Índice de Capítulo

    Marelia sentou-se no assento de Theo na enorme mesa da Legião 5, tal qual foi nomeada de “A Quinta Távola” pela própria rainha.

    Ela mexeu alguns papéis, expressando dor de cabeça e receio. O General Mason a fazia companhia, explicando cada ponto que a rainha estava lendo atenciosamente.

    * Relatório da Quinta Legião, página 1.

    Último dia do décimo quarto mês.

    Um pequeno grupo comandando pelo General Liam Mason e constituído pelos agentes; Ziziel, Glaciel e Serach, apreenderam dezoito indivíduos na última noite do décimo quarto mês, no subúrbio de Kiescrone, Zona Sul, acusados de tortura grave, tráfico humano, porte de armas ilegais e posse de drogas ilícitas.

    Todos os indivíduos foram detidos e interrogados…

    — Como foi a interrogação? — perguntou Marelia, ignorando o relatório.

    Selina, portanto, cruzou os braços e se encostou na cadeira, olhando para o chão e irritada.

    Theo sentou-se na quina da mesa e folheou as páginas do relatório.

    — Os guardas eram mercenários contratados, óbvio — disse Theo. — Mas, os outros três não eram.

    Ele apontou para uma ilustração de reconhecimento feita assim que os indivíduos chegaram na Prisão da Corte. Nela, estavam seus rostos revelados e o traje, junto dos nomes ao lado.

    — Ferdnan, Pierre e Moustber… — disse Marelia, lendo os nomes.

    — Consegue ver a quem estão associados?

    O quinto General guiou os olhos da rainha até o traje dos homens: uma batina.

    Ferdnan estava com uma batina roxa de cruz branca, enquanto Pierre vestia uma batina branca com uma cruz preta. Moustber, no entanto, se revelou como o principal: uma batina vermelha com uma cruz dourada, o maior símbolo de autoridade na Catedral de Kiescrone.

    — Um servo do bispo… — Marelia rangeu os dentes.

    — De qual catedral? — perguntou Selina.

    — Dür…

    Em Kiescrone, existem duas catedrais: A Catedral de Zal, localizada no território dominado por Marelia, e a Catedral de Dür, propriedade de Pendaculos.

    Embora ambas religiões compartilhem a mesma visão sobre um único Deus, as ações dos seguidores de Elohim (Catedral de Dür) eram extremistas e violentas, em certos momentos, terroristas.

    — Elohistas desgraçados… — xingou Selina. — Imundos e amaldiçoados.

    Theo escutou calado.

    A Seita de Alunne era considerada Pagã pelos Elohistas (os Seguidores de Elohim), portanto, não importa se é domínio ou mundo real, eles são perseguidos como hereges pelos Elohistas.

    O General da Quinta Legião sabia que Selina queria ter matado os Elohistas na noite passada, mas ele a impediu. Não é à toa que Theo pediu para Selina se retirar do interrogatório por agir agressivamente, a ponto de desfigurar o rosto de Moustber.

    Selina estava agindo pelo ódio, o que não era de seu feitio.

    — Rainha, peço permissão para investigar a Catedral Absolutista de Elohim, no território de Dür. — Theo pediu.

    Marelia relaxou o corpo e suspirou pausadamente.

    — Vou mexer uns pauzinhos… Irei contatar a Santa Catedral de Yavé, assim vocês iniciam a investigação com alguma base. E… Selina — disse a rainha — Embora eu entenda que, provavelmente, tenha algum conflito religioso entre você e o Elohismo, suplico para não deixar isso te afetar. Lembre-se, você agora é uma tenente de Alsuhindr, afiliada à Kiescrone. Ordeno que seja profissional.

    Theo olhou para sua protetora, agora, uma irmã.

    Selina virou o rosto e suspirou forte, contendo um ódio imenso no peito a ponto de segurar as lágrimas com um ar refrescante.

    Sem dizer uma única palavra, Selina levantou-se e saiu da sala.

    De braços cruzados, Theo acompanhou, com os olhos, Selina deixar a sala. A tenente bateu a porta com força, o que fez um som extremo estrondar no enorme saguão.

    Marelia, encarando as imagens dos criminosos, teve um breve surto de raiva: rangendo os dentes, a rainha de Kiescrone amassou a folha de relatório.

    — Irei providenciar suas missões — afirmou Marelia.

    Selina, sentada nos azulejos ao leito de um lago no Palácio dos 7 Condes, admirou em silêncio a calmaria daquelas águas. Ela deveria ser daquele jeito, afinal, o título que a define era “A Calmaria de Alunne, Serach; A Lua Azul”.

    Mas, desde que entrou no domínio, sua mente estava distante dessa definição. Ela se manteve calma para que Theo pudesse se controlar, já que suas falhas recorrentes se mostravam cada vez mais aparentes com o decorrer dos dias. Selina estava tão ansiosa quanto o Jovem Mestre, mas tinha que esconder.

    Era sua obrigação como tutora da Lua de Sangue.

    “Luas… Qual o peso disso na minha vida, mesmo?” refletiu olhando para o lago, que transbordava com a luz do sol.

    “O que a senhora deixou para mim, mesmo?”

    Ela sentiu a brisa bater em seus cabelos curtos.

    “Por que a obrigação que foi dada a mim, foi sua proteção, sendo que não me dá forças para proteger?…”

    Selina abraçou seus joelhos e escondeu a cara. Momentos depois, olhou para o lago, engolindo as lágrimas e revendo as memórias da noite passada.

    — Proteção… Isso deveria significar realmente o que aparenta?

    — Selie — disse Theo, ao longe.

    Ele estava sem o manto, apenas a roupa militar casual e regata, com um manguito preto indo da metade dos bíceps até o punho.

    O general assentiu, chamando Selina com um gesto rápido.

    Enquanto se levantava, Selina olhou para a postura de Theo; parecendo alguém além do que ele era, mas não escondendo de fato quem era. 

    A boca da tenente ficou entreaberta.

    “Uma lua em seu estado crescente… Prestes a se tornar uma lua cheia.”

    Theo estendeu sua mão para Selina, oferecendo ajuda para subir um pequeno morro de pedras pequenas.

    O general e tenente da Quinta Legião caminharam rumo ao campo do Palácio dos 7 Condes.

    Selina observou as costas de Theo.

    Elas não estavam maiores, afinal, Theo sempre teve um físico atlético no limite. Nunca foi muito robusto, igual a Antony.

    Porém… Ele parecia uma enorme estrutura.

    Sua aura transbordava de uma forma impetuosa. Projetando algo além de Theo, como de fato fosse sua alma no mundo físico…

    A alma que o corpo havia, por fim, aceitado. Por não saber desse fato, Selina enxergou uma forma madura e adulta de Theo se formando, o que não deixava de ser verdade. Todavia, ele estava tão indignado quanto ela.

    Theo estava deixando que sua verdadeira essência; a verdadeira face de teu ser, revelar-se ao mundo.

    Ela estava assistindo à evolução de alguém que, inicialmente, estava num estado pior que o dela.

    Serach engoliu em seco e cerrou os punhos.

    — Theo… — Ela o chamou.

    O General, por sua vez, virou-se para sua tenente. Seus olhos estavam serenos e tranquilos, mas emanava uma certa energia vidrante e faminta por algo.

    — O que Alunne deixou para ti? — indagou escondendo o rosto.

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