Capítulo 3 - A Frota Yang Se Mobiliza - Parte II

A Frota Yang Se Mobiliza – Parte II

Naquele ano, do final de março até meados de abril, os 13 bilhões de cidadãos da Aliança dos Planetas Livres não tiveram falta de motivos para alimentar o medo e a ansiedade.

30 de março: tentativa de assassinato do Diretor do Quartel-General Operacional Conjunto, Cubresly.

3 de abril: o planeta Neptis é ocupado por uma revolta parcial das forças militares estacionadas no local.

5 de abril: Revolta armada no planeta Kaffar.

6 de abril: Guerra civil em grande escala irrompe no Império Galáctico.

8 de abril: O planeta Palmerend é ocupado por forças rebeldes.

10 de abril: O planeta Shanpool é colocado sob ocupação pelas forças armadas.

De um lugar distante da capital de Heinessen, Yang observava cuidadosamente esses incidentes.

Embora suas previsões não tivessem abrangido a tentativa de assassinato do diretor Cubresly, tudo o mais estava se desenrolando praticamente como ele esperava. Seria correto se parabenizar por ter lido os planos do Marquês von Lohengramm desta vez?

No entanto, do ponto de vista de Reinhard, isso não passava de uma espécie de ação preventiva; mesmo que falhasse, ainda haveria muitas oportunidades para recuperar o terreno perdido. Para Reinhard, a importância desse esquema provavelmente estava no nível de “não custa tentar”.

No entanto, toda a Aliança dos Planetas Livres havia sido virada de cabeça para baixo por causa disso. O Marquês von Lohengramm era — como alguns afirmavam — um “grande mestre em mover seus soldados pelo tabuleiro”? Yang deu de ombros. Aquele garoto loiro havia jogado toda a Aliança no caos sem mobilizar um único soldado, não era?

Dizer “eu li sua jogada” depois disso soaria vazio. Yang não tinha conseguido impedi-lo, nem podia prever como as coisas iriam se desenrolar a partir dali, além da probabilidade de uma tentativa de golpe na capital. Até mesmo Reinhard, autor e diretor desse pequeno drama, provavelmente não tinha escrito o roteiro além daquele ponto.

O que significava que o que aconteceria daqui em diante dependeria das habilidades do elenco principal e coadjuvante. Nesse caso, pensou Yang, quem está desempenhando o papel principal? Quem é o líder que vai dar o pontapé inicial no golpe? Acho que logo saberemos, mas ainda estou muito curioso.

Em 13 de abril, um FTL chegou de Heinessen trazendo ordens do Almirante Dawson.

“Almirante Yang: mobilize a Frota de Patrulha de Iserlohn e, com toda a rapidez possível, reprima as revoltas em Neptis, Kaffar, Palmerend e Shanpool”, disse ele.

“Nos quatro lugares?”

Yang, sem surpresa, ficou surpreso com isso. Ele esperava que uma ordem de mobilização chegasse mais cedo ou mais tarde, mas apenas para um local. Ele tinha certeza de que a frota em Heinessen seria mobilizada para lidar com os outros três.

Yang insistiu com sua preocupação: “Isso vai esvaziar a Fortaleza de Iserlohn por um bom tempo. Você está bem com isso?”

“No momento, o império está em estado de guerra civil total. O risco deles atacarem Iserlohn com uma grande força é extremamente pequeno. O que peço a você, comandante Yang, é que cumpra seus deveres como soldado, sem preocupações ou reservas.”

Agora entendo, pensou Yang, impressionado. Então realmente existem pessoas no mundo que pensam assim — que entendem a causa e o efeito, a ação e a reação, de forma magnificamente invertida. É verdade que eles não têm ideia do que realmente está acontecendo, mas mesmo assim…

Isso ficou inesperadamente engraçado. O Almirante Dawson, Diretor interino do Quartel-General Operacional Conjunto, tinha fama de planejador tático medíocre e, contrariando todas as expectativas, isso poderia significar que ele era exatamente o tipo de homem que não faria exatamente o que Reinhard queria.

