Navegando pelos céus em direção a ilha do santuário, Raisel decide parar de pensar sobre as peculiaridades desse lugar. Não há pistas o suficiente para desvendar os mistérios dessa ruína. Contudo, algo essencial veio à sua mente.

    “Apesar de voar e ser bem rápido, esse lugar é muito grande… Como o vovô chegou ao Núcleo tão rápido? Ou ele só tá uma ilha na frente?”

    Em dúvida, a única certeza é que as habilidades em controlar a flutuação de Fyodor está muito melhor em comparação ao começo 一 O que aumenta a rapidez em que vai de uma ilha à outra.

    No fim, o garoto chegou no território do santuário e o voo foi cancelado.

    “Ué… Parece que o santuário diminuiu. De longe ele parecia bem maior…”

    Caminhando pela trilha de concreto, ele olha os arredores buscando mais detalhes sobre o local.

    “Não tem nada de muito interessante… É uma ilha simples. Um santuário cercado por um gramado.”

    De frente a entrada do templo completamente esbranquiçado, o protagonista sobe o olhar.

    “Tem uma estátua de uma… mulher? Só que ela tá segurando um martelo…”

    Confuso, um suspiro saiu de seus lábios.

    Mantendo os passos, o lado de dentro do lugar é escuro. Completamente escuro. A única luz que vem é a da entrada…

    “Não vou seguir sem enxergar nada. Vou fazer uma esfera de luz…”

    Erguendo o palmo, a aura dele preenche o espaço acima da cabeça com uma esfera dourada. Tal luminosidade com energia aumenta a intensidade do brilho à partir da concentração do Gewissen. Por isso, foi aumentando aos poucos até iluminar a maior parte do local.

    Os olhos do garoto se arregalaram. Em volta, há incontáveis peças de armadura e armas dos mais variados tipos.

    “Isso é tudo feito de pedra? Não pode ser… Qual é o sentido?”

    Voltando a caminhar, apesar da bagunça, há um espaço livre claro entre esses equipamentos.


    Os armamentos possuem muitos detalhes. A antiguidade entre eles é variada, alguns estão com musgo e outros estão limpos como as paredes desse lugar.

    “Agora aqui de dentro, parece maior do que do lado de fora também… Tô andando faz alguns minutos e não vejo o fim desse caminho.”

    Receoso, ele decide iniciar o Schaltung de Aquila para ampliar os seus sentidos caso haja algo que o ameace.

    “O que é aquilo?”

    Raisel fixa o olhar sobre uma espécie de altar, mas esse altar tem o formato de bigorna. Na superfície superior da bigorna tem uma espécie de esfera de vidro.

    Atrás dessa formação peculiar, está a mesma estátua da mulher vista no telhado. Contudo, dessa vez ela segura um pincel e não um martelo. O semblante dela é contente, ao contrário da outra figura que está mais séria.

    Conforme o garoto se aproxima, ele nota algo escrito na base da estátua. Todavia, assim que iria começar a ler, a esfera de energia no palmo começa a ser sugada para a direção das escrituras!

    Merda!

    Como um reflexo, ele suspende a luz, mas já é tarde demais…


    A energia do jovem pulsa passando por toda a estátua como um sangue até se fixar nos olhos da mulher. Nesse momento, o braço dela com o pincel se mexe e toca a esfera de vidro transferindo a energia para lá.

    Das paredes, tochas douradas vão se iluminando um após o outro até sumir da visão do menino 一 Provavelmente chegando até a entrada.

    Não sabendo o que esperar, ele puxa uma das adagas com a mão esquerda e a espada fina com a mão direita enquanto encara o ambiente infinito. A estátua atrás dele começa a cantarolar em uma língua desconhecida.

    Encarando essa cena de soslaio, os batimentos do coração de Raisel se elevam com ansiedade.

    A esfera de vidro é cada vez mais carregada com energia conforme o pincel de pedra risca a sua superfície.

    Eu ataco?! Não parece o certo! Só de pensar em fazer isso eu sinto um calafrio!”

    Enquanto está perdido em pensamentos, a audição do menino capta o barulho de uma aterrissagem ao fundo, como uma brisa sussurrante.


    Os passos dessa entidade são velozes e pesados, capazes de serem escutados por Raisel no fim deste santuário que mais se parece um enorme corredor.

    Ele aperta os punhos sobre as armas e o que ele avista, o deixa ainda mais surpreso.

    Quem está vindo em sua direção é a estátua feminina com o martelo na mão direita! É uma estátua grande, um pouco maior do que o menino.

    “Eu vou matar isso?!”

    Os olhos da entidade do martelo brilham em um tom cinza ao contrário da entidade do pincel.

    Mesmo parecendo ser inteiramente feita de pedra, a criatura com o martelo é bastante veloz!

    Ela se aproxima e desfere um golpe com a arma de cima para baixo. O golpe propaga um poderoso vácuo para os arredores, mas algo interessante é que com toda aquela força, nem mesmo foi capaz de quebrar o solo abaixo.

    O menino? Se esquivou lateralmente enquanto contornou a estátua.

    Sobre as costas dela, avista incontáveis marcas de armas.

