Índice de Capítulo

    Olha só quem voltou!
    Peço perdão aos leitores de minha obra. Fagulha das Estrelas é uma obra que amo muito, em cada mínimo detalhe. Mas sou universitário, e às vezes a faculdade realmente quer comer até sua alma.
    Passei por isso. Foi um período realmente bem complicado, mas creio que até o final deste ano, a obra voltará ao normal.
    Desculpas dadas, aproveitem!
    Ah, sim, agora esta obra tem um Discord!
    E também, também, heheheheheheheheheeh…

    “Toma a espada

    Honra a Casa.

    Espada e Asa.

    Izandi, a Oniromante

    Era como um curto badalo. Um tremor rápido, curto… Um que fazia as folhas das sumagreiras farfalharem. Por um momento havia som, havia luz. Recordava-se do barulho. Era comum — tão comum desde o início da sua vida. Vush! Quando começara? Ereken não se recordava com plenitude. Aos dez? Não, fora antes… Com o instrutor Hebbel, que seu pai contratara?

    Logo, fora um som forte e seco, acompanhado de uma queimação que só viria de uma mão tão calejada quanto uma pedra antiga e pesada, tão pesada… Paft!

    Fervor de saltimbanco,

    Burra, doninha!

    Caiu de solavanco:

    Acabou, engraçadinha!

    — Uhg… — escapou da boca do homem.

    “Com o que sonhei?”

    Algo quente e macio tocou no seu rosto e a luz atacou seus olhos com um ímpeto doloroso demais para abri-los. Respirou fundo e forçou suas pálpebras, como se tivesse esperança de que fosse diminuir as dores que sentia agora. “Meu braço esquerdo…”

    — S-senhor… Bonitão! Finalmente acordou! — Não via com clareza, mas tinha certeza que um sorriso estava na face arteira da garota. — Minha voz é realmente mágica, não? — Apertou o que pressionava contra o ombro de Ereken, e ele falhou em manter o gemido de dor. Num estante, antes que pudesse processar, um estralo fora feito com força para fazer uma criança gritar.

    “Falhei?”, pensara com a mente turva pela dor e por todo o resto, mas seus olhos logo pararam de evitar a luz. “Certamente, eu certamente falhei.”

    — Onde… — tentou questionar, mas fora parado pela secura na garganta. “Fui vencido mais uma vez”, pensara. “O que meu sire pensaria de mim, se me visse neste estado?”

    — Numa caverna, perto de onde acordei. Eu acho. — Ereken sentiu o aperto mais uma vez. Engoliu em seco e forçou os músculos das costas e barriga para se erguer um pouco, e fora como se fossem a superfície de um lago congelado. — Ei, ei, não se esforce tanto!

    — Tenho… que ret…ornar — balbuciou; sua testa bateu contra pelos fedorentos, e então fechou os olhos.

    Paft!

    — Uhg…

    Ouviu estralos

    — Já acordou de novo? Como…

    — Á…gua.

    Ouviu passos… Alegrou-se.

    Paft!

    “Falhei?”

    Por alguns momentos, havia luz; noutros, seus olhos só sentiam o frio. Não o frio quase insuportável que já se acostumara dentro da Fortaleza-Montanha, mas um frio menor, diferente. “Seria a primavera?”, sua mente cansada pensou.

    Engoliu em seco e pôs a força no braço direito, forçando os dentes para não reclamar de dor enquanto seus músculos quebravam como cacos de vidro, e não reclamou. Por aquele momento, Ereken sentiu leveza no seu corpo dolorido, uma que não conseguia pensar sobre.

    “Onde estamos?”

    Seus olhos voltaram a viver pouco a pouco. Primeiro, fora a escuridão da noite — aquela que havia conquistado tão antes, tanto antes… Ereken Zwaarkind suspirou de… alívio, então prendeu a respiração de medo. Porém, pouco depois, as coisas tomaram forma, e o escuro deixou de importar quase tanto quanto suas dores. A luz pintava de negro e cinza tudo que a fogueira ainda conseguia iluminar, com suas poucas e últimas chamas acesas, despedindo-se dos galhos muito molhados para serem queimados. “Foi desespero.”

    O odor do sangue congelado permeava a caverna escura, e um gotejo escorria de não muito longe. Ereken ouvia, sentia o cheiro da carne de um animal. “Método errado, atrairá os que não hibernaram.” Perto de si, passou a enxergar a fogueira quase apagada e peles forrando o chão — peles de lobo mal esfoladas, algumas que cobriam seu corpo, outras menos, o corpo pequeno da garota de cabelos pretos azulados… Um pequeno sorriso se abriu na face do homem.

    Pondo força nas pernas e aquecendo-se com ahvit, Ereken sentiu seus músculos e pele fragmentando-se enquanto ficava de pé, como se estivesse congelado. Como se seu corpo estivesse mudando uma segunda vez. Um grunhido gutural foi preso entre os dentes cerrados enquanto um estalo alto saia do seu ombro esquerdo, de onde o braço não mais pendia deslocado.

    Thirtu acordou com o barulho do estalo.

    — Eu deixei a água em algum lugar…

    — A forta… gh…!

    — Hahaha! — Ela se jogou para frente, ignorando a fogueira quase apagada e que estava desprotegida contra o frio. — Tirei umas carnes de lobo com sua espada, bonitão. — Abriu um sorriso arrogante. — Aposto que está com fome…

    — O que acont…

    — Te conto no caminho — interpôs e cruzou os braços. Ereken franziu o cenho, mas logo o afrouxou quando viu as bochechas da garota avermelharem. — E obrigado. Por me salvar… — desviou o olhar. — Que frio! Droga!

