para o inferno.
Os infectados viriam.
E ele os estaria esperando.
***
Sentada em uma cadeira, Íris chorava em silêncio, os olhos perdidos nas frestas da cortina, tentando enxergar o céu mesmo sem se aproximar da janela. Seu peito subia e descia em soluços contidos, enquanto sua mente vagava pelos bons momentos que vivera com sua família. Momentos que agora pareciam tão distantes quanto as estrelas.
Os corpos espalhados pela casa eram um lembrete cruel do que havia sido tirado dela. Evitava olhar para eles. Não queria ver no que haviam se transformado. Não queria aceitar a realidade esmagadora da morte.
Já fazia cerca de uma hora desde que Bruno saíra. O peso do silêncio e a presença sufocante dos cadáveres tornavam a espera insuportável. Cansada de tentar ignorar o inevitável, ela se levantou da cadeira.
Com passos hesitantes, aproximou-se da janela. Sabia que não teria a menor chance caso um infectado a atacasse, por isso agiu com cautela. Encostou-se na parede ao lado da vidraça, espiando através das cortinas antes de arriscar qualquer movimento.
— Parece que está tudo limpo por aqui perto… Mas, por via das dúvidas, melhor dar uma olhada mais de perto antes de arriscar levar os corpos para fora. — murmurou para si mesma, a voz embargada pelo medo.
Inspirou fundo e seguiu até a porta, abrindo-a com extremo cuidado para não chamar atenção.
Colocou apenas a cabeça para fora, os olhos varrendo cada canto da rua. Seu coração disparou, esperando ver algo se mover nas sombras. Mas nada. Apenas silêncio. Apenas corpos esquecidos, pedaços de gente e animais espalhados pelo asfalto como restos de um massacre sem sentido.
Ainda cautelosa, abriu a porta por completo. A brisa fria tocou sua pele, arrepiando-a. Pegou uma pedra da calçada e a colocou no pé da porta, garantindo que não se trancaria para fora.
Agora vinha a parte difícil.
Íris respirou fundo e voltou para dentro da casa. Precisava se livrar dos corpos.
Com esforço, começou a arrastá-los um por um, sentindo os músculos queimarem a cada puxão. O cheiro de sangue e podridão impregnava o ar, revirando seu estômago, mas ela se forçou a continuar. Não queria que ficassem próximos da entrada, então os largava no meio da rua, o mais longe possível.
Quando terminou, estava exausta e coberta de suor. Entrou de volta, fechando a porta, mas hesitou antes de trancá-la. Bruno poderia voltar a qualquer momento, e não queria dificultar sua entrada.
As horas se arrastaram.
O sangue espalhado pela casa começou a incomodá-la, assim como a demora de Bruno. A ansiedade crescia, irritando-a cada vez mais.
— Merda… — murmurou, passando a mão pelo rosto.
Sem conseguir mais esperar parada, pegou um pano e começou a limpar. O trabalho pesado a ajudava a distrair a mente, tornando a espera menos agonizante. Esfregava o chão com força, tentando apagar as manchas de sangue, como se pudesse apagar o horror que acontecera ali.
O dia começou a se despedir, e Bruno ainda não havia voltado.
Íris sentia o desconforto se transformar em angústia. Não aguentava mais. Andava de um lado para o outro, roendo as unhas, a preocupação latejando em sua cabeça.
E então, a noite caiu.
A casa mergulhou na penumbra.
Foi quando ouviu o barulho na porta.
Seu coração disparou.
Bruno!
Abandonou tudo e correu para a sala, pronta para recebê-lo. Mas quando chegou lá, congelou.
Não era Bruno.
Dois homens estavam parados na entrada, olhando para ela. Jovens, talvez um pouco acima dos vinte anos. O mais alto, magro e de olhos fundos, abriu um sorriso largo e nojento.
— Olha só que belezinha temos aqui, Neguim… — disse ele, encarando-a com um olhar predatório.
O outro, mais baixo e robusto, riu baixo, os olhos brilhando com más intenções.
— É, Breno… acho que o fim do mundo finalmente começou a sorrir pra gente.
Antes que Íris pudesse reagir, ele avançou e a agarrou pelo pescoço.
O pânico explodiu dentro dela.
