Índice de Capítulo

    “Ah, acho que eu te entendi mal. Pensei que eu fosse uma das pessoas pelas quais você se sente responsável.”

    “Sua autoconfiança é exagerada.”

    “Sim, fui ousada demais.”

    Enquanto Paula resmungava, Vincent riu novamente. Desta vez, sua risada era irritante.

    “Eu só queria deixar claro. Se eu sou uma daquelas pessoas pelas quais você se sente responsável, não precisa se preocupar.”

    “Por quê?”

    “Porque eu me viro bem sozinha.”

    “Muita confiança, mais uma vez.”

    “Mas é verdade. Mesmo antes de vir para cá, eu estava me virando bem sozinha. Se tem uma coisa que eu sei fazer, é meu trabalho. Então não se preocupe, pode me deixar ir.”

    “Você é arrogante demais. Não é assim tão simples.”

    “Bem, se tudo falhar, morrer não é um grande problema.”

    “Você encara a morte com muita leveza.”

    “Porque é uma questão simples.”

    “Por quê?”

    “Nunca houve realmente um motivo para eu viver. Eu nunca tive um grande propósito. Eu continuei porque meu coração batia e o sol continuava a nascer. Não era uma vida grandiosa.”

    “Ninguém vai sentir minha falta quando eu morrer. Antes de vir para cá, a morte me era mais familiar do que a vida. Mesmo neste lugar quente e confortável, fui vendida por moedas de ouro. Minha vida ainda não tem valor.”

    “Você não precisa de um motivo para viver. Você só vive.”

    Vincent franziu a testa, claramente discordando.

    “Algumas pessoas não deveriam viver.”

    “Eu não acredito que alguém que veio para cá sem sentir falta da família e que assume riscos perigosos que podem acabar em morte tenha tido uma vida cheia de amor e cuidados. Você deve ter tido uma vida difícil, que te levou a apostar sua vida tão facilmente.”

    “…”

    “Mesmo assim, essa pessoa não é você.”

    Seu rosto mostrava desgosto, e sua voz carregava um tom de frustração. Apesar disso, Paula não conseguiu desviar o olhar.

    “Você merece viver.”

    “… Nunca ouvi isso antes.”

    “Eu sempre pensei que fosse você quem estava vazia, não eu.”

    “Eu acho que sim.”

    Sua voz tremia enquanto ela falava. Forçou um sorriso, sabendo que Vincent não poderia vê-la, mas querendo mostrar a ele que ela estava tranquila, que ela estava bem, como sempre esteve. Que ela não iria quebrar agora, nem nunca. No entanto, ele destruiu essa resolução sem esforço.

    “Viva mesmo assim.”

    As palavras casuais dele fizeram o sorriso forçado de Paula vacilar. Mesmo sem poder vê-la, seu olhar inabalável parecia encontrar o dela diretamente.

    “Viva uma vida feliz.”

    Sua voz ainda era ríspida, mas a sinceridade por trás de suas palavras fez Paula sentir como se estivesse à beira das lágrimas. Ela mordeu o lábio para segurá-las, mas as lágrimas continuaram a se formar.

    “Isso realmente é permitido?”

    “É permitido.”

    “Ser feliz?”

    “Sim. Muito feliz.”

    As palavras dele saíam lentamente entre seus suspiros trêmulos.

    “Eu vou.”

    Ela abaixou a cabeça, a visão embaçada à medida que as lágrimas se acumulavam. Tentou não piscar, com medo de que caíssem, mas não conseguiu impedir que se derramassem, uma a uma.

    “Eu vou me esforçar.”

    Paula não conseguiu mais conter o tremor na voz.

    O que é o consolo, realmente? Mesmo uma palavra simples pode ser o suficiente se alcançar alguém. Nunca ninguém me disse que eu tinha o direito de viver. Sempre senti que estava sendo gananciosa, que estava ignorando os sacrifícios da minha família só para continuar. Uma parte de mim tinha o desejo egoísta de viver um dia a mais, mas nunca ousei esperar pela felicidade.

    Mas Vincent disse o contrário. Ela sabia que ele estava falando sério, e porque sua sinceridade a alcançou, ela não conseguiu parar a enxurrada de emoções.

    “Obrigada.”

    “…”

    Paula estava profundamente grata a Vincent por lhe permitir experimentar essa nova sensação de esperança.