    O semblante dele se transforma com o pensamento rápido do que deveria fazer, mas antes de conseguir fazer algo, a figura desfere um chute para trás como um coice!

    Apesar de estar com Aquila ativo, os ataques são muito rápidos! 

    Raisel esquiva por pouco e tenta acertar a perna do inimigo usando o Gewissen na lâmina fina, mas antes mesmo de conseguir desferir o golpe, a energia já foi completamente sugada pela estátua do pincel.

    “QUE PORRA!”

    Pela distração de ter mudado o olhar para a outra estátua, a vista do garoto é preenchida pela vista do martelo vindo em sua direção com um golpe horizontal.


    Velozmente, ele se abaixa e passa por baixo da figura entre as suas pernas compridas.

    Posicionado logo atrás do orbe, sente que está completamente encurralado!

    Em um reflexo, as mãos largam a espada fina e a adaga enquanto puxam a grande espada nas costas com um giro de corpo.

    De maneira semelhante, a estátua também se vira golpeando.

    Sem energia, o garoto pisou firme contra o chão usando Impetus apertando todos os músculos como um fluxo até os braços para a colisão entre os armamentos.

    O impacto entre os ataques é brutal. O ambiente ao redor se estremeceu com o impacto proporcionado e, inesperadamente, o vencedor do conflito foi o menino… Porém, a grande espada é solta.

    Ao perceber bem, a região amassada atingida pelo martelo está se transformando em pedra. A estátua foi mandada para trás, mas Raisel está visivelmente cansado ao usar tanto vigor físico concentrado.

    “Ela parou… Tá tomando cuidado? Não sei como eu vou parar isso sem usar o Ziele Ordnung. Não posso colidir ou minhas armas vão virar pedra…”

    “Devo usar Impetus na perna e desviar como antes? É… Vai ser o jeito.”

    Se preparando com uma das mãos sobre uma das adagas, o protagonista encara a estátua à frente.

    A figura, por sua vez, prepara uma posição de avanço empunhando ainda mais forte o martelo com o palmo destro.

    Em um lapso, ela vem com um golpe diagonal de cima para baixo. Prestes a ser atingido, ele salta lateralmente para escapar pelo lado desprotegido do oponente.

    Contudo, ele sente a perna sendo agarrada. A mão esquerda desocupada o capturou…

    Porra…


    Em um giro de cintura, a criatura o arremessa para a direção da parede lateral com extrema força!

    Agindo rápido como um reflexo, ele concentra o máximo de energia possível nas costas ao mesmo tempo que a enrijece com o Impetus.

    Apesar de tanto preparo, o dano ainda foi considerável ao tossir um pouco de sangue pelos lábios.

    Como antes, a energia concentrada é sugada. Mas pelo menos serviu para protegê-lo de mais danos…

    Ajoelhado ao chão após o baque, surpreendentemente a criatura com o martelo não veio até ele, mas sim até o orbe de vidro.

    “Alguma coisa me diz que eu não posso deixar ela fazer isso!”

    A estátua com o martelo vem a prepará-lo para o alto em busca de golpear a esfera brilhante.

    Numa tentativa de interceptar isso, Raisel arremessa as suas duas adagas ao mesmo tempo em um cruzar de braços!

    A figura rapidamente identifica a que foi lançada contra o seu rosto, mas a visão de canto entrega que há outra em suas costas, ambas com extrema curva!

    Como um experiente guerreiro, vem a defender a das costas primeiro enquanto agarra a outra com o palmo livre 一 Esmagando como papel o ferro daquele armamento.

    O oponente parece furioso, mas o protagonista sorri.

    Todavia, ambos são ofuscados pela luz dourada emitida pelo orbe.


    Fechando os olhos e colocando as mãos na frente do rosto, o garoto não podia ver nada do que viria a seguir.

    A entidade com o martelo se aproxima da esfera e prepara o armamento para o alto. Em um vislumbre, o som de uma forja ensurdece momentaneamente o humano. Todo o seu eu vibra com a pancada, sendo formidavelmente a mais forte até agora.

    No fim, Raisel abre os olhos.

    Ele está do lado de fora do santuário e deitado no gramado.

    Encarando o céu, tenta se levantar e sente algo no palmo direito.

    Ao virar o rosto, uma das sobrancelhas se levantam e a boca fica meio aberta.

    “Uma espada?”

    Em posse, há uma lâmina de dois gumes com uma ponta extremamente fina. O guarda mão é pequeno, mas o cabo é maior do que uma espada daquele tipo.

    A silhueta da arma é meio oval, diferente das espadas tradicionais que parecem um triângulo.

    As laterais dela são negras com cinco pontos dourados verticalizados e em ordem por toda a lâmina.

    O guarda mão tem alguns adornos dourados e espirais que se contrastam com o negro. Todavia, o fio da espada é completamente limpo em um tom de prata belíssimo.

    O garoto se senta enquanto encara o armamento.

    “Eu ganhei isso do santuário?”

    “Ah… Entendi! É por isso que a mulher com o martelo parecia tão furiosa… Ela queria forjar.”

    A risada dele ecoa de forma baixa.

