Capítulo 16 — A Incrível Vida de Um Internado [2]
Pouco a pouco, um pequeno fragmento de espelho começou a se formar na minha mão, pouco maior do que uma faca de serra, mas incrivelmente trincado. No começo, também achei que era só mais uma das coisas defeituosas que haviam me dado, entretanto, essa relíquia havia se provado o contrário.
“Um pote de ouro”, murmurei. Colocando um dedo no lábio, enquanto analisava as palavras que aos poucos surgia na tela à minha direita.
『Espelho Defeituoso』
[Classificação]
➣ Desperto
[Descrição]
➣ Um espelho quebrado, sempre será um espelho quebrado. Essa é a ordem das coisas, mas… como seria um espelho tocado pelos sonhos?
[Habilidade]
➣ Mímese: o espelho defeituoso pode assumir temporariamente a forma de qualquer objeto inanimado de mesmo tamanho ou menor. Essa ativação dura por quinze segundos e ao fim desse tempo, o espelho inevitavelmente se despedaça, perdendo sua essência para sempre.
Bom, a primeira vista, isso poderia ser algo extremamente ruim, eu também pensei nisso inicialmente, no entanto, sua habilidade era valiosa para que eu conseguisse enganar um alvo e conseguisse executar o meu real plano. Alguns adormecidos poderiam utilizar isso com extrema facilidade e precisão para serem letais.
Mas esse não era o meu caso, afinal, mesmo tendo despertado, minhas habilidades nada mais eram que inofensivas ou úteis para os outros. Isso também valia para as minhas duas relíquias.
‘Máscara dos Erros e Espelho Defeituoso… que combinação de nomes estranhas.’
“Espera, quê?”
‘Eu realmente deixei passar algo tão importante? Essa máscara, veio por assistir à peça de teatro sobre a minha desgraça, o espelho teria ligação com aquele salão estranho? Mas e a partida de xadrez?’
De fato, isso deixava uma espécie de lacuna entre todos os acontecimentos. O que exatamente deveria ser aquela criatura? O que define as relíquias? Era um total mistério que, pelo visto, não conseguiria compreender tão cedo.
‘O que exatamente deveria significar Inanis Essentia?’
Com todas as dúvidas, apenas me deitei novamente e fechei os olhos. Dispersando o fragmento de espelho das minhas mãos, ainda era uma sensação estranha, com o espelho se dissolvendo em partículas que roçavam meus dedos.
Tik.
A sensação semelhante a dividir minha consciência em dois tomou conta novamente. A visão dentro da minha mente era estranha, tomada por diversos espelhos que refletiam para todos os lados.
Essa era mais uma das mudanças que me ocorreu durante a semana, parece que aquilo que eu chamo de ‘mundo da mente’ se adaptou para meus poderes. Quer dizer, meu poder…
‘Ego estilhaçado…’
“Está tudo resolvido?”
Aigle me olhava com um rosto sereno, embora fosse fundamentalmente a mesma pessoa, nós dois nos diferenciávamos em vários aspectos. Por exemplo, ele é um pouco ansioso, mesmo que não aparenta, e seu medo primitivo de escuro é uma boa arma para se usar quando ele é irritante.
“Acredito que sim, você conseguiu descobrir mais sobre essa situação estranha?” Me virei para o lado, observando um dos espelhos estilhaçados, enquanto analisava algo.
“Na verdade, sim, pelo visto a energia está pouco a pouco se reunindo mais, parece que nos próximos dias algo vai acontecer conosco. Aqui dentro parece que está surgindo uma espécie de fenda pouco a pouco.”
Engoli em seco, saber de nada às vezes era bom, mas na minha situação atual, era extremamente ruim. Conhecimento era poder, em suas certas medidas.
“Entendi…”
‘Acho que eu deveria ter esperado algo assim, depois de transmigrar para um mundo estranho num corpo estranho, perder as memórias, claro que mais anormalidades aconteceriam, né?! Que porra, pelo menos com o meu conhecimento de webnovels isso deve significar que algo espetacular está próximo de acontecer.’
No entanto, por que eu achava que isso seria de alguma forma bom? Só desgraças aconteceram até agora, no que isso mudaria?
“Ei Aigle.”
“Que foi?”, respondeu com uma pitada de preocupação.
‘Mais trabalho não… eu só queria descansar, já não basta ficar nesse escuro, preciso ficar realizando as atividades que ele pede…’
Meu sorriso calmamente caiu, destruindo a faceta construída para parecer feliz naquele momento, encarei Aigle por alguns segundos sem dizer nada.
“Se esqueceu que eu escuto os seus pensamentos?”
“Ah…” A expressão de Aigle se contorceu em uma espécie de misto entre constrangimento e resignação. Desviando o olhar, focou em um dos infinitos reflexos distorcidos que nos cercavam. Um suspiro escapou de seus lábios, como uma brisa fantasma em nosso mundo mental.
“Certo, desculpe. É que… é cansativo. Manter a vigília, sentir essa coisa crescendo. É como ter uma enxaqueca eterna.”
Sua honestidade me desarmou por um instante. Eu tendia a tratá-lo como uma ferramenta, uma extensão de mim mesmo, mas esquecia que ele compartilhava de todas as angústias e medos, talvez até de forma mais intensa, por estar perpetuamente preso neste labirinto de reflexos.
‘Certo… eu venho sendo um tanto quanto maldoso com ele.’
“Uhh… vamos focar no que importa” Tentei suavizar meu tom de voz.
“Mostre-me essa fenda. Quero ver com meus próprios olhos.”
Aigle assentiu, e a paisagem ao nosso redor começou a se mover. Os espelhos giraram e se realinharam como um cardume de peixes prateados e quebrados, todos nadando em uma única direção. Eles nos guiaram para uma área mais profunda e escura do meu subconsciente, um lugar que eu instintivamente evitava.
A escuridão aqui era diferente, não era apenas a ausência de luz, mas uma presença palpável, que parecia absorver som e pensamento. E no centro de tudo, estava ela.
“Essa é a fenda?”
Ao contrário do que eu pensava, não era uma simples fenda rachada numa parede. Parecia mais como uma ferida no próprio tecido da realidade. Parecia simples, uma linha fina e irregular de escuridão absoluta, que não refletia nada.
“Sim.”
Era realmente especial. Em um mundo feito de espelhos, algo que não podia ser refletido provavelmente era a maior de todas as anomalias. Da fenda, parecia pulsar uma energia fria e silenciosa. Uma sensação de morte emanava fortemente.
“Realmente é algo que devemos nos preocupar… Está além do que eu pensava…”
Ocasionalmente, pequenas ondulações refletiam a partir da fenda, distorcendo os espelhos próximos, me virando para alguns espelhos, notei que os reflexos se metamorfoseavam e se contorciam em formas grotescas por um breve momento.
Antes da normalidade retornar.
“Ela cresceu desde ontem”, Aigle sussurrou. “A pulsação está ficando mais regular.”
Com um certo receio, me aproximei com cautela da fenda, minha forma mental parou a uma distância segura. Enquanto tentava estender minha percepção para dentro da fenda. O que retornou foi apenas o vazio. Um nada colossal e ressonante.
“Pelo visto vamos ter bastante trabalho daqui para frente. Ainda não utilizarei a máscara dos erros… Sinto que isso poderia dar muito errado de novo.”
E assim, eu sai novamente do mundo da mente, deixando Aigle livre para interagir com o mundo junto a mim.
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