Capítulo 10 – Onde Tudo Começa
Uma semana se passou desde o grandioso aniversário de Kaito. A mansão Ignivor, normalmente movimentada com as responsabilidades dos seus membros, experimentava um breve momento de tranquilidade. Haruki e Hiroshi, ocupados com seus deveres, conseguiram finalmente um tempo livre e decidiram que era o momento certo para uma viagem especial, apenas os três — avô, pai e filho. Kaito, sem entender completamente o motivo da viagem, apenas aceitava. Curioso, ele tentava arrancar mais informações, mas tudo que recebia eram olhares cúmplices e um vago “Você entenderá no caminho”.
Antes da partida, Kaito ainda tinha compromissos na Academia Real. Ele decidiu encontrar-se com Lianna para almoçar no refeitório. O refeitório era um espaço amplo, que refletia a grandiosidade da academia. As paredes eram decoradas com bandeiras das principais famílias nobres do reino, incluindo os Ignivor e grandes vitrais permitiam a entrada de luz natural, iluminando as longas mesas de carvalho escuro dispostas em fileiras ordenadas. O teto alto abrigava candelabros de cristal que, à noite, criavam um espetáculo de luzes, dando um ar majestoso ao ambiente.
Lianna estava esperando em uma das mesas mais próximas às janelas. Assim que Kaito se aproximou, ela sorriu e fez um gesto para que ele se sentasse.
– Você parece pensativo hoje – comentou ela, enquanto pegava um pedaço de pão.
Kaito suspirou, sentando-se ao seu lado.
– Meu pai e meu avô decidiram que vamos fazer uma viagem. Partiremos amanhã ao amanhecer.
– Uma viagem? Para onde? – perguntou Lianna, franzindo a testa com curiosidade.
– Não tenho ideia. Eles estão mantendo isso em segredo. Só disseram que vou descobrir o motivo no caminho – Kaito deu de ombros, pegando sua taça de água.
Lianna olhou para ele com um toque de preocupação. – Isso parece… misterioso. Mas tenho certeza de que eles têm um bom motivo. – Ela sorriu, tentando tranquilizá-lo.
– Espero que sim. – Kaito respondeu com um sorriso breve. – Vou estar de volta em alguns dias, não se preocupe.
– Claro, vou passar na sua casa amanhã cedo para me despedir – disse Lianna, resoluta.
Eles continuaram conversando e terminando a refeição com tranquilidade, até que finalmente precisaram voltar para suas respectivas aulas. A mente de Kaito, no entanto, permanecia inquieta, ocupada com as possibilidades do que essa misteriosa viagem poderia representar.
No dia seguinte, ao amanhecer, Lianna chegou à mansão Ignivor. A mansão, imponente como sempre, parecia ainda mais solene àquela hora. O sol nascente iluminava suavemente a fachada branca, refletindo nas grandes janelas ornamentadas com detalhes dourados. O longo corredor da entrada, com pisos de mármore polido e tapeçarias vermelhas, guiava qualquer visitante em direção ao salão principal.
Lianna subiu a escadaria de carvalho escuro que levava ao segundo andar, onde o quarto de Kaito ficava, no fim do corredor. O silêncio reinava na mansão, com apenas o som leve de seus passos ecoando pelas paredes. Ao chegar à porta de Kaito, ela bateu suavemente.
– Kaito? – chamou ela.
Nenhuma resposta. Ela bateu novamente, desta vez um pouco mais forte, mas ainda assim, silêncio. Lianna olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estava observando, e, hesitante, abriu a porta.
Kaito estava deitado na cama, envolto em lençóis desalinhados. Ele parecia estar preso em um sono agitado, o rosto coberto de suor e os músculos tensos. Preocupada, Lianna se aproximou lentamente, observando-o por um momento antes de balançá-lo gentilmente pelo ombro.
– Kaito, acorda… – sussurrou, mas ele não respondeu, continuando a se debater no sono. Ela tentou de novo, desta vez com mais força, até que ele finalmente abriu os olhos de repente, respirando ofegante.
– Lianna…? – ele disse, piscando enquanto tentava se orientar.
– Você estava tendo outro pesadelo, não estava? – perguntou ela, sentando-se ao lado dele na cama, os olhos preocupados.
Kaito passou a mão pelo rosto, ainda tentando recuperar o fôlego. – Sim… era o mesmo sonho de sempre.
– A mansão em chamas? – Lianna perguntou, já sabendo a resposta.
– Sim – ele disse, o olhar distante.
– A mansão em ruínas, consumida pelo fogo. Eu não sei o que isso significa, mas parece tão real…
Lianna tocou sua mão, oferecendo conforto.