    Ela cobriu o rosto com as duas mãos. Assim que as lágrimas começaram, não pararam. Ela tentou chorar em silêncio, abafando os sons, mas pequenos soluços ainda escapavam.

    Vincent, sensível aos sons, percebeu seu choro e virou a cabeça na direção oposta. Mesmo sem poder vê-la, seu gesto atencioso de fingir não notar ou ouvir a fez sorrir. Ela aproveitou o momento para enxugar as lágrimas e recuperar a compostura.

    Um vento forte começou a soprar, fazendo as flores dançarem ao redor deles. Vincent estava no meio das flores, com os cabelos dourados balançando na brisa. A luz do sol atravessava seus fios dourados, criando um espetáculo deslumbrante que capturou a atenção de Paula. De pé, tão imponente, ele parecia alguém capaz de irradiar luz por si só.

    Paula se perguntou se algum dia poderia ser assim, alguém que brilha por si mesma.

    Ela seria forte o suficiente para enfrentar situações infernais sozinha?

    “Haverá um momento em que eu vou me sentir grata só por estar viva?”

    “Haverá.”

    “Sério?” Paula perguntou, forçando um sorriso enquanto olhava para ele. Vincent parecia contemplar por um momento antes de se virar para encará-la. Sua expressão estava resoluta, o que a deixou perplexa. Então, sem aviso, ele começou a andar rapidamente. Paula ficou atônita. Vincent, que antes hesitava em andar sem apoio, agora estava se movendo com confiança, sozinho.

    “Mestre, para onde você vai?”

    “Fique aí,” Vincent ordenou, continuando a andar para longe dela. A distância entre eles aumentava.

    Quando Vincent chegou à beira do canteiro de flores, ele parou. Paula o observava, incrédula. Em resposta à sua confusão, ele se virou e começou a voltar lentamente em sua direção.

    Ele estava andando.

    Ele estava realmente andando.

    Sem usar uma bengala ou depender de ninguém para apoio, Vincent estava andando diretamente em direção a Paula com seus próprios pés.

    Paula ficou assombrada, os olhos bem abertos. Ela já tinha presenciado muitos momentos inacreditáveis em sua vida, mas este foi o mais profundo.

    “Meu Deus,” Paula exclamou, esquecendo momentaneamente de respirar. Vincent se aproximou dela com confiança, fechando rapidamente a distância, e estendeu a mão para ela.

    Ele logo segurou sua mão com firmeza. Paula olhou para ele, atordoada. Ao ver sua expressão, Vincent sorriu suavemente.

    “E aí, como está?”

    “Você realmente consegue ver?” Paula perguntou, sua excitação fazendo a voz dela subir.

    O sorriso de Vincent se alargou.

    “Eu pratiquei muito. Você sabia disso, não?”

    “Eu sabia que você estava praticando com a bengala, mas não sabia que também estava praticando andar sozinho. Você não teve medo de cair?”

    “Eu tive medo,” Vincent admitiu. “Mas encontrei uma maneira de superar isso.”

    “O que foi?”

    “Eu decidi que, mesmo que eu caísse, eu só precisava me levantar novamente.”

    Parece simples, mas Paula entendeu o quão desafiador deve ter sido para Vincent aceitar um fato tão básico.

    “Você disse uma vez que deveríamos ver isso como uma aventura na escuridão, por isso precisamos ter coragem. Na época, isso parecia absurdo, mas não era uma ideia tão ruim. Mudar a forma como você pensa é o ponto. Mesmo que você caia andando sozinho, basta se levantar e continuar como se nada tivesse acontecido. O que importa é que você continue seguindo em frente. Eu estou certo?”

    “Sim.”

    “Vou seguir seu conselho, então você também deve fazer o mesmo, Paula.”

    “…”

    “Você disse que ficaria ao meu lado. Não importa o quanto eu tentasse te afastar, você ficaria. E se alguém precisasse ser salvo, você continuaria até que fosse resgatado. Mesmo que não fosse resgatado, você ficaria comigo para sempre.”

    De repente, o sorriso de Vincent desapareceu, e sua testa se franziu, como se ele se lembrasse dessas palavras. Paula, por sua vez, explodiu em risos.

    “Pensando bem, você é tão arrogante agora quanto era naquela época.”

    “Eu não posso evitar. É assim que eu sou,” Vincent respondeu.

    Paula olhou para ele com um sorriso radiante. Em resposta ao comentário dela, a expressão de Vincent suavizou e ele deu uma risada baixa. O homem que antes se encolhia de medo não estava mais ali. Agora, ele estava se tornando mais saudável, tanto física quanto mentalmente. Paula ficou feliz ao ver uma mudança tão positiva nele.

