Índice de Capítulo

    Brok chega diante da alta torre no centro da clareira. Então… esta é a última construção de pé, ele constata, soltando um suspiro de respeito enquanto observa a torre, correndo o olhar pelas rochas que a constituem. 

    Cada andar do lugar apresenta uma estrutura própria e parece ser feito de materiais diferentes. 

    O orc foca a atenção no grande buraco que serve como entrada. Deve ser o caminho por onde entraram, ele pensa, enquanto cruza a abertura.

    Lá dentro, ele encontra um salão de cheiro forte, onde uma pequena árvore se ergue, com dezenas de ramos longos e verdes estendendo-se em direção à entrada. No chão, atrás da planta, ossos estão espalhados, misturados a restos de carne e escamas verdes. 

    Mais ao fundo do salão, Rubi e Byron conversam à beira de um enorme fosso no centro da sala.

    O demônio está de pé, com uma enorme espada apoiada com a ponta no chão, e a succubus o observa empolgada, com sua cauda balançando inquieta.

    Rubi nota o orc na entrada. “Chegou em um bom momento”, ela diz. “Podemos começar a nossa reunião.”

    O guerreiro chega próximo aos diabos, dando passos extremamente cautelosos entre os ramos que saem da árvore. 

    “Aos seus olhos, como está a situação da cidade?”, Byron questiona, olhando para o guerreiro. 

    Antes de responder, o orc solta um grunhido rouco, vindo do fundo da garganta. “… Não está muito diferente do que devia ser…”, ele diz, e joga um olhar resignado na pequena árvore. “A não ser por… essas coisas verdes em todo lugar.”

    “Quanto a isso, vamos mantê-las vivas temporariamente. Se não morrerem sozinhas, a gente resolve isso depois”, Rubi explica. “Temos coisas mais importantes para resolver no curto prazo.”

    “Vi… o corpo do dragão. O que devo contar sobre o que aconteceu com ele?”, questiona o orc.

    “Byron e eu pensamos em usar os problemas da região e só exagerar de leve”, Rubi responde. 

    “Os eventos que aconteceriam aqui já seriam um risco para Naganadeliumos. Exatamente por isso, ele planejava ir para outro lugar”, Byron acrescenta. “Além disso, acredito que seria exagerado demais dizer que você também o derrotou sozinho.”

    “Uhum”, murmura o orc com a voz áspera, concordando. 

    “Estava imaginando se seria bom dizermos que foram as garras-brancas mesmo”, ela sugere. “Podemos espalhar que os elfos caçando a tribo que servia ao dragão já estavam afetando a defesa da capital. E que, enquanto Brok duelava, havia poucos orcs para proteger esse lugar, e uma horda de garras-brancas veio e pegou o dragão desprevenido.”

    O diabo leva a mão ao queixo e pondera alguns segundos. “Podemos usar essa versão”, diz Byron. “Ela evita qualquer tipo de necessidade de testemunha. Mesmo que quisessem, os orcs da tribo de Estoratora não teriam como contestar.”

    Brok fica calado, pensando. “Pode dar certo com os orcs. Mas… parece muita sorte…”, ele comenta, com um toque de ceticismo. “Há muitos outros que vivem nessas terras. Alguns são… muito estranhos. É difícil dizer o que vão fazer.”

    “É…”, Rubi comenta, com ar cansado. “Já encontrei alguns desses outros habitantes da floresta.”

    “Quem?”, Byron pergunta, com uma expressão que mistura preocupação e surpresa.

    “Os elfos sombrios. Foi no caminho até aqui. Eles não eram agressivos e também queriam a morte do dragão. Nós combinamos de ficarmos fora do caminho um do outro. E não deve ser difícil para eles ligarem os pontos do que aconteceu aqui.”

    “Eles… ficariam desconfiados de toda forma”, Brok acrescenta. “Só acreditam no que viram ou fizeram eles mesmos.”

    Byron divaga um momento. “O ideal seria manter nossa presença em total sigilo. Entretanto, dos males, o menor”, ele analisa. “Aqueles que você encontrou são um dos poucos povos civilizados que não antagonizam completamente os demônios. Podemos usufruir disso mais tarde. Mas, ainda temos que nos manter atentos.”

    Acho que seria melhor dizer que foram eles que me encontraram, ela reflete, sentindo um arrepio da espinha até a cauda, ao lembrar-se do encontro. Mas dentro dos limites do que conversar com uma sombra permite, até que eles foram bem razoáveis.

    “E com os outros povos?… O que fazemos se ficarem desconfiados?”, o orc questiona.

    O diabo lança um olhar categórico ao orc. “Eu creio que, para a grande maioria dos outros habitantes da floresta, a única verdade que importa é que o dragão morreu. Seja por sorte, destino ou um feito divino. E não é relevante para nós se eles acreditam ou não. Devemos nos preocupar apenas com aqueles que realmente busquem a verdade e que possam nos expor”, ele responde, sério e didático como se desse uma aula. 

    Um sorriso nervoso surge nos lábios da succubus. Acho que já estou me acostumando com o Byron sendo intenso. Mas fico me perguntando se o Brok lida bem com isso, ela pensa, desvia o olhar para o orc e se surpreende.

    O guerreiro ergue o queixo e acena com firmeza para Byron, com a postura resoluta de um soldado veterano. 

    Talvez ele lide com isso melhor do que eu, a succubus admite.

    Brok exibe uma expressão determinada. …Um feito divino…, ele pensa em silêncio, como se ruminasse um significado maior.