Totalmente indefesa, Íris percebeu que sua única chance de escapar era gritar. Se conseguisse chamar a atenção dos infectados para dentro da casa, talvez tivesse uma oportunidade de fuga.
Mas antes que pudesse abrir a boca, sentiu o primeiro golpe.
— Cala a porra da boca! — rosnou o mais alto, desferindo um tapa forte contra seu rosto.
O outro aproveitou para puxá-la pelo braço, seu olhar brilhando com intenções doentias. Íris se debateu, mas era inútil. Eles eram muito mais fortes, corpos largos, músculos rígidos. Eram até mais imponentes que Bruno.
A respiração dela acelerou. O coração batia descontrolado.
O mais baixo segurou sua roupa com força e a rasgou sem hesitação.
Íris começou a chorar, os olhos arregalados, implorando em silêncio. Mas quando o encarou, ele se irritou.
— Não me olha assim, sua ruiva puta do caralho! — rugiu, fechando a mão e socando seu rosto com brutalidade.
A dor explodiu em sua cabeça. O gosto metálico de sangue encheu sua boca.
Ela caiu no chão, tonta, sentindo o mundo girar. Antes que pudesse reagir, ele a puxou pelos cabelos, forçando seu rosto para cima.
— Vamos aproveitar essas roupas que cê rasgou do corpo dela e usá-las pra amarrar as mãos e calar a boca dela. — sugeriu o mais alto, um sorriso cruel se formando em seu rosto.
Íris tentou gritar, mas antes que conseguisse, enfiaram um pedaço de pano em sua boca, sufocando seus protestos. Seus braços foram puxados para trás, os pulsos apertados com tiras do próprio tecido.
Seu rosto ardia dos socos. Seu olho esquerdo estava roxo, o direito inchado.
A escuridão da casa parecia engolir sua esperança.
E ninguém viria ajudá-la.
Os dois continuaram abusando dela, um de cada vez, rindo e trocando comentários nojentos sobre o quanto ela era gostosa e o quão sortudos eram.
A noite foi cortada por relâmpagos, iluminando brevemente a cena de horror. Íris mal conseguia reagir, seu corpo moído, sua mente oscilando entre dor e desespero.
Então, de repente, tudo ficou escuro.
O apagão engoliu a região em trevas.
O vento sibilou lá fora, e um silêncio sepulcral tomou conta da casa.
A porta da sala se abriu sozinha, rangendo como um aviso de morte.
No meio da escuridão, uma silhueta emergiu.
Dois olhos vermelhos brilharam como brasas, iluminando o breu. A presença que invadiu o ambiente parecia tornar o ar mais denso, mais pesado, como se sugasse todo o oxigênio. Os dois homens sentiram seus corpos tremerem, como presas encurraladas diante de um predador desconhecido.
A criatura rosnou.
O som reverberou pela casa como um trovão abafado, carregado de ódio e sede de sangue.
O medo escorreu pelo rosto dos agressores.
De repente, a energia voltou, e a cena ficou completamente visível.
Íris estava caída no chão, destroçada, coberta de hematomas, sangue e humilhação.
E à sua frente, Bruno.
Mas não era o Bruno que ela tinha visto antes.
Ele estava coberto de sangue, os fios pingando e sujando o chão a cada passo. O cheiro metálico e espesso invadia o ar, misturando-se com o suor e a podridão. O dia inteiro ele havia matado, estraçalhado infectados, e agora estava diante de uma nova presa.
Seus olhos não eram mais humanos.
As veias negras pulsavam por todo o seu corpo, dilatadas como se algo estivesse prestes a explodir de dentro dele. A pele escura agora estava avermelhada, como brasa incandescente, e vapor subia de seu corpo, distorcendo o ar ao seu redor.
Bruno largou a marreta no chão, o som surdo ecoando como um desafio.
Os dois tentaram se recompor, mas seus corpos se recusavam a obedecer.
— O… o que porra é isso? — gaguejou Breno, o mais alto, dando um passo para trás.
O outro apenas encarava, petrificado, suando frio.
Um grito de guerra monstruoso ecoou pela casa, reverberando como um trovão infernal.
Bruno se lançou contra o menor dos dois com uma velocidade sobre-humana. O homem, ainda em cima de Íris, mal teve tempo de reagir. Seu instinto gritou antes de sua mente entender o que acontecia, e ele se jogou para o lado no puro reflexo do desespero.
