Capítulo 25: Profundezas
Kenji fica um pouco confuso com a resposta de Isha, mas levando em conta que as coisas em Banehaven aconteciam muito rápido, ele pensou que a missão seria naquele mesmo instante.
— Me responde uma dúvida…. Você por acaso é uma princesa? — pergunta Kenji.
— Os gnomos falaram isso? — ela faz uma pausa antes de continuar. — Eles sempre tiram conclusões precipitadas das coisas.
— Então você não é? — Kenji franziu a testa.
— O que você acha? Eu pareço uma princesa?
Ele encara Isha de cima a baixo, os detalhes em sua roupa, suas asas, e sua expressão quase imutável, e pensa:
“Parece!”
Mesmo que aquilo tivesse soado como se ela não quisesse responder a pergunta, ainda confuso com a resposta dela, Kenji parou de se questionar sobre o assunto, mas fortemente pensava que ela era sim uma princesa.
— Então… Qual seria a próxima missão? — perguntou Kenji mudando de assunto.
— A gente teria que negociar com o povo do mar, seria um ótimo apoio para Banehaven. Aqui temos criaturas que percorrem por terra e ar, ter uma espécie em água, seria de grande ajuda para nós.
— E como essas negociações acontecem?
— Normalmente nós vamos até o reino deles totalmente em paz, não queremos causar uma guerra desnecessária. Apresentamos pontos onde é benéfico a mudança de uma parcela das criaturas de sua espécie para Banehaven, até eles se sentirem seguros e todos passarem a viver aqui tranquilamente. Você não vai precisar nem falar nada se não quiser. Só observe o jeito que funciona e quem sabe você poderá fazer sozinho.
— E isso costuma dar certo?
— Claro que sim, não sei se viu, mas já temos algumas criaturas novas por aqui, nessa mesma fase de adaptação.
Kenji vagamente lembra das duas espécies de criaturas diferentes que tinha visto mais cedo. O draconato e a criatura semelhante a um rato.
— Ah sim, eu me lembro de ter visto. Tudo bem… E o que temos que fazer primeiro?
Isha sorri.
— Vem comigo! — diz Isha começando a caminhar, Kenji ao perceber segue a mesma. — Precisaremos de uma fonte de água, um símbolo rúnico e uma bússola.
Isha caminha em direção a sua casa, ela sobe voando e faz Kenji esperar um minuto do lado de fora.
Kenji se perguntava por que precisam daqueles itens tão específicos mas não ousou questioná-la. Depois de uns minutos logo ela desceu voando e se encontra novamente com o rapaz.
Isha começa a caminhar junto a Kenji, mas para a direção contrária do que seria o mar. Já que para Kenji eles tinham que voltar para a cidade costeira.
— Nós não precisaríamos ir em direção ao mar? Porque estamos indo para esse lado? — pergunta Kenji confuso e intrigado.
Ambos se dirigiam a saída da vila, porém estavam indo em direção a uma floresta densa e não em direção ao mar que ficava lá para os lados de Mariviel.
Isha deixou Kenji sem resposta por um momento, o que perturbou mais ainda a sua cabeça.
Ao saírem da vila ambos chegam num pequeno lago que fica no meio da floresta, envolta de árvores e arbustos.
A brisa suave fazia as folhas das árvores estremecerem levemente.
Aquele ambiente, envolto por uma paz quase intocável, era tão calmo e acolhedor que, por um breve instante, Kenji conseguiu se libertar de todos os pensamentos que o atormentavam.
Sua mente, normalmente agitada, silenciou. Ele apenas respirou fundo e se permitiu existir naquele momento, ouvindo com atenção os sons suaves da natureza.
O farfalhar das folhas, o canto distante de um pássaro, o som da água correndo ao longe. Era um raro instante de verdadeira tranquilidade.
— Aqui é um ótimo lugar para esfriar a cabeça. — falou Isha quebrando o silêncio.
Isha se abaixa calmamente, pega um pequeno graveto que encontrara no chão e começa a traçar um grande símbolo rúnico na terra úmida, bem à beira do lago.
Seus movimentos são precisos e cuidadosos, como se conhecesse cada traço de cor. Ao finalizar o desenho, ela retira a bússola do bolso e a coloca no centro do símbolo.
Kenji observa Isha calmamente e admira o quanto ela é delicada até naquela situação.
— Iremos fazer um pequeno ritual de ligação mágica se isso responder à sua pergunta. O símbolo irá funcionar como um catalisador para chamar uma criatura, e a bússola é como um presente que quem for chamado irá receber.
— E quem você pretende chamar?
— Uma sereia ou alguma criatura com consciência, mas esse ritual é bem imprevisível, então pode acabar chamando qualquer coisa.
Ao ouvir aquelas palavras Kenji engole seco. Mesmo confiando em Isha ele temeu que alguma coisa poderia dar errado.
— Vamos começar! — exclamou Isha.
Isha começa a murmurar palavras em uma língua antiga e indecifrável, sua voz baixa e ritmada ecoando suavemente pelo ambiente.
Aos poucos, o chão sob seus pés começa a vibrar, e o símbolo rúnico desenhado na terra emite um brilho intenso. O reflexo do brilho se projeta na superfície do lago, como se a água respondesse ao chamado.
O símbolo agora parecia pulsar em sincronia com as palavras de Isha, envolvendo tudo em uma atmosfera mística e poderosa.
Os dois símbolos começaram a emitir um brilho intenso de um vermelho carmesim profundo, tão vívido e pulsante que capturou imediatamente a atenção de Kenji.
Por um breve instante, ele ficou completamente fascinado, quase hipnotizado por aquele brilho misterioso e envolvente.
Na água um pequeno redemoinho era formado, era como se um pequeno portal estivesse sendo criado a partir da água, podendo trazer qualquer criatura que “atendesse o chamado”.
Kenji observa a movimentação da água com atenção, e fica perplexo com o quanto Isha sabia sobre isso.
Com o riual já em andamento Isha para de proferir tais palavras, só esperando o que aconteceria a seguir.
— Quem será que vem lá? — diz Isha encarando Kenji com certa empolgação.
— Contanto que não seja um monstro marinho bizarro, acho que está ótimo. — Kenji ri.
— Bom… não tem como saber na verdade, então sim. Existe a possibilidade de aparecer um monstro marinho bizarro. — Isha sorri, mas fica levemente apreensiva.
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