Índice de Capítulo

    Tac.

    Ao se abaixar para pegar a mochila, uma pedra do tamanho de um feijão acertou sua cabeça. Mas, sem sentir nada, Seol Jihu virou o corpo.

    Iiiih.

    Tac!

    — !

    Seol Jihu estremeceu. Levou a mão até o pescoço.

    — …Uma pedra?

    Esfregando um pedacinho de rocha entre o polegar e o indicador, ele rapidamente olhou ao redor do túmulo.

    !

    Ele viu claramente. A fumaça negra escondida atrás do túmulo.

    Os olhos de Seol Jihu se arregalaram como lanternas.

    — Santa?

    Ao correr para o outro lado, lá estava a nuvem de fumaça negra, encolhida num canto. Como se estivesse se escondendo.

    — V-você tava aí?

    …Hmph!

    — Por que tá se escondendo aqui…

    …Hmph!

    Uma Santa Fantasma fazendo bico.

    Enquanto Seol Jihu se mostrava confuso, a fumaça parecia tentar se afastar dele.

    Hmmmph!

    Não esqueceu de bufar antes de ir embora.

    — Espera aí!

    Seol Jihu hesitou ao estender o braço reflexivamente. Queria impedi-la de fugir, mas ao lembrar que fumaça não tinha forma física… não dava para agarrar.

    …É. Obviamente era isso.

    Nãããão! Solta!

    Foi agarrada?

    Para ser mais preciso, a fumaça parou no lugar assim que suas mãos a tocaram.

    Seol Jihu esfregou os olhos várias vezes diante da cena inacreditável.

    Era logicamente impossível. Quando agitava a mão, tinha certeza de que ela passava direto pela fumaça.

    Solta!

    Mas ela estava pedindo para ele soltar.

    Incapaz de raciocinar diante da confusão, Seol Jihu cambaleou para trás. A fumaça se virou e escapou.

    “Oh!”

    Recobrando os sentidos por pouco, Seol Jihu correu atrás dela às pressas.

    “A fumaça parou de propósito?”

    Esse pensamento lhe passou pela cabeça, mas naquele momento não importava. Disse a si mesmo que, sendo a alma da Santa Fantasma, a fumaça negra poderia ter propriedades diferentes das de um gás comum.

    Mas o que ele realmente não conseguia entender era por que a porta, que até então estava selada, agora estava escancarada.

    Seol Jihu gritou com urgência, invadindo a entrada.

    — Santa!

    A fumaça negra estava encolhida num canto. Seol Jihu se aproximou com cautela, como um caçador se aproximando da presa.

    — Ouvi dizer… que você expulsou as pessoas que vieram te visitar.

    Swish!

    Assim que disse isso, a parte superior da fumaça virou para o lado. Seria ilusão, ou ela virou a cabeça?

    Seol Jihu continuou falando como se estivesse acalmando uma criança emburrada.

    — Não acho que tenha se irritado sem motivo.

    — Posso saber o porquê?

    Como se sua gentileza tivesse surtido efeito, a fumaça começou a se mexer. Seol Jihu sentou-se com cautela ao lado dela. E esperou pacientemente, já que ela não parecia que tentaria fugir de novo.

    Depois de um ou dois minutos, uma voz veio da nuvem de fumaça inquieta.

    C-Cabelo rosa!

    — Cabelo rosa… A princesa?

    Mmm… é… Ela me irritou…

    — O que a princesa Teresa disse?

    E-Eu não sei.

    — Você… não sabe?

    Vamos resumir.

    Teresa disse algo errado e irritou a Santa Fantasma. E quando ele perguntou o que foi dito, ela respondeu com um: ‘Eu não sei’.

    “Mas o quê…?”

    Seol Jihu esfregou o rosto com as duas mãos.

    “O que é que caralhos eu deveria fazer?”

    Seol Jihu fechou os olhos em silêncio. De repente, lembrou-se de uma discussão acalorada que teve com Yoo Seonhwa.

    — Jihu. As pessoas são capazes de pensar logicamente, mas também são seres emocionais.

    — Viva a lógica!

    — A empatia também é importante. Como alguém consegue ser sempre racional?

    — Viva a razão!

    — Ei! Tô falando sério. Para de brincar.

    — Não sei. Me abraça.

    — Tá vendo? Você age todo mimado quando quer, e mesmo quando tá errado, fica exigente!

    — Mas você deixa.

    — É, tudo bem. Pode ser assim comigo. Porque eu gosto de você. Mas

    — Tão macia e fofinha…

    — H-h-hein!?

    “Eu era feliz naquela época…”

    Alheio ao próprio passado vergonhoso, Seol Jihu permaneceu imerso nas lembranças, voltando à realidade apenas quando uma voz ecoou em sua mente.

    Eu não consegui te achar… mas ela não parava de tagarelar e eu fiquei irritada…

    O quê? Como é que é?

    Seol Jihu desistiu de tentar entender. Embora tivesse certeza de que a princesa Teresa jamais faria algo assim, e que o certo seria ouvir os dois lados antes de julgar, ele decidiu ficar do lado da Santa Fantasma por enquanto.

    — A princesa estava errada.

    ?