Bruno avançou tão rápido que não conseguiu parar a tempo, e a força do próprio golpe o jogou brutalmente contra a parede, rachando a estrutura com o impacto.
Antes que pudesse se recompor, o maior dos dois aproveitou para atacar.
Ele correu e saltou, desferindo uma voadora na direção do peito de Bruno.
Bruno, no entanto, agarrou sua perna no ar.
Com um movimento brutal, girou o homem como se fosse um boneco de pano e o lançou contra a parede com força absurda.
O impacto foi devastador.
O ar escapou dos pulmões do agressor num único gemido sufocado, e ele se contorceu de dor. Tentou escapar, mas Bruno já estava em cima dele.
O monstro tentou acertá-lo com um soco tão poderoso que, quando o homem desviou no último segundo, o punho atravessou a parede como se fosse feita de papel, abrindo um buraco.
Breno, pálido e trêmulo, recuou até onde o menor estava.
— Que merda é essa, cara…? — ele ofegou, o terror escorrendo por sua voz. — Que diabo de monstro é esse, Neguim…?
O menor dos dois não respondeu. Ele mal conseguia respirar, o corpo inteiro paralisado pelo pavor.
Bruno puxou o braço de dentro da parede. Seu punho estava destroçado, a pele esfolada revelando os ossos dos dedos.
Ele inflou os pulmões e soltou um rugido animalesco, um urro ensurdecedor que fez o chão vibrar.
A fera avançou.
Neguim tentou correr pela casa.
Não teve chance.
Ficou encurralado contra a parede, sem saída, e Bruno não hesitou.
Os socos caíram como marretas, cada um carregado de uma fúria inumana. Os ossos do desgraçado começaram a ceder, estalando e se quebrando sob os impactos avassaladores. Cada golpe abria um buraco no corpo, esmagava músculos, fazia sangue espirrar em todas as direções.
Breno, apavorado, tentou atacar Bruno por trás, saltando sobre ele para um golpe surpresa.
Não funcionou.
Bruno se virou com uma velocidade absurda e o agarrou pelos cabelos no ar.
Com uma rasteira brutal, derrubou Breno no chão.
O homem tentou se debater, mas Bruno plantou o pé no peito dele, prendendo-o com um peso impossível de resistir.
Sem hesitar, agarrou os braços do desgraçado e puxou.
Os músculos começaram a rasgar.
Os tendões estalaram como cordas arrebentando.
Breno urrou de dor, se contorcendo como um animal moribundo.
Bruno não parou.
Ele puxou mais.
A carne se dilacerou completamente, inutilizando os braços. Para garantir que nunca mais seriam usados, Bruno quebrou ambos.
O som dos ossos se partindo ecoou para sala, seguido por gritos agonizantes.
— Você gosta de abusar de mulheres indefesas, né, seu verme?! — Bruno rugiu, seus olhos brilhando como brasas ardentes.
Esmagou os joelhos de Breno com o pé, destroçando as articulações.
O homem gritava como um porco sendo esfolado vivo.
Bruno não tinha terminado.
Abaixou a calça do desgraçado e, com um único golpe brutal, arrancou-lhe o pênis.
O grito que veio a seguir foi o mais horrível de todos.
Breno se debatia, esperneava, seus olhos revirando enquanto o sangue jorrava descontroladamente.
Bruno segurou o pedaço de carne mutilado e o enfiou contra a boca escancarada do homem.
— Abre a boca, filho da puta! ABRE! — ele rugia, forçando o pedaço goela abaixo.
Breno se debatia em puro horror, mas Bruno pressionou mais, até que ele começasse a engasgar.
— Agora tu vai comer o teu próprio pinto, seu arrombado! ENGOLE, CARALHO!
Então, sem aviso, Bruno ergueu o pé e esmagou o pescoço do homem com um único golpe, silenciando os gritos em um estalo grotesco.
Para finalizar, desferiu um pisão devastador no rosto do miserável.
O crânio explodiu.
O sangue e os pedaços de cérebro espirraram pelo chão, pelas paredes, por Bruno.
O silêncio tomou conta do ambiente.