    “Desde que não tomemos ações que prejudiquem abertamente os outros, devemos poder seguir com tranquilidade por enquanto”, diz Rubi, assumindo um tom firme. “Já vimos no que deu a gestão anterior. Não quero a mesma reputação na nossa. Vamos continuar agindo com calma e sem chamar atenção demais.”

    Byron e Brok acenam com a cabeça, concordando em uníssono, ambos decididos.

    “Depois desta noite, começamos a fase dois do nosso plano”, continua a succubus com a voz obstinada, liderando os dois. “Byron e eu vamos para a região de onde vêm as garras-brancas. Vamos caçá-las até diminuirmos o efeito do enxame.”

    O diabo se curva com elegância. “Será uma honra continuar ao seu lado em batalha”, ele diz, com uma reverência contida, nitidamente lisonjeado.

    Vai ser um bom momento para começar o treinamento dele, ela pensa. Deve haver pelo menos um monstro chefe de nível intermediário por lá…

    “Brok, enquanto isso, quero que você vá até as bordas e dê um jeito de espalhar a história da sua vitória entre as tribos e que, se eles quiserem, já podem voltar às suas terras. Tudo certo?”

    “Sim!” responde o orc, direto, com a força de quem já visualiza a missão.

    Ao voltar a olhar para o guerreiro verde, algo volta na cabeça de Rubi. “Falando nisso…”, ela diz, com um leve tom de hesitação. “Brok, o que acharia de trazer sua tribo para cá? E assumir o comando dessa capital?”

    O questionamento quebra completamente a postura do orc. “O que?!”, ele questiona com olhos arregalados, embasbacado.

    “Eu sei que vocês acabaram de recuperar suas terras… mas este lugar é importante. Acho que seria bom ter alguém de confiança aqui, cuidando dessa cidade.”

    “Essa é uma boa ideia”, diz Byron, agradado. “Seria interessante ver o novo Lorde das Terras-Livres ocupando seu lugar de direito, ainda mais considerando as mudanças que estão por vir.”

    O orc baixa a cabeça e um semblante pesado toma conta de sua feição.

    Ele achou ruim?, Rubi se questiona, preocupada.

    “Nessas terras… não há um único orc que recusaria a oferta de morar aqui”, diz o guerreiro. “Mas, você conquistou essa terra. Pensei… que você é quem tomaria conta daqui.”

    Eu?, Rubi questiona-se, com a cauda arrepiada de surpresa.

    Ela solta um sorriso baixo. “Eu já tinha avaliado essa possibilidade. Mas, prefiro deixar essa cidade nas mãos de quem eu sei que vai dar mais valor”, ela comenta, desferindo um olhar confiante ao guerreiro. “Eu penso que essa capital tem um potencial muito maior com você por aqui.”

    O orc fica sem palavras durante alguns segundos. “Então eu aceito!”, ele diz, decidido. “Vou fazer a sua conquista valer a pena.”

    Rubi acena, em um gesto de confiança. Esse lugar seria um desperdício na minha mão, ela analisa. Eu sei o valor estratégico daqui, só que no final, não seria nada muito diferente de quando o dragão reinava. O Brok conhece essa floresta melhor do que ninguém. 

    “Espero que não confunda as coisas e que honre essas palavras, Brok”, Byron avisa, severo. “Isso tudo ainda está dentro dos seus deveres de campeão.”

    “É… É claro!”, responde o orc, endireitando-se. “Eu… eu sei.”

    “Byron, não preci…”, Rubi começa, com a voz baixa, acuada com o tom severo de Byron.

    Mas o orc já a encara nos olhos com determinação renovada.

    “Em que parte da cidade a… lorde quer fazer a sua toca?”, ele pergunta, solene.

    Rubi pisca, confusa. Toca?, ela se indaga, perdida. Calma. Calma. Demônio tem toca? Não deveria ser uma base, uma casa, ou… talvez, um covil?

    Ela desvia o olhar para Byron, os olhos brilhando com uma esperança silenciosa, como se aguardasse que ele corrigisse aquilo. Não vai dizer nada?, pensa a succubus, inquieta.

    “Nessa torre…”, O demônio pontua, observando as redondezas do ambiente, exalando murmúrios enquanto vislumbra algo. “Com algum trabalho e bastante limpeza, poderíamos fazer algo funcional. Utilizar aquele buraco centralizado, com alguns túneis, seria um bom local. O que acha, senhorita?”

    “Aqui? Não é ruim, mas…” A resposta sai hesitante, tomada de surpresa. Antes de completar a frase, uma memória toma conta de sua mente.

    Ela se lembra do abrigo do Byron, um buraco profundo, no alto de uma colina macabra, rodeada de vegetação morta. Aquilo… era uma toca, ela analisa, em um misto de choque e revelação. O Byron vivia numa toca.

    “Então, perfeito”, diz o diabo, transparecendo satisfação. “Usaremos esse lugar.”

    “Certo”, Brok responde, assertivamente. “Quando voltarmos até aqui, darei um jeito nesse lugar.”

    O diabo e o orc se afastam, aproximando-se de uma parede. Começam a discutir detalhes sobre estrutura, limpeza e reforma da torre.

    Rubi permanece mais afastada, observando os dois em silêncio. Acho que eles não precisam de mim pra acertar isso, ela pensa, soltando um suspiro carregado de resignação. Considerei que fosse muito cedo para decidir onde faria uma base. Ainda temos tanta coisa pra resolver.

    Seus olhos passeiam pelas paredes e pelo teto, e seus lábios se curvam em um pequeno sorriso. Mas… não é ruim já ter um lugar pra morar. E, por um instante, suas pupilas brilham, misturando um brilho rosa ao amarelo natural.

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