Conforme o garoto sobe até a ilha montanhosa nevada, avista panoramicamente outros lugares interessantes.

    Entretanto, entre esses locais, há um cuja rota do fluxo não bate com as demais terras flutuantes.

    “Que esquisito… Aquela ilha é menor e se move só indo de cima pra baixo…”

    Pouco a pouco, as nuvens que obstruem a visão sobre essa ilha são dissipadas.

    É um… castelo?”

    Curioso, Raisel desliza os olhos mentalizando o trajeto que teria que fazer para ir até lá depois.

    “Deve ser mais rápido ir nesse castelo do que explorar outras ilhas…”

    Após mais alguns minutos, ele finalmente chega até a zona da ilha nevada.

    Ao entrar no território, na atmosfera desse espaço, a capacidade de levitação em Fyodor se anula. Um efeito que parece comum. Afinal, na ilha anterior ele também não podia voar.

    Despencando dos céus gélidos, o menino pousa na neve causando um buraco e, consequentemente, levantando-a.

    “Beleza… Pra começar, vou explorar atrás de recursos… Não vou emanar energia pra todos os lados como fiz antes, acho que isso pode atrair monstros igual eu chamei a atenção das árvores malditas.”

    Dando sequência ao pensamento, ele passa a caminhar com dificuldade pela espessa camada de neve.

    Esse lugar também é silencioso.

    Não tem cheiro, mas é muito úmido pela temperatura baixa.

    Gradualmente, as pegadas e o rastro na neve são fechados como consequência dos ventos gélidos.

    Nos ombros e na cabeleira do rapaz, o gelo vai se acumulando.

    Tsc… Mas desse jeito vai demorar uma eternidade…

    Com um único salto, ele se suspende no ar recolhendo as pernas, rompendo a monotonia da neve infinita.

    “Vou concentrar minhas forças nos meus membros inferiores e ir com tudo de uma vez só igual o vovô me ensinou!”

    Contraindo os músculos da perna esquerda, a ponta do pé toca minimamente a superfície de neve.

    A vibração circundante sobre essa região do corpo do garoto derrete o gelo brevemente num mínimo contato.

    Logo, ao liberar essa potência com o pisar momentâneo, ele destrói o solo fofo abaixo enquanto dispara para frente em grande velocidade.

    Intercalando essa movimentação com cada perna, os saltos utilizando Impetus permitem que ele siga velozmente na exploração.

    “Tem uma floresta ali na frente…”

    Antes de adentrar nesse espaço, Raisel diminui a velocidade até parar.

    De frente, ele observa os arredores enquanto caminha circundando a entrada desse ambiente.

    “As árvores parecem normais, mas são bem altas e finas… Não sinto a sensação de estar sendo observado…”

    Contudo, o garoto interrompe os passos após alguns instantes.

    Entro ou contorno?

    Enquanto pensava nesse dilema, algo começa a acontecer com essa ilha…

    Um terremoto poderoso sacudia tudo o que tinha ali.

    Com o fenômeno, ele até tenta se manter equilibrado, mas acaba por cair com as mãos e os joelhos sobre o chão.

    A força do vento se intensifica ao ponto das nuvens de gelo no céu se tornarem muito mais densas junto de um uivo antes do caos.

    A nevasca ruge como se esboçasse agonia e desespero.

    O tremor de terra termina, mas as ventanias continuam ao ponto de levantar uma grande quantidade de névoa pela área.

    “Não consigo enxergar mais nada… O que tá acontecendo?!”

    Pondo as mãos frente ao rosto, por mais que houvesse conquistado o controle de energia para resistir às consequências alheias ao estar preso na água anteriormente, Raisel sente o frio do ambiente expressivamente.

    “Droga! Meus olhos vão acabar congelando!”

    Dando cada passo com dificuldade, ele percebe algo cortando o ar em alta velocidade vindo em sua direção!

    Com um salto para trás, uma enorme árvore afunda sobre o solo como um míssil causando um vácuo que arremessa o garoto ainda mais longe!

    Raisel desliza pela neve antes de conseguir se estabilizar. Contudo, essa tormenta está longe de acabar!

    Nesse ambiente caótico, ele já não conseguia distinguir cima ou baixo. Parece estar em um lugar completamente diferente!

    Arregalando os olhos dourados em Gewissen, o Schaltung de Aquila é feito numa constância frenética para conseguir aprimorar ainda mais os seus sentidos!