A fera respirava pesadamente, seu peito subindo e descendo como um animal recém-libertado da jaula.
E no meio da destruição, coberta de dor e terror, Íris apenas olhava.
Ele caminhou até a sala, onde Iris se debatia, tentando se escorar no sofá, o corpo trêmulo, os olhos inchados de tanto chorar. As mãos e os pés ainda amarrados, a boca entupida de pano, sufocando cada vez mais sua respiração ofegante.
Bruno se aproximou em silêncio, o olhar pesado como uma sombra assassina. Iris congelou. O medo a tomou por completo. Por um instante, pensou que ele fosse matá-la também.
Sem dizer nada, Bruno a pegou no colo, nua, os músculos tensionados sob a pele avermelhada e suja de sangue. Iris se debateu, os punhos acertando o rosto dele, os pés chutando seu corpo com toda a força que ainda lhe restava. Mas Bruno não reagiu. Apenas a colocou no sofá e, com as próprias mãos, rasgou as amarras dos pés dela.
O primeiro reflexo de Iris foi um chute direto na cara dele. Mas, mesmo com o impacto, ele permaneceu ali, imóvel. As veias negras ainda pulsavam em sua pele, e dos olhos rubros escorriam lágrimas misturadas com sangue. Foi nesse momento que ela percebeu. Aquilo ainda era Bruno. Não um monstro. Não um mutante. Apenas Bruno.
O medo cedeu espaço a uma nova onda de lágrimas quando ela estendeu as mãos para ele, permitindo que a desamarrasse. Antes de soltar seus pulsos, Bruno arrancou o pano ensopado de saliva de sua boca. Iris tentou falar, mas sua voz não saiu. Nem sabia o que dizer.
Assim que suas mãos foram libertadas, ela o agarrou com força, afundando o rosto no peito dele, chorando descontroladamente. Seu corpo tremia, destruído pelo trauma, pela dor, pela humilhação.
Bruno a afastou com cuidado, sem olhar diretamente para ela. Sua voz saiu rouca, carregada de uma fúria ainda latente.
— Se levanta e vai tomar um banho… A gente vai sair daqui.
Iris não respondeu. Apenas obedeceu, arrastando-se pelo corredor, os pés descalços sujando ainda mais o chão ensanguentado. No caminho, seus olhos captaram os corpos destroçados dos dois homens. O estômago revirou. O ar ficou mais pesado. Mas ela não parou. Apenas pegou outra roupa no quarto e entrou no banheiro, onde deixou a água quente escorrer sobre sua pele machucada, tentando lavar o horror daquela noite.
Enquanto Iris tomava seu banho, Bruno caminhava até o corpo do menor, seus movimentos estranhos, como se fosse possuído pela sede insaciável de sangue. Ele se aproximou do cadáver e, sem hesitar, enfiou a mão dentro do corpo do homem. Arrancou o coração com uma força brutal e, segurando-o acima de sua boca, começou a espremê-lo. O sangue escorria, pingando dentro de sua boca, enquanto ele bebia como se fosse a única coisa que o mantivesse vivo.
Quando terminou, Bruno se afastou do corpo, a respiração pesada, e começou a voltar para a sala. Mas, ao passar em frente ao banheiro, seu corpo vacilou, e ele caiu no chão, desmaiado.
O barulho da queda fez Iris se assustar. Ela rapidamente abriu a porta e, ao vê-lo no chão, correu até ele. Seu corpo parecia ter voltado ao normal, mas algo estava diferente. O cabelo de Bruno, antes escuro, agora estava entremeado com fios brancos e pretos nas laterais.
Ela, ainda tremendo com a cena anterior, puxou-o para dentro do banheiro com esforço. Cuidou dele como podia, tirando suas roupas e começando a limpar seu corpo com toda a delicadeza que ainda restava em meio àquele caos. Ensaboou cada parte dele, tirando o sangue e o cheiro de morte que o cercava.
Quando terminou de limpar seu corpo, percebeu algo surpreendente. A mão de Bruno, que antes estava machucada, parecia ter se curado completamente, como se nunca tivesse sido ferida. A inquietação tomou conta de Iris, mas ela não teve tempo de processar. O medo e o cansaço a consumiam enquanto ela se concentrava em cuidar dele, esperando que ele acordasse.

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