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    O sol se põe e a noite envolve a clareira. Dentro da torre, a luz prateada da lua e das estrelas atravessa as janelas e os buracos da estrutura desgastada. No centro, porém, é o brilho alaranjado que emana do fosso que domina a iluminação do ambiente.

    Um gancho de metal está fincado na beira do buraco, prendendo uma corda esticada que desce até o fundo. A linha vibra sob tensão enquanto, alguns metros abaixo, Brok a segura com força, avançando lentamente na descida cautelosa.

    Byron já está lá embaixo, segurando uma tocha na mão esquerda. O fogo queima de maneira intensa, tremulando lentamente, fazendo as sombras dos objetos dançarem. 

    O diabo observa o orc descendo pela corda, com os olhos semiabertos, e a cabeça balançando em desaprovação.

    “Deveria simplesmente ter pulado, assim como nós”, ele comenta, com um tédio preguiçoso na voz.

    “Mas ele com certeza quebraria alguma coisa”, diz Rubi, próxima à pilha de ouro no centro, mexendo em algumas peças metálicas com um olhar centrado.

    “Não vejo qual é o empecilho. Em pouco tempo, ele já estaria andando de novo.”

    “Ainda assim, ia doer bastante pra ele… e não seria nada legal ver ele todo espatifado.”

    “Brok é um guerreiro e um campeão demoníaco. Uma dor assim não significaria nada pra ele.”

    “Pode até ser, mas eu prefiro não deixar meu campeão se ferir ou ficar esculhambado sem necessidade.”

    “Hmm”, murmura Byron, compreendendo. “Deixarei isso em mente.”

    A succubus junta várias peças metálicas de uma armadura cinzenta, com presilhas de couro negro, empilhando-as sobre as duas metades do peitoral largo do conjunto, como se fosse uma bandeja.

    Talvez sirva, ela pensa, com ânimo.

    Quando o orc termina de descer, Rubi se apressa até ele, os passos ligeiros carregando entusiasmo. As peças metálicas que ela traz na bandeja improvisada tilintam com cada movimento, fazendo-a soar como um cavaleiro marchando.

    Ela fica para diante do orc sem falar nada, trocando olhares rápidos entre o corpo do guerreiro e as peças que ela segura, idealizando onde cada parte encaixa. 

    Brok permanece quieto, aguardando algum comando. Ele vê sobre os pedaços largos, proteções para os ombros, braços e coxas.

    “Isso… vai servir em mim?”, questiona o orc, com incerteza na voz.

    “Parece que sim”, Rubi responde, conferindo os ombros dele. “Mesmo não sendo uma armadura completa, vai te servir muito bem.”

    “Já utilizou-se de uma dessas antes?”, pergunta Byron, ao fundo.

    O orc murmura um grunhido antes de responder. “… Pedaços de uma”, ele responde. 

    “Como encontraram uma armadura assim aqui?”, a succubus indaga.

    “Uma vez… encontramos um grupo de forasteiros caçando monstros nas nossas terras.”

    “Lutaram?”, Rubi pergunta.

    “Eles invadiram nossas terras, subestimaram a floresta e já estavam feridos… não foi difícil”, o orc responde, em um tom absorto. “Tinha um humano que usava uma dessas. Repartimos o que ele tinha e fiquei com o braço.”

    Será que ele está falando só da armadura ou do braço todo?, ela se indaga. Talvez seja melhor não perguntar.

    “Vocês aproveitam tudo aqui…”, Rubi comenta.

    “Essa terra não perdoa os despreparados”, o diabo ressalta. 

    Rubi estende a bandeja ao orc. “Não parece mágica, mas deve servir”, ela diz com um sorriso. “É novinha. Nem imagino como o Nagalgumacoisa conseguiu.”

    O orc hesita em aceitar a armadura e a olha com receio. “Tem… certeza? Desde que eu virei campeão… pude seguir lutando sem me preocupar tanto com esse tipo de coisa. Talvez seja melhor deixar com o… seu cavaleiro.”

    “Absoluta”, responde a succubus, sem recuar. “Qualquer dan… ferida que você puder evitar é válido.” Ela desvia a atenção para o diabo por um instante, com um leve incômodo no olhar. “Seria bom o Byron usar algo também, mas pra ele seria necessária alguma armadura especial…” 

    Do tipo que é difícil de encontrar nesse mundo, ela pensa.

    O orc consente acenando e aceita o presente.

    “Coloca aí”, diz ela, sentando-se no chão de pernas cruzadas. “Vamos ver como fica.”

    Brok deixa a armadura metálica no chão e começa a tirar a parte superior da veste de couro cheia de buracos e cortes que ele usa.

    O torso musculoso e cheio de cicatrizes antigas do orc fica exposto. 

    A barriguinha engana, mas quase parece que ele é feito completamente só de músculos. Com certeza deve ser o tipo de coisa que chama a atenção das mulheres orcs, Rubi pensa e uma dúvida surge. Como funcionam as famílias dos orcs? Como será a família do Brok?

    Enquanto o orc veste peça por peça da armadura, a diaba se distrai, divagando em seus próprios pensamentos. Já que ele me convidou a ficar por aqui, acho que vou ter a chance de descobrir isso de perto, ela decide, com os lábios curvados em um sorriso ligeiro.

    Após alguns momentos, a voz de Brok ecoa e agarra a atenção de Rubi. 

    “O que… achou?”

    Ela volta a focar-se no orc e o vê com um peitoral metálico, as regiões superiores dos braços protegidas, manoplas revestindo as mãos e um tasset, preso à cintura, protegendo as coxas.

    Rubi sorri. “Ficou perfeito. E combinou bastante”, ela responde com ânimo.

    “Perfeito para um guerreiro como você. E mais digno de um campeão da senhorita”, Byron ressalta, exalando certeza de suas palavras.

    O orc flexiona os braços e marcha alguns passos, testando a flexibilidade de seu traje. Cada trava, cada pedaço que se toca quando ele se move, parece natural aos seus olhos, nem o peso do metal afeta seus movimentos, mas em alguns movimentos, ele tilinta e range de leve. “Não ficou ruim”, ele comenta, bufando ao final. “Só é um pouco… barulhento.”

    Rubi se aproxima, dando um olhar atento em cada parte da armadura, circulando ao redor de Brok com as mãos nas costas. “O ideal seria se você tivesse um colete fino de couro ou tecido para vestir por baixo”, ela sugere. “Ia compensar algumas das brechas da armadura e talvez, quem sabe, até ajudar com o barulho. 

    O orc acena. “Isso eu consigo na minha tribo”, comenta ela. “Mas já sinto que… posso lutar bem assim.”

    Rubi leva a mão ao ombro dele, com os lábios curvados em um sorriso delicado como o de uma donzela. “É bom ouvir isso…”, ela comenta, sua voz doce. “Então você não se importaria de fazer um teste comigo, não é?”

    Brok arregala os olhos e congela, sentindo um arrepio e um mal pressentimento ao ver a cauda dela balançando de um lado para o outro como a de um felino prestes a atacar.

    Ela não acabou de dizer que não prefere vê-lo ferido?, Byron questiona-se.

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