    Com essa ação e tendo mais energia, a consciência dele se expande como um domo que encobre vinte metros ao redor dele.

    “Todas estão vindo por cima… Frente, esquerda, atrás… São muitas!”

    Conforme identifica cada queda de estalactite congelada, ele rapidamente introduz a sua movimentação com Impetus.

    Serpenteando por entre essas quedas, ele sequer consegue abrir os olhos nessa nevasca!

    “Urgh… Minha cabeça tá doendo! Preciso achar um abrigo!”

    A chuva de árvores frígidas parece o perseguir incessantemente!

    “Foco! Foco! Preciso sair dessa vivo!”

    Por coincidência ou sorte, o rapaz se aproxima das montanhas.

    Dentro do alcance da sua zona de sentidos, ele nota um buraco na base rochosa e se encaminha até lá.

    Todavia, não seria tão fácil assim.

    Novamente o terremoto assola a ilha, o desequilibrando bruscamente para seguir um outro passo.

    “Vai se fuder!”

    Flexionando completamente as pernas, ele toma uma postura agachada impondo todas as suas forças energéticas e física nos pés.

    O domo sensorial se desfaz. É a hora do tudo ou nada…

    Uma das colunas de gelo está prestes a acertá-lo!

    Em um lapso, o jovem arranca para frente em uma velocidade tremendamente maior do que as anteriores.

    Desse modo, Raisel não apenas evita ser empalado no último segundo, como se aproxima até o buraco numa movimentação quase suicida pela velocidade!

    A tempestade fica para trás, o vácuo da impulsão chega junto do adentrar no abrigo, mas ele bate contra o chão rochoso incontáveis vezes até colidir em uma das paredes…

    “Re…sista…”

    Esse impacto contra a caverna o desmaiou…

    Coberto de sangue e preso sobre alguns escombros, pelo menos o lugar não era tão frio como lá fora.

    Devido a pancada, uma silhueta esbelta acima de algumas rochas subterrâneas o encara com um olhar azulado.

    Observando por dentro da poeira que se levantou, quem era essa criatura?

    “Ein Entdecker? Er muss sich verletzt haben…”

    Em uma língua desconhecida, a voz feminina ressoa pela mente da figura misteriosa…

    Uma sensação estranha percorreu o corpo de Raisel ainda desacordado.

    Esse sentimento é como um frio devastador, mas que ainda assim consegue simpatizar com a vida.

    Uma friagem cujo cerne abrigava um calor profundo.

    Aos poucos, o garoto tomava mais consciência.

    Abrindo os olhos, ele encara uma luz envolvente sobre dois palmos.

    Da ponta dos pés até o último fio de cabelo, parece estar com todos os ossos do corpo quebrados devido a dor.

    Ao fundo, o aroma de alguma carne sendo assada gradualmente preenche o olfato dele.

    Ainda com a visão parcialmente opaca, ele sorri.

    “Raquel… Ela tá me curando de novo?”

    A imagem da ruiva com os olhos azulados e cheios de preocupação sobre ele era tranquilizadora.

    Contudo, a realidade recai sobre essa lembrança feliz.

    O olhar de Raisel se abre em espanto e, imediatamente, afasta-se rolando para longe.

    Com dificuldade, ele se mantém em alerta e tenta preparar a espada na cintura para o saque… Mas não havia nada ali.

    Entre a respiração descontrolada, a visão vai se tornando mais nítida.

    一 Quem… é você?

    Toda a feição arisca e hostil se quebra.

    Em confusão, o semblante se modifica para uma surpresa capaz de deixá-lo boquiaberto.

    Agora, o que estava na frente dele é uma mulher de pele completamente azul, olhos profundos como o breu, mas com um único pigmento turquesa. As vestes dela são rudimentares, expondo muito do corpo definido e magro.

    Contudo, ela também tem orelhas pontudas e incontáveis escrituras marcadas pela pele desde às pernas até o rosto.

    一 Beruhige dich. Hab keine Angst. Ich werde dir nichts tun.

    Pondo uma das mãos à frente do peitoral, a criatura diz algo indecifrável ao garoto.

    Por mais monstrengo que seja, a voz dela não esboça intenções más ou soa de maneira maligna.

    Isso deixa Raisel ainda mais alerta.

    O olhar dele se estreita e passa a visualizar o entorno.

