Índice de Capítulo

    Fazer um relatório após retornar de uma expedição ou exploração era algo obrigatório. Bastava ver como Alex relatou o aparecimento das Toupeiras ao Templo assim que retornou a Haramark, e a informação foi imediatamente exibida na praça.

    O ecossistema de Paraíso sofria perturbações com frequência. O compartilhamento e a atualização contínua de informações era praticamente uma regra tácita naquele mundo.

    Afinal, apenas saber que ‘o Monstro A apareceu na Região B’ aumentava muito as chances de sobrevivência de alguém.

    Esse também era o motivo pelo qual o Mago Real de Haramark convidou Seol Jihu. Ian havia lhe pedido ajuda para redigir o relatório sobre o quinto Banquete.

    Embora já tivesse ouvido a história na taverna antes, havia uma grande diferença entre escutar bêbado e ouvir tratando aquilo como algo sério.

    A biblioteca privada do Mago Real estava repleta de livros. Ian estava sentado à frente de uma escrivaninha, girando uma caneta-tinteiro entre os dedos. Seol Jihu ficou um pouco surpreso ao ver esse lado de Ian, tão diferente da sua atitude irreverente de sempre.

    Seol Jihu aceitou prontamente o pedido, aproveitando para tentar ver a princesa Teresa e entregar um presente, mas ela estava ausente.

    Segundo Ian, ela estava trabalhando intensamente no Vale Arden junto ao chefe da vila Ramman. Ao saber que os conhecimentos do ancião estavam contribuindo muito com os planos de fortificação do Vale, Seol Jihu ficou satisfeito.

    Enquanto ajudava Ian a organizar os relatos do Banquete, Seol Jihu também contou o motivo de a Santa Fantasma ter ficado irritada. Quando Ian comentou — Ela podia simplesmente ter perguntado por que você não foi. Que santa mais cabeça dura — Seol Jihu deu um pulo de susto.

    Teve que fazer um grande esforço para conter Flone, que se debatia furiosamente dizendo que arrancaria a barba do velho.

    Acabou acalmando Flone levando-a até um lago no centro da capital, e só conseguiu se despedir depois de elogiá-la muito, dizendo o quanto ela era bonita.

    Quando Seol Jihu já estava quase finalizando a revisão do relatório, Ian, que até então estava concentrado e em silêncio, perguntou de repente:

    — Está se sentindo melhor?

    — Hã? Eu?

    — Quando voltou, seu rosto estava cheio de preocupação.

    Seol Jihu riu de leve.

    — Eu estou sempre preocupado.

    Aiya, como dizem por aí: uma árvore com muitos galhos sempre teme o vento. Com o que está preocupado agora?

    — Uh… não sei ao certo.

    Seol Jihu puxou o braço para trás e coçou a nuca.

    — Com o que eu devo fazer… por onde devo começar… só não tenho certeza.

    — Hm.

    Ian perguntou, sem tirar os olhos do relatório:

    — Agora que penso, você ainda está no Nível 3, não?

    — Sim.

    — Já que passou do Estágio 3, deve conseguir chegar ao Nível 4.

    — Provavelmente.

    — Hoh, eu também sou Nível 4. Pensar que já estamos no mesmo nível…

    Ian balançou a cabeça.

    — O senhor não pode virar um Alto Ranker se quiser, Mestre Ian?

    — Ainda não Despertei, e mesmo que tivesse, isso não muda o fato de que sua velocidade de crescimento é incrível. Bem, considerando tudo o que você fez, não é surpresa.

    A taxa de crescimento explosiva de Seol Jihu era explicada pelas missões absurdamente difíceis que ele vinha realizando desde o Nível 1.

    — De qualquer forma, Nível 4… acho que já está na hora de se preparar.

    Ian respirou fundo e assentiu. Depois de encarar o relatório por um longo tempo…

    — Existe um ditado — ele abriu a boca. — Aquele que deseja usar a coroa, deve suportar o peso dela.

    Ao ouvir a palavra ‘coroa’, Seol Jihu se sobressaltou.