    “Não é bom, mesmo que por um curto período, que você esteja viva?”

    “Hmm?”

    “E você também viu algo bonito.”

    O comentário de Vincent sobre si mesmo ser “uma boa visão” deixou Paula sem palavras por um momento. A consideração de suas palavras a surpreendeu. Mas, como Vincent havia dito, vê-lo andar por conta própria, mesmo que por um breve momento, fez Paula se sentir verdadeiramente grata.

    Ela estava grata por ele não ter desistido. Naquele momento, ela sentiu uma felicidade genuína.

    Então, dessa vez, ela não podia argumentar.

    Apesar de seus lábios estarem caídos, Paula forçou um sorriso e exclamou alegremente, “Sim!”


    Embora o tempo que passaram juntos tivesse sido curto, Paula e Vincent compartilharam muitas conversas. Discutiram assuntos triviais, relembraram eventos passados e expressaram suas queixas, sempre focando na presença um do outro. Com o tempo, Paula sentiu um crescente sentimento de arrependimento.

    Pela primeira vez, ela se sentiu realmente triste com uma despedida.

    Desconhecendo essa emoção, Paula nervosamente bateu os dedos no chão enquanto esperava Renica trazer a lavanderia, como de costume.

    Quando Renica chegou pouco depois, Paula se surpreendeu. Seus olhos estavam vermelhos e seu nariz estava irritado.

    “O que aconteceu?” Paula perguntou, notando o desconforto no rosto de Renica.

    “Nada. Nada aconteceu,” Renica respondeu, embora sua expressão contradissesse suas palavras. Enquanto Paula insistia para saber mais detalhes, Renica continuava balançando a cabeça, com lágrimas se acumulando nos olhos. Sentindo que a conversa estava muito sensível para ser feita em um lugar aberto, Paula gentilmente levou Renica a um local isolado entre a casa de hóspedes e os arbustos.

    Elas se sentaram juntas. O comportamento normalmente alegre de Renica foi substituído por uma preocupação profunda, fazendo Paula perceber que algo sério devia ter acontecido. Renica havia sido uma fonte inadvertida de conselhos e apoio durante a estadia de Paula na mansão. Paula queria ajudar, se possível, ou ao menos escutar.

    “Você pode me contar o que aconteceu? Talvez eu não consiga ajudar muito, mas posso escutar. Às vezes, compartilhar seus problemas pode aliviar o peso,” Paula disse suavemente.

    Renica hesitou, sua voz tremendo enquanto falava após uma longa pausa. “Há alguns dias, uma empregada e um empregado desapareceram.”

    “Desapareceram?” A voz de Paula carregava uma nota de preocupação.

    “Sim,” Renica confirmou com uma acentuada confirmação. “Eles estavam em um relacionamento romântico, se encontrando secretamente sem que ninguém soubesse.”

    “E depois?” Paula perguntou, sua curiosidade despertada.

    “Bem… eles foram pegos juntos,” Renica respondeu, sua voz pesada de tristeza.

    “Como isso aconteceu?” Paula indagou.

    “Parece que eles estavam se encontrando com frequência à noite, saindo furtivamente de seus quartos. Da última vez que fizeram isso, senhorita Isabella os pegou, e infelizmente, o mordomo também estava lá.”

    Os olhos de Paula se arregalaram. Embora um encontro à noite entre um homem e uma mulher não fosse inerentemente suspeito, a frequência desses encontros secretos sugeria que o relacionamento deles talvez não fosse puramente inocente. A expressão abatida de Renica confirmou as suspeitas de Paula quando ela assentiu solenemente.

    “Isso mesmo. Era uma situação que não deveria ter sido descoberta,” Renica disse.

    “…”

    “Os dois foram punidos. Um deles até teve que deixar a mansão.”

    A confusão de Paula cresceu. “Então eles fugiram no meio da noite?”

    Vendo a perplexidade de Paula, Renica balançou a cabeça. “Não, eles desapareceram, mas não foi voluntário.”

    “O que você quer dizer com isso?” Paula perguntou, franzindo a testa em confusão.

    Os olhos de Renica estavam inchados, seu nariz vermelho e suas bochechas coradas de angústia. Apesar de sua aparência chorosa, sua expressão permanecia tensa enquanto encarava Paula.

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