    Ainda estava dentro da caverna, mas o espaço parecia um acampamento improvisado.

    A fogueira com carnes espetadas à volta, uma espécie de tenda e outros recursos espalhados.

    O silêncio se perdurou por instantes, enquanto as únicas coisas que podiam ser escutadas eram os tremores da tempestade lá fora sobre o subterrâneo e os estalos da lareira.

    Encarando um ao outro, os lábios frígidos da criatura se curvam em um sorriso singelo. Ela então tenta se levantar com cuidado, mas o rapaz desliza os pés para trás pronto para fugir.

    “Merda… O que eu faço? Se eu ir lá pra fora, eu posso morrer… Tentar lutar agora seria suicídio… Mal tô conseguindo me manter acordado…”

    Com o esforço, é evidente um suor escorrendo pelo corpo dele parcialmente despido.

    Ao notar isso, o rosto se avermelha e uma das mãos passa a cobrir as genitais.

    “Esse monstro… Ele tava cuidando de mim?”

    De pé, a garota azulada aponta o palmo para a direção dele.

    Lá, é notável a energia dela concentrada.

    Em uma liberação sutil desse poder, Raisel é afetado como se fosse atingido por uma brisa.

    Nesse instante, as pernas são tomadas por uma fraqueza e ele se ajoelha no chão.

    “Então é isso… Ela realmente cuidou de mim…”

    Por mais que não a entendesse, curiosamente a energia da criatura expôs suas intenções.

    “É uma energia tão sozinha… Mas é calorosa…”

    Novamente, o menino perde a consciência enquanto sorria de modo singelo.

    Dormindo, ele sente uma coisa gelada cutucando a sua bochecha.

    Abrindo os olhos devagarinho, o menino encara de soslaio aquela garota não humana.

    “Não era um sonho…”

    一 Wach auf. Du musst essen…

    O idioma da criatura é muito diferente da língua falada em Wynward, mas reparando nos gestos e nos detalhes, ele consegue entendê-la um pouco.

    Dessa vez, ela tem daqueles espetos de carne na mão direita. A esquerda era quem cutucava o rosto dele para acordá-lo.

    Raisel vem a sentar sobre o chão. Entretanto, ele foi surpreendido pelo estado do seu corpo sem dores.

    “Caramba… Eu já tô melhor? Mesmo com o Schaltung focado na minha própria recuperação, eu ainda demorei horas pra ficar curado…”

    Enquanto intrigado na melhora, a garota estica o espeto de carne para ele com um sorriso gentil.

    Ele não tinha reparado antes, mas ela é atraente mesmo não sendo humana.

    O cabelo dela… é muito bonito com duas enormes tranças que escorrem pelas laterais dos ombros.

    Envergonhado, o menino segura o espeto e começa a comer.

    A outra se senta perto dele e, mais uma vez, tenta se comunicar exalando o Gewissen restrito ao menino.

    Hm? Isso é diferente da rajada de antes…”

    Eles se encaram por instantes.

    Impaciente, ela infla as bochechas enquanto mastiga.

    Sem entender o porquê dela estar brava, ele também apenas comia.

    Para tentar transmitir a mensagem, a garota gesticula com o palmo indo para cima e para baixo.

    “Subir? Elevar o que? Sentir?”

    Ainda sem entender, ela muda o gesto.

    Com o dedo indicador, ela aponta para o próprio coração e o coração do garoto. Em seguida, realiza o mesmo gesto de palmo para cima e para baixo repetidas vezes.

    “Elevar o meu coração… Ah! Entendi!”

    Suspirando profundamente, a energia dourada de Raisel acende os arredores em contraste com a energia azul extremamente clara da garota.

    Nesse momento, o Gewissen de ambos parece se entrelaçar.

    Acima da cabeça dela, pontos e linhas se cruzam ao formar o símbolo da Constelação de Aquarius.

    Por outro lado, acima da cabeça de Raisel há somente um único ponto.

    Os olhos escuros da mulher evidenciam uma surpresa ao ver a condição do garoto.

    Então, ela respira fundo mantendo uma das mãos à frente dos seios.

    一 “Consegue. Entender?”

    Impressionantemente, a voz dela é clara e nítida na mente do rapaz.

    Ele então acena com a cabeça positivamente.

    一 “Tente. Falar. Também.”

    Em silêncio, ele volta a comer.


    O semblante, confuso, tenta desvendar os mistérios desse fenômeno.

    “Ela não tá mexendo a boca… Deve ser por meio dos pensamentos… Talvez imaginar a minha energia carregando meus pensamentos pra fora?”

    Após a mastigação, a concentração profunda marca o início da tentativa.

    一 “Quem. É. Você?”

    Os olhos dela se arregalaram. Os dois estão na mesma sintonia!

    É como se, naquele instante, eles não estivessem falando. Estão… sentindo um ao outro.

    Abaixando a mão que está à frente do peito, ela responde:

    一 “Meu nome. Hiseld. Qual o seu?”

    一 “Raisel. Você é humana?”

    一 “Não. Eu sou uma… Eisikalt.”

    Confuso, o garoto nunca havia escutado nada sobre essa raça mesmo do avô.

    一 “O que. Fazendo aqui?”

    一 “Eu guerreira. Vim desfazer maldição. E você?”

    一 “Vim treinar. Há quanto tempo. Presa na Ruína?”

    Conforme conversam, os espetos de carne acabam, mas Hiseld busca mais um para eles.

    一 “Presa… Ruína?”

    Não entendendo o que era uma Ruína, Raisel não consegue outra forma de explicar ou detalhar. Afinal, ele também não entende direito.

    一 “Maldição você desfazer. O que é?”

    一 “Chuva de gelo. Tempestade.”

    “Então o objetivo dela é vencer a ilha? É estranho ela não saber o que são Ruínas… Bom, ela me salvou. Tenho que ajudar ela…”

    一 “Você. Precisa ajuda?”

    O garoto termina de comer o espetinho.

    Ao oferecer auxílio para ela, Hiseld fica cabisbaixa.

    一 “Preciso. Mas aceitar. Desonra. Dever meu. Sozinha…”

    Ele, ao ouvir aquilo, vem a se levantar. Oferecendo uma mão amiga para ajudá-la a ficar de pé, complementa com um sorriso gentil.

    一 “Não preocupar. Vou só ir junto.”

    Ela demonstra um olhar esperançoso, mas receoso. 

    Aceitando a gentileza dele, também fica de pé.

    A diferença de estatura entre eles é brutal.

    Apesar de não ser muito alto como Yurgen, Raisel não é tão baixo, mas ainda sim a garota é muito maior.

    “Que grande… Não tinha reparado…”

    一 “Seus trajes. Ali. Vamos sair. Desfazer maldição. Juntos.”

    No fim, o semblante dela irradia felicidade. 


    O palmo da garota pousa sobre a cabeça do pequeno garoto, balançando os cabelos encharcados pela neve derretida.

    Hiseld demonstra ser muito meiga. Mesmo sendo tão diferente de uma humana, ela é alguém gentil e isso dá um charme único.

    Com o gesto dela, o garoto desvia o olhar e parte para se vestir logo.

    Por mais que a garota não esboçasse reação ao estar com tão pouca roupa, Raisel ainda é um adolescente com os hormônios à flor da pele.

    De costas para ela, ele começou a se vestir.

    Espiando de canto, observa ela apagando a lareira e entrando na tenda. Mas inconscientemente, o que ele repara são em outras coisas…

    Seus olhos escaparam sem querer. Raisel virou o rosto, envergonhado, criticando a si mesmo por deixar os hormônios tomarem o controle.

    “Tá louco, porra?!”

    Poucos minutos depois, o rapaz está a esperando encostado na parede, mas envergonhado das suas próprias atitudes.

    Dentro da barra, a mulher sai completamente diferente de antes.

    Com um elmo de um chifre único na testa, um manto de pelagem grossa como as de um urso, botas daquele mesmo couro espesso e um peitoral rudimentar aberto no abdômen definido, o que mais chama atenção é o fato dela estar em posse de um grande machado apoiado ao ombro.

    Completamente surpreso, ele encara a garota boquiaberto.

    “É mesmo… Ela disse que era uma guerreira.”

    一 “Vamos? Saída por aqui.”

    A voz da garota ressoa.

    Em um suspirar nasalado, Raisel caminha para a direção dela enquanto a segue.

    一 “Vamos.”

    Com o concordar, mal sabia o garoto que essa pequena aventura lhe marcaria para sempre.

    No alto daquele céu obstruído, além da ilha, as quatro estrelas seguem observando…

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