    — Ela devia ter sido mais respeitosa quando visitou seu túmulo. Teria sido melhor se ela só tivesse ficado em silêncio.

    S-Sério?

    — Claro.

    V-Você também acha? Eu fiquei tão decepcionada porque você não veio, mesmo depois de esperar por tanto tempo. Mas ela ficava dizendo que você tava ocupado, que não podia vir, que eu tinha que entender, e ughh! Quase achei que ela tava inventando desculpas como se fosse sua esposa ou sei lá!

    A Santa Fantasma começou a tagarelar sem parar, como se nunca tivesse estado irritada. Seol Jihu agradeceu mentalmente a Yoo Seonhwa.

    — Enfim, foi tudo culpa da princesa Teresa.

    É, é. Você tem razão.

    Como se estar do lado dela a deixasse feliz, a fumaça negra saltitou animada. Parecia que o humor dela tinha melhorado, então era hora de passar para o ato principal.

    — Santa. Você não tá com fome?

    Hã?

    — Espera só um minutinho.

    Seol Jihu começou a tirar, um por um, os ingredientes que havia trazido. Depois, acendeu uma fogueira e colocou uma panela sobre ela.

    Ele sorriu ao ouvir o som da água fervendo.

    — Vou preparar uma refeição pra você.

    O que Seol Jihu havia preparado como presente de despedida era sua própria comida caseira. Chamava-se buddae-jjigae1.

    Buddae-jjigae certamente era algo incomum em Paraíso, mas como a maioria dos ingredientes era permitida, não foi difícil consegui-los.

    De qualquer forma, sua longa experiência morando sozinho o deixava confiante na cozinha e, acima de tudo, ele queria mostrar à Santa Fantasma um gosto de sua terra natal.

    Hehe.

    A Santa Fantasma começou a flutuar ao redor dele, como se estivesse interessada.

    O que é isso?

    — É ramen.

    E isso aqui?

    — É pimenta vermelha.2

    O quê!?

    — Não, espera!

    Pervertido!

    — Não foi isso que eu quis dizer!

    Uma Santa Fantasma gritando e um jovem aflito. Enquanto brincavam de forma caótica, o prato preparado com tanto carinho por Seol Jihu finalmente ficou pronto.

    Ao seu gosto habitual, ele cortou pimenta e cebolinha, e caprichou na pimenta em pó…

    Logo, o túmulo ficou tomado por um aroma picante e de dar água na boca.

    — Mmmm.

    Seol Jihu tomou um gole e estremeceu, indicando o quanto estava satisfeito com o prato. Ao lado dele, a Santa Fantasma, que já esperava fazia tempo, engoliu em seco.

    Como ela o havia importunado durante todo o processo de preparo, Seol Jihu lhe serviu uma concha bem cheia de buddae-jjigae.

    — Pode experimentar agora.

    Posso mesmo?

    — Sim. Mas tá quente, então assopra antes.

    Ao ouvir isso, a fumaça soltou pequenos sopros de ar.

    Fuu- Fuu-.

    Seol Jihu caiu na gargalhada ao ver algo parecido com lábios surgindo no meio da fumaça.

    Slurp.

    No momento em que a fumaça tocou o caldo…

    !?

    Ouviu-se um guincho agudo.

    — E aí, o que achou?

    Em vez de resposta, um jato d’água jorrou da fumaça.

    Mmph!

    — S-santa?

    Wah! Wah!

    Como um lança-chamas, uma rajada quente de ar saiu da fumaça.

    Picanteeee!

    Ele finalmente entendeu que a Santa Fantasma estava gritando por água. Seu tempero habitual devia ter sido demais para ela.

    Seol Jihu rapidamente pegou uma garrafa e borrifou água. A fumaça negra se atirou na poça que se formou no chão.

    Hnnng…

    Ao ver o espírito se contorcendo na água, Seol Jihu não sabia o que fazer, mas ao ouvi-la começar a choramingar, acabou caindo na gargalhada.

    Como explicar…? Era como um filhote lambendo água, e aquilo era simplesmente fofo demais de se ver.

    Encara!

    Foi atingido por um olhar fulminante. Tentou conter o riso, mas já era tarde. A fumaça negra começou a tremer de raiva e, depois de balançar um pouco, avançou contra ele.

    — Aaaah.

    Acertado pela investida repentina, Seol Jihu foi derrubado sem oferecer resistência.

    Malvado!

    — Desculpa! Aaah! Desculpa! Aaah!

    Você fez de propósito! Só pra me zoar!

    — N-não, juro que… aaah… não foi!!

    A cabeça de Seol Jihu foi mordida, e suas orelhas puxadas.

    Comparado a quando o pescoço do intruso foi torcido ou quando os Parasitas foram despedaçados, essa era uma punição bem mais leve.

    — Tá doendo, pfff! Tá doendo, pfff!

    Para de rir~!

    Por um tempo, o túmulo se encheu de uma cena inusitada: um jovem e um espírito brigando entre si.

    1. Buddae-jjigae: ensopado coreano feito com ingredientes como salsicha, spam, kimchi, macarrão instantâneo e vegetais.[]
    2. Pimenta vermelha, no coreano, dependendo do contexto pode ter um duplo sentido erótico.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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