    Ereken aceitou uma água quase congelada e comeu, com dores na mandíbula, as tiras mal assadas de coxa de lobo, com a garota risonha.

    Ao fundo da pequena caverna, havia muito mais do que ele precisaria para se satisfazer. No entanto, não se deu a oportunidade. Assim que o cansaço passou, ficou de pé e pegou sua espada. “Tenho que voltar para meu posto”, pensou. Thirtu a deixara próxima de sua cama de peles; sua lâmina escurecera, e apresentava partes quebradas no fio. “Tenho que levá-la ao ferreiro da Fortaleza.”

    “Minha espada antiga não necessitava de ferreiros.”

    Thirtu não demorou para reunir seus pertences: as peles de lobo. Ela se vestiu com camadas e camadas, com o rosto avermelhando; e a luz do dia enfim os banhou. Os olhos do homem arderam qual palha seca no fogo, de modo que escorou-se em uma árvore seca e congelada.

    — Só alguns segundos…

    — … — silenciou-se Thirtu, semicerrando os olhos claros e se abraçando com mais força. Ela abriu e fechou a boca como um peixe por dezenas de vezes até que Ereken ficasse de pé. — Faz tempo que não tem um bom sol, não é?

    Logo os dois partiram pela curta, porém densa, floresta próxima da Fortaleza-Montanha. Os pinheiros e carvalhos espinhosos logo passaram a se enovelar com as trepadeiras congeladas, com as pedras e neve, com um sol quase branco ardendo pelo tapete gélido sob os pés. Ereken ainda parou para beber água mais uma vez antes de se dar conta da ausência de nuvens no céu; antes de reparar que não havia neve o suficiente para seus pés afundarem.

    Franziu o cenho e suspirou; um suspiro entrecortado.

    — Isso não deveria estar assim…

    Thirtu deu um longo passo para ficar à frente do homem alto.

    — Você foi ferido, bonitão. — Pôs as mãos na cintura. — Caiu de um lugar alto, e ainda se deu de escudo para mim… — Sua cabeça despencou como orvalho numa folha de aureira. — Obrigado por me salvar, senhor Zwaarkind.

    — Eu te contei meu sobrenome?

    — Pela bendita Mãe-das-Neves, você bateu a cabeça também?

    Ereken lufou pelo nariz e abaixou a cabeça…

    — Você consegue sorrir?! — a garota quase gritou. — Estou pasma!

    — Eu tinha um ótimo humor. — Ergueu a cabeça, finalmente notando uma crosta: uma ferida no lado esquerdo da testa. — Ainda tenho… Sempre tive.

    A garota cruzou os braços e falou num tom arrogante:

    — Não é o que venho testemunhando, bonitão.

    — Já disse que sou casado.

    — E que tem um filho na minha idade. — Voltou a apertar as peles de lobo. — Tal pai tão filho, não é como vocês dizem?

    Ereken suspirou.

    — É “tal pai tal filho” — corrigiu-a, num tom lúdico.

    “Tal pai tal filho.”

    Seu peito endureceu. Ereken saltou de supetão e trincou os dentes, com força para ouvi-los estralarem.

    — Já me sinto melhor — disse secamente. Engoliu o ar gélido e suspirou. Deu um longo passo.

    — Não quer ouvir o que aconteceu? — ela questionou, apertando o passo para acompanhá-lo.

    Ereken estava com o cenho franzido de uma confusão de ira e cansaço, olhando para as copas nuas das árvores escondidas entre os pinheiros altivos e escuro. Thirtu enovelou-se nas peles mais intensamente, e após um espirro e passarem por um arbursto, não deu ouvidos ao silêncio do homem.

    — O senhor me protegeu da queda. Naquela hora. — Arrancou um galho de uma planta quebradiça. — Eu ia congelar… Me entedio com facilidade, sabe? Então quis caçar. Já fazia muito tempo que não caço. Aí me encontrei com… aquela gente.

    — …

    — Eles não falavam nenhuma língua que conheço — pareceu por as mãos na cintura —, e me esforcei muito para aprender a língua de vocês, entende? Tentei só… sair, mas me derrubaram com uma pancada, e aí me amarraram. Disseram algo, não sei… Só esfriou muito, e então aquela… coisa surgiu e comeu um carneiro numa abocanhada só! Parecia uma maldita galinha vinda das geleiras do inferno! Tinha um bico magro, todo esquisito, e penas curtas cobrindo só um pedaço das asas e das costas, e tinha umas partes esquisitas. Não consegui ver perfeitamente. — Deu de ombros, olhando para a nuca de Ereken. Um hematoma quase negro cobria metade dela, qual uma folha fazendo sombra. — Ele tentou me comer, mas, não sei… mas aqueles homens espantaram-no com os galhos de uma árvore que nunca vi. Parecia um freixo, ou uma faia.

    Ereken parou, finalmente dando o olhar para Thitu. Um sorriso pávido foi subitamente libertado por ela. Desta vez, não tinha nenhuma touca de peles cobrindo seus cabelos, e mesmo com o vento, pareciam parados como uma pedra negra azulada.

    — E aí, vocês apareceram. — Apertou as peles. — Aquela coisa brotou do chão qual planta, bem onde o senhor me carregava, e aí fomos jogados pra longe. O senhor bateu a cabeça num pinheiro e desfaleceu. — Ereken franziu o cenho. — Daí peguei sua espada e tentei me virar, e manter nós dois vivos. Por sorte, sei me virar na neve muito bem. Sou uma mulher beeem tarimbada, bonitão.

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