– Talvez seja apenas sua mente tentando lidar com tudo que tem acontecido. A pressão, as responsabilidades… Mas estou aqui, e você está bem. É isso que importa.
Kaito a olhou nos olhos e, por um momento, sentiu-se aliviado. Ele sorriu levemente e se inclinou para lhe dar um beijo em sua bochecha.
– Obrigado por me acordar. Acho que tinha até esquecido que hoje era o dia da viagem.
– Você vai se atrasar se não se apressar – disse Lianna, sorrindo. – Eu vou descer para a sala de estar. Vá se arrumar.
Kaito concordou, levantando-se da cama. Ele foi em direção ao banheiro enquanto Lianna desceu para esperar na sala de estar.
Depois de algum tempo Kaito se juntou a sua família para o café da manhã, cumprimentando seus pais e avôs, já prontos para a partida. A refeição foi breve, e logo os três homens da família Ignivor estavam prontos para deixar a mansão. Lianna esperava na porta para a despedida.
– Volte em segurança – disse ela, abraçando-o.
– Eu voltarei – prometeu Kaito, sorrindo antes de montar no cavalo ao lado de seu pai e avô.
E assim, os três partiram, cavalgando em direção ao interior de Imperion, rumo à Floresta das Sombras, deixando para trás a segurança e o conforto da capital Pyronia.
Os três cavalgavam pela estrada de terra, deixando a capital Pyronia para trás. O sol brilhava forte, suas sombras projetadas no chão empoeirado à medida que seguiam em direção à Floresta das Sombras. Kaito, Haruki e Hiroshi se alinharam lado a lado, as rédeas firmes em suas mãos enquanto o vento fresco balançava seus cabelos. Era uma manhã agradável, a paisagem ao redor era vasta, com campos verdes e algumas colinas ao longe.
– Kaito – Haruki quebrou o silêncio, olhando de canto para o filho –, você já pediu a mão de Lianna?
Kaito, pego de surpresa, corou instantaneamente. Seu rosto ficou vermelho como seus cabelos, e ele tentou disfarçar, puxando as rédeas do cavalo para diminuir a velocidade. – Como é? – perguntou, tentando parecer desentendido.
Haruki sorriu maliciosamente, e Hiroshi soltou uma gargalhada alta que ecoou pelo campo.
– Não se faça de desentendido garoto! – Hiroshi provocou, batendo no ombro do neto com o punho fechado. – Estamos falando de casamento! Você vai pedir ou não?
Kaito olhou para o chão, embaraçado.
– Eu ainda não pedi… — confessou.
– E por que não? – Hiroshi perguntou, sua voz carregada de curiosidade. – Qual é a hesitação?
Kaito suspirou profundamente antes de responder. – Eu… não sei se estou pronto. E se ela disser não? E se eu fizer o pedido da maneira errada? Eu não tenho experiência com isso… – Ele parecia mais preocupado do que o normal, claramente se sentindo pressionado com a ideia.
Haruki riu, balançando a cabeça enquanto olhava para o filho. – Ah, Kaito. – Ele sorriu. – Você está complicando demais. Lianna é jovem, bonita, inteligente, e de uma boa família. Eu sei muito bem que há outros garotos esperando você cometer um erro, só para se aproximarem dela. Você não pode deixá-los vencer, meu filho.
Kaito ergueu os olhos, olhando para o céu azul claro, suas mãos segurando as rédeas com força. Ele começou a imaginar a cena: ele de pé no altar, vestindo um traje nobre, e Lianna caminhando na direção dele, com um vestido branco deslumbrante, seus olhos brilhando com carinho. Era uma visão tão perfeita que seu coração acelerou. Uma ideia tomou conta de sua mente.
– Quando voltarmos… – Kaito começou a falar devagar, como se estivesse tomando uma grande decisão naquele momento.
– Quando voltarmos dessa viagem, eu vou pedir a mão de Lianna em casamento.
Hiroshi sorriu com orgulho, mas antes que pudesse falar, Kaito continuou, ansioso.
– Eu só preciso do anel certo, das flores perfeitas, chocolates, o lugar ideal, a música… ahh, são tantas coisas!
Haruki e Hiroshi explodiram em gargalhadas mais uma vez. – Garoto, não precisa de tudo isso! – disse Haruki, ainda rindo. – Um anel, talvez. Mas o resto? Ela não está esperando um grande espetáculo. Se você a levar para um lugar bonito e for sincero, ela vai aceitar, se ela realmente te amar. Não precisa complicar.
Hiroshi balançou a cabeça concordando, ainda com um sorriso no rosto. – Amor verdadeiro não depende de grandes gestos, depende de honestidade. E, pelo que vejo, você tem isso de sobra.
Kaito, ainda meio confuso, balançou a cabeça, mas sorriu. Talvez estivesse exagerando. Talvez, como seu pai e seu avô disseram, tudo o que ele precisasse fosse o momento certo e a sinceridade de suas palavras. Ele olhou para o horizonte, sentindo-se mais confiante. Quando voltasse, ele pediria Lianna em casamento. Sem dúvidas.
Se passaram algumas horas o sol estava alto já era meio dia Haruki fala que a nova estação do ano já chegou a estação Embernoso e ela vai durar cerca de noventa dias.
O sol brilhava forte no céu quando o grupo parou em uma clareira à beira da estrada para descansar. O calor era sufocante, e Kaito limpou o suor da testa com as costas da mão. Ele olhou ao redor, sentindo o ar seco e a terra quente sob os pés, enquanto seus cavalos bebiam água de um pequeno riacho.
– Parece que a estação Embernoso chegou de vez – comentou Haruki, enquanto ajustava o chapéu para se proteger do sol. – O calor só vai piorar daqui para frente.
Kaito olhou para o pai e concordou, tentando ignorar o suor que escorria pelo rosto.
– Sim, está cada vez mais quente. Mas… não dura mais de noventa dias, certo?
– Ele sorriu, aproveitando a pausa para refrescar a memória sobre o calendário.
– Isso mesmo – respondeu Haruki, bebendo um gole de água de seu cantil.
– Todas as estações duram noventa dias. Esse é o ciclo do nosso ano no continente. Quatro estações mágicas que governam o clima.
Hiroshi, que estava de pé ao lado do cavalo, olhou para o neto com um olhar brincalhão.
– Não me diga que já esqueceu como funciona o calendário, garoto? – Ele deu uma risada baixa.
– Nós estamos no ano 450, nós seguimos o ciclo de Primaverastral, Embernoso, Aquatonos e Verdatum. Sempre foi assim.
Kaito deu uma risadinha sem graça. – Eu sei, eu sei. Só… às vezes me perco um pouco com os nomes.
– Não te culpo – Hiroshi concordou, balançando a cabeça. – Primaverastral é fácil. Todo mundo lembra que é o começo do ano, quando a natureza começa a se renovar. Mas Embernoso… esse calor seco, os incêndios mágicos. – Ele fez uma careta. – Não sou fã dessa estação.
– Nem eu – Kaito riu. – Prefiro Aquatonos. Apesar das chuvas e inundações, pelo menos traz um pouco de frescor.
– Ah, Aquatonos é essencial – disse Haruki. – Sem ela, os rios e lagos não se recuperariam. E Verdatum… bom, Verdatum é quando tudo floresce. É a estação favorita da sua mãe, sabia? – Ele lançou um olhar nostálgico para o filho.
Kaito sorriu, lembrando-se dos campos floridos que cobriam o pais durante Verdatum. Era como se o mundo se tornasse um jardim gigante.
– Sim, ela sempre fala disso – respondeu Kaito, enquanto olhava para a floresta densa à frente. – E pensar que estamos apenas começando Embernoso… Temos um longo caminho de calor pela frente.
Haruki e Hiroshi riram, e o grupo retomou a viagem, o som das risadas ecoando enquanto eles seguiam em direção à Floresta das Sombras.
Depois de mais algumas horas cavalgando sob o calor implacável, Haruki fez um gesto para a esquerda, indicando a mudança de rota. Eles estavam saindo da Estrada do Rei, a via principal que conectava a capital Pyronia a outras grandes cidades de Imperion, e agora entrariam em um caminho mais estreito e pouco movimentado.
– Hora de pegarmos a Estrada das Brumas Negras – anunciou Haruki, olhando para Kaito e Hiroshi.
– Essa é a única que nos leva direto à Floresta das Sombras.
– Estrada das Brumas Negras? – Kaito repetiu o nome, um tanto intrigado.
– Nunca ouvi falar dessa.
– Não é muito famosa, só quem se aventura para esses lados conhece – respondeu Hiroshi. – Ela ganhou o nome por causa da neblina escura que às vezes cobre a área ao amanhecer, vindo dos pântanos ao norte. É quase sempre deserta.
Kaito olhou em volta enquanto cavalgavam, e percebeu que o caminho à sua frente era mais sombrio, com árvores espessas ladeando a estrada e bloqueando parte da luz do crepúsculo. O ar parecia mais denso ali, quase sufocante, e uma sensação estranha começou a se instalar em seu peito. Eles estavam entrando em territórios menos explorados, afastando-se da segurança da capital.