Se um grande regimento fosse deixado na capital, isso atrapalharia o plano e causaria problemas para os conspiradores. Incapazes de agir mesmo que quisessem, seu plano poderia nunca ser colocado em prática. É claro que, mesmo que fossem impedidos, eles provavelmente tentariam outra coisa, mas, pelo menos por enquanto, não poderiam atacar com a frota longe e fazer o que bem entendessem com uma capital indefesa.

É claro que tudo isso tinha acabado de acontecer dessa maneira. A intenção de Dawson provavelmente era trabalhar Yang e seus subordinados até a exaustão. Yang tinha deduzido isso, mas o que ele não conseguia entender era a razão pela qual Dawson estava fazendo isso. Embora tivesse ouvido dizer que Dawson não era do tipo que esquecia rancores pessoais, Yang nunca tinha conhecido o homem pessoalmente; portanto, não havia como ele ter ofendido Dawson.

A pergunta de Yang foi respondida por Julian. Ninguém era mais reservado do que aquele garoto, então, às vezes, Yang o deixava ouvir quando pensava em voz alta, meio que falando sozinho.

Quando Julian ouviu Yang questionando em voz alta sobre a motivação de Dawson, ele riu e disse que era fácil de explicar.

“Quantos anos tem esse Dawson?”

“Provavelmente na casa dos quarenta.”

“E você tem trinta, almirante, não é?”

“Sim, finalmente aconteceu.”

“Então isso explica tudo. Vocês dois são almirantes, mesmo tendo tanta diferença de idade. A menos que você seja tão velho quanto o Almirante Bucock, ele vai invejar você.”

Yang coçou a cabeça.

“É isso? Entendi. Que descuido meu.”

Yang não tinha igual quando se tratava de adivinhar os pensamentos de um inimigo no campo de batalha, mas Julian acabara de apontar seu ponto fraco.

Ao longo do último ano, Yang alcançou a proeminência, subindo três postos, de Comodoro a Almirante. Para ele, isso não passava de dor de cabeça e aborrecimento, mas para os outros — especialmente aqueles para quem posto e posição eram tudo — ele era, sem dúvida, objeto de inveja e ciúme.

[TR/Leandor: “Prego que se destaca é martelado”, esse é um ditado muito comum no mundo corporativo, as vezes você é talentoso e acha que só com isso pode galgar posições, mas quanto mais você sobe mais pessoas medíocres irão criar dificuldades a você por ciúmes, muitos deles irão puxar o seu tapete sem pestanejar, é a cultura da mediocridade.]

Essas eram pessoas incapazes de reconhecer a existência de valores diferentes dos seus, então não havia como acreditar que o desejo de Yang era se aposentar do serviço ativo o mais rápido possível, viver da pensão e escrever um livro sobre história antes de morrer.

Se você é o homem que chamam de Milagre Yang, vamos ver se consegue reprimir as quatro insurreições sozinho. Se conseguir, tudo bem; se falhar, posso lidar com você como quiser. Provavelmente era isso que Dawson estava pensando. Se eu falhar, talvez eles me deixem me aposentar, pensou Yang.

Foi justamente quando esse pensamento ultrajante ocorreu a Yang que Julian falou novamente.

“Atacar todos os quatro lugares, um por um, vai demorar muito e ser uma grande dor de cabeça, não é?”

“Você disse”, concordou Yang com um forte aceno de cabeça. “Acima de tudo, isso vai contra minha filosofia pessoal de vencer com o mínimo de esforço possível. Como você resolveria isso se dependesse de você?”

Julian se inclinou para frente. Ultimamente, o interesse de Julian por táticas militares tinha crescido.

“Que tal isso: concentrar os inimigos dos quatro locais em um único lugar e atacá-los lá.”

Yang tirou sua boina militar preta e olhou para o teto.