    Primeiro Kazuki, agora Ian. Ele era assim tão fácil de se decifrar?

    — Acho que você quer se tornar o líder da Carpe Diem. Acertei? — Quando Ian perguntou para confirmar, Seol Jihu assentiu com a cabeça. — Então você sabe qual a diferença entre um líder e um membro? O que acha que é a virtude mais importante que um líder deve ter?

    — Saber avaliar a situação, talvez?

    — Se fosse algo tão óbvio, eu não teria perguntado, não acha?

    Seol Jihu ficou pensativo por um momento antes de responder:

    — Acho que é força.

    — Força? Não me diga que está falando de força física?

    — Não exatamente força física do líder… mas sim a força física do grupo como um todo.

    Ian inclinou a cabeça e coçou a barba lentamente.

    — Isso é muito amplo. Na minha opinião, um líder precisa ter habilidades diplomáticas.

    — Habilidades diplomáticas?

    — Isso mesmo. Já se passaram mais de dez anos, no tempo de Paraíso, desde que Terrestres começaram a ser convocados. Existem inúmeros grupos e organizações com fins lucrativos coexistindo nesse mundo, cada um com seus próprios objetivos.

    — …

    — Para sobreviver nessas águas turbulentas, diplomacia é fundamental. Não acha? — Ao ver Seol Jihu apenas inclinar a cabeça, Ian estalou os lábios. — Hm… Qual é o objetivo do time que você está tentando criar?

    Quando Seol Jihu abriu a boca para responder, Ian rapidamente emendou:

    — E como pretende criar esse time? Quantos membros está pensando em ter? Quais serão os requisitos para entrar? Já pensou em uma estratégia de recrutamento?

    Seol Jihu ouvia atentamente, enquanto seu semblante começava a empalidecer.

    — Provavelmente nunca pensou nisso com detalhes. Afinal, duvido que tenha contado isso a alguém até agora — Ian soltou um grande suspiro. — O objetivo de um time é certamente importante, pois define sua identidade e personalidade. Mas não pode parar só no pensamento. Tem que dizer em voz alta e colocar em prática. Só assim você vai dar substância e essência ao seu grupo.

    — Certo.

    — No caso do Dylan, suas ações combinavam com o nome Carpe Diem. Como significa aproveitar o momento, não havia problema em manter um time pequeno e de elite. Mas seus objetivos não são os mesmos da Carpe Diem.

    Seol Jihu assentiu enquanto esfregava o rosto.

    — Eu entendo como você se sente. Quanto maiores seus objetivos, maior o fardo que terá de carregar. Nem eu tenho confiança em alcançar o que você está tentando fazer — Ian deu uma risada enquanto estalava a língua. — Por causa da dificuldade absurda dos seus objetivos, seu grupo inevitavelmente terá que evoluir para se tornar uma organização. E nesse caminho até se tornar uma grande organização, suas habilidades diplomáticas serão testadas várias vezes.

    — Quando fala em habilidades diplomáticas, não está se referindo apenas às relações entre grupos…

    — Claro que não. Também inclui os relacionamentos interpessoais. Francamente, se um estranho chegasse de repente dizendo: ‘Olá! Vamos salvar Paraíso do perigo!’, você responderia: ‘Claro! Vamos nessa!’?

    — …Não.

    — Exatamente. Claro que há pessoas que agem por uma causa justa. Mas a maioria não se move apenas pela justiça. O quão justo você é não importa — Então Ian acrescentou, num tom amargo: — A Família Real de Haramark não é generosa com recompensas porque são bonzinhos.

    — Então, o que eu devo fazer?

    — Isso é óbvio. Dinheiro, fama e… — Ian parou por um instante antes de abrir um sorriso. — Astúcia.

    — Astúcia?

    — Acalmar uma alma com um ritual, atrair os Parasitas no Vale Arden, bolar um plano para escapar do laboratório… foi a sua astúcia que tornou tudo isso possível. Essa sua capacidade transcende o material. Acho que ela vai se tornar um charme único seu.