    Do outro lado, há a bainha da espada com um símbolo de um pincel e um martelo dourado na parte superior.

    “Bom, essa arma parece ser muito boa. É uma lâmina fina e leve, mas longa.”

    Embainhando a lâmina, ela curiosamente não tinha uma parte para ser apoiada na cintura ou nas costas 一 Então só restava levá-la na mão.

    Raisel se levanta e bate o palmo contra a armadura de couro já esfarrapada por conta de tantas batalhas.

    “Não vou tirar a bainha das adagas e da espada fina que eu tinha… Se eu encontrar alguma arma desse tipo, vou guardá-las.”

    Caminhando com calma até a borda da ilha, ele se direciona até a próxima que tem uma enorme montanha completamente negra.

    Antes de ir, ele suspira fundo. Uma cor azulada preenche a pupila como um contorno.

    “Vou ir me recuperando do dano com Aquarius até chegar… Não é nada muito grave, mas é melhor eu estar em perfeitas condições.”

    Ele então se joga no infinito.

    Concentrando o Gewissen e posicionado o corpo adequadamente, ele começa a ser atraído até o seu destino.

    “Ah, merda… Eu deveria ter visto se eu conseguiria entrar no santuário de novo. Mas eu acho que não… Eu praticamente fui expulso.”

    Encarando a arma em mãos, os cantos dos lábios se curvam. Está bastante contente e empolgado para testá-la.

    Ao mudar o foco da visão, percebe que o sol está descendo para se pôr.

    “Deve ser umas cinco horas agora… Parando pra pensar, não me movimentei de uma ilha a outra de noite ainda. Será que tem mais alguma surpresa?“

    Intrigado, ele permanece a criar expectativas para quando chegar no Núcleo e encontrar o avô.

    “Queria ter a visão do castelo daqui, mas a montanha é tão grande que tampa tudo.”

    “Bom, pelo menos tô quase chegando…”

    Aumentando um pouco mais a velocidade por estar melhor dos ferimentos, mas não completamente curado, ele desfaz o Schaltung.

    Após alguns minutos, ele adentra no espaço da montanha negra.

    Por estar nas costas da ilha, ele deveria rodeá-la.

    Mas ao chegar, ele percebe algo que dificultaria em muito a sua jornada…

    “O ar daqui tem um cheiro muito metálico e de queimado… Também é muito rarefeito. Que lugar de merda…”

    O cheiro o incomoda ao ponto de lacrimejar.

    Respirando com cuidado, ele vai de passo a passo em busca de se acostumar com esse ambiente. Mas parecia impossível…

    “Meus pulmões estão ardendo. Assim não vai dar… Vou tentar me envolver com energia pra ver se melhora.”

    Suspirando com o rosto contraído pelo incômodo, o corpo dele é cercado pelo adorno dourado como usou quando se banhou ou ficou preso no lago.

    Isso deixa um pouco mais confortável. Os pulmões não ardem, mas o nariz está visivelmente incomodado.

    “Urgh…”

    一 ATCHIM!

    一 ATCHIM!

    Espirrando algumas vezes, o nariz dele até sangra um pouco. Mas ele limpa com o antebraço.

    “Vou acelerar o ritmo. Quero sair daqui o mais rápido possível.”

    Se movimentando como na ilha de neve, salta baixo consecutivas vezes e vai indo de impulso a impulso contornando a montanha.

    Mais alguns minutos passaram e o sol está prestes a se pôr.

    Raisel finalmente chega no epicentro da ilha, na entrada da montanha. Só que tem algo peculiar…

    “Tem… alguma coisa ali dentro… E é gigantesca.”

    Paralisado, o garoto constrói Aquila em seu interior. Com os sentidos elevados, ele nota as características do ser que está ali dentro.

    Escamas. Chifres. Um respirar pesado que mais parece um vendaval. Asas como as de um demônio. Uma grande cauda… Não resta dúvidas, é um…

    “Dragão…”


    Perplexo, ele engole seco.

    Pela primeira vez, ele está tremendo de medo ao ver algo como aquilo. As pernas parecem paralisadas, o coração está batendo lento, mas forte o suficiente para se assemelhar a um tambor.

    “É melhor eu ir… Não tem como eu matar isso. Aparentemente esse dragão tá dormindo…”

    Suspirando, ele começa a se virar.

    Contudo, ao fazer isso, ele sente o olhar do dragão sobre si!

    O corpo dele é paralisado como um choque!

    Um HuMaNo?

    A voz do dragão ressoa pelo ambiente enquanto chacoalha toda a ilha.

    Encarando a entidade de soslaio, ele observa o olhar do inferno sobre si. A silhueta do monstro sob as sombras ganha destaque à medida que as patas da criatura se firmam contra o solo.

    O cheiro do lugar é consequência da respiração dessa criatura.

    Como ele poderia matar algo que a mera existência já parece fatal?

    A perspectiva se afasta, Raisel é apenas um ponto em comparação a dimensão do dragão.

    Indo em encontro ao pequeno ser, os passos vibram a ilha a cada passo.

    Será que agora é o inevitável fim da jornada?

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