Atravessaram a Estrada das Brumas Negras por mais algumas horas, e o sol lentamente se escondeu no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados e vermelhos antes de dar lugar à escuridão da noite. Quando finalmente chegaram à entrada da Floresta das Sombras, o ambiente já estava completamente mergulhado na penumbra.
– Parece que vamos passar a noite por aqui – disse Haruki, puxando as rédeas de seu cavalo para parar.
– Não faz sentido entrar na floresta agora – Hiroshi concordou, descendo do cavalo com um leve gemido. – Além de ser perigoso, perderíamos a orientação facilmente.
Kaito também desceu, olhando para a vasta extensão de árvores à sua frente. A Floresta das Sombras era famosa por sua imensidão e por suas histórias de criaturas espreitando na escuridão. O vento soprava levemente entre as copas das árvores, emitindo um som assobiado, quase inquietante.
– Amanhã de manhã será mais seguro – concluiu Haruki, enquanto começava a armar o acampamento ao lado de uma grande rocha.
Eles acenderam uma fogueira para iluminar a noite e afastar o frio crescente. A luz das chamas lançava sombras longas e distorcidas nas árvores ao redor, e o som da floresta noturna parecia amplificado. Enquanto montavam suas barracas, o ar estava pesado, carregado com a sensação de que algo os observava, mas Kaito afastou esse pensamento, tentando se concentrar na viagem e no que seu pai e avô planejavam.
Sentado ao redor da fogueira, Kaito não conseguia evitar de perguntar:
– O que vocês querem tanto me mostrar aqui?
Haruki e Hiroshi se entreolharam, um sorriso cúmplice no rosto, mas não responderam.
– Você verá – disse Haruki, deixando o mistério no ar. – Amanhã.
Ao amanhecer, o trio já estava de pé, prontos para enfrentar a Floresta das Sombras. O sol mal havia surgido no horizonte, mas as sombras da floresta densa bloqueavam grande parte da luz, tornando a entrada ainda mais misteriosa. O clima era frio e úmido, e uma leve neblina rastejava entre as árvores.
Eles montaram em seus cavalos e entraram na floresta. O silêncio era interrompido apenas pelo som dos cascos dos animais sobre o solo macio e pelas ocasionais rajadas de vento que faziam as folhas balançarem suavemente.
Depois de duas horas cavalgando por entre as árvores, Haruki levantou a mão, sinalizando para que todos parassem. Kaito observou seu pai e avô se encararem por um momento antes de Haruki fazer um leve movimento com a cabeça, indicando uma direção à esquerda, afastada da estrada principal.
– Por aqui – disse Haruki, com uma voz quase conspiratória.
Kaito olhou na direção indicada, mas tudo o que via eram árvores e arbustos. Porém, enquanto cavalgavam lentamente, algo começou a se revelar. A estrada que seguiam parecia desaparecer, coberta por galhos e folhas caídas, quase imperceptível a olhos desatentos.
– Uma estrada secreta? – Kaito perguntou, franzindo a testa. Ele então soltou uma risada curta, quase nervosa. – Tá, vocês tinham minha curiosidade… agora têm a minha atenção.
Haruki e Hiroshi sorriram, mas não disseram nada. Eles continuaram pela trilha oculta, que serpenteava para dentro da floresta. Depois de alguns minutos, os três desceram dos cavalos e seguiram a pé, levando-os pelas rédeas. O chão estava escorregadio, coberto de musgo e raízes expostas.
A caminhada foi longa, e o tempo parecia desacelerar naquele ambiente, com o som dos passos abafado pelas folhas e a quietude da floresta. Uma sensação de inquietação pairava no ar, como se algo antigo estivesse à espreita nas profundezas daquela vegetação.
Depois de mais de uma hora de caminhada, eles chegaram a um claro onde algo inesperado os aguardava. À frente, parcialmente enterrada pela terra e coberta de trepadeiras, havia uma estrutura de pedra. Era uma construção antiga, com sinais de decadência, mas ainda impressionante. A única parte visível era uma grande porta de metal que parecia incrivelmente resistente..
– O que… é isso? – Kaito perguntou, atônito, observando a entrada sombria que parecia conduzir ao subterrâneo.
Haruki e Hiroshi pararam, olhando para Kaito, que estava claramente confuso e fascinado.
– Aqui é onde tudo começa – disse Hiroshi, sua voz carregada de mistério.
Kaito engoliu em seco, sentindo uma mistura de excitação e apreensão. Ele se virou para a porta de metal à sua frente, a curiosidade tomando conta de seus pensamentos.
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