“É uma boa ideia, mas há dois problemas. Um é o método: como você faz os inimigos de quatro locais diferentes se moverem para o mesmo lugar? O inimigo causou várias revoltas simultâneas com o objetivo expresso de dispersar as forças do governo, então não vejo eles jogando essa vantagem fora voluntariamente. Afinal, se eles concentram suas forças, é lógico que nós também concentramos as nossas.”

Com leveza, ele colocou a boina de volta na cabeça.

“E a outra coisa é que concentrar os inimigos em um único local vai contra os fundamentos da estratégia, que dizem que você deve derrotar os regimentos do oponente um por um, sem deixá-los se unir.”

“Então é uma má ideia?”

Julian parecia desapontado. O menino pensava que seus neurônios estavam funcionando a toda velocidade.

Yang deu-lhe um pequeno sorriso.

“A ideia é boa. Você só precisa pensar em como aplicá-la. Ok, por enquanto, vamos deixar de lado a questão de como atraí-los para fora.”

Ele pensou um pouco e continuou.

“Nós os atraímos para longe de suas fortalezas — essa parte está boa. Mas em nenhum lugar está escrito que temos que esperar que eles se reúnam. Em vez disso, prevemos a rota pela qual o inimigo tentará se reunir e, então, eliminá-los individualmente ao longo do caminho. Se as forças inimigas e aliadas forem aproximadamente do mesmo tamanho, nosso lado pode se dividir em dois grupos: o primeiro pode atacar os inimigos A e B em intervalos escalonados, e o outro pode atacar C e D. A probabilidade de vitória seria muito alta, já que estaríamos atacando cada formação inimiga com o dobro de sua força.”

Julian assentiu com intensidade apaixonada.

“Há outra maneira de fazer isso, em que toda a frota se move em conjunto. Primeiro, atacamos as formações inimigas A e B separadamente, depois seguimos para o ponto de encontro do inimigo para enfrentar as formações C e D. Nesse ponto, teríamos uma vantagem numérica se conseguíssemos enganar o inimigo para que confundisse amigos e inimigos ou se pudéssemos dividir a frota em duas para cercá-los em uma manobra de pinça. Com esse método, você luta contra o inimigo em quatro contra um no início e depois em dois contra um, então as chances de vitória são realmente muito boas.”

O menino suspirou com admiração, ao mesmo tempo em que se sentia desesperadamente patético. O almirante Yang jorrava planos astutos como uma fonte. Julian, por outro lado, não teria sido páreo nem mesmo para o Yang de quinze anos. Isso apesar do fato de que ele queria melhorar — não importava o quanto — para poder ajudá-lo.

Julian não tinha intenção de viver complacentemente como pupilo de Yang. Embora nunca tivesse sonhado com algo tão grandioso como se tornar um parceiro em pé de igualdade com ele, ele queria, de alguma forma, tornar-se indispensável para Yang.

“Mas, de qualquer forma, não quero usar nenhuma dessas estratégias desta vez. Afinal, eles são soldados da Aliança, assim como nós. Mesmo que lutássemos e vencêssemos, não sobraria nada além de cicatrizes.”

“É verdade.”

“Então, vamos pensar em como fazê-los se render sem lutar. Dessa forma, o mais importante é que será fácil.”

“Fácil para os soldados, mas difícil para os comandantes.”

“Ah, agora você entendeu.” Yang sorriu, mas seu sorriso não durou muito. “Ainda assim, acho que mais da metade das pessoas vivas agora passam por dificuldades tão grandes quanto os comandantes, que matam tantos soldados.”

Vozes dizendo que Yang Wen-li havia conseguido sua posição com muita facilidade chegaram até aos ouvidos do próprio Yang. Essas vozes pareciam vir de várias fontes e talvez Dawson tivesse ajudado a espalhá-las. De qualquer forma, se Yang tivesse levado em conta aquelas palavras irresponsáveis, ele teria reconhecido instantaneamente o que se escondia por trás da ordem de Dawson…