    — Está exagerando.

    — Não negue. Afinal, sou um dos que caíram de amores por esse seu charme.

    Seol Jihu coçou a bochecha, sentindo uma leve coceira.

    — No futuro, muita coisa vai mudar — Ian soltou outro longo suspiro. — Você vai ter que mudar o nome, e se necessário, mudar sua base de operações. Talvez tenha que reafirmar alianças, ou até trocar de companheiros…

    — A Chohong e o Hugo, quer dizer?

    A caneta de Ian parou. Ele levantou o olhar e falou calmamente:

    — Esses dois são membros da Carpe Diem, criada pelo Dylan.

    — …

    — Não sabemos se vão concordar em te seguir.

    — E se não concordarem…

    — Então é simples — Ian falou de forma direta: — Ou você sairá do grupo, ou eles sairão.

    Seol Jihu se recostou na cadeira e inclinou o queixo para cima. Ficou tonto olhando para o teto alto.

    — É bem complicado, hein.

    Ao ouvir o gemido de Seol Jihu, Ian deu um sorriso torto.

    — E daí? Vai desistir?

    Seol Jihu também riu. E claro, não esqueceu de agradecer:

    — Obrigado. Você sempre me dá conselhos mais valiosos que ouro.

    — Fico feliz que considere minhas bobagens tão valiosas. Estou lisonjeado — Ian caiu na gargalhada ao largar a caneta. Então, seus olhos brilharam ao olhar para os equipamentos sobre a mesa. — Ótimo, que tal eu te dar uma lição de casa, futuro líder?

    — ?

    — Isto. — Ian pegou a espada longa e o escudo. Eram os artefatos funerários que Seol Jihu trouxera do túmulo. Por serem equipamentos da era do Império, valeriam uma fortuna absurda se fossem vendidos.

    — Excelente. Você disse para eu entregar isso a eles…

    Ian expressou admiração antes de colocar a espada e o escudo de volta sobre a mesa.

    — Mas entregue você mesmo na próxima vez que os encontrar. Só que, com condições.

    — Condições… quer dizer que devo trocar por algo?

    — Exatamente. Troca equivalente. Veja bem, dar isso de graça seria demais. Não importa se vai fazer isso por você ou por outra pessoa, apenas aproveite para praticar essa tal diplomacia.

    — Mas… Não, tudo bem — Seol Jihu engoliu as palavras que estava prestes a dizer e apenas assentiu. Para ser sincero, estava se sentindo muito em dívida com Teresa, mas com certeza havia um motivo para Ian dar essa lição de casa.

    — Ótimo. Ah, pode ir agora. Já revisei tudo.

    — Entendido. — Seol Jihu se levantou da cadeira.

    — Seol! — Quando ele estava prestes a abrir a porta e sair, Ian acrescentou: — Um líder não é alguém colocado nessa posição por outros. Um líder é aquele que deseja se tornar um.

    Ao ouvir o tom afirmativo de Ian, Seol Jihu assentiu com a cabeça. Ian deu uma risada.

    — Não faça o Maldong se preocupar demais. Aposto que ele está se revirando de tanta inquietação agora.

    — Pode deixar. Obrigado pelas palavras.

    Seol Jihu se curvou antes de sair.

    Quando o som da porta se fechando ecoou, Ian colocou o cachimbo de volta na boca e pegou a caneta-tinteiro. Soltando uma baforada atrás da outra, encarou o relatório com atenção.

    Como aquele relatório podia significar vida ou morte para alguém, não havia problema algum em revisá-lo várias vezes.

    …E assim, justo quando a catástrofe do quarto Banquete estava prestes a se repetir, um jovem tomou a dianteira.

    O protagonista que normalizou o conturbado quinto Banquete foi Seol Jihu (Coreia), da Carpe Diem…

    Ao ler sobre os eventos do Estágio 2, Ian sorriu.

    Apertando a caneta com força, ele riscou as palavras ‘Carpe Diem’ sem hesitação.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota